sexta-feira, 19 de maio de 2017

Jovem atropelada em protesto diz que sente muitas dores e está 'em choque'

Andreza Carneiro foi atingida por motorista que avançou contra grupo que pedia a renúncia de Michel Temer. Vídeos registraram a confusão, em Goiânia.

 
Atropelada durante um protesto em Goiânia, a vendedora ambulante Andreza Carneiro, de 21 anos, disse nesta sexta-feira (19) que sente muitas dores e que está “em choque” com o que aconteceu. Um vídeo mostra quando a integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) bate o capacete contra o para-brisa do carro e, em seguida, é atropelada

“Pensei que ia morrer. Foi um milagre de Deus ter ficado embaixo do carro e sobrevivido”, relatou ao G1

O atropelamento ocorreu por volta das 17h30 de quinta-feira (18), no cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera, durante o protesto que pedia a renúncia do presidente Michel Temer (PMDB). A jovem foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levada para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).
Andreza Carneiro se recupera após ser atropelada durante protesto em Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera) 
Andreza Carneiro se recupera após ser atropelada durante protesto em Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera) 
 
Após ser analisada pela equipe médica, Andreza recebeu alta médica. De acordo com a unidade de saúde, a jovem não teve nenhuma fratura, passou por exames e avaliação multidisciplinar. 

Apesar de não ter fraturas, a manifestante teve várias escoriações. “Está doendo muito. Estou com muita dor nas pernas e nas costelas, não posso fazer esforço. Nem dormi direito”, relata a jovem. 

De acordo com Andreza, ela bateu o capacete contra o carro para evitar que ele seguisse e machucasse alguém. “Estava com o sangue quente. Aí vi ela [motorista], e um monte de pessoas na frente, atrás, em cima. Aí peguei e comecei a bater para parar o carro”, explicou. 
Samu socorre manifestante ferida durante ato em Goiânia (Foto: Paula Resende/G1) 
Samu socorre manifestante ferida durante ato em Goiânia (Foto: Paula Resende/G1) 
 
Andreza estava no protesto com o marido, Daniel Semão, de 31 anos, o filho, de 3 anos, e a mãe, a diarista Araci Carneiro, 54. No momento da confusão, a criança estava com a avó e ambas não se feriram. 

Já Daniel machucou o braço ao quebrar o vidro da janela do Chevrolet Prisma para parar o carro. Ele confessou que teve medo de perder mulher

“Foi a ação da multidão que salvou a minha mulher. Ela ficou embaixo do carro. Uma turma levantou o carro e eu a puxei. O intuito [da motorista] era passar por cima e matar. Se a gente não para o carro, ela ia matar minha mulher”, disse ao G1
Daniel fica ferido ao quebrar o vidro da janela do carro (Foto: Paula Resende/G1) 
Daniel fica ferido ao quebrar o vidro da janela do carro (Foto: Paula Resende/G1)

Motorista do carro

Já a condutora do carro e um passageiro foram retirados do veículo e escoltados pelo Corpo de Bombeiros e pela Polícia Militar. Segundo o sargento do Corpo de Bombeiros Welder Alves Justino, eles não se machucaram. “A condutora está em estado de choque. Todo mundo queria apedrejar o carro dela. Tentaram linchá-la. Ela não ficou ferida, apenas assustada”, disse. 

A mulher foi levada para a Central de Flagrantes de Goiânia, prestou depoimento e foi liberada. Responsável por registrar o caso, o delegado Fernando Takemoto entendeu que não havia elementos jurídicos para autuar a motorista em flagrante, pois ela também pode ter agido em legítima defesa. 

“Havia uma desproporção numérica absurda contra a vítima que tinha apenas o carro em que estava para se proteger e foi cercada da agressão violenta de várias pessoas”, explica o delegado no boletim de ocorrência. 

O caso será investigado pelo 1º Distrito Policial. “Vamos apurar o eventual crime de dano ao patrimônio e o eventual crime de lesão corporal. Como são casos conexos, o mesmo inquérito vai apurar as duas circunstâncias”, explicou o assessor da Polícia Civil, delegado Gylson Mariano. 

Para a TV Anhanguera, a motorista disse que está abalada, que nem conseguiu dormir durante a noite e que, assim que tiver condições, vai se pronunciar sobre o que aconteceu. 

Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em Goiás (CTB), Ailma Maria Oliveira, lamentou a confusão: "É mais um ato pacífico que termina com problema. Queremos que o povo goiano participe. Ficar parada 5 minutos não pode ser motivo para tirar a vida de ninguém". 
Motorista avança contra grupo que prostestava em Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera) 
 
Motorista avança contra grupo que prostestava em Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Protesto

A concentração do protesto começou por volta das 16h15 na Praça do Bandeirante, no Setor Central, e reuniu integrantes de diferentes entidades. Segundo a organização, cerca de 300 pessoas participaram do ato. Já a Polícia Militar não informou a estimativa. O ato foi encerrado por volta das 18h. 

A manifestação foi organizada por meio de redes sociais na noite de quarta-feira (17), depois que o jornal "O Globo" divulgou informações sobre a delação dos irmãos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, que disseram que gravaram o presidente Michel Temer dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois que ele foi preso na Operação Lava Jato. 

Em pronuciamento nesta tarde, Michel Temer disse que não teme a delação e que não vai renunciar ao cargo.
 
Participaram do protesto em Goiânia o Fórum Goiano contra as Reformas da Previdência e Trabalhista, composto por centrais sindicais, as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e entidades representativas da sociedade civil. Eles também afirmaram que o ato foi contra as reformas da Previdência e trabalhista. 
Grupo protesta pedindo a renúncia de Temer (Foto: Paula Resende/G1) 
Grupo protesta pedindo a renúncia de Temer (Foto: Paula Resende/G1)

Delações

Em gravação, feita em março deste ano, Joesley diz a Temer que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para que permanecessem calados na prisão. Diante dessa informação, Temer disse, na gravação: "tem que manter isso, viu?" 

Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência disse que o presidente Michel Temer "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar". 

Também na delação, Joesley entregou uma gravação à PGR na qual o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, é gravado pedindo ao empresário R$ 2 milhões. No áudio, com duração de cerca de 30 minutos, o presidente nacional do PSDB justifica o pedido dizendo que precisava da quantia para pagar sua defesa na Lava Jato. 

Segundo a reportagem, no material que chegou às mãos do ministro Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal (STF), a PGR diz ter elementos para afirmar que o dinheiro recebido pelos assessores de Aécio Neves não era para os advogados. 

Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio Neves afirmou que o senador "está absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos".
 

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