terça-feira, 20 de dezembro de 2016

21/12/2016 às 00h10 (Atualizado em 21/12/2016 às 00h10)

Europa vive tensão máxima com onda de ataques terroristas

Resposta a ações no Oriente Médio, violência deve diminuir em 2017, segundo especialista

Eugenio Goussinsky, do R7
Ataques colocaram população e governos em estado de alerta Reuters
 
A cena do jovem policial Mevlut Mert, 22 anos, atirando no embaixador russo e depois, com arma em punho, bradando em favor das vítimas de Aleppo chocou o mundo. Na mesma segunda-feira (19) deste atentado na Turquia, um motorista de um caminhão invadiu uma feira de Natal em Berlim, Alemanha, matando pelo menos 12 pessoas em ataque terrorista similar ao de Nice, ocorrido em julho último. Ataques violentos insistem em não deixar em paz o Velho Continente, que vivencia um de seus momentos de máxima tensão desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Com medo, a população e os governos locais entraram em permanente estado de alerta.

Em concordância com a maioria dos especialistas em geopolítica, o professor de Relações Internacionais do Ibmec-MG, Vladimir Feijó, destaca que essa onda de tensão tem, mesmo que por motivos diferentes, uma origem comum: o tratamento que países do Ocidente têm dispensado ao Oriente Médio e muitas de suas comunidades espalhadas principalmente pela Europa. E agora, no atual cenário, ele considera que a Europa vive uma tensão máxima, assim como as relações entre os países, que têm no Oriente Médio um ponto nevrálgico.

— Os ataques são uma tentativa de chamar a atenção para a situação de desigualdade, de desrespeito e de intolerância em relação à população do Oriente Médio. O terrorismo tem relações com a Guerra Síria, mas, além dela, com a situação do Oriente Médio de uma maneira geral. Na Europa, as células terroristas se espalharam, dificultaram a segurança, e ganharam inclusive o apoio de jovens do próprio continente que se irmanam nessa tentativa de combater a exclusão. Está tudo muito tenso por lá, a tensão está no máximo.

Não é de hoje, porém, que os problemas no Oriente Médio têm aparecido. O novo ciclo de violência, no entanto, só tem demonstrado que o Ocidente não tem conseguido lidar com um problema que ele mesmo criou, vindo de décadas, conforme afirma o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Geraldo Zaran.

— Essa onda de terror tem muitas dinâmicas em jogo, não sei se dá para caracterizar como movimento único, mas, se eu fosse apontar o dedo para um fator em comum, diria que é o da intervenção da Europa (aliados), da Rússia, do Ocidente de uma maneira geral, em conflitos no Oriente Médio, fortalecendo alguns grupos e criando rejeição com outros.  Essa onda não é irracional, dividida, despropositada, os ataques estão sendo dirigidos contra atores no Oriente Médio, vêm como resposta. O terrorismo é muito mais reativo do que propositivo.

Nessa linha, o professor Feijó considera que a dinâmica de poder na região ainda se mantém complicada. A geografia e a política estão entrelaçadas para isso, segundo sua análise.

— Costumo dizer que a Síria é uma válvula de escape de justificativa, porque de fato temos visto que mesmo o que lá ocorre é consequência de algo bem maior. A Turquia, por exemplo, representa um país central nesse cenário. Há uma conexão próxima em relação à Rússia e a Ucrânia, e de lá para o Oriente Médio, porque toda a saída do Mar Negro para o Mar Mediterrâneo passa justamente pela Turquia, onde aconteceu o atentado contra o embaixador.

Locais estratégicos
A Turquia acaba sendo uma passagem para grupos islâmicos, tendo sido inclusive palco de pesados atentados do Estado Islâmico, que reivindicou a autoria do ataque em Berlim. E a comunidade islâmica, de uma maneira geral, não necessariamente ligada a atos terroristas, também é maioria na Chechênia, região autônoma russa, que vive momentos de atrito com o governo de Vladimir Putin.

— A Chechênia faz fronteira com o sul da Rússia, e ao sul dela há a fronteira com a Turquia. Um pouco mais para o lado já temos o Líbano e a Síria, todos interligados pelo mar na mesma região.

As movimentações têm sido grande de todos os países, em busca desses locais estratégicos e para garantir a própria defesa, segundo Feijó.

— Há porta-aviões e fragatas russas no Mediterrâneo e no Mar Egeu, tem a sexta frota americana por lá, em uma postura país a país (Rússia e EUA). Ainda há embarcações dos aliados da Otan (Reino Unido e França) e o petrodólar circulando da Arábia Saudita e de outros países com interesses talvez mais envolvidos com a Opep.

A Guerra Síria, neste sentido, tem sido um cenário também para esses interesses se sobreporem na região.

Resultado: muita violência, onda de refugiados (que vêm de diversos grupos locais), revoltas, violência
terrorista e, em vez de inclusão, a diminuição dos direitos humanos e das garantias individuais na Europa.

— Na virada dos anos 2000, a União Europeia tentava solucionar crises integrando mais os excluídos, sem barreiras nacionais. Mas depois do 11 de setembro e da crise de 2008, a Europa não consegue sair do nó político que ela enfrenta e parece que ela está sofrendo um retrocesso, com países pedindo saída do bloco, defesa mais branda de direitos humanos  em troca de respostas contra o terrorismo. Esse cenário torna a situação mais complicada, já que há a dificuldade de ter uma resposta coletiva a um problema que de fato é da Europa e não de só um país.

Ele, entretanto, vê possibilidades de que essa tensão diminua em 2017. Para tanto cita como exemplo a retirada dos civis de Aleppo,  votada com unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU, e as conversas entre Turquia e Rússia, países que trocavam hostilidades até pouco tempo atrás.

— A tensão entre os dois foi pior no ano passado com a derrubada de um caça russo e diferenças na Guerra Síria. Mas agora está havendo diálogo que, mesmo com o caso da morte do embaixador, continua em aberto, aparentemente. Também acho que o cenário está tenso por causa de uma série de transições. Os Estados Unidos empossam novo presidente no fim de janeiro. França e Alemanha terão eleições no próximo ano e definirão rumos. Então, provavelmente, no segundo semestre de 2017 o clima político se acalmará. As situações de tensão e de insegurança se potencializam com essas transições de governo.

Fonte: http://noticias.r7.com/internacional/europa-vive-tensao-maxima-com-onda-de-ataques-terroristas-21122016

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