Peixes do Mar Báltico apresentam tumores devido a vestígio nazista
Alta incidência de tumores cancerosos em peixes pode advir de munições alemãs afundadas pelos Aliados após 1945. Ameaça ambiental também representa risco à saúde humana e tem prazo para ser removida.
Cientistas alemães constataram uma incidência de 25% de tumores entre
um tipo de linguado encontrado numa área do Mar Báltico, próximo à
cidade alemã de Kiel. Em outras áreas desse mar, essa percentagem é de
cerca de 5%.
A hipótese é que as proliferações cancerosas possam estar relacionadas
ao volume estimado em 1,6 milhão de toneladas de armamentos dos
nazistas, afundados nos mares Báltico e do Norte ao fim da Segunda
Guerra Mundial.
Até recentemente, a espécie Limanda limanda era ignorada na pesca
comercial, porém a escassez de espécies comestíveis tradicionais como o
bacalhau e o hadoque tem feito crescer sua popularidade para o consumo
humano.
"Não aconselharia ninguém a nadar no Mar Báltico"
Ao apresentar seus achados numa conferência em Rostock, nesta
segunda-feira (15), os cientistas do Instituto Thünen de Ecologia
Pesqueira enfatizaram tratar-se de dados preliminares. Mas advertiram
que, à medida que as munições continuam a enferrujar e vazar, o impacto
ambiental da descarga em massa de armas nazistas sobre as águas
costeiras rasas pode ser muito mais grave do que se estimava.
Em comunicado à DW, o vice-diretor do Instituto Thünen, Thomas Lang,
declarou que no momento a incidência elevada de tumores deve "ser vista
como local" para o Limanda limanda. Num estudo anterior com bacalhaus
não se encontrou qualquer indicação de um incremento, afirmou.
No entanto, outras fontes advertem contra os riscos para a saúde humana
nas águas da região. "Eu não aconselharia ninguém a ir nadar no Mar
Báltico", diz Diana S. Pyrikova, diretora executiva da organização
Diálogo Internacional sobre Munições Submarinas (Idum, na sigla em
inglês). O grupo sediado em Haia, Holanda, estuda o descarte global de
armas há mais de uma década.
Ameaça cancerígena
Pyrikova aponta que certas substâncias que vazam das antigas munições
no fundo dos oceanos, como TNT e componentes de armamentos químicos, têm
sido relacionadas ao câncer. Ela se preocupa que, ao consumir
regularmente os peixes afetados, os humanos possam estar acumulando
cancerígenos.
Segundo a agência de notícias DPA, outra equipe de pesquisadores da
Universidade de Kiel registrou altos níveis de TNT entre os mexilhões
que crescem em torno das munições enferrujadas. Apesar das apreensões, o
secretário do Ambiente do estado de Schleswig-Holstein insiste que os
armamentos afundados não devem ser vistos como causa única dos tumores.
Na conferência em Rostock, os cientistas explicaram que suas suspeitas
de que a exposição ao explosivo TNT possa estar causando os tumores se
baseia em experimentos realizados em laboratório. Certos peixes podem
ser mais suscetíveis a acumular as substâncias tóxicas, dependendo da
profundidade em que vivam e quanto tempo mantenham a água do mar dentro
do corpo.
Não mais de 30 anos para agir
As armas da Alemanha nazista foram afundadas no mar por ordem das
Forças Aliadas, após sua vitória sobre as tropas de Adolf Hitler em
1945. A maioria foi parar em áreas profundas do Báltico, perto das
bacias de Bornholm e Gotlândia, porém parte foi também lançada em águas
mais rasas. Os Estados Unidos, Reino Unido e França igualmente jogaram
grandes quantidades de armamentos em suas costas.
Embora a maior parte da munição alemã descartada fosse convencional –
explosivos ou armas de fogo – cerca de 40 mil toneladas continham
substâncias de combate químico, como gás de mostarda, arsênico e
fosgênio (gás lacrimogêneo e sufocante que ganhou terrível fama durante a
Primeira Guerra Mundial).
Relatos históricos descrevem como barcos foram abarrotados de
armamentos e em seguida naufragados, visando facilitar a localização
futura, se necessário. Embora alguns cientistas afirmem que muitas das
minas, bombas e granadas continuem seladas, outros alertam que a
corrosão permitiria que elas se espalhem mais no fundo do mar,
dispersando seu conteúdo.
"Muitos governos e Forças Armadas acham que é mais econômico deixá-las
lá, e que a água salgada impedirá as substâncias químicas de se
dissolverem, mas isso não é verdade"; enfatiza Pyrikova, do Idum.
Segundo a ONG, só restam de 25 a 30 anos para remover as munições,
antes de estarem tão corroídas que não possam mais ser localizadas. E o
pior é que seu conteúdo tóxico permaneceria na água e no sedimento no
fundo do mar.
Governos fazem vista grossa
Novas tecnologias poderiam reduzir os efeitos nocivos das munições
abandonadas, sem o enorme esforço de removê-las. "Esteiras de alta
tecnologia podem ser instaladas no fundo do mar. Com o passar do tempo,
elas dissolveriam os invólucros, absorveriam as substâncias químicas e
lentamente ajudariam na recuperação do ambiente marinho", propõe
Pyrikova.
Entretanto mesmo isso exige um investimento substancial de governos
que, até o momento, têm preferido fazer vista grossa ao problema, acusa.
Atualmente não há nenhum acordo proibindo a eliminação de armas nos
oceanos, e segundo certos relatórios, algumas forças militares ainda
adotam essa prática.
O Idum está se esforçando para organizar uma conferência das Nações
Unidas abordando o assunto.
Segundo Pyrikova, contudo, a maioria dos políticos e diplomatas ainda se mostra surpresa diante da extensão do problema e de seu impacto ambiental.
Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/peixes-do-mar-baltico-apresentam-tumores-devido-a-vestigio-nazista.ghtml
Segundo Pyrikova, contudo, a maioria dos políticos e diplomatas ainda se mostra surpresa diante da extensão do problema e de seu impacto ambiental.
Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/peixes-do-mar-baltico-apresentam-tumores-devido-a-vestigio-nazista.ghtml
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