terça-feira, 3 de maio de 2016

30/04/2016 05h00 - Atualizado em 30/04/2016 05h00

Máscara pode reduzir efeito nocivo da poluição na saúde cardíaca, diz estudo

Experimento com voluntários constatou eficácia de filtro contra poluição.
Efeito foi constatado com máscara simples usada em construções.

Máscara usada como equipamento de proteção individual (EPI) na construção civil, para proteger contra poeira, é capaz de reduzir malefícios da poluição à saúde cardíaca (Foto: Jefferson Luís Vieira/Arquivo pessoal) 

Máscara usada como equipamento de proteção individual (EPI) na construção civil, para proteger contra poeira, é capaz de reduzir malefícios da poluição à saúde cardíaca (Foto: Jefferson Luís Vieira/Arquivo pessoal)

Já existe um consenso de que a exposição à poluição pode trazer prejuízos à saúde cardiovascular dos moradores das grandes cidades. Agora, um experimento que teve a participação de 26 pacientes com insuficiência cardíaca e 15 pessoas saudáveis sugere que o uso de uma máscara respiratória simples – dessas usadas por trabalhadores da construção civil para se proteger da poeira – é capaz de reduzir de forma considerável o impacto negativo na saúde do coração.

O estudo, desenvolvido no Núcleo de Insuficiência Cardíaca do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), também concluiu que a poluição piora o desempenho físico tanto de pacientes com insuficiência cardíaca quanto de pessoas saudáveis.

Os pesquisadores submeteram os voluntários – 26 pessoas com insuficiência cardíaca e 15 pessoas saudáveis – a três diferentes situações dentro de um ambiente controlado: exposição ao ar limpo, exposição ao ar poluído e exposição ao ar poluído filtrado pela máscara. Esses voluntários receberam o ar direto de um equipamento como o que pode ser visto na foto.
Pesquisador Jefferson Luís Vieira demonstra equipamento utilizado por voluntários em pesquisa sobre poluição feita no Incor (Foto: Jefferson Luís Vieira/Arquivo pessoal) 
Pesquisador Jefferson Luís Vieira demonstra equipamento utilizado por voluntários em pesquisa sobre poluição feita no Incor (Foto: Jefferson Luís Vieira/Arquivo pessoal)

O cardiologista Jefferson Luís Vieira, autor da pesquisa, explica que a concentração da poluição utilizada no estudo é maior do que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas menor do que a comumente observada em regiões de grande circulação de carros em uma cidade como São Paulo.

Para avaliar o impacto da poluição no sistema cardiovascular, foram usadas algumas medidas, entre as quais a função endotelial – relacionada à contração dos vasos sanguíneos – e o hormônio BNP – relacionado a falhas no funcionamento cardíaco.

Mesmo uma exposição relativamente curta aos poluentes – de apenas 21 minutos – foi suficiente para promover uma piora da função do coração, segundo essas medidas.

“Mais do que esses achados, o estudo mostrou um potencial mecanismo de benefício do filtro”, diz Vieira.

O pesquisador observa que é difícil imaginar o brasileiro andando com máscaras na rua, prática já comum no Japão. “Pelo menos para pacientes com insuficiência cardíaca, o uso da máscara tem esse potencial benefício, assim como para taxistas ou motoristas de ônibus, que se expõe diariamente à poluição.”

Atividade física e poluição
Quando os voluntários se submeteram à prática de atividade física em esteira, foi evidente a queda de desempenho na presença da poluição tanto para os pacientes com insuficiência cardíaca quanto para os saudáveis, o que também foi revertido em parte pelo uso do filtro da máscara.

“Um achado secundário do estudo é que exercitar-se ao ar livre em lugares de alta poluição pode atenuar os benefícios dos exercícios”, observa o pesquisador.

O projeto de pesquisa foi o doutorado de Jefferson Luís Vieira, defendido esta semana em São Paulo, sob a orientação de Edimar Alcides Bocchi, diretor do Núcleo de Insuficiência Cardíaca do Incor. Resultados parciais já foram publicados em duas revistas especializadas: o Journal of the American College of Cardiology (JACC: Heart Failure), em janeiro, e o International Journal of Cardiology, em abril.

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