Europa vive tensão máxima com onda de ataques terroristas
Resposta a ações no Oriente Médio, violência deve diminuir em 2017, segundo especialista
Ataques colocaram população e governos em estado de alerta
Reuters
Em concordância com a maioria dos especialistas em geopolítica, o professor de Relações Internacionais do Ibmec-MG, Vladimir Feijó, destaca que essa onda de tensão tem, mesmo que por motivos diferentes, uma origem comum: o tratamento que países do Ocidente têm dispensado ao Oriente Médio e muitas de suas comunidades espalhadas principalmente pela Europa. E agora, no atual cenário, ele considera que a Europa vive uma tensão máxima, assim como as relações entre os países, que têm no Oriente Médio um ponto nevrálgico.
— Os ataques são uma tentativa de chamar a atenção para a situação de desigualdade, de desrespeito e de intolerância em relação à população do Oriente Médio. O terrorismo tem relações com a Guerra Síria, mas, além dela, com a situação do Oriente Médio de uma maneira geral. Na Europa, as células terroristas se espalharam, dificultaram a segurança, e ganharam inclusive o apoio de jovens do próprio continente que se irmanam nessa tentativa de combater a exclusão. Está tudo muito tenso por lá, a tensão está no máximo.
Não é de hoje, porém, que os problemas no Oriente Médio têm aparecido. O novo ciclo de violência, no entanto, só tem demonstrado que o Ocidente não tem conseguido lidar com um problema que ele mesmo criou, vindo de décadas, conforme afirma o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Geraldo Zaran.
— Essa onda de terror tem muitas dinâmicas em jogo, não sei se dá para caracterizar como movimento único, mas, se eu fosse apontar o dedo para um fator em comum, diria que é o da intervenção da Europa (aliados), da Rússia, do Ocidente de uma maneira geral, em conflitos no Oriente Médio, fortalecendo alguns grupos e criando rejeição com outros. Essa onda não é irracional, dividida, despropositada, os ataques estão sendo dirigidos contra atores no Oriente Médio, vêm como resposta. O terrorismo é muito mais reativo do que propositivo.
Nessa linha, o professor Feijó considera que a dinâmica de poder na região ainda se mantém complicada. A geografia e a política estão entrelaçadas para isso, segundo sua análise.
— Costumo dizer que a Síria é uma válvula de escape de justificativa, porque de fato temos visto que mesmo o que lá ocorre é consequência de algo bem maior. A Turquia, por exemplo, representa um país central nesse cenário. Há uma conexão próxima em relação à Rússia e a Ucrânia, e de lá para o Oriente Médio, porque toda a saída do Mar Negro para o Mar Mediterrâneo passa justamente pela Turquia, onde aconteceu o atentado contra o embaixador.
Locais estratégicos
A Turquia acaba sendo uma passagem para grupos islâmicos, tendo sido inclusive palco de pesados atentados do Estado Islâmico, que reivindicou a autoria do ataque em Berlim. E a comunidade islâmica, de uma maneira geral, não necessariamente ligada a atos terroristas, também é maioria na Chechênia, região autônoma russa, que vive momentos de atrito com o governo de Vladimir Putin.
— A Chechênia faz fronteira com o sul da Rússia, e ao sul dela há a fronteira com a Turquia. Um pouco mais para o lado já temos o Líbano e a Síria, todos interligados pelo mar na mesma região.
As movimentações têm sido grande de todos os países, em busca desses locais estratégicos e para garantir a própria defesa, segundo Feijó.
— Há porta-aviões e fragatas russas no Mediterrâneo e no Mar Egeu, tem a sexta frota americana por lá, em uma postura país a país (Rússia e EUA). Ainda há embarcações dos aliados da Otan (Reino Unido e França) e o petrodólar circulando da Arábia Saudita e de outros países com interesses talvez mais envolvidos com a Opep.
A Guerra Síria, neste sentido, tem sido um cenário também para esses interesses se sobreporem na região.
Resultado: muita violência, onda de refugiados (que vêm de diversos grupos locais), revoltas, violência
terrorista e, em vez de inclusão, a diminuição dos direitos humanos e das garantias individuais na Europa.
— Na virada dos anos 2000, a União Europeia tentava solucionar crises integrando mais os excluídos, sem barreiras nacionais. Mas depois do 11 de setembro e da crise de 2008, a Europa não consegue sair do nó político que ela enfrenta e parece que ela está sofrendo um retrocesso, com países pedindo saída do bloco, defesa mais branda de direitos humanos em troca de respostas contra o terrorismo. Esse cenário torna a situação mais complicada, já que há a dificuldade de ter uma resposta coletiva a um problema que de fato é da Europa e não de só um país.
Ele, entretanto, vê possibilidades de que essa tensão diminua em 2017. Para tanto cita como exemplo a retirada dos civis de Aleppo, votada com unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU, e as conversas entre Turquia e Rússia, países que trocavam hostilidades até pouco tempo atrás.
— A tensão entre os dois foi pior no ano passado com a derrubada de um caça russo e diferenças na Guerra Síria. Mas agora está havendo diálogo que, mesmo com o caso da morte do embaixador, continua em aberto, aparentemente. Também acho que o cenário está tenso por causa de uma série de transições. Os Estados Unidos empossam novo presidente no fim de janeiro. França e Alemanha terão eleições no próximo ano e definirão rumos. Então, provavelmente, no segundo semestre de 2017 o clima político se acalmará. As situações de tensão e de insegurança se potencializam com essas transições de governo.
Fonte: http://noticias.r7.com/internacional/europa-vive-tensao-maxima-com-onda-de-ataques-terroristas-21122016
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