Febre amarela: veja 8 diferenças da doença mais temida em Campinas no final do século XIX e em 2017
Infectologista
pontua fatos que mostram as condições da cidade para enfrentar a doença
nos dois anos. No final do século XIX, a população de Campinas foi
quase dizimada.
Por Patrícia Teixeira, G1 Campinas e Região
Rua Dr Quirino, na época da epidemia de febre amarela, em Campinas (Foto: Acervo MIS Campinas)
Falar sobre febre amarela em Campinas (SP) vai muito além da
preocupação com vacina, áreas de risco, mosquito transmissor e formas de
prevenção. A história da cidade amarga seis epidemias da doença no
final do século XIX que quase dizimaram a população. Dos cerca de 20 mil
habitantes na época, cinco mil permaneceram na cidade e mais de três
mil morreram.
Esse histórico, no entanto, é bem diferente da situação atual em que a
doença se apresenta. Com as orientações de um infectologista, o G1 pontuou oito principais pontos que marcam as diferenças.
Campanha em Sousas, distrito de Campinas, atraiu fila de moradores para a vacinação (Foto: Reprodução EPTV)
A febre amarela voltou a assustar os moradores este ano, com casos
espalhados pelo Brasil que chegaram até Campinas, mais precisamente no
distrito de Sousas.
O alerta começou com a morte de macacos na zona rural - sete morreram
vítimas da doença - e a preocupação chegou ao ápice com a confirmação de
um caso autóctone em humano no distrito, que passou por tratamento e
sobreviveu. A vacinação contra o vírus passou a ser oferecida para toda a
população, atualmente de 1,1 milhão de pessoas.
O infectologista de Campinas Frederico Gigliotti Palazzo, membro da
Sociedade Brasileira de Infectologia, destaca oito principais fatores
que distanciam as epidemias - registradas entre 1889 e 1897 - da
realidade da cidade em 2017. Ele usou como fonte informações da
Sociedade Brasileira de Infectologia. Confira abaixo:
1 - Origem
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
"Hoje ela predomina mais no interior, em zonas rurais. Principalmente
norte do estado de São Paulo, Minas Gerais, Centro Oeste e Norte. Não é
todo ano que tem, mas não é raro ter casos nessas regiões", afirma o
infectologista.
2 - Tipo
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
"No Brasil a febre amarela silvestre é sazonal. Ocorre em praticamente
todos os anos. Não é que não tem e agora passou a ter. Ela ocorre de
maneira cíclica. Esse ano foi o maior dos últimos tempos, mas foi só o
ciclo silvestre. O último caso de febre amarela urbana foi diagnosticado
em 1942, no Acre.", explica o infectologista Frederico Palazzo.
3 - Transmissão
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
Segundo o infectologista, no final do século XIX, entre as principais
tentativas de conter o surto estava a desinfecção dos cadáveres, que
eram enterrados à noite, somente. "Achava-se que tinha transmissão de
pessoa pra pessoa. Era usada a quarentena para deixar o paciente
isolado. Eram meios pouco eficazes para o controle da doença", afirma.
4 - Saneamento
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
"Ninguém combatia o mosquito, não se sabia que ele era o causador.
Focava-se mais no paciente, achando que [a doença] era transmitida de
pessoa pra pessoa", ressalta Palazzo.
5 - Surtos
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
"Hoje a chance de ter surto urbano da febre amarela é mínima, por conta
da vacinação em massa e também por conta do controle do vetor, que é o
Aedes. Hoje a gente vive um surto, porque são regiões restritas, na área
silvestre", explica o infectologista.
6 - Estrutura da saúde
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
"Unicamp, PUC [Celso Pierro], Mário Gatti e Ouro Verde têm ala
específica para doença infecciosa. O tratamento é o suporte químico dado
ao paciente. Vai depender da gravidade da doença, se for a forma leve
ou grave, que necessite de terapia intensiva. Se for leve, soro, remédio
pra febre e controle químico", explica o especialista.
Palazzo destaca que a primeira vacinação em massa foi liderada pelo cientista e médico Oswaldo Cruz.
"Em 1937, Oswaldo implementou o primeiro programa de erradicação do
Aedes aegypti e em 1942 foi realizada a primeira vacinação em massa, o
que levou à eliminação da febre amarela urbana. Em 1958 a Organização
Mundial da Saúde considerou o Brasil livre da infestação de Aedes
aegypti. Só que ele foi reintroduzido no Brasil em 1976, por
estrangeiros", explica.
7 - Mosquitos diferentes
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
"É um mosquito que vive mais na floresta, não vive na cidade, não
consegue se reproduzir da mesma maneira que o Aedes. Faz só transmissão
silvestre. O Aedes vive mais na cidade. Período de reprodução é o
mesmo", alerta.
8 - Perfil de infectados
Infográfico elaborado em 18/05/2017 (Foto: Matheus Rodrigues / Arte G1)
"Hoje o ciclo silvestre acaba acometendo mais os homens, por conta da
atividade laboral. A maioria dos doentes é de indivíduos que vão até a
doença, se expõem por turismo, trabalho, viagem. A chance de termos uma
epidemia de febre amarela urbana no Brasil é praticamente nula”,
completa.
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