Maternidade aos 50: riscos e tratamentos
Cada vez mais mulheres acima dos 50 anos de idade optam por fertilização. Diabetes e hipertensão estão entre os principais riscos da gravidez tardia, mas podem ser controlados com tratamento adequado.
Uma gravidez aos 50 anos deixou de ser notícia improvável, ainda que a
gestação tardia tenha riscos maiores para a mulher. O Conselho Federal
de Medicina (CFM) recomenda a gestação, com reprodução assistida, até os
50 anos. Apenas em 2015 o Conselho aprovou uma resolução (2.121/2015)
que dá autonomia à mulher, acima dessa idade, para se submeter a
tratamentos de fertilização desde que ela assuma os riscos juntamente
com seu médico.
Pelas regras anteriores, a mulher que quisesse utilizar métodos de
fertilização precisaria obter a autorização do Conselho, o que hoje não é
mais necessário. O Congresso Nacional nunca aprovou uma legislação que
regulamente as técnicas de reprodução assistida no país. A mesma
resolução do CFM determina que a idade máxima para doação de óvulos é de
35 anos, e de espermatozoides, de 50 anos.
Estudos médicos mostram que a fertilização natural após os 40 anos é
rara, mas não impossível. "Ainda que as mulheres hoje estejam cada vez
mais saudáveis e cuidando melhor de si mesmas, a melhoria da saúde na
vida adulta não contraria o declínio natural da fertilidade relacionado
com a idade. É importante
compreender que a fertilidade diminui à medida
que a mulher envelhece devido à redução regular do número de ovos que
permanecem nos seus ovários", esclarece a Sociedade Americana de
Medicina Reprodutiva.
Segundo a obstetra e ginecologista Tania Schupp Machado*, especialista
em gravidez tardia, "a chance de uma mulher de 40 anos engravidar
espontaneamente em um ciclo menstrual é de 8%, enquanto que em uma jovem
de 25 anos é 25%". Acima dos 50 anos, a gravidez espontânea é
raríssima, pontua a médica, que já acompanhou uma paciente que
engravidou naturalmente aos 56 anos.
No caso de uma gestação espontânea após os 40 anos, o principal
problema é a qualidade dos óvulos da mulher. "O que não conseguimos
controlar é a maior incidência de alterações cromossômicas fetais, tipo
síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21), que com 40 anos é de um
caso para cada 100 gestantes. Com 45 anos, essa incidência é de um caso
para cada 20 gestantes de mesma idade", explica Schupp.
Os outros principais riscos de uma gravidez tardia são a maior
incidência de diabetes gestacional e a hipertensão. Essas doenças,
porém, observa a obstetra, são de fácil diagnóstico durante o pré-natal.
Com o tratamento adequado, a mãe e o bebê estarão saudáveis.
Chance de aborto
Quando uma mulher após 45 anos engravida com seus próprios óvulos, a
chance de aborto natural aumenta em 80%, afirma Avelino Amaral,
especialista em reprodução assistida e membro da Câmara Técnica de
Reprodução Assistida do CFM. É por isso, segundo ele, que muitas
mulheres optam pela fertilização in vitro. Nesse processo, o útero da
mulher é preparado com o uso de hormônios naturais, geralmente por 12
semanas, mas os óvulos utilizados são de outra mulher, com idade
inferior a 35 anos.
"A menstruação é a preparação do útero para a mulher engravidar. A
mulher na menopausa perde essas condições", afirma Amaral. Ele descarta
que, nesses casos, o uso de hormônios possa ter relação com a incidência
de câncer de mama. "A gravidez tardia não está associada a maior
incidência de cânceres. O câncer de mama é mais incidente em mulheres
que nunca amamentaram", acrescenta Schupp.
Ainda que a mulher opte pela fertilização, observa Amaral, os riscos da
gravidez em idade avançada serão os mesmos: prematuridade, bebê com
baixo peso, diabetes gestacional e hipertensão. Os custos de um
tratamento de fertilização podem oscilar de 15 mil reais a 25 mil reais.
De acordo com o médico Newton Busso, também especialista em reprodução
assistida, "as chances de sucesso não dependem só da quantidade de
óvulos, mas também da qualidade, que piora com a idade". A gestação em
idade avançada, acrescenta ele, é sempre uma preocupação, o que exige
avaliação médica prévia para identificação de prováveis fatores de risco
à saúde da gestante e da criança.
Tendência mundial
Cada vez mais as mulheres optam por adiar a gravidez, tendência
observada mundialmente. No Brasil, 31% das mulheres gestantes têm acima
de 30 anos, segundo dados coletados pelo Ministério da Saúde em 2013. No
início da década, esse percentual era de apenas 22,5%.
O envelhecimento na estrutura etária das gestantes é um fenômeno
acompanhado do aumento da expectativa de vida (75,4 anos) e da redução
das taxas de fecundidade (1,75 filho por mulher), de acordo com o último
levantamento populacional feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
No Canadá, estatísticas oficiais do governo divulgadas em 2016
apontavam que, pela primeira vez em décadas, o nascimento de crianças em
partos com mulheres acima de 40 anos (3,5% do total de nascimentos no
país) superou os partos de mulheres abaixo dos 20 anos de idade (3,1%
dos partos). Em 1993, 60% dos nascimentos no Canadá eram de crianças com
mães até 30 anos. Esse percentual caiu para 45,6% duas décadas depois.
As alemãs, por outro lado, preferem cada vez mais uma vida sem filhos.
Estatísticas governamentais de 2012 revelaram que uma em cada cinco
mulheres alemãs entre 40 e 44 nunca deu à luz.
Às mulheres que pretendem adiar a gestação para dar prioridade à
carreira ou aos estudos, Schupp dá um conselho: "Procure seu
ginecologista ou um especialista em reprodução humana para ver como está
sua saúde e avaliar se é aconselhável deixar seus óvulos congelados
para o momento em que quiser engravidar."
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