Estudo conclui que doença de Chagas aumenta risco de morte mesmo em fase assintomática
Pessoas com diagnóstico, mas sem sintomas, têm risco 2,3 vezes maior de morte, diz estudo. Antes, considerava-se que a fase assintomática da doença não aumentava riscos.
A doença de Chagas mais do que dobra o risco de morte mesmo durante a
fase em que não manifesta sintomas, segundo um estudo brasileiro
publicado nesta quinta-feira (18) na revista médica “PLOS Neglected
Tropical Diseases”. Até agora, considerava-se que a taxa de mortalidade
entre pacientes na fase assintomática não era maior do que a de pessoas
sem a doença.
A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi,
é transmitida aos humanos pelas fezes do inseto barbeiro. O paciente é
infectado quando é picado e, ao coçar, leva as fezes do inseto para
dentro do ferimento.
Depois de alguns sintomas iniciais que podem incluir inchaço, febre,
mal estar e dor de cabeça, os sinais da infecção desaparecem e podem não
voltar à tona por décadas. Uma segunda etapa da doença, a fase crônica,
envolve problemas cardíacos, neurológicos e digestivos.
Estudo avaliou doadores de sangue
Para avaliar o impacto da doença na fase assintomática, uma equipe de
pesquisadores liderada pela matemática Ligia Capuani, do Departamento de
Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e pela
médica Ester Cerdeira Sabino, do Departamento de Doenças Infecciosas e
do Instituto de Medicina Tropical da FMUSP, realizou uma avaliação
retrospectiva de 2.842 pessoas com diagnóstico de doença de Chagas e
5.684 pessoas sem a doença entre doadores de sangue de São Paulo no
período de 1996 a 2000.
Como os doadores de sangue são questionados sobre sintomas da doença de
Chagas antes da doação, o estudo considera os que receberam diagnóstico
positivo como casos em fase assintomática da doença.
Os nomes dos doadores foram cruzados com as informações sobre as mortes
que ocorreram no Brasil de 2001 a 2009 para verificar quantos tinham
morrido e quais as causas. A conclusão foi que, entre os que tinham
doença de Chagas, 5,6% morreram ao longo do estudo. Já no grupo dos que
não tinham a doença, apenas 1,8% morreram. O risco de morte entre os que
tinham Chagas assintomático foi 2,3 vezes maior do que no grupo sem o
diagnóstico.
As líderes da pesquisa observam que os resultados do estudo reforçam a
necessidade de ampliar o acesso ao diagnóstico da doença. “Muita gente
não sabe que tem a doença de Chagas, que atinge pessoas muito pobres e
muito simples”, diz Ligia.
Ester destaca a necessidade de haver um programa para acompanhamento e
tratamento de pacientes com a doença de Chagas, que facilite o acesso do
pacientes a cardiologistas para lidar com as complicações cardiológicas
da doença, aos moldes dos programas de atendimento a pacientes com
hepatite C ou HIV do Ministério da Saúde.
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