7 mitos e verdades sobre datas de validade de remédios e cosméticos
Especialistas explicam lógica por trás de prazos e o que devemos fazer para não prejudicar nossa saúde.
Jogar fora medicamentos e cosméticos com prazo de validade vencido, especialmente os mais caros, nunca é uma tarefa fácil.
Mas quais são os mitos e verdades sobre o assunto? Confira.
1) O prazo de validade é uma estratégia comercial de laboratórios para que compremos mais
A legislação de todos os países exigem que remédios comercializados
tenham prazo de validade. O cálculo é feito após estudos científicos
exaustivos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o procedimento existe desde
1979.
"Há alguns anos, a Organização Mundial da Saúde decidiu que os prazos
de validade não deveriam superar cinco anos", explica à BBC Mundo (o
serviço em espanhol da BBC) José Ramón Azanza, diretor de farmacologia
da Clínica Universidad de Navarra, na Espanha.
Segundo ele, o mais comum é a data de vencimento de dois anos.
A médica Inmaculada Posadas, professora de Farmacologia da universidade
espanhola de Castilla-La Mancha (España), afirma que a lei se aplica
mesmo se o laboratório produzir fórmulas que resistam mais tempo.
"Podem existir medicamentos que continuem funcionando após a data de
validade, mas a legislação os impede de dizer isso", afirma.
2) Se tomo um remédio vencido, posso passar mal
O que acontece a um remédio vencido?
"Normalmente nada", diz Azanza. "Se alguém toma um remédio depois do
vencimento, nada vai acontecer. São raríssimos os remédios que podem
produzir efeitos tóxicos em pacientes após a data de validade expirar".
Mas tampouco o remédio poderá surtir efeito ─ é uma questão muito mais de eficácia de que tolerância.
Azanza alerta, contudo, que nunca se pode ter certeza absoluta de que medicamentos vencidos sejam inofensivos.
A razão é simples: os organismo nacionais e internacionais que
regulamentam a produção e comercialização de remédios não realizam
estudos sobre os efeitos pós-vencimento, mas em sua eficácia durante sua
vida útil.
"Na farmacologia, a incerteza não é aceita porque afeta a segurança das pessoas", diz Azanza.
Outra razão para respeitar a data de validade é no caso de medicamentos
de uso sistemático, em especial os que mantém a qualidade de vida de um
paciente.
"Se nesses casos não respeitarmos a data de validade, o efeito negativo
sobre o paciente pode ser muito grave. Por isso, é melhor termos uma
data-limite e estarmos seguros de que o medicamento será eficaz no
tratamento de condições mais graves", adverte Inmaculada.
No artigo "Não caia na tentação de usar medicamentos vencidos", o FDA, a
agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos, indica que "certos
medicamentos vencidos correm o risco de estimular a produção de
bactérias e antibióticos com potência reduzida podem não atacar as
infecções, desencadeando doenças mais graves e aumentando a resistência
ao remédio".
3) Aspirinas vencidas não representam risco algum
Um dia não é a mesma coisa que seis meses.
Mas de acordo com Inmaculada, a aspirina não deve ser utilizada muito
tempo depois da data de validade porque a degradação do princípio ativo
da aspirina, o ácido acetilsalicílico, forma outra susbtância, o
salicilato, que é abrasivo e não deve ser consumido por via oral.
"Não há problema em consumir uma aspirina poucos dias depois da
validade, mas em seis meses a quantidade de salicilato contida no
comprimido é suficientemente alta para ser tóxica", explica ela.
4) Um medicamento pode perder sua eficácia antes da data de validade
"Remédios contêm substâncias químicas que estáveis e instáveis,
dependendo de sua composição, e do meio em que se encontram", diz
Azanza.
Fatores como umidade, temperatura e a incidência de luz solar podem
reagir com essas substâncias e modificar suas estruturas químicas.
Os laboratórios garantem que um medicamento funcionará durante um
determinado período de tempo, mas com um importante alerta: que seja
armazenado nas devidas condições.
"Se o medicamento está em um entorno com mais umidade e calor que os
testados em laboratório, por exemplo, ou que tenha sido exposto à luz,
nada pode assegurar que a data de validade estará valendo", diz o
farmacologista.
É importante, então, ler cuidadosamente a bula para saber como se devem guardar os medicamentos.
5) Vitaminas não precisam dos mesmos cuidados
Precisam, sim. O princípio é o mesmo.
"Quando o laboratório vende um composto vitamínico, ele assegura que as
vitaminas funcionarão como esperado: desde o primeiro dia ao último",
assinala Inmaculada.
Depois do prazo, pode haver alterações na fórmula e perda de efeito.
6) Um creme que não seja aberto funcionará depois da data de validade
"Um creme faz parte da legislação sobre produtos sanitários e tem uma
data de vencimento que nos diz que, até aquele momento, terá suas
propriedades adequadas", enfatiza Inmaculada.
"Mesmo que não seja aberto, o creme tem ingredientes que também contam com um prazo de validade médio", explica a médica.
E como explicar a situação na qual, depois de muito tempo sem ser
usado, um tubo de creme expele uma espécie de óleo amarelado quando o
abrimos?
"É um sinal de que o creme ficou tanto tempo sem ser usado que sua base
ficou de um lado e o medicamento de outro. Pode ser usado? Talvez não
vá causar danos, mas sua eficácia poderá não ser a mesma", diz Azanza.
7) Colírios devem ser jogados fora mesmo ainda na data de validade
Muitos colírios não contém conservantes para evitar problemas de irritação ocular, explica Azanza.
Isso significa que, quando seus frascos são abertos, devem ser usados
conforme orientação médica e jogados fora depois do tratamento, ainda
que estejam dentro do prazo de validade.
De acordo com Azanza, o mesmo colírio não serve para o mesmo paciente,
inclusive nos casos em que o problema original volte a se manifestar,
pois a solução pode estar contaminada com bactérias e mesmo fungos por
causa do contato com o ar.
Organizações de saúde recomendam que medicamentos vencidos sejam levados a locais autorizados para serem destruídos.
E que embora tomar um analgésico expirado em uma emergência não seja um
grande problema, isso nunca deve se tornar uma prática sistemática.
Além disso, os armários de remédios têm que ser limpos e renovados com regularidade.
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