terça-feira, 3 de janeiro de 2017

'Respingo de água fria já deixou minha pele irritada': como é viver com alergia ao frio

Espanhola conta como enfrenta situações comuns do dia a dia; médicos explicam que problema é raro e não tem cura.

"Eu não podia me sentar na privada nem encostar na parede do banheiro porque sabia que estaria fria. 

Também não podia comer fora no verão, porque quase sempre os restaurantes ligam o ar condicionado. 

Tomar sorvete ou bebidas geladas então, nem pensar". 

Estas são algumas das limitações com as quais teve que se acostumar a espanhola Beatriz Sánchez, de 30 anos, que sofre de alergia ao frio ou urticária ao frio. 

O problema é uma condição dermatológica rara, que atinge menos de 3% das pessoas e pode ocorrer em qualquer idade - sendo mais comum em adultos jovens. 

As pessoas que sofrem do transtorno apresentam vergões vermelhos ou erupção na pele quando em contato com algo frio. As lesões coçam e pode ser acompanhadas de outros sintomas, como febre, dor de cabeça e mal-estar. 

Tanto a água como o ar frio podem desencadear a reação. 

"Em casos extremos, a reação é acompanhada de queda da pressão arterial, choque, náuseas e pode levar à perda da consciência", explicou Javier Subiza, especialista em Alergologia e Imunologia da Clínica Subiza, de Madrid, na Espanha. 

Segundo a página na internet da conceituada Clínica Mayo, dos Estados Unidos, não se sabe exatamente o que causa a urticária ao frio, mas parece que algumas pessoas têm as células da pele muito sensíveis por razões de ordem hereditária, vírus ou doença. 

Nas pessoas que sofrem dessa alergia, o frio provoca a liberação de histamina e outras substâncias químicas no sangue. É isso que provoca o aparecimento das manchas na pele.

Piora no verão

Mas ao contrário do que se pode imaginar, para que se produza este tipo de urticária não é preciso que seja inverno nem que a pele enfrente temperaturas extremas. 

"Uma queda da temperatura ambiente de 26 para 24 graus centígrados pode provocá-la também", diz Subiza. 

Para Beatriz, por exemplo, o verão se transformou em um pesadelo. 

"Pensei que seria melhor, mas foi o oposto. Na praia, bastava caminhar na beira do mar e levar uns respingos para ficar com a pele empolada", lembrou. 

"Um dia, entrei na água por um minuto e, em seguida, tive uma reação em todo o corpo que levou três horas para desaparecer". 

"Não é só isso. Às vezes, quando eu saía do chuveiro, se demorasse um pouquinho para me secar, a água esfriava na minha pele e acontecia a mesma coisa", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Isso também acontece com Beatriz nos dias de calor: quando o suor esfria, sua pele reage apresentando urticária. 

"O normal é que a pele demore cinco minutos a reagir", conta Beatriz, "mas no meu caso, a reação era imediata".

Tratamento

A alergia ao frio geralmente aparece em adultos jovens. O grau de gravidade do problema varia, "mas na maioria dos casos não passa de uma coceira", diz Subiza. 

Essa condição não tem cura, mas é tratável. E, felizmente, não é uma doença que dure a vida toda: já foram registrados casos de remissões espontâneas após cinco anos. 

"Primeiro é preciso fazer um diagnóstico e depois determinar a temperatura a partir da qual a urticária aparece", disse Subiza. 

Nos pacientes que apresentam sintomas com temperaturas relativamente altas, por exemplo, a partir de 20 graus centígrados, o tratamento preventivo é à base de anti-histamínicos, em doses duas ou três vezes maiores que as habituais. 

O tratamento ajuda a tolerar temperaturas mais frias, mas não impede as crises. 

Obviamente, quem tem essa alergia deve evitar o frio e as mudanças bruscas de temperatura. 

Desde que começou a tomar os anti-histamínicos, Beatriz Sánchez admite que está muito melhor. Mas mesmo assim tem que tomar cuidado. 

"Sempre tenho que tomar uma injeção, porque você pode vomitar e ter as vias respiratórias fechadas com a liberação de tanta histamina. Isso pode causar asfixia", explica. 

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