Cientistas criam método mais rápido e barato para detectar zika
Teste foi capaz de identificar vírus em mosquitos e em amostras humanas de sangue e sêmen. Uso em pacientes ainda requer novas etapas de pesquisa.
Uma equipe internacional de pesquisadores conseguiu desenvolver um
teste mais rápido e barato capaz de detectar o vírus da zika em
mosquitos e em amostras humanas. Além de ser uma alternativa para
diagnosticar pacientes no futuro, o método pode desempenhar um papel
importante no monitoramento da chegada do vírus a novas regiões do
mundo.
A pesquisa, liderada por pesquisadores do Departamento de
Microbiologia, Imunologia e Patologia da Universidade do Estado do
Colorado, nos Estados Unidos, usou um método chamado LAMP (sigla para
amplificação isotérmica mediada por loop, em inglês).
A brasileira Tereza Magalhães, pesquisadora da Universidade do Estado
do Colorado e uma das autoras do estudo, explica que o teste
desenvolvido é parecido com um outro método atualmente utilizado na
detecção de zika chamado RT-PCR (sigla para reação de transcrição
reversa seguida por reação em cadeia da polimerase). Esse teste
amplifica o material genético do vírus presente na amostra para que ele
se torne detectável. Trata-se de um teste caro, de alta complexidade que
exige profissionais treinados e laboratórios especiais.
"É possível, após esses estudos, que tenhamos uma ideia melhor da sua utilidade prática em áreas endêmicas e que seja possível implementá-lo em serviços de saúde e vigilância"
O método LAMP também detecta o material genético do vírus, porém sem a
necessidade de equipamentos sofisticados, materiais purificados e
temperaturas distintas. Além disso, os resultados podem ser visualizados
a olho nu por mudanças de cor. "Tudo isso facilita imensamente a
realização do teste e minimiza bastante o custo e o tempo em comparação à
PCR", afirma Tereza.
"Com o LAMP, você não precisa da sofisticação de uma máquina", diz o
professor Joel Rovnak, um dos autores do estudo. Isso tornaria o método
mais viável em países em desenvolvimento atingidos pelo vírus.
Segundo
os pesquisadores, o teste seria importante para determinar políticas
públicas de prevenção em locais onde fossem identificados mosquitos
infectados, mesmo antes de surgirem casos em humanos.
Mosquitos e amostras humanas
De acordo com Tereza, o teste teve resultados excelentes em amostras de
mosquitos e em amostras biológicas humanas artificialmente inoculadas
com zika. O método também teve sucesso em testes de amostras de
pacientes do Brasil e da Nicarágua. Porém neste caso, segundo Tereza, os
resultados foram melhores quando foi utilizado o RNA purificado do
vírus, em vez de amostras sem purificação. É possível que o teste tenha
de ser aprimorado especificamente para cada tipo de amostra, como de
sangue, sêmen, saliva ou urina.
Hoje, o teste está sendo aplicado em amostras de mosquito coletados em
campo e também em novos pacientes infectados com o vírus da zika. "É
possível, após esses estudos, que tenhamos uma ideia melhor da sua
utilidade prática em áreas endêmicas e que seja possível implementá-lo
em serviços de saúde e vigilância, se houver interesse" afirma Tereza.
A pesquisadora lembra que o diagnóstico de zika ainda representa um
desafio de saúde pública, principalmente por causa dos sintomas muito
parecidos com outras arboviroses, como dengue e chikungunya. Poucos
serviços realizam os testes moleculares através de RT-PCR, devido à
complexidade do método. E os testes sorológicos, que detectam os
anticorpos contra o vírus, são problemáticos por terem altos índices de
reação cruzada com outros vírus transmitidos por mosquitos,
especialmente o da dengue.
"A verdade é que o diagnóstico para essas arboviroses representa um
grande problema e desafio para o Brasil que merece muito, mas muito mais
atenção", diz a pesquisadora.
Vírus africano x vírus asiático
O novo teste também é capaz de distinguir se o vírus é da linhagem
africana ou asiática. A comunidade científica acredita que o vírus
asiático - que chegou ao Brasil vindo da Polinésia Francesa e, a partir
daqui, se espalhou pelo mundo - seja mais perigoso e tenha uma
associação mais forte com o surgimento de casos de microcefalia em bebês
cujas mães foram infectadas. Daí a importância de se distinguir qual a
linhagem presente em cada região.
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