terça-feira, 10 de novembro de 2015


05/11/2015 17h14 - Atualizado em 06/11/2015 01h25

Barragens se rompem e enxurrada de lama destrói distrito de Mariana

Acidente foi em Bento Rodrigues e bombeiros confirmam uma morte.
Localidade está sendo esvaziada; MP vai investigar causa do acidente. 

Lama destrói Mariana em MG.

O rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, na tarde desta quinta-feira (5).
O Corpo de Bombeiros de Ouro Preto, que tem equipes no local, confirmou uma morte e 15 desaparecidos até o momento. A vítima seria um homem que teve um mal súbito quando houve o rompimento. A identidade dele ainda não foi divulgada.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Mariana (Metabase), Valério Vieira dos Santos, afirma que entre 15 e 16 pessoas teriam morrido e 45 estão desaparecidas, mas ainda não há números oficiais de vítimas.
Um dos sobreviventes da tragédia, Andrew Oliveira, que trabalha como sinaleiro na empresa Integral, uma terceirizada da Samarco, disse que, na hora do almoço, houve “um abalo”, mas os empregados continuaram trabalhando normalmente.
"Começou a praticamente ter um terremoto", disse sobre o momento que as barragens se romperam.
Feridos
Quatro feridos foram levados para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, referência em atendimento de urgência. De acordo com a Fhemig, três delas foram levadas de helicóptero e uma de ambulância.
Dentre os feridos está uma criança de 3 anos. Não se sabe se estes feridos estavam internados no hospital de Mariana e foram transferidos. Nesta unidade, quatro feridos tinham sido atendidos.
Mais de 200 pessoas da Guarda Municipal, dos bombeiros, das polícias Civil e Militar, da Defesa Civil e da mineradora trabalham nas buscas.
Movimentação de pessoas na Arena Mariana, complexo esportivo em Mariana (MG), para onde estão sendo levados os desalojados após rompimento da barragem de rejeitos de mineração no distrito de Bento Rodrigues (Foto: Lucas Prates/Hoje em Dia/Estadão Conteúdo) 
Desabrigados que tiveram que deixar suas casas por causa de rompimento de barragem estão na Arena Mariana (Foto: Lucas Prates/Hoje em Dia/Estadão Conteúdo)
 
O secretário de Defesa Social de Mariana, Brás Azevedo, disse que a situação no local é muito grave e há riscos de mais desmoronamentos. A orientação para os moradores que deixam Bento Rodigues é que sigam para o distrito de Camargos, que é mais alto e mais seguro.

Empresa
O diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, em comunicado divulgado no perfil da empresa no Facebook por volta das 23h desta quinta, afirmou que o rompimento ocorreu em duas barragens – e não em uma, como informava nota divulgada pela mineradora no fim da tarde. (Veja a nota no fim da reportagem)
Segundo Vescovi, romperam-se as barragens de Fundão e Santarém, na unidade industrial de Germano, localizada entre os municípios de Mariana e Ouro Preto – a cerca de 100 km de Belo Horizonte.
O diretor-presidente da empresa diz que o rompimento foi identificado na tarde desta quinta e, imediatamente, foi acionado o plano de ação emergencial de barragens para priorizar o atendimento das pessoas que trabalham no local ou que vivem próximo às barragens. 
"Lamentamos profundamente e estamos muito consternados com o acontecido, mas estamos absolutamente mobilizados para conter os danos causados por esse acidente", finalizou.

Resgate
A Prefeitura de Mariana informou que muitas pessoas ainda estão ilhadas, e os acessos por terra estão todos bloqueados. Um helicóptero vai fazer o resgate, porém, a aeronave não pode voar à noite.
Os desabrigados estão sendo levados para a Arena Mariana, que é um complexo esportivo do município. Doações de roupas, água mineral, colchões e produtos de higiene pessoal podem ser entregues no centro de convenções de Mariana, na Rua Juscelino Kubitschek.
Segundo a prefeitura, o distrito de Bento Rodrigues tem cerca de 600 moradores, em 200 imóveis. Mas como outras localidades podem ter sido atingidas pelo mar de lama, a estimativa é de 2 mil pessoas afetadas.
Segundo a Polícia Militar de Meio Ambiente, a mineradora foi fiscalizada há dois anos e nenhum problema foi encontrado na barragem.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) criou um comitê de crise para cuidar do acidente e uma equipe de emergência foi enviada para o local para avaliar a situação.
De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão responsável pela fiscalização de barragens de rejeitos, a barragem de Fundão é considerada de baixo risco, e o rejeito de minério, inofensivo para a saúde.
Rompimento da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (Foto: Luis Eduardo Franco/TV Globo) 
Rompimento da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (Foto: Luis Eduardo Franco/TV Globo)
 
Governo estadual
Quatro helicópteros do governo de Minas Gerais partiram para Bento Rodrigues com grupamentos do Batalhão de Emergências Ambientais e Respostas a Desastres (Bemad).
Em nota oficial, o governador, Fernando Pimentel, disse que recebeu com consternação a notícia do desastre. "A Defesa Civil e outros órgãos competentes estão envidando todos os esforços para prestar os primeiros socorros e todo atendimento necessário à população do distrito, ainda de difícil acesso em razão dos estragos causados pela inundação", diz o texto.
O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, informou que vai viajar para Mariana nesta sexta-feira para acompanhar a assistência às vítimas. Unidades do Exército em Belo Horizonte e em São João Del Rei estão de prontidão, caso haja necessidade de ajuda nas buscas por sobreviventes.

Ministério Público
Representantes do Núcleo de Combate aos Crimes Ambientais do Ministério Público Estadual de Minas Gerais estão em Bento Rodrigues e será instaurado um inquérito civil para apurar as causas do rompimento da barragem, afirmou o promotor de Justiça do Meio Ambiente, Carlos Eduardo Ferreira Pinto.
Segundo o promotor, a partir desta sexta (6), o MP pretende levantar e identificar as causas do acidente e propor uma ação contra os responsáveis. Ele afirmou que nenhuma barragem se rompe por acaso, mas ressaltou que é prematuro dizer qual é a causa.

NOTA DA SAMARCO DIVULGADA NA TARDE DESTA QUINTA:
A Samarco informa que houve um rompimento de sua barragem de rejeitos, denominada Fundão, localizada na unidade de Germano, nos municípios de Ouro Preto e Mariana (MG). A organização está mobilizando todos os esforços para priorizar o atendimento às pessoas e a mitigação de danos ao meio ambiente. As autoridades foram devidamente informadas e as equipes responsáveis já estão no local prestando assistência. Não é possível, neste momento, confirmar as causas e extensão do ocorrido, bem como a existência de vítimas. Por questão de segurança,  a Samarco reitera a importância de que não haja deslocamentos de pessoas para o local do ocorrido, exceto as equipes envolvidas no atendimento de emergência.
Arte Barragem Bento Rodrigues atualiza 19h40 (Foto: Editoria de Arte/G1)
 

10/11/2015 05h59 - Atualizado em 10/11/2015 09h10

Água do Rio Doce fica mais escura
e indica que lama está perto do ES

Por volta de 5h, moradores começaram a chegar na ponte sobre o rio.
Abastecimento foi suspenso por algumas horas com a chegada da água.

Rio Doce apresenta água turva em Baixo Guandu, no Espírito santo (Foto: Viviane Machado/ G1) 

Rio Doce apresenta água turva em Baixo Guandu (Foto: Viviane Machado/ G1)

Um grupo de moradores de Baixo Guandu, na região Noroeste do Espírito Santo, aguarda a chegada da lama vinda do rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, nesta terça-feira (10). Por volta das 5h, alguns moradores começaram a chegar na ponte sobre o Rio Doce, no município. De acordo com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), a água turva, que vem antes da lama, chegou ao município por volta das 22h desta segunda-feira (9).
O diretor do Saae, Luciano Magalhaes, explicou que o abastecimento foi suspenso por algumas horas com a chegada da água turva, mas como não apresentava riscos, o abastecimento voltou ao normal. O Saae espera a chegada dos rejeitos para poder suspender o abastecimento. Com a água turva, o nível do rio aumentou entre 30 e 40 cm, segundo o Saae.
O rompimento de duas barragens de rejeitos aconteceu na quinta-feira (5) e causou uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. A lama também chegará ao Espírito Santo e deve afetar o abastecimento de água de municípios.
Técnicos fazem coleta da água do Rio Doce, espírito santo (Foto: Viviane Machado/ G1) 
Técnicos fazem coleta da água do Rio Doce (Foto: Viviane Machado/ G1)
Monitoramento
Uma empresa contratada pela Samarco, responsável pela barragem que rompeu em Mariana, está coletando amostras ao longo do Rio Doce no Espírito Santo. Eles estão medindo a qualidade da água antes e depois da chegada dos rejeitos. À reportagem eles disseram que não estão autorizados a falar mais sobre os trabalhos.
Dona Angelina mora à beira do Rio Doce, no espírito santo (Foto: Viviane Machado/ G1) 
Dona Angelina mora à beira do Rio Doce
(Foto: Viviane Machado/ G1)
Moradores
Dona Angelina mora à beira do Rio Doce, em Baixo Guandu. A aposentada está preocupada com o impacto dos rejeitos na fauna e flora local.
"A maior preocupação é com a fauna, flora, os pesvcadores que vivem da pesca. Os peixes estão morrendo tudo, como vão viver. Está acabando tudo por onde passa, pelo que vi na internet. E quem vai ser responsabilizado por isso?", questionou Angelina.
A funcionária pública Valdete Malini foi cedo, nesta terça-feira (10), acompanhar a situação do Rio Doce. Ela mora nas proximidades do rio e tem acompanhado apreensiva a chegada dos rejeitos.
"Eu esperava encontrar muita sujeira, mas fico aliviada de não encontrar tão suja. Vim desde cedo porque estou preocupada", disse Valdete Malini.
Valdete Malini foi cedo, nesta terça-feira (10), acompanhar a situação do Rio Doce, espírito santo (Foto: Viviane Machado/ G1) 
Valdete Malini foi cedo acompanhar a situação do
Rio Doce (Foto: Viviane Machado/ G1)
A notícia preocupou os moradores, que se reuniram na ponte para esperar a chegada da lama nesta segunda-feira (9).
"Vim com um pouco de preocupação e um pouco de curiosidade. Como a gente reage para esperar essa lama? Ninguém sabe como ela virá, se forte ou fraca", falou a dona de casa Leidiane Monteiro.
O gari João Batista Barcelos também foi atraído pela curiosidade. "Quero ver se ela vai causar algum dano mesmo", disse.

Perigo
Para o prefeito Neto Barros, não há perigo de os moradores ficarem no local. "Eles têm costume de ficar ali quando tem enchente, ficam sempre acompanhando. A Polícia Militar está no local também, para monitorar", disse.
No município, a população já vem se preparando para a situação, já que o abastecimento de água será interrompido para análise assim que a lama de rejeitos chegar ao rio que abastece a cidade. Moradores têm feito armazenamento principalmente em caixas d'água extras, piscinas e estoque de galões de água mineral.
"Nosso estoque de caixas d'água acabou desde sábado. Vendemos tudo", disse o vendedor Weslei Milagre.

Samarco tem que distribuir água e monitorar rio
O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informou, nesta segunda-feira (9), que a mineradora Samarco tem que distribuir água aos moradores e monitorar o rio, em função dos impactos ambientais e socioeconômicos que serão causados no Espírito Santo pela lama de rejeitos que atingiu o Rio Doce.
A determinação do Instituto é para que a empresa promova todo o apoio necessário aos municípios e aos cidadãos capixabas que forem atingidos pela onda de lama. Para isso, a mineradora  deverá realizar ações que minimizem os impactos ambientais decorrentes da impossibilidade do tratamento de água nos locais afetados pelos rejeitos, assim como pelo comprometimento de outros usos que são feitos do Rio Doce como agricultura e a pesca.
Em nota, a Samarco informou que está atenta a qualquer repercussão no Espírito Santo e em constante contato com as autoridades competentes.  A empresa disse que está tomando todas as providências possíveis para mitigar os impactos ambientais gerados e, em caso de necessidade, auxiliar prefeituras e as comunidades em eventuais ocorrências.
"A coleta de amostras de água nos trechos impactados já foi iniciada e terá continuidade até a normalização da situação. É importante mencionar que a empresa está, no momento, concentrando seus esforços no atendimento às pessoas atingidas", diz a nota.
As operações da empresa na Unidade de Germano/Minas Gerais já estão paralisadas. Na Unidade de Ubu, em Anchieta/Espírito Santo, as operações industriais serão paralisadas ao final dos estoques de minério, bem como as operações de embarque, que serão interrompidas ao término dos estoques de produtos.

Governador sobrevoa região
O governador Paulo Hartung sobrevoou a região Noroeste do estado na manhã desta segunda, de onde coordena as ações que buscam amenizar os impactos dos rejeitos.
"A nossa equipe de governo e as equipes das prefeituras vêm trabalhando de uma maneira coordenada, com todos os setores, como Defesa Civil e o setor de água. Nós unimos os técnicos da Cesan e os técnicos dos SAAEs na região do [Rio] Doce. Esse trabalho tem o intuito de amortecer o impacto no ponto de vista da população naquilo que está ao nosso alcance, infelizmente tem muita coisa que não está, numa tragédia como essa", explicou Hartung.
O governo trabalha com a possibilidade de suspensão do abastecimento de água por tempo indeterminado em Baixo Guandu e Colatina. Equipes de análise monitoram a qualidade da água do Rio Doce e caso seja constatada imprópria para consumo, o abastecimento será interrompido imediatamente.

Governo federal
O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, colocou à disposição do governo do Espírito Santo as ações federais para enfrentar a chegada ao estado dos rejeitos de mineração provenientes do rompimento das barragens em Mariana.
O ministro estará nesta terça-feira (10) com o governador Paulo Hartung, para tratar apoio federal nas ações de assistência à população das cidades atingidas.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estão desenvolvendo ações de apoio ao estado em coordenação com os órgãos locais.

Doações
Segundo o governo do estado, órgãos públicos e empresas privadas já doaram um total de 60 carros-pipa. Até a tarde desta segunda, cerca de 700 litros de água haviam sido doados em Vitória, de acordo com os bombeiros.
As doações devem ser feitas no quartel do Corpo de Bombeiros Militar, situado na rua tenente Mário Francisco de Brito, na Enseada do Suá, em Vitória.
Outro ponto de doação na capital é a Defesa Civil Municipal, que fica na Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, 225, Edifício Tucumã, na Praia do Suá.
Em Colatina, as pessoas podem doar no antigo Restaurante Popular, próximo ao 8º Batalhão da PM. Já em Baixo Guandu, quem quiser doar pode procurar a Companhia da PM, no bairro Sapucaia.
As empresas que quiserem ajudar com carros-pipa devem entrar em contato com a Defesa Civil, pelo telefone (27) 9 9904-5736.
Doação de água mobiliza população no Noroeste do estado (Foto: Reprodução/ TV Gazeta) 
Doação de água mobiliza população no Noroeste do estado (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)

Monitoramento
O secretário de Estado do Meio Ambiente, Rodrigo Júdice, ressaltou as medidas tomadas pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) com relação aos impactos ambientais e sociais que serão causados pela chegada da lama.
“Com relação aos danos ambientais, eles são inevitáveis. Nós temos que monitorar a qualidade da água. Este monitoramento já está sendo feito pela própria empresa e a Cesan também está fazendo este monitoramento. Já entramos em contato com o órgão ambiental que licenciou a barragem no estado de Minas Gerais para analisar os produtos que são manuseados pela empresa e fazer a confrontação com o material que vai ser coletado no rio”, explicou.
Uma equipe da Fiscalização do Iema está em Colatina de plantão desde sábado (7) para acompanhar os impactos ambientais causados pela chegada da lama no Espírito Santo. Além disso, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) e também o Instituto estão em contato com os órgãos ambientais de Minas Gerais para trocar experiências e atualizar informações.
Além dos monitoramentos realizados pela Cesan e pela Samarco, o Iema está contratando uma empresa especializada para promover coletas para análise com o intuito de produzir contranálises. As coletas realizadas pela Samarco estão sendo acompanhadas por fiscais do Instituto. Outra ação do órgão é buscar parceria com a academia no intuito de intensificar o monitoramento no mar.

Ministério Público
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por meio do Centro de Apoio Operacional da Defesa do Meio Ambiente (Caoa) e das Promotorias de Justiça dos municípios afetados, informou que instaurou nesta segunda-feira (9) um inquérito civil para apurar as consequências e os impactos sociais e ambientais provocados em municípios capixabas.
Uma equipe técnica do MPES foi para Colatina para monitorar e avaliar os efeitos da lama na água do Rio Doce.
O Ministério informou também que realizou, nesta segunda, uma reunião preliminar com a Samarco para discutir o assunto. A reunião será retomada nesta terça-feira (10) e, na ocasião, a mineradora deverá apresentar ao MPES um plano concreto de ações emergenciais e um plano de abastecimento de água para os municípios de Baixo Guandu e Colatina.

Abastecimento
O abastecimento de água tratada na cidade de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, vai ser fornecido pelo município de Linhares, na região Norte, segundo informou, nesta segunda-feira (9), o prefeito de Colatina, Leonardo Deptulski. Após a passagem dos rejeitos vindos do rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, carros-pipa irão buscar a água tratada para abastecer hospitais, asilos, abrigos e presídios.
De acordo com o prefeito, as equipes que vão realizar o transporte estiveram no local de captação e já acertaram a parte operacional. “Acho que vai ser possível manter entre 20% e 30% do que a gente trata normalmente quando capta no Rio Doce”, falou Deptulski.
Ainda não há uma previsão do tempo que o município de Colatina vai ter o abastecimento suspenso. “A primeira cidade que passou por isso foi Governador Valadares e nós ainda não sabemos o que aconteceu. Em Ipatinga, onde houve análise, a qualidade da água piorou. Se essa tendência se confirmar, vamos ficar entre 24 e 48 horas com o risco de não tratar”, destacou o prefeito.
Apesar disso, as duas barragens existentes no percurso da lama podem reduzir o tempo de suspensão do abastecimento. “Passando pelas barragens, diminui a concentração de partícula. Assim que a mancha de lama estiver mais próxima, nós já vamos coletar amostra para fazer análise e, a partir daí, é que nós vamos dizer se vamos continuar tratando a água ou não”, falou Deptulski.
Defesa Civil retira comunidades ribeirinhas do Rio Doce, no Espírito Santo (Foto: Divulgação/Defesa Civil) 
Defesa Civil retira comunidades ribeirinhas do Rio Doce, no Espírito Santo (Foto: Divulgação/Defesa Civil)

Reservatórios
Moradores do município de Baixo Guandu, por onde a lama também vai passar, começaram a se prevenir com reservatórios de água. Sem caixa d'água em casa, o jeito foi improvisar uma piscina com quase 5 mil litros no quintal.
“Nem todo mundo tem condições de ficar comprando água. Aqui e na outra casa não tem caixa d'água, então a gente tomou a iniciativa de encher a piscina para não ficar sem”, falou a dona de casa Jéssica Gomes.
Segundo o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Baixo Guandu, Luciano Magalhães, o abastecimento vai ser interrompido para análise.
“Vamos esperar pelo menos aquela primeira água mais densa passar, para, aí sim, com a água toda normal, dentro dos parâmetros, a gente volta a tratar. O importante é armazenar o máximo que der e economizar, porque, pelo menos, durante essas 48 horas, a gente não tem previsão de retomar a captação”, afirmou.

Comunidades ribeirinhas
A Defesa Civil realizou, neste domingo (8), uma ação para retirar pescadores, banhistas e moradores das comunidades próximas ao Rio Doce, em Baixo Guandu e Colatina.
Segundo a Defesa Civil, a prioridade é resguardar a população que pode sofrer com o aumento da vazão do Rio Doce. O órgão atua ainda no monitoramento e em ações para a chegada da onda de rejeitos.
Mais uma escavadeira será enviada ao local (Foto: Kaio Henrique/ TV Gazeta Norte) 
Mais uma escavadeira será enviada ao local (Foto: Kaio Henrique/ TV Gazeta Norte)
Fonte: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2015/11/rio-doce-apresenta-agua-turva-em-baixo-guandu-no-es.html

11/11/2015 às 00h30 (Atualizado em 11/11/2015 às 09h57)

Lama contaminada tem concentração de metais até 1.300.000%  acima do normal 

Quantidade alta de manganês pode provocar danos graves à saúde, alerta infectologista da USP 
 
Amostra coletada 300 km depois de barragem detalha tragédia ambiental de mineradoras; Rio Doce foi severamente atingido Prefeitura de Rio Doce / Divulgação
 
Estudo preliminar indica concentração de metais no rio Doce em Valadares; seis dias depois da tragédia, mineradoras não divulgaram qualquer estudo sobre qualidade da água Prefeitura de Governador Valadares / Reprodução
 
O rompimento de duas barragens da Samarco em Mariana, na região central de Minas, começa a ganhar números que dão a dimensão da catástrofe ambiental. Amostras da enxurrada de lama que foram coletadas cerca de 300 km depois do distrito de Bento Rodrigues apontam concentrações absurdas de metais como ferro, manganês e alumínio.
A água coletada pelo SAAE (Serviço de Água e Esgoto) de Valadares aponta um índice de ferro 1.366.666% acima do tolerável para tratamento - um milhão e trezentos mil por cento além do recomendado, segundo relatório enviado à reportagem do R7. Os níveis de manganês, metal tóxico, superam o tolerável em 118.000%, enquanto o alumínio estava presente com concentração 645.000% maior do que o possível para tratamento e distribuição aos moradores. As alterações foram sentidas a partir de 8h, enquanto o pico de lama tóxica ocorreu às 14h no rio Doce.
Servidores da prefeitura esclarecem que não têm condições técnicas de verificar a ocorrência de materiais pesados (como arsênio, antimônio e chumbo, normalmente presentes em rejeitos que contêm ferro), e por isso aguardam análises da Copasa e de dois laboratórios para detalhar a situação.
A quantidade de manganês presente na água em quantidade adequada para tratamento é - 0,1 mg, mas os técnicos encontraram 29,3 mg pela manhã e 118 mg (1.180 vezes acima) durante a cheia da tarde. O alumínio aparece com 0,1 mg, mas estava disponível em 13,7 mg e 64,5 mg, respectivamente (6.450 vezes superior). A concentração tolerada de ferro é 0,03 mg, mas as amostras continham 133 mg e 410 mg. O nível de turbidez regular é 1000 uT, mas chegou a 80 mil uT na passagem da enchente.
Manganês traz riscos
Segundo o chefe do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da USP, Anthony Wong, a concentração mais preocupante é do manganês.
— É um metal tóxico que, por ser mais pesado, devia estar depositado no fundo. Pode provocar alterações nas contrações musculares, problemas ósseos, intestinais e agravar distúrbios cardíacos. O alumínio não traz riscos para a população em geral, mas nestas quantidades pode trazer riscos para diabéticos, pessoas com tumores ou problemas renais crônicos. O organismo mais ácido absorve mais alumínio. Já o ferro não é considerado tóxico.
O infectologista destaca que a Samarco já deveria ter tornado públicas as análises de qualidade da água, principalmente em relação aos metais pesados, que podem trazer consequências mais graves - já se passaram seis dias do desastre enquanto Vale e Samarco não apresentaram nenhum estudo das amostras coletadas.
— Dentro de 48 horas já deveriam ter divulgado, as equipes de socorro e sobreviventes tiveram contato [com essa água]. Metais pesados como chumbo, arsênio e antimônio costumam acompanhar o ferro, mais raramente o níquel.
A preocupação com os riscos de elementos pesados é compartilhada por Ricardo Valory, diretor geral do IBIO-AGB Doce (Instituto Bioatlântica).
— A dúvida é sobre a composição real da lama, se tem metal pesado. A Samarco afirma que não, mas de qualquer maneira temos que aguardar os laudos oficiais.
Samarco ainda não respondeu
A reportagem do R7 questionou a Samarco diversas vezes na segunda (9) e terça (10) sobre os estudos das amostras coletadas pela própria empresa e sobre os resultados do SAAE, mas ainda não obteve respostas. Em comunicados no site e em entrevistas de executivos desde o dia do rompimento, a mineradora, que é controlada pela Vale e pela BHP, reforçou que a enchente de lama não continha rejeitos tóxicos para seres humanos, apenas material inerte em compostos de areia.
Por causa destes níveis de contaminação, o tratamento de água foi suspenso em Governador Valadares há três dias e a partir de hoje pode faltar água para 800 mil habitantes em nove cidades em Minas e no Espírito Santo. A prefeitura decretou situação de calamidade pública.
Fonte: http://noticias.r7.com/minas-gerais/lama-contaminada-tem-concentracao-de-metais-ate-1300000-acima-do-normal-11112015

Total de mortes confirmadas em Mariana sobe para seis

Restam ainda 21 desaparecidos. Sexto corpo foi encontrado na tarde desta terça, mas ainda não houve identificação

- Atualizado em

O Corpo de Bombeiros resgatou na tarde desta terça-feira o corpo da sexta pessoa morta em decorrência do rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, em Mariana, no interior de Minas Gerais. A vítima ainda não foi identificada. Até agora, foram identificados quatro corpos, incluindo o da menina Emanuele Vitória Fernandes, de 5 anos. Além dela, tiveram as mortes confirmadas o funcionário da Samarco Claudio Fiuza, de 41 anos, e os empregados terceirizados da mineradora Aparecido Leandro, de 48 anos, e Sileno Narkevicius de Lima, 47 anos.
Restam ainda 21 pessoas desaparecidas: onze funcionários e dez informados pelos familiares. Durante a tarde, Afonso Augusto Alves, de 54 anos, morador do distrito de Camargos que estava na lista de desaparecidos, apresentou-se no posto de Comando das Operações e está alojado na casa de familiares. Há 631 pessoas hospedadas em hotéis.
Ainda nesta terça-feira foi percebido um pequeno abalo sísmico, de 2,1 graus, em Ouro Preto (MG), segundo o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP). Pessoas que acompanhavam a operação de resgate dos bombeiros chegaram a ser orientadas a deixar o local. Na segunda-feira, um tremor de 2,2 graus foi registrado em Mariana. Segundo os Bombeiros, o tremor não alterou a rotina de trabalho das equipes de resgate ou ausou qualquer alteração na estrutura das barragens de Germano e Santarém.
Os resíduos da extração do minério de ferro que ficavam retidos pelas barragens formaram uma espécie de "onda de lama" que alcançou os rios da região e se desloca para cidades do Espírito Santo. Por onde o fluxo de lama passa, o abastecimento é cortado devido à possibilidade de a água estar contaminada pelos rejeitos.
O promotor de Justiça do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado de Minas Gerais Carlos Eduardo Ferreira Pinto afirmou ontem que o incidente "não foi fatalidade", mas resultado de um "erro de operação" e "negligência". "Não foi acidente, não foi fatalidade. O que houve foi um erro na operação e negligência no monitoramento operação", disse Ferreira Pinto.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/total-de-mortes-confirmadas-em-mariana-sobe-para-seis  

Cabrini percorre o Rio Doce para mostrar a maior tragédia ambiental do BR

Conexão Repórter
 - 28/11/2015
Roberto Cabrini percorre os 800 km do Rio Doce para documentar cada detalhe do maior desastre ambiental da história do país e revela segredos impressionantes. Os personagens, o passo a passo, o rastro de destruição deixado pela imensa onda de lama da mineração. A onda avermelhada que carrega a morte. Um mundo de vida transformado em lama.

O drama da contagem regressiva e negligente para a matança da fauna, da flora, e de humanos. O lixo de uma indústria milionária, a barragem tida como infalível, o lucro tido como sustentável...
 
Vilarejos que desapareceram do mapa e lembranças de um paraíso convertido em inferno. Ela vem chegando... Não há como parar... Ruas, casas, igrejas, escolas, povoados, almas... O desespero de ter que escolher qual dos dois filhos deixar para trás.
 
Fotos, cadernos, desenhos, quadros... Nos objetos soterrados, recordações de vidas interrompidas precocemente. Tudo vai sendo reduzido ao mesmo tom, marrom vermelho. Águas límpidas tingidas, rios esterilizados, incapazes de acolher vertebrados, peixes, anfíbios. Seres vivos em esforços desesperados de sobrevivência. Um a um vão se rendendo. Até a conta chegar a toneladas.
 
Falta oxigênio onde nunca faltou. Inconformismo. Tentativas de explicação. Responsabilidades. Culpas. Gritos aqui e ali... Suspiros... E o silêncio sepulcral que predomina...

 

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Fotos: Reprodução/SBT  

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