Jovem atropelada em protesto diz que sente muitas dores e está 'em choque'
Andreza Carneiro foi atingida por motorista que avançou contra grupo que pedia a renúncia de Michel Temer. Vídeos registraram a confusão, em Goiânia.
Atropelada durante um protesto em Goiânia, a vendedora ambulante
Andreza Carneiro, de 21 anos, disse nesta sexta-feira (19) que sente
muitas dores e que está “em choque” com o que aconteceu. Um vídeo mostra
quando a integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) bate
o capacete contra o para-brisa do carro e, em seguida, é atropelada.
“Pensei que ia morrer. Foi um milagre de Deus ter ficado embaixo do carro e sobrevivido”, relatou ao G1.
O atropelamento ocorreu por volta das 17h30 de quinta-feira (18), no cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera, durante o protesto que pedia a renúncia do presidente
Michel Temer (PMDB). A jovem foi socorrida pelo Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (Samu) e levada para o Hospital de Urgências de
Goiânia (Hugo).
Após ser analisada pela equipe médica, Andreza recebeu alta médica. De
acordo com a unidade de saúde, a jovem não teve nenhuma fratura, passou
por exames e avaliação multidisciplinar.
Apesar de não ter fraturas, a manifestante teve várias escoriações.
“Está doendo muito. Estou com muita dor nas pernas e nas costelas, não
posso fazer esforço. Nem dormi direito”, relata a jovem.
De acordo com Andreza, ela bateu o capacete contra o carro para evitar
que ele seguisse e machucasse alguém. “Estava com o sangue quente. Aí vi
ela [motorista], e um monte de pessoas na frente, atrás, em cima. Aí
peguei e comecei a bater para parar o carro”, explicou.
Andreza estava no protesto com o marido, Daniel Semão, de 31 anos, o
filho, de 3 anos, e a mãe, a diarista Araci Carneiro, 54. No momento da
confusão, a criança estava com a avó e ambas não se feriram.
Já Daniel machucou o braço ao quebrar o vidro da janela do Chevrolet Prisma para parar o carro. Ele confessou que teve medo de perder mulher.
“Foi a ação da multidão que salvou a minha mulher. Ela ficou embaixo do
carro. Uma turma levantou o carro e eu a puxei. O intuito [da
motorista] era passar por cima e matar. Se a gente não para o carro, ela
ia matar minha mulher”, disse ao G1.
Motorista do carro
Já a condutora do carro e um passageiro foram retirados do veículo e
escoltados pelo Corpo de Bombeiros e pela Polícia Militar. Segundo o
sargento do Corpo de Bombeiros Welder Alves Justino, eles não se
machucaram. “A condutora está em estado de choque. Todo mundo queria
apedrejar o carro dela. Tentaram linchá-la. Ela não ficou ferida, apenas
assustada”, disse.
A mulher foi levada para a Central de Flagrantes de Goiânia, prestou
depoimento e foi liberada. Responsável por registrar o caso, o delegado
Fernando Takemoto entendeu que não havia elementos jurídicos para autuar
a motorista em flagrante, pois ela também pode ter agido em legítima
defesa.
“Havia uma desproporção numérica absurda contra a vítima que tinha
apenas o carro em que estava para se proteger e foi cercada da agressão
violenta de várias pessoas”, explica o delegado no boletim de
ocorrência.
O caso será investigado pelo 1º Distrito Policial. “Vamos apurar o
eventual crime de dano ao patrimônio e o eventual crime de lesão
corporal. Como são casos conexos, o mesmo inquérito vai apurar as duas
circunstâncias”, explicou o assessor da Polícia Civil, delegado Gylson
Mariano.
Para a TV Anhanguera, a motorista disse que está abalada, que nem
conseguiu dormir durante a noite e que, assim que tiver condições, vai
se pronunciar sobre o que aconteceu.
Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em
Goiás (CTB), Ailma Maria Oliveira, lamentou a confusão: "É mais um ato
pacífico que termina com problema. Queremos que o povo goiano participe.
Ficar parada 5 minutos não pode ser motivo para tirar a vida de
ninguém".
Protesto
A concentração do protesto começou por volta das 16h15 na Praça do
Bandeirante, no Setor Central, e reuniu integrantes de diferentes
entidades. Segundo a organização, cerca de 300 pessoas participaram do
ato. Já a Polícia Militar não informou a estimativa. O ato foi encerrado
por volta das 18h.
A manifestação foi organizada por meio de redes sociais na noite de
quarta-feira (17), depois que o jornal "O Globo" divulgou informações
sobre a delação dos irmãos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, que
disseram que gravaram o presidente Michel Temer dando aval para comprar o
silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois que ele foi preso na Operação Lava Jato.
Em pronuciamento nesta tarde, Michel Temer disse que não teme a delação e que não vai renunciar ao cargo.
Participaram do protesto em Goiânia o Fórum Goiano contra as Reformas
da Previdência e Trabalhista, composto por centrais sindicais, as
Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e entidades representativas da
sociedade civil. Eles também afirmaram que o ato foi contra as reformas
da Previdência e trabalhista.
Delações
Em gravação, feita em março deste ano, Joesley diz a Temer que estava
dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para que
permanecessem calados na prisão. Diante dessa informação, Temer disse,
na gravação: "tem que manter isso, viu?"
Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência
disse que o presidente Michel Temer "jamais solicitou pagamentos para
obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou nem
autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou
colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar".
Também na delação, Joesley entregou uma gravação à PGR na qual o
senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, é gravado pedindo ao
empresário R$ 2 milhões. No áudio, com duração de cerca de 30 minutos, o
presidente nacional do PSDB justifica o pedido dizendo que precisava da
quantia para pagar sua defesa na Lava Jato.
Segundo a reportagem, no material que chegou às mãos do ministro Edson
Fachin no Supremo Tribunal Federal (STF), a PGR diz ter elementos para
afirmar que o dinheiro recebido pelos assessores de Aécio Neves não era
para os advogados.
Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio Neves afirmou que o senador
"está absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos".
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