terça-feira, 6 de outubro de 2015


05/10/2015 06h35 - Atualizado em 06/10/2015 14h25

Criadores de terapias contra malária e verminoses levam Nobel de Medicina

Irlandês William Campbell e japonês Satoshi Omura dividem metade da láurea.
Segunda metade do prêmio de 2015 fica com Youyou Tu, chinesa.

William C. Campbell. Satoshi Omura e Youyou Tu (esq. para a dir.) ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2015. (Foto: Fundação Nobel) 

William C. Campbell, Satoshi Omura e Youyou Tu (esq. para a dir.) ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2015. (Foto: Fundação Nobel)

O prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2015 foi concedido nesta segunda-feira (5) aos cientistas William C. Campbell, irlandês, e Satoshi Omura, japonês, por criarem novas terapías para combater doenças causadas por vermes nematódeos e para YouYou Tu, chinesa, por desenvolver uma nova terapia contra malária.
Os dois primeiros vencedores dividirão metade dos 8 milhões de coroas suecas do prêmio (US$ 963 mil), enquanto Tu ficará com a outra metade.
Arte Nobel Medicina 2015 (Foto: Arte/G1) 
Campbell e Omura descobriram uma nova droga, avermectina, que reduziu radicalmente a incidência de oncocercose (a "cegueira dos rios") causada pelo verme Onchocerca volvulus, e pela filaríase linfática, infecção por trás da elefantíase, causada por vermes do gênero Filarioidea. Já Tu descobriu a artemisinina, droga que combate os plasmódios, parasitas causadores da malária.
Campbell, nascido em 1930, trabalhava para multinacional farmacêutica Merck na época da descoberta do medicamento, na década de 1970. Hoje é pesquisador emérito da Universidade Drew, de Nova Jérsei (EUA). Omura, nascido em 1935, é professor emérito da Universidade Kitasato, de Tóquio. Tu, nascida em 1930, formou-se em farmacologia na Universidade Médica de Pequim e hoje é professora-chefe da Academia de Medicina Tradicional Chinesa.
"Essas duas descobertas forneceram à humanidade novos e poderosos meios de combater essas doenças debilitantes que afetam milhões de pessas anualmente", afirmou o comitê do Nobel em comunicado à imprensa. "As consequências em termos de melhora da saúde humana e redução do sofrimento são imensuráveis."
Do golf às farmácias
O papel de Omura na descoberta da avermectina se deu a partir da expertise que o cientista tinha em cultivar bactérias do solo. Ao criar milhares de culturas do gênero Streptomyces, ele conseguiu identificar várias delas que produziam substâncias tóxicas para outros organismos.
Em entrevista à rede de TV japonesa NHK, Omura descreveu sua linha de pesquisa como um "trabalho tedioso" e disse que não esperava receber o Nobel.
"Aprendi tanto com os microorganismos e dependi deles, então eu preferira dar o prêmio a eles", afirmou. "Essa é uma área de pesquisa meio humilde, mas microorganismos são extremamente importantes para os humanos. Eles podem ser nossos parceiros. Espero que a área ganhe mais atenção em razão do prêmio, de forma que possa contribuir mais com os seres humanos."
Omura contou à agência de notícias Associated Press que a amostra de solo onde encontrou a Streptomyces foi obtida em um campo de golf, esporte que costumava praticar.
Satoshi Omura, ganhador do Nobel de Medicina de 2015, recebe telefonema de parabenização do primeiro ministro japonês Shinzo Abe (Foto: Shizuo Kambayashi/AP) 
Satoshi Omura, ganhador do Nobel de Medicina de 2015, recebe telefonema de parabenização do primeiro ministro japonês Shinzo Abe (Foto: Shizuo Kambayashi/AP)
 
Campbell, que deu continuidade ao trabalho de Omura, adquiriu as culturas de bactéria para avaliar sua eficácia. Uma das espécies encontradas, a S. avermitilis, era aquela que produzia a avermectina, capaz de combater diversos parasitas de animais. Mas tarde, a substância foi quimicamente modificada para criação da ivermectina, versão mais eficaz do medicamento, que passou por testes em humanos e se mostrou capaz de matar larvas dos vermes patógenos.
William Campbell, um dos ganhadores do Nobel de Medicina de 2015, posa para foto ao lado de sua coleção de microscópios antigos (Foto: Brian Snyder/Reuters) 
William Campbell, um dos ganhadores do Nobel de Medicina de 2015, posa para foto ao lado de sua coleção de microscópios antigos (Foto: Brian Snyder/Reuters)
 
Projeto secreto
Enquanto Cambell e Omura se voltaram às bactérias para encontrar um medicamento contra os vermes, Tu estudava compostos derivados de plantas que pudessem atacar os plasmódios causadores da malária.
Na época, já se sabia que a erva Artemisia annua às vezes era eficaz contra o parasita, mas os resultados eram inconsistentes e não se sabia bem por quê. A cientista chinesa foi quem conseguiu isolar a artemisinina, o princípio ativo da planta, e demonstrar sua eficácia em animais e humanos na década de 1960.
A farmacóloga chinesa Youyou Tu, uma das ganhadoras do Nobel de Medicina de 2015, em um encontro da Academia Chinesa de Ciências Médicas (Foto: Jin Liwang/Xinhua/AP) 
A farmacóloga chinesa Youyou Tu, uma das ganhadoras do Nobel de Medicina de 2015, em um encontro da Academia Chinesa de Ciências Médicas (Foto: Jin Liwang/Xinhua/AP)
 
Até 2005, o nome da descobridora da artemisinina não era conhecido da comunidade científica. Tu encontrou a substância ao trabalhar num programa de pesquisa secreto chinês nas décadas de 1960 e 1970. Sua identidade foi revelada após cientistas vasculharem trocas de correspondências do projeto na época e descobrirem seu nome. Em 2011, em entrevista à revista "New Scientist", Tu conta que teve de ficar tanto tempo longe da filha para trabalhar em hospitais de campo que uma vez não foi reconhecida por ela quando, passou seis meses fora.
"Estava disposta a sacrificar minha vida pessoal", afirmou a pesquisadora. "Vi muitas crianças em estágio terminal de malária."
Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/10/criadores-de-terapias-contra-malaria-e-verminoses-levam-nobel-de-medicina.html  

26/11/2015 às 10h08

A nova arma transgênica para acabar com a malária

Michelle Roberts
Editora de Saúde do site da BBC

Cientistas americanos criaram um mosquito geneticamente modificado que pode resistir à infecção por malária.
Pesquisadores acreditam que, se os testes fora do laboratório forem bem-sucedidos, o inseto transgênico pode se tornar alternativa para impedir a transmissão da doença para os humanos.
Usando um método conhecido como Crispr, os cientistas inseriram um gene no DNA de mosquitos que impediu a infecção pelo protozoário causador da malária.
Quando os insetos procriaram, a prole herdou a mesma resistência dos pais, informou o estudo, publicado na revista científica PNAS.
Em teoria, se esses mosquitos picarem as pessoas, a doença não seria transmitida, acrescentaram os cientistas.
Cerca de 3,2 bilhões de pessoas ─ ou metade da população mundial ─ correm risco de contrair malária.
Telas de proteção, inseticidas e repelentes podem ajudar a conter os insetos e medicamentos são administrados a quem contrai a doença. Ainda assim, a malária mata cerca de 580 mil pessoas por ano.
'Papel primordial'
Cientistas vêm buscando novos meios para combater a malária.
A equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia diz acreditar que o mosquito transgênico poderia desempenhar um papel primordial em interromper a transmissão do vírus.
Para criar o inseto transgênico, os cientistas usaram um tipo de mosquito encontrado na Índia, o Anopheles stephensi.
De acordo com Anthony James, responsável pelo estudo, um novo código de DNA foi inserido no genoma do mosquito para torná-lo menos propenso a hospedar o parasita da malária.
O DNA, que inclui os anticorpos que combatem o parasita, foi herdado por quase 100% de todo a prole dos mosquitos e por várias gerações.
Os pesquisadores acreditam que as descobertas geram esperanças de que o mesmo método possa ser usado em outras espécies de mosquitos.
Embora não seja a única solução para erradicar a malária, o inseto seria uma arma adicional, dizem eles.
David Conway, especialista britânico da London School of Hygiene & Tropical Medicine, disse: "Não se trata de um produto acabado mas certamente parece promissor. Parece ser uma alternativa para este problemas por vias genéticas".
Outros cientistas pretendem usar mosquitos geneticamente modificados para deixá-los inférteis e, assim, erradicar a doença. Mas alguns especialistas temem que eliminar inteiramente os mosquitos pode gerar consequências inesperadas e não desejadas.
Nesse sentido, substituir os mosquitos transmissores da doença por espécies inofensivas é uma alternativa potencial.
Fonte: http://noticias.r7.com/saude/a-nova-arma-transgenica-para-acabar-com-a-malaria-26112015

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