No último domingo, o festejado arquiteto Helio Pellegrino deu entrevista ao jornal “O Globo” dizendo que deixaria o Rio de Janeiro. A insegurança e a crise fizeram com que abrisse mão da cidade onde este mineiro vive desde os 2 anos, mas o que mais me chamou a atenção foi o seguinte desabafo: “estou com 65 anos e quero uma velhice mais tranquila. O Rio não é uma cidade para velhos”. A ironia é que o Rio fez parte do lançamento do projeto “Cidade Amiga do Idoso”, criado em 2005 pela Organização Mundial da Saúde. Um de seus idealizadores foi o médico brasileiro Alexandre Kalache, uma das maiores autoridades mundiais em envelhecimento, e o objetivo da iniciativa era ouvir os próprios idosos sobre suas necessidades e os serviços que deveriam ser oferecidos para que a cidade se tornasse mais acolhedora para eles. Hoje, há 500 cidades em 37 países que tomaram as providências listadas no manual produzido pela OMS e integram esta rede. Veranópolis, no Rio Grande do Sul, é a única representante brasileira neste “clube”.

Como ganhar uma estrelinha como esta no boletim? Dando voz a este grupo, através de conselhos municipais, para que suas reivindicações sejam acatadas, e trabalhando em oito frentes: transporte; moradia; participação social; respeito e inclusão social; participação cívica e emprego; comunicação e informação; apoio comunitário e serviços de saúde; espaços abertos e prédios adaptados. Em Nova York, cidade amiga dos idosos desde 2010, a soma de esforços envolve o gabinete do prefeito, a New York Academy of Medicine e o City Council, o equivalente à Câmara Municipal. O Department for the Aging (DFTA) tem o braço executivo desta missão, que abrange de entrega de refeições em casa a assistência jurídica; de centros de apoio para cuidadores a atendimento a vítimas de abusos. Idosos com problemas de locomoção contam com transporte especial para seus compromissos mais relevantes. Centros para a terceira idade incluem atividades físicas e de recreação – em seu site, o DFTA convida quem torce o nariz para esses ambientes para uma visita. Há também serviços exclusivos para a comunidade LGBT acima dos 60, assim como para imigrantes e refugiados. O Senior Savvy (algo como “Idoso Experiente”, que sabe das coisas) oferece dicas nas áreas de finanças, segurança doméstica, navegação na internet, programas culturais e até emergências.

Por falar em emergência, em outubro de 2012, quando o furacão Sandy deixou o sul de Manhattan debaixo d´água, o DFTA fez uma parceria com a Weill Cornell Medicine para dar assistência psicológica aos idosos daquela área. Participei de um seminário on-line no qual Jo Anne Sirey, professora do departamento de psiquiatria da Universidade de Cornell, explicou que muitos moravam em andares altos, com restrições de locomoção, e ficaram dias sem eletricidade. Através de todos os canais possíveis e utilizando centros religiosos e comunitários, 2.800 pessoas foram contatadas: 25% foram diagnosticadas com ansiedade e 15% com depressão. Para os que desejavam, foi oferecido tratamento de psicoterapia breve em inglês, espanhol, russo e chinês. Ela lembrou que essa foi uma parceria criada para atender especificamente a uma população vulnerável, mas que se mostrou eficiente para ser adotada em centros para a terceira idade. Jo Sirey enfatizou que, com o envelhecimento da população, há uma expectativa de enorme demanda por serviços de saúde mental, já que mais de 20% dos adultos acima de 65 anos apresentam algum tipo de problema. É como o ditado ensina: a prática leva à perfeição. Helio Pellegrino constatou que o Rio está matando aula, faltando aos ensaios e pode acabar com zero no boletim. Por isso está fazendo as malas para a Bahia. Perfeitamente compreensível.