sábado, 18 de abril de 2015

Farmacodermia, erupções provocadas por drogas

O que é?

Farmacodermia é uma erupção cutânea que surge em decorrência de uma reação alérgica, provocada pelo uso de drogas (medicamentos). Qualquer tipo de medicamento pode causar uma farmacodermia. Entre as drogas mais comumente envolvidas estão os antibióticos, antiinflamatórios, quimioterápicos, anticonvulsivantes e psicotrópicos.
As erupções podem ser provocadas por diferentes tipos de reações imunes que desencaderão variadas respostas na pele.
A maioria das farmacodermias são leves e tem resolução espontânea após a interrupção do uso do medicamento. Algumas podem ser graves e potenciamente letais, como a Síndrome de Stevens-Johnson e a Necrose epidérmica tóxica.

Manifestações clínicas da farmacodermia

As formas de manifestação de uma farmacodermia podem ser as mais variadas possíveis como manchas avermelhadas disseminadas pelo corpo, placas de urticária, descamação, pústulas e bolhas, que podem ser acompanhadas de sintomas como pinicação e coceira.
farmacodermia 
Além das lesões da pele, pode haver o surgimento de lesões nas mucosas oculares, da boca e dos genitais, e também edema (inchaço) da face e da laringe levando à dificuldade respiratória.
Em casos graves pode ocorrer a necrose da pele, aumento de gânglios linfáticos, febre e baixa da pressão arterial.
Algumas farmacodermias apresentam características típicas:
  • Erupção acneiforme: as lesões se parecem com as de acne.
  • DRESS: erupção cutânea, febre, envolvimento de órgãos internos e eosinofilia (aumento de eosinófilos no sangue), comumente associada ao uso de anticonvulsivantes.
  • Eritema multiforme ou eritema polimorfo: acometimento extenso com lesões avermelhadas, elevadas, algumas com formato de alvo, que atingem principalmente os membros.
    farmacodermia
    • Síndrome de Stevens-Johnson: acometimento cutâneo extenso e das mucosas, sintomas gerais, descolamento da pele de até 10%. 
    • Necrose epidérmica tóxica: reação cutânea severa que provoca um rápido descolamento da pele de 30% ou mais da superfície corporal.
    • Eritema nodoso: formação de nódulos avermelhados e endurecidos sob a pele, mais comum nos membros inferiores.
    • Eritrodermia: avermelhamento de toda a superfície cutânea, posteriormente seguido de descamação.
    • Eritema pigmentar fixo ou eritema fixo: surgimento de manchas avermelhadas ou violáceas, geralmente circulares, que deixam manchas escuras residuais. Quando a pessoa é novamente exposta ao medicamento, a mancha tende a reaparecer no mesmo local.
    • Erupção liquenóide: as lesões se parecem com as do líquen plano.

    Tratamento

    Uma vez que seja identificado o medicamento que provocou a erupção, este deve ser imediatamente suspenso, sempre que possível. Se ele for fundamental para o tratamento de outras doenças, deve-se buscar um substituto.
    Quadros leves costumam ter resolução espontânea com a simples suspensão da droga. Caso seja necessário, medicações antialérgicas (antihistamínicos) e corticosteróides de uso oral ou tópico podem ser utiizados, assim como os hidratantes são úteis quando ocorre descamação na fase final da doença.
    Quadros graves e com risco de morte, exigem internação hospitalar para garantir o suporte necessário à vida do paciente e para evitar e/ou tratar as possíveis complicações.
    Fonte: http://www.dermatologia.net/novo/base/doencas/farmacodermia.shtml 

    Mecanismo das Farmacodermias

    As Farmacodermias ou Erupções Cutâneas por Drogas podem ser desencadeadas por mecanismos Imunológicos e Não-Imunológicos (mais frequentes). 
    As Reações Imunológicas podem ser ativadas por diversas vias.
    A aparência clínica da lesão é geralmente de pouca ajuda na determinação da responsabilidade da droga ou mecanismo patogênico.
    Sendo assim o mecanismo das reações cutâneas induzidas por drogas podem ser divididas da seguinte maneira:
    1)Mecanismos Imunológicos;
    2)Mecanismos Não-Imunológicos.

    1)Mecanismos Imunológicos
    Reações Imunológicas às Drogas
    Vários fatores estão envolvidos na capacidade da droga em iniciar uma reação imunológica. São eles:
    -Características Moleculares da Droga;
    -Via de Administração;
    -Metabolismo Individual;
    -Capacidade Genética;
    -Idade do Paciente.

    Tipos
    Podem ser de quatro tipos. Todos os Tipos de Hipersensibilidade descritos por Gell e Combs estão representados nas farcodermias.
    Os três primeiros tipos estão relacionados com a Imunidade Humoral e o quarto tipo com a Imunidade Celular.

    -Reações a Drogas IgE dependentes (Tipo I):
    Reações: Urticária, Angioedema e Anafilaxia.
    Agentes mais frequentes: Analgésicos, Aminopirinas, Penicilina e Soros.

    -Reação Citotóxica Induzida por Droga (Tipo II):
    Reações: Anemia Hemolítica induzida pela Penicilina, Plaquetopenia produzida pela Sulfa, Anemia Hemolítica Auto-Imune provocada pela Metildopa.

    -Imunocomplexos Dependentes de Reações Medicamentosas (Tipo III):
    Reações: Vasculite, alguns tipos de Urticária e Doença do Soro pela Penicilina.
    Agentes mais frequentes: Penicilina.

    -Celular Retardada ou Reação Celular Provocada por Drogas (Tipo IV):
    Reações: Exantematosas, Dermatite de Contato, Fixas, Erupções Liquenoides, Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e Necrólise Epidérmica Tóxica (NET).
    Agentes mais frequentes: Penicilinas, Sulfas, Dipirona, etc.
    A Reação Tipo IV também é chamada de Hipersensibilidade Retardada, pois o pico da reação ocorre 48-72 horas após o uso medicamentoso. 
    Muito importante ressaltar que a Classificação de Gell e Combs é uma forma prática e simplificada para enquadrar estas diversas reações imunológicas, porém, estes tipos podem interagir entre si ora colaborando, ora no sentido do antagonismo.

    2)Mecanismos Não-Imunológicos
    Devem ser divididas em:
    2a)Reações Dependentes do Indivíduo;
    2b)Reações Dependentes da Droga.

    2a)Reações Dependentes do Indivíduos
    Efeito Cumulativo (Superdose)
    O efeito cumalitivo da droga ocorre por ter sido ultrapassado, em curto prazo ou após a administração prolongada (efeito cumulativo), o limite de tolerância orgânica individual. Podem ocorrer devido ao acúmulo de drogas nos órgãos excretores, doenças ou deficiência enzimática. Sendo assim existe a possibilidade de ocorrer em qualquer indivíduo, porém, alguns são mais rapidamente afetados e outros apresentam um organismo mais resistente aos efeitos da superdose.

    Intolerânica
    Representa uma variação biológica da resposta normal. O indivíduo apresenta uma resposta farmacológica normal quando utiliza pequenas doses, porém, apresenta manifestações intensas tóxicas anormais à dose terapêutica considerada ideal. A intolerância trata-se, portanto, de uma alteração quantitativa.
    Um exemplo de intolerância seria a Aspirina provocando uma Hipotermia prolongada.

    Idiossincrasia
    É uma resposta individual diferente da ação terapêutica normal da droga. 
    Trata-se de uma alteração qualitativa. Um exemplo de idiossincrasia seria o desencadeamento de agitação por Prometazina, droga normalmente sedativa.

    2b)Reações Dependentes da Droga
    Efeito Colateral ou Secundário
    São reações diferentes da ação terapêutica primária esperada e podem ser extremamente indesejáveis. Como exemplo, a Talidomida e seus efeitos teratogênicos. Porém, alguns efeitos colaterais fazem parte da ação farmacológica normal da droga, mas representam ações secundárias e não terapêuticas da droga. Muitos dermatologistas utilizam estes efeitos secundários de algumas drogas para beneficiar duplamente alguns pacientes. Um grande exemplo é a Hidroxizina, que trata-se de um anti-histamínico (efeito primário) sedativo (efeito secundário ou colateral), excelente para distúrbios alérgicos que estejam promovendo privação do sono.

    Desequilíbrio Ecológico
    O desequilíbrio ecológico ocorre quando utilizamos uma dose excessiva de uma droga, ou um medicamento excessivamente forte para um específico problema ou por um longo tempo. O exemplo clássico de desequilíbrio ecológico é a utilização de antibióticos de largo espectro interferindo na flora intestinal podendo causar: Enterocolites pela formação de raças de estafilococos resistentes; deficiência de Vitaminas do Complexo B, pela destruição de bactérias responsáveis pela síntese desta vitamina e, Monilíase, pelo desenvolvimento de fungos do gênero Cândida.

    Interação de Drogas
    Nos dias atuais é frequente a utilização pela maioria da população de mais de um medicamento simultaneamente. Sendo assim, torna-se de extrema importância conhecer as drogas e sua interações prováveis. 
    Esta interação pode promover uma inibição, aumento (sinergismo) ou diminuição (antagonismo) da ação farmacológica desejada.
    O antagonismo, por diminuir o efeito da droga poderá dificultar o resultado terapêutico esperado. Já o sinergismo, poderá potencializar o efeito desejado bem como promover maiores reações adversas. 
    Além do antagonismo e do sinergismo pode ocorrer sérias reações adversas.
    Exemplos de interação de drogas:
    -Diminuição da absorção: Ingestão de antiácidosantes de drogas ácidas (Aspirina e Anticoagulantes Orais);
    -Aumento da absorção: Quinina aumenta a absorção das Sufonamidas;
    -Diminuição do efeito: Rifampicina ou Griseofulvina diminuindo o efeito do anticoncepcional;
    -Soma de efeitos: Sedação quando utiliza-se Barbitúricos com Anti-Histamínicos;
    -Hipertensão Intra-Craniana: Associação da Isotretinoína com a Tetraciclina;
    -Interferência de uma droga sobre a excreção de outra droga, aumentando seus níveis circulantes e, por conseguinte, aumentando seus efeitos. É o caso do Probenecide em relação à Penicilina.

    Reação de Jarisch-Herxheimer
    São reações ocasionadas pela destruição de grande número de microorganismos pela droga, liberando-se produtos tóxicos ou sensibilizantes para o hospedeiro. Desta forma promove exacerbação das manifestações clínicas já existentes, geralmente caracterizadas por fenômenos gerais como febre, calafrios, cefaleia, mal estar geral, edema e adenopatias.
    Um grande exemplo é o uso medicamentoso de Penicilina na Sífilis secundária (após a primeira dose de Penicilina Benzatina), e o Cloranfenicol na Febre Tifoide e Brucelose. 

    Liberação de Histamina
    Algumas drogas como a Morfina, Codeína, Atropina e Contrastes Radiológicos podem promover a liberação de histamina dos mastócitos podendo provocar Cefaleia, Urticária, Hipotensão e Broncoespasmo.

    Ativação do Complemento
    A ativação do complemento ocorre na Urticária provocada por Contrastes Radiológicos.

    Reações Fotoquímicas
    Alguns medicamentos apresentam a capacidade de absorver radiações, produzindo quadros clínicos somente nas áreas expostas à luz, semelhantes ao Eritema após a exposição solar.
    Drogas que produzem este tipo de reação: Demetilclortetraciclina, Sulfas e Fenotiazina.

    Desencadeamento ou Exacerbação de Doenças
    Alguma drogas promovem o surgimento ou exacerbação de doenças.
    Ex.: Exacerbação de Psoríase por Lítio e Betabloqueadores.
    Exacerbação ou desencadeamento de Acne por Corticosteroides.
    Indução de Lúpus Eritematoso por Hidralazina. 

    Teratogenicidade
    Algumas drogas apresentam grande capacidade de promover malformações principalmente quando administrados entre a segunda e a décima semana de gestação.
    Exs.: Retinoides e Talidomida.
    Fonte: http://antoniorondonlugo.com/blog/wp-content/uploads/2010/05

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