HISTÓRIA DO HINO RIO-GRANDENSE
Letras e Autores
O
Hino Rio-Grandense que hoje cantamos tem a sua história particular e,
porque não dizer, peculiar. Porque muitas controvérsias apresentou,
desde seus tempos de criação até os tempos de então. Oficialmente existe
o registro de três letras para o hino, desde os tempos do Decênio
Heróico até aos nossos dias. Num espaço de tempo de quase um século
foram utilizadas três letras diferentes até que finalmente foi
resolvido, por uma comissão abalizada, que somente um deles deveria
figurar como hino oficial.
O Segundo Hino
Quase
um ano após a tomada de Rio Pardo, foi composta uma nova letra e que
foi cantada como Hino Nacional, o autor deste hino é desconhecido,
oficialmente ele é dado como criação de autor ignorado. O jornal “O
Povo”, considerado o jornal da República Riograndense em sua edição de 4
de maio de 1839 chamou-o de “o Hino da Nação”.
O Terceiro Hino
Após
o término do movimento apareceu uma terceira letra, desta vez com autor
conhecido: Francisco Pinto da Fontoura, vulgo “o Chiquinho da Vovó”.
Esta terceira versão foi a que mais caiu no agrado da alma popular. Um
fato que contribui para isto foi que o autor, depois de pronto este
terceiro hino, continuou ensinando aos seus contemporâneos o hino com
sua letra. A letra deste autor é basicamente a mesma adotada como sendo a
oficial até hoje, mas a segunda estrofe, que foi suprimida
posteriormente, era a seguinte:
Entre nós reviva Atenas
Para assombro dos tiranos;
Sejamos gregos na Glória,
E na virtude, romanos.
Para assombro dos tiranos;
Sejamos gregos na Glória,
E na virtude, romanos.
O Hino Definitivo
Estas
três letras foram interpretadas ao gosto de cada um até meados do ano
de 1933, ano em que estavam no auge os preparativos para a “Semana do
Centenário da Revolução Farroupilha”. Nesse momento um grupo de
intelectuais resolveu escolher uma das versões para ser a letra oficial
do hino do Rio Grande do Sul.
A partir daí, o Instituto Histórico contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, fez a harmonização e a oficialização do hino. O Hino foi então adotado naquele ano de 1934, com a letra total conforme fora escrito pelo autor, no século passado, caindo em desuso os outros poemas.
No ano de 1966, o Hino foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5213 de 05 de janeiro de 1966, quando foi suprimida a segunda estrofe.
A partir daí, o Instituto Histórico contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, fez a harmonização e a oficialização do hino. O Hino foi então adotado naquele ano de 1934, com a letra total conforme fora escrito pelo autor, no século passado, caindo em desuso os outros poemas.
No ano de 1966, o Hino foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5213 de 05 de janeiro de 1966, quando foi suprimida a segunda estrofe.
HINO RIO-GRANDENSE
LETRA: Francisco Pinto da Fontoura
MÚSICA: Comendador Maestro Joaquim José de Mendanha
HARMONIZAÇÃO: Antônio Corte Real
MÚSICA: Comendador Maestro Joaquim José de Mendanha
HARMONIZAÇÃO: Antônio Corte Real
Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.
Mostremos valor, constância,
Nesta ímpia e injusta guerra,
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra,
De modelo a toda terra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.
Mas não basta pra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.
Mostremos valor, constância,
Nesta ímpia e injusta guerra,
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra,
De modelo a toda terra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.
Mostremos valor, constância,
Nesta ímpia e injusta guerra,
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra,
De modelo a toda terra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.
Mas não basta pra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.
Mostremos valor, constância,
Nesta ímpia e injusta guerra,
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra,
De modelo a toda terra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/hino-rio-grandense.html
O Surgimento da Expressão Gaúcho
El Chiripá Colorado
O
gaúcho é um homen jinete da pradaria, não responde a um único tipo
étnico, mas o resultado do cruzamentos de indígenas da região do Rio da
Prata e dos colonizadores europeus, a sua origem está relacionada com as
circunstâncias únicas políticas, históricas e econômicas de seu
ambiente. Ela pertence igualmente a todas as áreas de pampa da
Argentina, sul do Brasil e do Uruguai, a área geográfica do gaúcho
coincide com uma região natural. Pode-se dizer com certeza que a sua
espécie primordial na Banda Oriental nasceu durante o século XVIII.
Existem duas vertentes que definem o surgimento da expressão GAÚCHO
1) Uma delas, e a qual tem maior proximidade, vem da expressão quíchua "huachu", que significa órfão. Os colonizadores espanhóis a transformaram ao longo do tempo, aos órfãos veio a chamar-lhes "bastardos", "guacho", "gaúchos". Eram órfãos pois não eram aceitos nas tribos indígenas e também rejeitados pelos europeus por serem mestiços. No Brasil meridional, freqüentemente chamado de "Gauderios" ou simplesmente "gaúcho".
2) A outra vertente vem do termo "guanche". Quando o Rei da Espanha mandou casais de agricultores das Ilhas Canárias povoarem a recém-fundada Montevidéu, eles transplantaram a palavra pela qual identificavam o habitante autóctone (naturais) das ilhas.- guanche, ou guancho.
Existem duas vertentes que definem o surgimento da expressão GAÚCHO
1) Uma delas, e a qual tem maior proximidade, vem da expressão quíchua "huachu", que significa órfão. Os colonizadores espanhóis a transformaram ao longo do tempo, aos órfãos veio a chamar-lhes "bastardos", "guacho", "gaúchos". Eram órfãos pois não eram aceitos nas tribos indígenas e também rejeitados pelos europeus por serem mestiços. No Brasil meridional, freqüentemente chamado de "Gauderios" ou simplesmente "gaúcho".
2) A outra vertente vem do termo "guanche". Quando o Rei da Espanha mandou casais de agricultores das Ilhas Canárias povoarem a recém-fundada Montevidéu, eles transplantaram a palavra pela qual identificavam o habitante autóctone (naturais) das ilhas.- guanche, ou guancho.
Origens do Gaúcho
Descanso-óleo de Juan M. Blanes
A
praça de Montevidéu, é uma região puramente militar, destinada a vigiar
a propriedade contra os avanços dos portugueses instalados no porto de
colônia. Rodeada de muralhas e fossos, à sombra da artilharia forte, o
regime de quartel governa a vida dos poucos colonos trazidos pelas
autoridades. A primera medida do governo de Buenos Aires é a de proibir todo e qualquer comércio. Isto é conveniente a seus intereses. Assim, Montevidéu está condenada a uma vida de guarnição, e Buenos Aires ainda a tirar o gado do país.
O governante da praça de Montevidéu, a partir do primeiro conflito com a arrogância da autoridade militar, em uma carta ao rei, descreve em duas frases, o estado social e económico da localidade: "no meio do qual não temos o comércio, nem onde vender os nossos produtos, desfrutar da tranquilidade e do interesse curto que a guarnição do presídio deixa-nos no bolo que é destinado para a manutenção, que é feita entre os vizinhos.
Entretanto, o contrabando é abundante em todo o país. Os portugueses e indígenas, comercializam, viajam livremente pelo país deserto, criação de gado, pesca e venda de peles na Colônia, nas costas ou fronteiras.Alguns poucos espanhois e negros decidem se aventurar e permanecem no interior, mas não muito longe de Montevidéu. Contrabando é a vida normal da campanha, sob a forma de comércio, e a proibição espanhola obrigou a reprimir e punir, autoridades de Montevidéu fazem incursão pelo interior. Muitos milicianos espanhois desertam e tornam-se contrabandistas. Então, vão se misturando espanhois, Português e indígenas. Sob estas condições começa a formar a população rural do pampa. A riqueza de gado coloca o país em condições que, a natureza fornece o próprio produto em abundância, basta estender a mão e agarrá-lo.O trabalho é inútil e ociosa é a vida do homem que tem total liberdade, como os ricos da vida civilizada.
O governante da praça de Montevidéu, a partir do primeiro conflito com a arrogância da autoridade militar, em uma carta ao rei, descreve em duas frases, o estado social e económico da localidade: "no meio do qual não temos o comércio, nem onde vender os nossos produtos, desfrutar da tranquilidade e do interesse curto que a guarnição do presídio deixa-nos no bolo que é destinado para a manutenção, que é feita entre os vizinhos.
Entretanto, o contrabando é abundante em todo o país. Os portugueses e indígenas, comercializam, viajam livremente pelo país deserto, criação de gado, pesca e venda de peles na Colônia, nas costas ou fronteiras.Alguns poucos espanhois e negros decidem se aventurar e permanecem no interior, mas não muito longe de Montevidéu. Contrabando é a vida normal da campanha, sob a forma de comércio, e a proibição espanhola obrigou a reprimir e punir, autoridades de Montevidéu fazem incursão pelo interior. Muitos milicianos espanhois desertam e tornam-se contrabandistas. Então, vão se misturando espanhois, Português e indígenas. Sob estas condições começa a formar a população rural do pampa. A riqueza de gado coloca o país em condições que, a natureza fornece o próprio produto em abundância, basta estender a mão e agarrá-lo.O trabalho é inútil e ociosa é a vida do homem que tem total liberdade, como os ricos da vida civilizada.
Martin Fierro
A
abundância de gado e na ausência de qualquer propriedade permite que os
habitantes do pampa no século XVIII, a viver sem trabalhar. O cavalo dá mobilidade rápida, e o couro lhe proprciona encilhas, rédeas, freios, botas, chapéus, bolsa, cama e habitação. Carneia uma vaca, consome a melhor peça que é cozinhado na grade e o resto é deixado abandonado no campo ...
Essa abundância faz com que o fazendeiro hospitaleiro, na cozinha da sua estancia, tenha sempre uma carne pendurada para comer.
A campanha é para o colono liberdade, riqueza e aventura, enquanto a cidade é a monotonia, e isso se propaga. Assim um grande número de pessoas deserdam e se entregam a esta vida livre.
Mas ao contrário de ociosidade tropical... abundância e liberdade criam nesta região hábitos viril, fortes e sóbrios. O Colono tem que domar cavalos, caçar o gado com boleadeiras ou com laços, deve ser treinado no manuseio da faca, e é preciso aguçar os sentidos e se tornar um especialista, tem que despistar e lutar contra os policiais. Esta situação faz com que o habitante do campo, nativos ou colonos, um povo forte, corajoso, lutador e ágil.
A expulsão dos jesuítas das missões em meados do século XVIII, produz o êxodo em massa de índios do sul do país. Esta nova população é espalhada sobre os campos e, de repente muda sua natureza: mansos agricultores sob a tutela dos Jesuítas, tornam-se cavaleiros bravos na mistura com os espanhois e Portugueses.
Nesta mistura de indígenas, espanhois e portugueses, na lida bravia e livre no campo, surge o tipo internacionalmente conhecido "GAÚCHO"
Essa abundância faz com que o fazendeiro hospitaleiro, na cozinha da sua estancia, tenha sempre uma carne pendurada para comer.
A campanha é para o colono liberdade, riqueza e aventura, enquanto a cidade é a monotonia, e isso se propaga. Assim um grande número de pessoas deserdam e se entregam a esta vida livre.
Mas ao contrário de ociosidade tropical... abundância e liberdade criam nesta região hábitos viril, fortes e sóbrios. O Colono tem que domar cavalos, caçar o gado com boleadeiras ou com laços, deve ser treinado no manuseio da faca, e é preciso aguçar os sentidos e se tornar um especialista, tem que despistar e lutar contra os policiais. Esta situação faz com que o habitante do campo, nativos ou colonos, um povo forte, corajoso, lutador e ágil.
A expulsão dos jesuítas das missões em meados do século XVIII, produz o êxodo em massa de índios do sul do país. Esta nova população é espalhada sobre os campos e, de repente muda sua natureza: mansos agricultores sob a tutela dos Jesuítas, tornam-se cavaleiros bravos na mistura com os espanhois e Portugueses.
Nesta mistura de indígenas, espanhois e portugueses, na lida bravia e livre no campo, surge o tipo internacionalmente conhecido "GAÚCHO"
Como Surgiu a expressão TCHÊ!
A expressão TCHÊ (Brasil) e ou CHE (Uruguay e Argentina) muito utilizado na região do Pampa, segundo historiadores provem das línguas e ou dialetos indígenas de tribos que habitavam esta região. Segue abaixo exemplos.CHE = GENTE ( Língua QUECHUA, de origem andina, cultura AYMARA) Ex: TEHUEL-CHE (gente de tehuel)
CHE = HOMEM ( Língua MAPUCHE, de origem andina, cultura ARAUCANA)
CHÉ = AMIGO (Língua AVAÑÉE, Guarani Missioneiro, companhia de Jesus)
CHE = TU (Pronome de Tratamento ESPANHOL ATUAL) Ex: ?Che, cuanto cuesta um vaso de vino?
TCHÊ = TU (Aportuguesamento da expressão CHE, por uma questão de pronuncia)
Mas segue abaixo uma história contando um pouco mais...
Sotaques e regionalismos na hora de falar são conhecidos desde os tempos de Jesus. Todos na casa do sumo sacerdote reconheceram Pedro como discípulo de Jesus pelo seu Jeito "Galileu" de se expressar.
No Brasil também existem muitos regionalismos. Quem já não ouviu um gaúcho dizer: "Barbaridade, Tchê"? Ou de modo mais abreviado "bah, Tchê"?
Essa expressão, própria dos irmãos do sul, tem um significado muito curioso.
Para conhecê-lo, é preciso falar um pouquinho do espanhol, dos quais os gaúchos herdaram seu "Tchê".
Há muitos anos, antes da descoberta do Brasil, o latim marcava acentuada presença nas línguas européias como o francês, espanhol e o português. Além disso o fervor religioso era muito grande entre a população mais simples.
Por essa razão, a linguagem falada no dia, era dominada por expressões religiosas como: "vá com Deus", "queira Deus que isso aconteça", "juro pelo céu que estou falando a verdade" e assim por diante.
Uma forma comum das pessoas se referirem a outra era usando interjeições também religiosas como: "Ô criatura de Deus, por que você fez isso"? Ou "menino do céu, onde você pensa que vai"? Muita gente especialmente no interior ainda fala desse jeito.
Os espanhóis preferiam abreviar algumas dessas interjeições e, ao invés de exclamar "gente do céu", falavam apenas Che! (se lê Tchê) que era uma abreviatura da palavra caelestis (se lê tchelestis) e significa do céu. Eles usavam essa expressão para expressar espanto, admiração, susto. Era talvez uma forma de apelar a Deus na hora do sufoco. Mas também serviam dela para chamar pessoas ou animais.
Com a descoberta da América, os espanhóis trouxeram essa expressão para as colônias latino-americanas. Aí os Gaúchos, que eram vizinhos dos argentinos e uruguaios acabaram importando para a sua forma de falar.
Portanto exclamar "Tchê" ao se referir a alguém significa considerá-lo alguém "do céu".
Que bom seria se todos nos tratássemos assim...
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/expressatildeo-tchecirc.html
A Chegada do Cavalo na América e no Pampa
Antes do ano 1500 da nossa era, não havia cavalos nas Américas. Não existe, nas línguas originais do Continente Americano, nenhum termo que signifique cavalo. Todos os vocábulos que atualmente existem são derivações da palavra caballo do espanhol: cavayú em guarani, caavarú em tupi, cahuellu ou cahuallo em araucano, cahualk em gennaken, cahuel em tehuelche, cavallo nos acomas, cavaio nos moquis, cavayo em paiute, cahuay nos kansas, cahua nos osages, kaviyo nos pimas.Cristóvão Colombo, em 1493, quando em sua segunda viajem à Ilha La Española, hoje Repúplica Dominicana, no porto de Santo Domingo, na América Central, foi o responsável pela introdução do cavalo na América, dezessete veleiros e entre 25 e 30 cavalos. Introduzidos em 1509 ao continente através do Panamá, sete animais e através da Colômbia, 12 animais.
Os exploradores necessitavam dos animais para carregar os seus pertences nas incurções realizadas. Descendo pela Cordilheira dos Andes em direção ao sul da América os exploradores iam abandonando os cavalos que se machucavam ou que adoeciam. Obviamente nem todos os animais abandonados morreram e com isso os mesmos sem um predador natural iam se reproduzindo.
Os Indígenas ao encontrarem os primeiros cavalos, achavam que eram monstros e tentavam matá-los, até perceberem que os exploradores os utilizavam como meio de transporte e carga. A partir daí, com exíme técnica aprenderam a domar o cavalo e assim utilizá-lo como companheiro no transporte e caça, além de auxiliá-los na batalha contra os europeus que tentavam invadir sua região pampeana. Com o passar do tempo os indígenas se tornaram excelentes cavaleiros.
Por volta de 1580, os cavalos abandonados na região do Prata em 1536, tinham se multiplicado aos milhares. Tanto que, em 1600, não podiam mais ser contados em suas gigantescas manadas. Os Pampas do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina estavam povoados de cavalos chimarrões (cimarrones) e o povo que vivia nessa região, unida pela semelhança ambiental, se tornou um povo cavaleiro.
Definição da Raça Crioula
É
o conjunto de animais descendentes dos cavalos trazidos da península
ibérica, no século XVI, quando pela conquista da América. Adquiriram
características únicas e próprias após quatro séculos de adaptação e
evolução no meio ambiente sul americano.
Origem
O
cavalo crioulo tem sua origem na população eqüina da península ibérica,
mais precisamente nos territórios de Portugal e Espanha do século XV.
Naquela época, várias raças eram criadas na região, porém, acredita-se
que o cavalo crioulo é originário de duas, sendo elas:
Andaluz: Tem pelo menos quatro mil anos de história e é conhecida como uma raça guerreira. Sofreu grande influência dos cavalos trazidos do norte da África pelos mouros que estiveram presentes, na península ibérica, por oito séculos.
Jacas: Também conhecida por Rocines. Antiga raça de cavalos nativos espanhóis das regiões da Galícia, Navarras e Andaluzia. Eram conhecidos pela valentia e resistência.
A partir da chegada de Colombo na América, em 1492, várias foram as expedições espanholas que trouxeram estes cavalos para o novo continente. Os Andaluzes e os Jacas teriam sido escolhidos para cruzar o oceano por serem os mais resistentes e aptos para afrontar as dificuldades no novo continente; e pelo fato dos portos de embarque das expedições estarem localizados nas regiões onde estes cavalos eram criados.
Andaluz: Tem pelo menos quatro mil anos de história e é conhecida como uma raça guerreira. Sofreu grande influência dos cavalos trazidos do norte da África pelos mouros que estiveram presentes, na península ibérica, por oito séculos.
Jacas: Também conhecida por Rocines. Antiga raça de cavalos nativos espanhóis das regiões da Galícia, Navarras e Andaluzia. Eram conhecidos pela valentia e resistência.
A partir da chegada de Colombo na América, em 1492, várias foram as expedições espanholas que trouxeram estes cavalos para o novo continente. Os Andaluzes e os Jacas teriam sido escolhidos para cruzar o oceano por serem os mais resistentes e aptos para afrontar as dificuldades no novo continente; e pelo fato dos portos de embarque das expedições estarem localizados nas regiões onde estes cavalos eram criados.
Introdução dos cavalos na América
A
primeira vez que os cavalos descendentes dos Crioulos tocaram o solo
americano foi em 1493, quando Cristovão Colombo desembarcou na Ilha de
São Domingos na sua segunda expedição ao novo continente. A partir de
então, estes cavalos espalharam-se pela América, durante todo a século
XVI, a partir de três pontos de entrada, sendo eles:
Ilha de Santo Domingo: Foi o primeiro local de chegada. Em seguida passaram para o continente, entrando pela Panamá e Colômbia. Pizarro os introduziu no Peru, tornando-se, a região de Charcas, um grande centro de criação de equinos. Daí o cavalo foi levado ao Chile, por Valdívia, e, em 1548 entrou em território argentino, na região de Tucuman. Em 1573 chegou nas províncias argentinas de Córdoba e Santa Fé e, finalmente, em Buenos Aires e ao pampa;
Rio da Prata: Pedro de Mendonza desembarcou no Rio da Prata, em 1535, para fundar Buenos Aires. Em sua expedição havia 72 eqüinos que viriam a ser considerados de extrema importância para a formação do cavalo crioulo argentino.
Costa Brasileira: O desbravador Cabeza de Vaca chegou a Santa Catarina, em 1541, com 46 dos 50 cavalos que partiram da Espanha. Com eles, atravessou o território brasileiro até a cidade de Assunção, no Paraguai. Em seguida, foram introduzidos no chaco argentino para depois atingirem o Rio da Prata.
O século XVI foi marcado pelo desbravamento e assentamento no novo território. Estes cavalos, disseminados ao longo deste século na América, foram de fundamental importância para o sucesso destas empreitadas.
Ilha de Santo Domingo: Foi o primeiro local de chegada. Em seguida passaram para o continente, entrando pela Panamá e Colômbia. Pizarro os introduziu no Peru, tornando-se, a região de Charcas, um grande centro de criação de equinos. Daí o cavalo foi levado ao Chile, por Valdívia, e, em 1548 entrou em território argentino, na região de Tucuman. Em 1573 chegou nas províncias argentinas de Córdoba e Santa Fé e, finalmente, em Buenos Aires e ao pampa;
Rio da Prata: Pedro de Mendonza desembarcou no Rio da Prata, em 1535, para fundar Buenos Aires. Em sua expedição havia 72 eqüinos que viriam a ser considerados de extrema importância para a formação do cavalo crioulo argentino.
Costa Brasileira: O desbravador Cabeza de Vaca chegou a Santa Catarina, em 1541, com 46 dos 50 cavalos que partiram da Espanha. Com eles, atravessou o território brasileiro até a cidade de Assunção, no Paraguai. Em seguida, foram introduzidos no chaco argentino para depois atingirem o Rio da Prata.
O século XVI foi marcado pelo desbravamento e assentamento no novo território. Estes cavalos, disseminados ao longo deste século na América, foram de fundamental importância para o sucesso destas empreitadas.
Nasce a Raça Crioula
A partir do século XVII, muitos cavalos foram perdidos ou abandonados ao acaso. Passaram a ser criados livres, formando inúmeras cavalhadas selagens distribuídas pela imensidão da América, com suas cordilheiras e pampas.Durante o período de formação da raça, as inúmeras manadas, espalhadas pelo novo continente, tiveram diferentes destinos. Nos Estados Unidos e México, as prolongadas guerras e o cruzamento com outras raças fizeram desaparecer os cavalos descendentes dos crioulos. Na Colômbia e Venezuela, as altas temperaturas, a alimentação e a geografia local alteraram em muito a aparência e a estatura dos cavalos.
Os crioulos, da forma como hoje são conhecidos, ficaram concentrados, principalmente, no sul da América, onde hoje está a Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e o sul do Brasil. Durante cerca de quatro séculos, a raça crioula foi forjada através da seleção natural. Os cavalos foram perseguidos por homens e predadores, passaram sede, fome e precisaram agüentar temperaturas extremas, desde as fortes geadas do inverno até o rigoroso sol do verão. A raça crioula foi moldada desta forma, em um ambiente hostil onde somente os mais fortes sobreviviam e conseguiam passar para gerações futuras seus genes.
Em meados do século XIX, após este período evolutivo, os fazendeiros do sul da América começaram a tomar consciência da importância e da qualidade dos cavalos crioulos que vagavam por suas terras. Esta nova raça, bem definida e com características próprias, passou a ser preservada desde então, vindo a ganhar notoriedade mundial a partir do século XX, quando várias associações foram criadas e, através delas, o valor do cavalo crioulo foi exaltado e comprovado.
Diogo Osorio Coelho
A Chegada do Gado Bovino no Pampa e o Surgimento do Tropeiro
É
difícil falar em sul do Brasil, pois na verdade, quando do início do
período da mineração, a América era ainda dividida pelo Tratado de
Tordesilhas e, teoricamente, a região onde encontramos o atual estado do
Rio Grande do Sul pertencia à Espanha. Não é à toa que nesta região as
atividades econômicas se assemelham às da Argentina, Paraguai e Uruguai
(na verdade, Vice Reino do Prata). Se por um lado as condições
geográficas e climáticas estimularam essa atividade, por outro é
necessário lembrar que a criação de gado na região platina se iniciou
para abastecer as minas de prata do interior do Peru, tanto no sentido
de transportar para o interior os produtos provenientes da Espanha, como
no sentido inverso, trazer das minas a prata, que era embarcada em
navios nos rios da Bacia do Prata e no porto de Buenos Aires.
Foi essa atividade dinâmica na Bacia do Prata que estimulou o governo português a intervir na região. Mesmo antes da assinatura do Tratado de Madri, em 1750, Portugal atuava no sentido de incorporar a região a seus domínios, interessado em participar do comércio local. Isso explica a fundação da Colônia do Sacramento em 1680 e o estímulo dado à ocupação das terras gaúchas.
No entanto podemos dizer que ao longo do século XVI e início do XVII, o Rio Grande do Sul era "terra de ninguém", habitada principalmente por índios guaranis e por onde passavam eventualmente alguns bandeirantes em busca de índios para apresar e escravizar.
A história do tropeirismo – um dos capítulos mais importantes da formação gaúcha e um dos menos lembrados – integrou diferentes regiões do Brasil, e traçou a rota da formação de muitas cidades da região Sul e Sudeste. Foi através dessa atividade que se consolidou o movimento comercial do país, que se definiram vocações econômicas regionais, e que as enormes extensões de pampas gaúchos encontraram seu destino, que marca a atividade econômica de algumas regiões do Estado até os dias atuais.
Antes de se analisar a atividade dos tropeiros é preciso lembrar da origem da riqueza que exploravam: o gado disperso pelos campos gaúchos.
Foi essa atividade dinâmica na Bacia do Prata que estimulou o governo português a intervir na região. Mesmo antes da assinatura do Tratado de Madri, em 1750, Portugal atuava no sentido de incorporar a região a seus domínios, interessado em participar do comércio local. Isso explica a fundação da Colônia do Sacramento em 1680 e o estímulo dado à ocupação das terras gaúchas.
No entanto podemos dizer que ao longo do século XVI e início do XVII, o Rio Grande do Sul era "terra de ninguém", habitada principalmente por índios guaranis e por onde passavam eventualmente alguns bandeirantes em busca de índios para apresar e escravizar.
A história do tropeirismo – um dos capítulos mais importantes da formação gaúcha e um dos menos lembrados – integrou diferentes regiões do Brasil, e traçou a rota da formação de muitas cidades da região Sul e Sudeste. Foi através dessa atividade que se consolidou o movimento comercial do país, que se definiram vocações econômicas regionais, e que as enormes extensões de pampas gaúchos encontraram seu destino, que marca a atividade econômica de algumas regiões do Estado até os dias atuais.
Antes de se analisar a atividade dos tropeiros é preciso lembrar da origem da riqueza que exploravam: o gado disperso pelos campos gaúchos.
Rio Grande do Sul – Debret
No
início do século XVII chegaram jesuítas à região formada pelos atuais
estados do Paraná e Rio Grande do Sul, e pela Argentina e Paraguai.
Esses padres estabeleceram as Missões Jesuíticas, onde reuniam, em torno
de pequenos grupos de religiosos, um grande número de índios guaranis
convertidos. Para sustentar essas populações, foi introduzida a
atividade pecuária, com o gado solto nas pradarias. Dessa maneira a
região passou a oferecer dois atrativos para os forasteiros: o índio que
seria escravizado e o gado. Várias expedições de bandeirantes paulistas
atacaram a região - destaca-se a expedição comandada por Antonio Raposo
Tavares - até 1640.
Em 1628 já havia relatos sobre a presença de rebanhos nas reduções jesuíticas. Mas acredita-se que tenham levado os animais da margem direita para a esquerda do rio Uruguai em 1629, dando origem a um rebanho imenso que ficaria conhecido como Vacaria do Mar na área situada entre a Laguna dos Patos e os rios Jacuí e Negro. Essa Vacaria era regularmente predada por espanhóis e portugueses, e para garantir o gado os jesuítas criam a Vacaria dos Pinhais, na região de campos de cima da serra que ficou conhecia como Campos da Vacaria.
A ação dos bandeirantes e os conflitos fronteiriços entre Portugal e Espanha fizeram com que os jesuítas transferissem as reduções para a região noroeste do Rio Grande, onde fundaram os Sete Povos das Missões, que funcionavam de forma independente dos governos europeus metropolitanos e não se preocuparam em respeitar as decisões adotadas a partir de 1750. Essa situação motivou a repressão às Missões. Apesar da resistência por parte de padres e índios, as Missões foram desmanteladas, mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia gaúcha: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias.
A formação das Vacarias permitiu que se realizasse, na área do atual Estado, a atividade de preia do gado selvagem. Caçava-se o gado e se retirava o couro, que era exportado para a Europa. A carne que não era consumida pelos predadores, era deixada no campo, apodrecendo. Todos predavam gado: portugueses, índios de aldeamentos, moradores das terras espanholas que tinham permissão de suas autoridades para vaquear, indivíduos que vaquejavam por conta própria.
Enquanto isso, Portugal e Espanha continuavam na sua dança para ver quem, afinal, seria o dono do Sul do Continente. Tratados não cumpridos por ambas as partes e a política de “é de quem conseguir manter” tornavam a região que é o atual Rio Grande do Sul uma terra de ninguém, onde as duas coroas disputavam a posse do território.
Era ainda esse o quadro do território riograndense quando, no final do século XVII, se descobriu ouro na região das Minas Gerais. A descoberta de ouro (e depois de diamantes) causou um grande afluxo populacional para a região. A população da área cresceu exponencialmente, causando a falta de alimentos e de produtos básicos. De 1700 a 1760, calcula-se que por volta de 700 mil pessoas imigraram para o Brasil com destino à Minas Gerais. A esses, se somaram um grande número de escravos africanos, bem como migrantes vindos de outras áreas do Brasil e escravos transferidos ilegalmente da região de produção de açúcar no Nordeste.
Não é de se admirar, portanto, que no início do século XVIII a falta de gêneros alimentícios tenha causado grandes crises, acompanhadas por expressiva mortalidade. As crises mais fortes foram as de 1697-1698, 1700-1701 e 1713.
A atividade mineradora, o crescimento das cidades e a formação de uma elite com recursos aumentaram a necessidade de animais para transporte de carga.
Onde encontrar esses animais? A resposta era fácil – no sul do continente, onde estavam as enormes Vacarias. A bem da verdade, a região não era propriamente portuguesa. No início do período de mineração a América ainda era dividida pelo Tratado de Tordesilhas, e teoricamente os rebanhos pertenciam à Espanha. Mas isso era um detalhe, resolvido pela política de ocupação efetiva do território. E foi assim, vindo de uma região de posse duvidosa, que o gado gaúcho entrou na história brasileira.
O primeiro grande tropeiro foi um fidalgo português, Cristóvão Pereira de Abreu, descendente do condestável Nuno Álvares Pereira. Cristóvão de Abreu nasceu em Ponte de Lima, em 1680, e veio para o Rio de Janeiro aos 24 anos. Aqui, casou com D. Clara de Amorim, com quem não teve filhos.
Em 1722, aos 42, fez um grande negócio. Arrematou o monopólio de couros do sul do Brasil, mediante o compromisso de pagar 70 mil cruzados para a Fazenda Real anualmente. Tratou de começar a explorar esse manancial de ganhos, chegando a exportar 500 mil peças de boi por ano, através da Colônia de Sacramento (então de posse dos Portugueses).
Cristóvão de Abreu também instalou sua própria estância, situada entre o Canal de Rio Grande e a planície de Quintão. Mas o seu grande feito seria estabelecer um caminho por terra entre os pampas e o mercado que clamava por gado.
Francisco de Souza Faria, morador de Laguna, havia levado dois anos abrindo uma estrada que ia de Morro dos Conventos, em Araranguá, na planície costeira da atual Santa Catarina, até os Campos de Curitiba, no planalto. A obra teve início em 1717, e por essa estrada Cristóvão Pereira subiu pela primeira vez levando 800 cavalos e mulas, possibilitando a ligação entre o Sul e a vila de Sorocaba em São Paulo, que se tornou o grande entreposto de venda de gado durante o período da mineração, no ano de 1931.
No ano seguinte, em uma segunda viagem – agora com 3 mil animais e 130 tropeiros – Cristóvão de Abreu alargou e melhorou o caminho, construindo vários pontilhões. Levou um ano e dois meses para atingir Sorocaba – e iniciou um novo ciclo da economia gaúcha.
Mais tarde, Cristóvão Pereira abriu um novo caminho, que ligava diretamente os campos de Viamão aos Campos de Lajes. Ao longo desse caminho foram surgindo povoados: Santo Antonio da Patrulha, São Francisco de Paula, Capela de Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria.
As aventuras do primeiro tropeiro não pararam por ai. Mais tarde, em 1735, foi convocado pelo governo português para defender as fronteiras portuguesas por terra, enquanto o Brigadeiro José da Silva Paes prestava apoio marítimo. O governo português tinha conhecimento de que os espanhóis pretendiam ocupar toda a área que ia até a ilha de santa Catarina, e era preciso garantir a presença portuguesa.
Em 1628 já havia relatos sobre a presença de rebanhos nas reduções jesuíticas. Mas acredita-se que tenham levado os animais da margem direita para a esquerda do rio Uruguai em 1629, dando origem a um rebanho imenso que ficaria conhecido como Vacaria do Mar na área situada entre a Laguna dos Patos e os rios Jacuí e Negro. Essa Vacaria era regularmente predada por espanhóis e portugueses, e para garantir o gado os jesuítas criam a Vacaria dos Pinhais, na região de campos de cima da serra que ficou conhecia como Campos da Vacaria.
A ação dos bandeirantes e os conflitos fronteiriços entre Portugal e Espanha fizeram com que os jesuítas transferissem as reduções para a região noroeste do Rio Grande, onde fundaram os Sete Povos das Missões, que funcionavam de forma independente dos governos europeus metropolitanos e não se preocuparam em respeitar as decisões adotadas a partir de 1750. Essa situação motivou a repressão às Missões. Apesar da resistência por parte de padres e índios, as Missões foram desmanteladas, mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia gaúcha: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias.
A formação das Vacarias permitiu que se realizasse, na área do atual Estado, a atividade de preia do gado selvagem. Caçava-se o gado e se retirava o couro, que era exportado para a Europa. A carne que não era consumida pelos predadores, era deixada no campo, apodrecendo. Todos predavam gado: portugueses, índios de aldeamentos, moradores das terras espanholas que tinham permissão de suas autoridades para vaquear, indivíduos que vaquejavam por conta própria.
Enquanto isso, Portugal e Espanha continuavam na sua dança para ver quem, afinal, seria o dono do Sul do Continente. Tratados não cumpridos por ambas as partes e a política de “é de quem conseguir manter” tornavam a região que é o atual Rio Grande do Sul uma terra de ninguém, onde as duas coroas disputavam a posse do território.
Era ainda esse o quadro do território riograndense quando, no final do século XVII, se descobriu ouro na região das Minas Gerais. A descoberta de ouro (e depois de diamantes) causou um grande afluxo populacional para a região. A população da área cresceu exponencialmente, causando a falta de alimentos e de produtos básicos. De 1700 a 1760, calcula-se que por volta de 700 mil pessoas imigraram para o Brasil com destino à Minas Gerais. A esses, se somaram um grande número de escravos africanos, bem como migrantes vindos de outras áreas do Brasil e escravos transferidos ilegalmente da região de produção de açúcar no Nordeste.
Não é de se admirar, portanto, que no início do século XVIII a falta de gêneros alimentícios tenha causado grandes crises, acompanhadas por expressiva mortalidade. As crises mais fortes foram as de 1697-1698, 1700-1701 e 1713.
A atividade mineradora, o crescimento das cidades e a formação de uma elite com recursos aumentaram a necessidade de animais para transporte de carga.
Onde encontrar esses animais? A resposta era fácil – no sul do continente, onde estavam as enormes Vacarias. A bem da verdade, a região não era propriamente portuguesa. No início do período de mineração a América ainda era dividida pelo Tratado de Tordesilhas, e teoricamente os rebanhos pertenciam à Espanha. Mas isso era um detalhe, resolvido pela política de ocupação efetiva do território. E foi assim, vindo de uma região de posse duvidosa, que o gado gaúcho entrou na história brasileira.
O primeiro grande tropeiro foi um fidalgo português, Cristóvão Pereira de Abreu, descendente do condestável Nuno Álvares Pereira. Cristóvão de Abreu nasceu em Ponte de Lima, em 1680, e veio para o Rio de Janeiro aos 24 anos. Aqui, casou com D. Clara de Amorim, com quem não teve filhos.
Em 1722, aos 42, fez um grande negócio. Arrematou o monopólio de couros do sul do Brasil, mediante o compromisso de pagar 70 mil cruzados para a Fazenda Real anualmente. Tratou de começar a explorar esse manancial de ganhos, chegando a exportar 500 mil peças de boi por ano, através da Colônia de Sacramento (então de posse dos Portugueses).
Cristóvão de Abreu também instalou sua própria estância, situada entre o Canal de Rio Grande e a planície de Quintão. Mas o seu grande feito seria estabelecer um caminho por terra entre os pampas e o mercado que clamava por gado.
Francisco de Souza Faria, morador de Laguna, havia levado dois anos abrindo uma estrada que ia de Morro dos Conventos, em Araranguá, na planície costeira da atual Santa Catarina, até os Campos de Curitiba, no planalto. A obra teve início em 1717, e por essa estrada Cristóvão Pereira subiu pela primeira vez levando 800 cavalos e mulas, possibilitando a ligação entre o Sul e a vila de Sorocaba em São Paulo, que se tornou o grande entreposto de venda de gado durante o período da mineração, no ano de 1931.
No ano seguinte, em uma segunda viagem – agora com 3 mil animais e 130 tropeiros – Cristóvão de Abreu alargou e melhorou o caminho, construindo vários pontilhões. Levou um ano e dois meses para atingir Sorocaba – e iniciou um novo ciclo da economia gaúcha.
Mais tarde, Cristóvão Pereira abriu um novo caminho, que ligava diretamente os campos de Viamão aos Campos de Lajes. Ao longo desse caminho foram surgindo povoados: Santo Antonio da Patrulha, São Francisco de Paula, Capela de Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria.
As aventuras do primeiro tropeiro não pararam por ai. Mais tarde, em 1735, foi convocado pelo governo português para defender as fronteiras portuguesas por terra, enquanto o Brigadeiro José da Silva Paes prestava apoio marítimo. O governo português tinha conhecimento de que os espanhóis pretendiam ocupar toda a área que ia até a ilha de santa Catarina, e era preciso garantir a presença portuguesa.
Churrasqueada-Voldinei B. Lucas
Cristóvão
aceitou o desafio e com 160 homens partiu para o Sul, sustentando a
entrada do canal de Rio Grande por cinco meses, até que o Brigadeiro
Silva Pais chegou com suas tropas por mar. No ponto onde Cristóvão de
Abreu havia se instalado com seus homens, e onde o brigadeiro
desembarcou, foi fundado o quartel e vila de Rio Grande. E seria ali
que, em 1755, morreria Cristóvão Pereira de Abreu, o homem que colocou o
Rio Grande do Sul no mapa econômico do Brasil.
As duas rotas originais estabelecidas por Cristóvão de Abreu perderam importância quando se passa a explorar diretamente a região das Missões, e se passa a utilizar um caminho que leva diretamente à essa área, partindo de Vacaria e indo direto a Cruz Alta, então na fronteira entre Portugal e Espanha.
Uma vez estabelecidas as rotas de transporte, as tropas se multiplicaram e o comércio de gado deslanchou. A preferência era pelos muares, já que mulas e burros eram mais adequados para o transporte em uma região montanhosa como Minas Gerais. Mas também se exportava gado vacum e cavalos.
Estabelecer um número exato de animais exportados é quase impossível. Há relatos falando em mais de 50 mil animais, com grande predominância de muares, na metade do século XVIII.
As tropas saiam do Rio Grande do Sul em setembro ou outubro, época em que, graças às chuvas, encontrariam melhores pastos pelo caminho. Prosseguiam até Curitiba, onde ficavam por algum tempo, engordando o gado. De lá, partiam para Sorocaba, o grande centro de comércio de gado, a tempo de participar das grandes feiras que se realizavam entre abril e maio.
O fim de um ciclo
A atividade de tropeiragem teve seu auge ente 1725 e o final do século, quando a atividade mineradora começou a declinar. Nessa época, entretanto, um novo produto permitiu que o Rio Grande do Sul continuasse a desempenhar o seu papel de fornecedor de outros centros produtores brasileiros. Era o charque, que começou a ser produzido na região de Pelotas por volta de 1780. Com ele, os rebanhos gaúchos encontrariam uma nova destinação.
Entretanto, os tropeiros continuaram a percorrer os caminhos do Sul, ainda que em menor escala. A tropeiragem sofreu um grande baque com a instalação das ferrovias, no final do século XIX. Manteve-se, contudo, em menor escala, até o a década de 50 do século XX.
As duas rotas originais estabelecidas por Cristóvão de Abreu perderam importância quando se passa a explorar diretamente a região das Missões, e se passa a utilizar um caminho que leva diretamente à essa área, partindo de Vacaria e indo direto a Cruz Alta, então na fronteira entre Portugal e Espanha.
Uma vez estabelecidas as rotas de transporte, as tropas se multiplicaram e o comércio de gado deslanchou. A preferência era pelos muares, já que mulas e burros eram mais adequados para o transporte em uma região montanhosa como Minas Gerais. Mas também se exportava gado vacum e cavalos.
Estabelecer um número exato de animais exportados é quase impossível. Há relatos falando em mais de 50 mil animais, com grande predominância de muares, na metade do século XVIII.
As tropas saiam do Rio Grande do Sul em setembro ou outubro, época em que, graças às chuvas, encontrariam melhores pastos pelo caminho. Prosseguiam até Curitiba, onde ficavam por algum tempo, engordando o gado. De lá, partiam para Sorocaba, o grande centro de comércio de gado, a tempo de participar das grandes feiras que se realizavam entre abril e maio.
O fim de um ciclo
A atividade de tropeiragem teve seu auge ente 1725 e o final do século, quando a atividade mineradora começou a declinar. Nessa época, entretanto, um novo produto permitiu que o Rio Grande do Sul continuasse a desempenhar o seu papel de fornecedor de outros centros produtores brasileiros. Era o charque, que começou a ser produzido na região de Pelotas por volta de 1780. Com ele, os rebanhos gaúchos encontrariam uma nova destinação.
Entretanto, os tropeiros continuaram a percorrer os caminhos do Sul, ainda que em menor escala. A tropeiragem sofreu um grande baque com a instalação das ferrovias, no final do século XIX. Manteve-se, contudo, em menor escala, até o a década de 50 do século XX.
A Evolução da Vestimenta Gaúcha
A
Autêmtica cultura de um povo e suas expressões, estão alicerçadas em
tradições, em conhecimentos obtidos pela convivência em grupo, somadas
aos elementos históricos e sociológicos.
Seus legados e sua tradição, entre eles o seu modo de vestir, são transportados para as gerações seguintes, sujeitos a mudanças próprias de cada época e circunstância.
O homen do Rio Grande do sul adaptou suas vestimentas baseado nas suas necessidades e no seu tipo de vida. Fiva claro que os trajes, no decorrer da história, aceitam os processos de modernização e de transformação que uma cultura possa ter. a Cultura é viva, e enquanto viva, ela se modifica. Essas modificações , legaram ao gaúcho além de uma herança, beleza e identidade. Se os costumes são constantementes alterados no decorrer da história, nada mais claro de que os trajes também tenham tido uma modificação, mantendo, no entanto, asua raiz.
Seus legados e sua tradição, entre eles o seu modo de vestir, são transportados para as gerações seguintes, sujeitos a mudanças próprias de cada época e circunstância.
O homen do Rio Grande do sul adaptou suas vestimentas baseado nas suas necessidades e no seu tipo de vida. Fiva claro que os trajes, no decorrer da história, aceitam os processos de modernização e de transformação que uma cultura possa ter. a Cultura é viva, e enquanto viva, ela se modifica. Essas modificações , legaram ao gaúcho além de uma herança, beleza e identidade. Se os costumes são constantementes alterados no decorrer da história, nada mais claro de que os trajes também tenham tido uma modificação, mantendo, no entanto, asua raiz.
Traje Indígena - 1620 à 1730
Quando
o homem que veio fazer a América - e se vestia à européia - aqui chegou
encontrou, nos campos, índios missioneiros e índios cavaleiros. Índios
Missioneiros: (Tapes, Gês-guaranizados) - constituíam a matéria-prima
trabalhada pelos padres jesuítas dos Sete Povos.
Os Missioneiros se vestiam, conforme severa moral jesuítica. Passaram a usar os calções europeus e em seguida a camisa, introduzida nas missões pelo Padre Antônio Sepp. Usavam, ainda, uma peça de indumentária não européia, proximamente indígena - "el poncho" - isto é, o pala bichará. Essa peça de indumentária não existia no Rio Grande do Sul antes da chegada do branco, pois os nossos índios pré-missioneiros não teciam e nem fiavam.
Os Padres descobriram a atração que as vestes religiosas e as fardas militares exerciam sobre os índios e distribuíram essas roupas entre eles. Assim, figurar o Alferes Real Sepé Tiarayu, desnudo ou vestindo chiripá, é erro grosseiro. Ele usaria a farda correspondente ao seu alto grau militar, ou vestiria-se civilmente, com bragas, camisa e poncho.
A mulher missioneira, usava o "tipoy", que era um longo vestido formado por dois panos costurados entre si, deixando sem costurar, apenas duas aberturas para os braços e uma para o pescoço. Na cintura, usavam uma espécie de cordão, chamado "chumbé". O "tipoy" era feito de algodão esbranquiçado, mas em seguida se tornava avermelhado com o pó das Missões. Em ocasiões festivas, a índia missioneira gostava de usar um alvo "tipoy" de linho sobre o de uso diário. Apenas nas vestes religiosas, sobretudo nas procissões, as índias usavam mantos de cores dramáticas, como o roxo e o negro.
Índios cavaleiros: (Mbaias: Charruas, Minuanos, Yarós, etc): eram assim chamados porque prontamente se adonaram do cavalo trazido pelo branco, desenvolvendo uma surpreendente técnica de amestramento e equitação. Usavam duas peças de indumentária absolutamente originais: o "chiripá" e o "cayapi".
O chiripá era uma espécie de saia, constituída por um retângulo de pano enrolado na cintura, até os joelhos. O cayapi dos minuanos era um couro de boi, inteiro e bem sovado (que se usava às costas) com o pêlo para dentro e carnal para fora, pintado de listras verticais e horizontais, em cinza e ocre. À noite, servia de cama, estirado no chão. Os charruas o chamavam de "quillapi" e "toropi".
A mulher, entre os índios cavaleiros, usava apenas o chiripá. No rosto, pintura ritual de passagem, assinalando a entrada na puberdade. No pescoço, colares de contas ou dentes de feras. De peças da indumentária ibérica, de peças da indumentária indígena e tantas outras, o gaúcho foi constituindo sua própria indumentária.
Os Missioneiros se vestiam, conforme severa moral jesuítica. Passaram a usar os calções europeus e em seguida a camisa, introduzida nas missões pelo Padre Antônio Sepp. Usavam, ainda, uma peça de indumentária não européia, proximamente indígena - "el poncho" - isto é, o pala bichará. Essa peça de indumentária não existia no Rio Grande do Sul antes da chegada do branco, pois os nossos índios pré-missioneiros não teciam e nem fiavam.
Os Padres descobriram a atração que as vestes religiosas e as fardas militares exerciam sobre os índios e distribuíram essas roupas entre eles. Assim, figurar o Alferes Real Sepé Tiarayu, desnudo ou vestindo chiripá, é erro grosseiro. Ele usaria a farda correspondente ao seu alto grau militar, ou vestiria-se civilmente, com bragas, camisa e poncho.
A mulher missioneira, usava o "tipoy", que era um longo vestido formado por dois panos costurados entre si, deixando sem costurar, apenas duas aberturas para os braços e uma para o pescoço. Na cintura, usavam uma espécie de cordão, chamado "chumbé". O "tipoy" era feito de algodão esbranquiçado, mas em seguida se tornava avermelhado com o pó das Missões. Em ocasiões festivas, a índia missioneira gostava de usar um alvo "tipoy" de linho sobre o de uso diário. Apenas nas vestes religiosas, sobretudo nas procissões, as índias usavam mantos de cores dramáticas, como o roxo e o negro.
Índios cavaleiros: (Mbaias: Charruas, Minuanos, Yarós, etc): eram assim chamados porque prontamente se adonaram do cavalo trazido pelo branco, desenvolvendo uma surpreendente técnica de amestramento e equitação. Usavam duas peças de indumentária absolutamente originais: o "chiripá" e o "cayapi".
O chiripá era uma espécie de saia, constituída por um retângulo de pano enrolado na cintura, até os joelhos. O cayapi dos minuanos era um couro de boi, inteiro e bem sovado (que se usava às costas) com o pêlo para dentro e carnal para fora, pintado de listras verticais e horizontais, em cinza e ocre. À noite, servia de cama, estirado no chão. Os charruas o chamavam de "quillapi" e "toropi".
A mulher, entre os índios cavaleiros, usava apenas o chiripá. No rosto, pintura ritual de passagem, assinalando a entrada na puberdade. No pescoço, colares de contas ou dentes de feras. De peças da indumentária ibérica, de peças da indumentária indígena e tantas outras, o gaúcho foi constituindo sua própria indumentária.
Traje Gaúcho - 1730 à 1820
Patrão das Vacarias e Estancieira Gaúcha
O primeiro caudilho riograndense, tinha mais dinheiro e se vestia melhor. Foi o primeiro estancieiro. Trajava-se basicamente à européia, com a braga e as ceroulas de crivo. Passou a usar também a bota de garrão de potro, invenção gauchesca típica. Igualmente o cinturão-guaiaca, o lenço de pescoço, o pala indígena, a tira de pano prendendo os cabelos, o chapéu de pança de burro, etc.
A mulher desse rico estancieiro, usava botinhas fechadas, meias brancas ou de cor, longos vestidos de seda ou veludo, botinhas fechadas, mantilha, chale ou sobrepeliz, grande travessa prendendo os cabelos enrolados e o infaltável leque.
Peão das Vacarias e China das Vacarias
O traje do peão das vacarias destinava-se a proteger o usuário e a não atrapalhar a sua atividade - caçar o gado e cavalgar. Normalmente, este gaúcho só usava o chiripá primitivo (pano enrolado como saia, até os joelhos, meio aberto na frente, para facilitar a equitação e mesmo o caminhar do homem) e um pala enfiado na cabeça.
O chiripá, em pouco tempo, assumia uma cor indistinta de múgria - cor de esfregão. À cintura, faixa larga, negra, ou cinturão de bolsas, tipo guaiaca, adaptado para levar moedas, palhas e fumo e, mais tarde, cédulas, relógio e até pistola. Ainda à cintura, as infaltáveis armas desse homem: as boleadeiras, a faca flamenga ou a adaga e, mais raramente, o facão. E sempre à mão, a lança - de peleia ou de trabalho.
Camisa, quando contava com uma, era de algodão branco ou riscado, sem botões, apenas com cadarços nos punhos, com gola imensa e mangas largas. Pala, não faltava, comumente, o de lã - chamado "bichará"- em cores naturais, e mais raramente o de algodão e o de seda que aos poucos vão aparecendo. Logo, também surge o poncho redondo, de cor azul e forrado de baeta vermelha.
Pala: tem origem indígena. Pode ser de lã ou algodão, quando proteje contra o frio, ou de seda, quando proteje contra o calor. É sempre retangular com franjas nos quatro lados. A gola do pala é um simples talho, por onde o homem enfia o pescoço.
Poncho: Tem origem inteiramente gauchesca. É feito, invariavelmente, de lã grossa. Quase sempre é azul escuro, forrado de baeta vermelha, mas também existem de outras combinações de cores. O poncho tem a forma circular ou ovalada. Só proteje contra o frio e a chuva. A gola é alta, abotoada e há um peitilho na frente do poncho.
As botas mais comuns eram as de garrão-de-potro, que eram retiradas de vacas, burros e éguas (raramente era usado o couro de potro, que lhe deu o nome). Essas botas eram lonqueadas ou perdiam o pêlo com o uso. Em uso, as botas não duravam mais de 2 meses. Normalmente, eram feitas com o couro das pernas traseiras do animal que dão botas maiores. As que eram tiradas das patas dianteiras, muitas vezes eram cortadas na ponta e no calcanhar, ficando o usuário com os dedos do pé e o calcanhar de fora. Acima da barriga da perna, era ajustada por meio de tranças ou tentos.
As esporas mais comuns nessa época eram as nazarenas (européias) e as chilenas (americanas). As nazarenas tem esse nome devido aos seus espinhos pontudos, que lembram os cravos que martirizaram Nosso Senhor. As chilenas, devem seu nome à semelhança com as esporas do "huaso", do Chile. Aos poucos, os ferreiros da época começaram a criar novos tipos de esporas.
O peão das vacarias não era de muito luxo. Só usava ceroulas de crivo nas aglomerações urbanas. Ademais, andava de pernas nuas como os índios. À cabeça, usava a fita dos índios, prendendo os cabelos - que os platinos chamam "vincha" - e também o lenço, como touca, atado à nuca.
O chapéu, quando usava, era de palha (mais comum), e de feltro, (mais raro), e talvez o de couro cru, chamado de "pança-de-burro", feito com um retalho circular da barriga do muar, moldado na cabeça de um palanque. O chapéu, qualquer que fosse o feitio, era preso com barbicacho sob o queixo ou nariz. Esse barbicacho era normalmente trançado em delicados tentos de couro cru, tirados de lonca, ou então, eram simples cordões de seda, torcidas, terminando em borlas que caía para o lado direito. Mais raramente, era feito de sola e fivela. Ainda nesta época, aparece o "cingidor", que é o nosso tirador.
A mulher vestia-se pobremente: nada mais que uma saia comprida, rodada, de cor escura e blusa clara ou desbotada com o tempo. Pés e pernas descobertas, na maioria das vezes. Por baixo, apenas usava bombachinhas, que eram as calças femininas da época.
O primeiro caudilho riograndense, tinha mais dinheiro e se vestia melhor. Foi o primeiro estancieiro. Trajava-se basicamente à européia, com a braga e as ceroulas de crivo. Passou a usar também a bota de garrão de potro, invenção gauchesca típica. Igualmente o cinturão-guaiaca, o lenço de pescoço, o pala indígena, a tira de pano prendendo os cabelos, o chapéu de pança de burro, etc.
A mulher desse rico estancieiro, usava botinhas fechadas, meias brancas ou de cor, longos vestidos de seda ou veludo, botinhas fechadas, mantilha, chale ou sobrepeliz, grande travessa prendendo os cabelos enrolados e o infaltável leque.
Peão das Vacarias e China das Vacarias
O traje do peão das vacarias destinava-se a proteger o usuário e a não atrapalhar a sua atividade - caçar o gado e cavalgar. Normalmente, este gaúcho só usava o chiripá primitivo (pano enrolado como saia, até os joelhos, meio aberto na frente, para facilitar a equitação e mesmo o caminhar do homem) e um pala enfiado na cabeça.
O chiripá, em pouco tempo, assumia uma cor indistinta de múgria - cor de esfregão. À cintura, faixa larga, negra, ou cinturão de bolsas, tipo guaiaca, adaptado para levar moedas, palhas e fumo e, mais tarde, cédulas, relógio e até pistola. Ainda à cintura, as infaltáveis armas desse homem: as boleadeiras, a faca flamenga ou a adaga e, mais raramente, o facão. E sempre à mão, a lança - de peleia ou de trabalho.
Camisa, quando contava com uma, era de algodão branco ou riscado, sem botões, apenas com cadarços nos punhos, com gola imensa e mangas largas. Pala, não faltava, comumente, o de lã - chamado "bichará"- em cores naturais, e mais raramente o de algodão e o de seda que aos poucos vão aparecendo. Logo, também surge o poncho redondo, de cor azul e forrado de baeta vermelha.
Pala: tem origem indígena. Pode ser de lã ou algodão, quando proteje contra o frio, ou de seda, quando proteje contra o calor. É sempre retangular com franjas nos quatro lados. A gola do pala é um simples talho, por onde o homem enfia o pescoço.
Poncho: Tem origem inteiramente gauchesca. É feito, invariavelmente, de lã grossa. Quase sempre é azul escuro, forrado de baeta vermelha, mas também existem de outras combinações de cores. O poncho tem a forma circular ou ovalada. Só proteje contra o frio e a chuva. A gola é alta, abotoada e há um peitilho na frente do poncho.
As botas mais comuns eram as de garrão-de-potro, que eram retiradas de vacas, burros e éguas (raramente era usado o couro de potro, que lhe deu o nome). Essas botas eram lonqueadas ou perdiam o pêlo com o uso. Em uso, as botas não duravam mais de 2 meses. Normalmente, eram feitas com o couro das pernas traseiras do animal que dão botas maiores. As que eram tiradas das patas dianteiras, muitas vezes eram cortadas na ponta e no calcanhar, ficando o usuário com os dedos do pé e o calcanhar de fora. Acima da barriga da perna, era ajustada por meio de tranças ou tentos.
As esporas mais comuns nessa época eram as nazarenas (européias) e as chilenas (americanas). As nazarenas tem esse nome devido aos seus espinhos pontudos, que lembram os cravos que martirizaram Nosso Senhor. As chilenas, devem seu nome à semelhança com as esporas do "huaso", do Chile. Aos poucos, os ferreiros da época começaram a criar novos tipos de esporas.
O peão das vacarias não era de muito luxo. Só usava ceroulas de crivo nas aglomerações urbanas. Ademais, andava de pernas nuas como os índios. À cabeça, usava a fita dos índios, prendendo os cabelos - que os platinos chamam "vincha" - e também o lenço, como touca, atado à nuca.
O chapéu, quando usava, era de palha (mais comum), e de feltro, (mais raro), e talvez o de couro cru, chamado de "pança-de-burro", feito com um retalho circular da barriga do muar, moldado na cabeça de um palanque. O chapéu, qualquer que fosse o feitio, era preso com barbicacho sob o queixo ou nariz. Esse barbicacho era normalmente trançado em delicados tentos de couro cru, tirados de lonca, ou então, eram simples cordões de seda, torcidas, terminando em borlas que caía para o lado direito. Mais raramente, era feito de sola e fivela. Ainda nesta época, aparece o "cingidor", que é o nosso tirador.
A mulher vestia-se pobremente: nada mais que uma saia comprida, rodada, de cor escura e blusa clara ou desbotada com o tempo. Pés e pernas descobertas, na maioria das vezes. Por baixo, apenas usava bombachinhas, que eram as calças femininas da época.
Traje Gaúcho - 1820 - 1865
Chiripá Farroupilha e Saia e Casaquinho
Este período é dominado por um chiripá que substituiu o anterior, que não é adequado à equitação, mas para o homem que anda a pé. O chiripá dessa nova fase é em forma de grande fralda, passada por entre as pernas. Este adapta-se bem ao ato de cavalgar e essa é certamente a explicação para o seu aparecimento. Com isto, fica claro que o Chiripá Primitivo era de origem indígena.
Já o Chiripá Farroupilha é inteiramente gaúcho. Esse é um traje muito funcional, nem muito curto, nem muito comprido, tendo o joelho por limite, ao cobrí-lo. As esporas deste período são as chilenas, as nazarenas e os novos tipos inventados pelos ferreiros da campanha.
As botas são, ainda, a bota forte, comum, a bota russilhona e a bota de garrão, inteira ou de meio pé. As ceroulas são enfiadas no cano da bota ou, quando por fora, mostram nas extremidades, crivos, rendas e franjas. À cintura, faixa preta e guaiaca, de uma ou duas fivelas. Camisa sem botões, de gola, e mangas largas. Usavam jaleco, de lã ou mesmo veludo, e às vezes, a jaqueta, com gola e manga de casaco, terminando na cintura, fechado à frente por grandes botões ou moedas.
No pescoço, lenço de seda, nas cores mais populares, vermelho ou branco. Porém, muitas vezes, o lenço adotado tinha outras cores e padronagens. Em caso de luto, usava-se o lenço preto. Com luto aliviado, preto com "petit-pois", carijó ou xadrez de preto e branco. Aos ombros, pala, bichará ou poncho. Na cabeça usavam a fita dos índios ou o lenço amarrado à pirata e, se for o caso, chapéu de feltro, com aba estreita e copa alta ou chapéu de palha, sempre preso com barbicacho.
A mulher, nesta época, usava saia e casaquinho com discretas rendas e enfeites. Tinham as pernas cobertas com meias, salvo na intimidade do lar. Usavam cabelo solto ou trançado, para as solteiras e em coque para as senhoras. Os sapatos eram fechados e discretos. Como jóias apenas um camafeu ou broche. Ao pescoço vinha muitas vezes o fichú (triângulo de seda ou crochê, com as pontas fechados por um broche). Este foi o traje usado pelas ricas e pobres desta época.
Este período é dominado por um chiripá que substituiu o anterior, que não é adequado à equitação, mas para o homem que anda a pé. O chiripá dessa nova fase é em forma de grande fralda, passada por entre as pernas. Este adapta-se bem ao ato de cavalgar e essa é certamente a explicação para o seu aparecimento. Com isto, fica claro que o Chiripá Primitivo era de origem indígena.
Já o Chiripá Farroupilha é inteiramente gaúcho. Esse é um traje muito funcional, nem muito curto, nem muito comprido, tendo o joelho por limite, ao cobrí-lo. As esporas deste período são as chilenas, as nazarenas e os novos tipos inventados pelos ferreiros da campanha.
As botas são, ainda, a bota forte, comum, a bota russilhona e a bota de garrão, inteira ou de meio pé. As ceroulas são enfiadas no cano da bota ou, quando por fora, mostram nas extremidades, crivos, rendas e franjas. À cintura, faixa preta e guaiaca, de uma ou duas fivelas. Camisa sem botões, de gola, e mangas largas. Usavam jaleco, de lã ou mesmo veludo, e às vezes, a jaqueta, com gola e manga de casaco, terminando na cintura, fechado à frente por grandes botões ou moedas.
No pescoço, lenço de seda, nas cores mais populares, vermelho ou branco. Porém, muitas vezes, o lenço adotado tinha outras cores e padronagens. Em caso de luto, usava-se o lenço preto. Com luto aliviado, preto com "petit-pois", carijó ou xadrez de preto e branco. Aos ombros, pala, bichará ou poncho. Na cabeça usavam a fita dos índios ou o lenço amarrado à pirata e, se for o caso, chapéu de feltro, com aba estreita e copa alta ou chapéu de palha, sempre preso com barbicacho.
A mulher, nesta época, usava saia e casaquinho com discretas rendas e enfeites. Tinham as pernas cobertas com meias, salvo na intimidade do lar. Usavam cabelo solto ou trançado, para as solteiras e em coque para as senhoras. Os sapatos eram fechados e discretos. Como jóias apenas um camafeu ou broche. Ao pescoço vinha muitas vezes o fichú (triângulo de seda ou crochê, com as pontas fechados por um broche). Este foi o traje usado pelas ricas e pobres desta época.
Traje gaúcho - A Partir de 1865
Bombacha e Vestido de Prenda
A bombacha surgiu com os turcos e veio para o Brasil usada pelos pobres na Guerra do Paraguai. Até o começo do século, usar bombachas em um baile, seria um desrespeito. O gaúcho viajava à cavalo, trajando bombachas e trazia as calças "cola fina", dobradas em baixo dos pelegos, para frisar.
As bombachas são largas na Fronteira, estreitas na Serra e médias no Planalto, abotoadas no tornozelo, e quase sempre com favos de mel. A correta bombacha é a de cós largo, sem alças para a cinta e com dois bolsos grandes nas laterais, de cores claras para ocasiões festivas, sóbrias e escuras para viagens ou trabalho.
À cintura o fronteirista usa faixa; o serrano e planaltense dispensam a mesma e a guaiaca da Fronteira é diferente da serrana, por esta ser geralmente peluda e com coldre inteiriço.A camisa é de um pano só, no máximo de pano riscado. Em ambiente de maior respeito usa-se o colete, a blusa campeira ou o casaco.O lenço do pescoço é atado por um nó de oito maneiras diferentes e as cores branco e vermelho são as mais tradicionais.
A bombacha surgiu com os turcos e veio para o Brasil usada pelos pobres na Guerra do Paraguai. Até o começo do século, usar bombachas em um baile, seria um desrespeito. O gaúcho viajava à cavalo, trajando bombachas e trazia as calças "cola fina", dobradas em baixo dos pelegos, para frisar.
As bombachas são largas na Fronteira, estreitas na Serra e médias no Planalto, abotoadas no tornozelo, e quase sempre com favos de mel. A correta bombacha é a de cós largo, sem alças para a cinta e com dois bolsos grandes nas laterais, de cores claras para ocasiões festivas, sóbrias e escuras para viagens ou trabalho.
À cintura o fronteirista usa faixa; o serrano e planaltense dispensam a mesma e a guaiaca da Fronteira é diferente da serrana, por esta ser geralmente peluda e com coldre inteiriço.A camisa é de um pano só, no máximo de pano riscado. Em ambiente de maior respeito usa-se o colete, a blusa campeira ou o casaco.O lenço do pescoço é atado por um nó de oito maneiras diferentes e as cores branco e vermelho são as mais tradicionais.
Usa-se
mais freqüentemente o chapéu de copa baixa e abas largas, podendo
variar com o gosto individual do usuário, evitando sempre enfeites
indiscretos no barbicacho. Por convenção social o peão não usa chapéu em
locais cobertos, como por exemplo no interior de um galpão.As esporas
mais utilizadas são as "chilenas", destacando-se ainda as
"nazarenas".Botas, de sapataria preferencialmente pretas ou marrons.
Para proteger-se da chuva e do frio usa-se o poncho ou a capa campeira e do calor o poncho-pala. Cita-se ainda o bichará como proteção contra o frio do inverno. Obs.: O preto é somente usado em sinal de luto. O tirador deve ser simples, sem enfeites, curtos e com flecos compridos na Serra, de pontas arredondadas no Planalto, comprido com ou sem flecos na Campanha e de bordas retas com flecos de meio palmo na Fronteira.É vedado o uso de bombacha com túnica tipo militar, bem como chiripás por prendas por ser um traje masculino.
A indumentária da prenda é regulamentada por uma tese de autoria de Luiz Celso Gomes Yarup, que foi aprovada no 34º. Congresso Tradicionalista Gaúcho, em Caçapava do Sul:
01 - O vestido deverá ser, preferencialmente, de uma peça, com barra da saia no peito do pé;
02 - A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e rendas é livre;
03 - O vestido pode ser de tecido estampado ou liso, sendo facultado o uso de tecidos sintéticos com estamparia miúda ou "petit-pois";
04 - Vedado o decote;
05 - Saia de armar: quantidade livre (sem exageros);
06 - Obrigatório o uso de bombachinhas, rendadas ou não, cujo comprimento deverá atingir a altura do joelho;
07 - Mangas até os cotovelos, três quartos ou até os pulsos;
08 - Facultativo o uso de lenço com pontas cruzadas sobre o peito, também facultado o uso do fichu de seda com franjas ou de crochê, preso com broche ou camafeu, ou ainda do chale;
09 - Meias longas brancas ou coloridas, não transparentes;
10 - Sapato com salto 5 (cinco), ou meio salto, que abotoe do lado de fora, por uma tira que passa sobre o peito do pé;
11 - Cabelo solto ou em trança (única ou dupla), com flores ou fitas;
12 - Facultado o uso de brincos de argola de metal. Vedados os de fantasia ou de plásticos;
13 - Vedado o uso de colares;
14 - Permitido o uso de pulseiras de aro de qualquer metal. Não aceitas as pulseiras de plástico;
15 - Permitido o uso de um anel de metal em cada mão. Vedados os de fantasia;
16 - É permitido o uso discreto de maquiagem facial, sem batons roxos, sombras coloridas, delineadores em demasia;
17 - Vedado o uso de relógios de pulso e de luvas;
18 - Livre a criação dos vestidos, quanto a cores, padrões e silhuetas, dentro dos parâmetros acima enumerados.
Para proteger-se da chuva e do frio usa-se o poncho ou a capa campeira e do calor o poncho-pala. Cita-se ainda o bichará como proteção contra o frio do inverno. Obs.: O preto é somente usado em sinal de luto. O tirador deve ser simples, sem enfeites, curtos e com flecos compridos na Serra, de pontas arredondadas no Planalto, comprido com ou sem flecos na Campanha e de bordas retas com flecos de meio palmo na Fronteira.É vedado o uso de bombacha com túnica tipo militar, bem como chiripás por prendas por ser um traje masculino.
A indumentária da prenda é regulamentada por uma tese de autoria de Luiz Celso Gomes Yarup, que foi aprovada no 34º. Congresso Tradicionalista Gaúcho, em Caçapava do Sul:
01 - O vestido deverá ser, preferencialmente, de uma peça, com barra da saia no peito do pé;
02 - A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e rendas é livre;
03 - O vestido pode ser de tecido estampado ou liso, sendo facultado o uso de tecidos sintéticos com estamparia miúda ou "petit-pois";
04 - Vedado o decote;
05 - Saia de armar: quantidade livre (sem exageros);
06 - Obrigatório o uso de bombachinhas, rendadas ou não, cujo comprimento deverá atingir a altura do joelho;
07 - Mangas até os cotovelos, três quartos ou até os pulsos;
08 - Facultativo o uso de lenço com pontas cruzadas sobre o peito, também facultado o uso do fichu de seda com franjas ou de crochê, preso com broche ou camafeu, ou ainda do chale;
09 - Meias longas brancas ou coloridas, não transparentes;
10 - Sapato com salto 5 (cinco), ou meio salto, que abotoe do lado de fora, por uma tira que passa sobre o peito do pé;
11 - Cabelo solto ou em trança (única ou dupla), com flores ou fitas;
12 - Facultado o uso de brincos de argola de metal. Vedados os de fantasia ou de plásticos;
13 - Vedado o uso de colares;
14 - Permitido o uso de pulseiras de aro de qualquer metal. Não aceitas as pulseiras de plástico;
15 - Permitido o uso de um anel de metal em cada mão. Vedados os de fantasia;
16 - É permitido o uso discreto de maquiagem facial, sem batons roxos, sombras coloridas, delineadores em demasia;
17 - Vedado o uso de relógios de pulso e de luvas;
18 - Livre a criação dos vestidos, quanto a cores, padrões e silhuetas, dentro dos parâmetros acima enumerados.
A Vestimenta no Século XX e XXI
A vestimenta da atualidade vem de duas vertentes:A do MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho), que reunido na 67ª Convenção Tradicionalista Gaúcha, realizada em 29 e 30 de julho de 2005, na cidade de Tramandaí, aprovou as DIRETRIZES para a “Pilcha Gaúcha”, conforme determina o parágrafo único do Art. 1º da Lei n° 8.813 de 10 de janeiro de 1889, com alterações introduzidas pela 69ª Convenção Tradicionalista Extraordinária, realizada no dia 20 de maio de 2006, na cidade de Bento Gonçalves. Abaixo disponível para download, na íntegra as diretrizes para pilchas e encilhas.
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/vestuaacuterio.html
Charqueada Santa Rita
No
século 18, enquanto ocorria o ciclo econômico da mineração no Brasil
envolvendo os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, havia uma
crescente valorização do rebanho de gado existente no Rio Grande do Sul,
introduzido pelos jesuítas no século 17. Os bois serviam para a
alimentação e as mulas para o transporte dos mineradores.
Para que fosse possível manter a carne em estado propício para ser consumida foi dado o início da conservação deste produto, primeiro através da sua secagem ao sol, na região do Ceará, sob a forma de carne de sol ou carne do sertão.
Entretanto, uma grande seca no Ceará em 1777 aniquila os rebanhos. Para sorte dos gaúchos, no mesmo período é assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que permitia uma trégua na luta entre espanhóis e portugueses, possibilitando investimentos econômicos na região, até então exclusivamente criadora de gado, através da estância.
Em 1779 é registrada a chegada do retirante da seca, o português José Pinto Martins, que transfere-se do Ceará para o RS, estabelecendo a primeira charqueada industrial em Pelotas, dentro dos limites da Vila do Rio Grande, fundada em 1737.
Esta primeira charqueada, localizada num dos distritos do futuro município, às margens do arroio Pelotas, protegeria a propriedade do vento e das areias do litoral, que arruinariam a produção. Outro ponto favorecedor era a fácil comunicação com o porto do Rio Grande através de iates.
Para que fosse possível manter a carne em estado propício para ser consumida foi dado o início da conservação deste produto, primeiro através da sua secagem ao sol, na região do Ceará, sob a forma de carne de sol ou carne do sertão.
Entretanto, uma grande seca no Ceará em 1777 aniquila os rebanhos. Para sorte dos gaúchos, no mesmo período é assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que permitia uma trégua na luta entre espanhóis e portugueses, possibilitando investimentos econômicos na região, até então exclusivamente criadora de gado, através da estância.
Em 1779 é registrada a chegada do retirante da seca, o português José Pinto Martins, que transfere-se do Ceará para o RS, estabelecendo a primeira charqueada industrial em Pelotas, dentro dos limites da Vila do Rio Grande, fundada em 1737.
Esta primeira charqueada, localizada num dos distritos do futuro município, às margens do arroio Pelotas, protegeria a propriedade do vento e das areias do litoral, que arruinariam a produção. Outro ponto favorecedor era a fácil comunicação com o porto do Rio Grande através de iates.
Charqueada São João
A
consolidação das charqueadas, grandes propriedades rurais de caráter
industrial, só se dá no século XIX, às margens dos arroios Pelotas,
Santa Bárbara, Moreira e canal São Gonçalo. O gado, matéria-prima, era
proveniente de toda a campanha rio-grandense, introduzido em Pelotas
através do Passo do Fragata e vendido na Tablada, grande local dos
remates na região das Três Vendas.
Ao contrário do que possa parecer, nas charqueadas não se criavam bois. Haviam raras exceções, como a Charqueada da Graça, mas essa criação não dava conta da produção total do charque.
Na chamada boca do arroio, entre o São Gonçalo e o arroio Pelotas, as terras foram rapidamente sendo tomadas por escravos. Só então a área adquire o nome de Passo dos Negros.
Com o progresso advindo da venda do charque, em 1812 acontece a criação da Freguesia e em 1832 a instalação da vila, oficialmente criada em 1830. Somente em 1835 a vila é elevada à condição de cidade. Charqueadores transferiram-se do Rio Grande e se fixaram em Pelotas, construindo palacetes, principalmente depois da criação da Vila.
Ao contrário do que possa parecer, nas charqueadas não se criavam bois. Haviam raras exceções, como a Charqueada da Graça, mas essa criação não dava conta da produção total do charque.
Na chamada boca do arroio, entre o São Gonçalo e o arroio Pelotas, as terras foram rapidamente sendo tomadas por escravos. Só então a área adquire o nome de Passo dos Negros.
Com o progresso advindo da venda do charque, em 1812 acontece a criação da Freguesia e em 1832 a instalação da vila, oficialmente criada em 1830. Somente em 1835 a vila é elevada à condição de cidade. Charqueadores transferiram-se do Rio Grande e se fixaram em Pelotas, construindo palacetes, principalmente depois da criação da Vila.
Armazém de charque – Debret
O
charque era utilizado para alimento dos escravos em todo o Brasil e nos
países que adotavam o sistema escravista, sobretudo o Caribe (Cuba,
principalmente). Do gado, se aproveitava tudo: o couro, o pó dos ossos
para fertilizante, o sangue para gelatina, a língua defumada, os chifres
para várias utilidades. Esses produtos eram exportados para toda a
Europa e os Estados Unidos.
O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil. De concorrentes, apenas Uruguai e a Argentina. "Quando esses países estavam em crise, o que era comum em virtude das guerras civis, a produção pelotense atingia maior rentabilidade".
A safra era sazonal e durava de novembro a abril. As charqueadas tinham em média 80 escravos, ocupados nos intervalos da safra em olarias nas próprias charqueadas, derrubadas de mato e plantações de milho, feijão e abóbora nas pequenas chácaras que cada charqueador possuía na Serra dos Tapes, onde ficam hoje a Cascata e as colônias de Pelotas.
Os navios que levavam o charque não voltavam vazios. Traziam mantimentos, livros, revistas de moda, móveis, louças da Europa - e açúcar do Nordeste, consolidando a tradição do doce em Pelotas. "Embora aqui não se plantasse cana-de-açúcar, os doces de Pelotas chegaram a ser rivais dos do Nordeste, região açucareira por excelência."
Em 1820, eram 22 charqueadas e, em 1873, 38. Outro dado espantoso é o número de abates, num total de 400 mil cabeças de gado por ano. Simões Lopes Neto, na Revista do Primeiro Centenário de Pelotas, editada em 1911, comenta que até aquela data foram abatidas 45 milhões de reses e umas 200 firmas se sucederam.
O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil. De concorrentes, apenas Uruguai e a Argentina. "Quando esses países estavam em crise, o que era comum em virtude das guerras civis, a produção pelotense atingia maior rentabilidade".
A safra era sazonal e durava de novembro a abril. As charqueadas tinham em média 80 escravos, ocupados nos intervalos da safra em olarias nas próprias charqueadas, derrubadas de mato e plantações de milho, feijão e abóbora nas pequenas chácaras que cada charqueador possuía na Serra dos Tapes, onde ficam hoje a Cascata e as colônias de Pelotas.
Os navios que levavam o charque não voltavam vazios. Traziam mantimentos, livros, revistas de moda, móveis, louças da Europa - e açúcar do Nordeste, consolidando a tradição do doce em Pelotas. "Embora aqui não se plantasse cana-de-açúcar, os doces de Pelotas chegaram a ser rivais dos do Nordeste, região açucareira por excelência."
Em 1820, eram 22 charqueadas e, em 1873, 38. Outro dado espantoso é o número de abates, num total de 400 mil cabeças de gado por ano. Simões Lopes Neto, na Revista do Primeiro Centenário de Pelotas, editada em 1911, comenta que até aquela data foram abatidas 45 milhões de reses e umas 200 firmas se sucederam.
Os Barões do Charque
O
poder dos charqueadores pelotenses foi oficialmente consolidado a
partir de 1829, quando o imperador Dom Pedro I outorgou o primeiro
título de nobreza a um fazendeiro do ramo. Coube a Domingos de Castro
Antiqueira, proprietário da Charqueada do Cascalho - localizada na
margem direita do arroio Pelotas - ostentar um título nobiliário em
Pelotas: o de Barão de Jaguari. Antiqueira, foi também o primeiro e um
dos únicos a ascender na hierarquia da nobreza brasileira, quando em
1846 foi declarado Visconde de Jaguari.
Até o final do período imperial, dez charqueadores receberam títulos de nobreza. "A outorga do baronato, que tinha como condição, quase sempre, certa fortuna acumulada, significava o reconhecimento oficial da Monarquia ao poder e ao prestígio de quem era agraciado".
Além de Antiqueira, apenas João Simões Lopes ascendeu à condição de visconde e passou para a história como o Visconde da Graça, em uma referência direta a sua propriedade, a Charqueada da Graça, localizada na margem esquerda do arroio Pelotas.
Até o final do período imperial, dez charqueadores receberam títulos de nobreza. "A outorga do baronato, que tinha como condição, quase sempre, certa fortuna acumulada, significava o reconhecimento oficial da Monarquia ao poder e ao prestígio de quem era agraciado".
Além de Antiqueira, apenas João Simões Lopes ascendeu à condição de visconde e passou para a história como o Visconde da Graça, em uma referência direta a sua propriedade, a Charqueada da Graça, localizada na margem esquerda do arroio Pelotas.
O Fim do ciclo do Charque
As
causas do encerramento do ciclo do charque foram várias. Uma das
principais, a abolição dos escravos, quando deixa de existir o
verdadeiro consumidor do produto. A concorrência de regiões gaúchas que
antes apenas produziam a matéria-prima também foi outro golpe contra os
charqueadores locais. "Depois de 1884, fundaram-se charqueadas em
algumas cidades da fronteira, porque nesse ano estabeleceu-se a linha
férrea, que permitia o escoamento do produto até o porto de Rio Grande."
O advento dos frigoríficos, na década de 1910, foi outra. Em 1918, restaram apenas cinco charqueadas em Pelotas. "O coronel Pedro Osório, que começou como charqueador, passou a plantar arroz em 1905, transformando-se no maior industrial do setor no mundo e conhecido como Rei do Arroz".
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/o-charque.html O advento dos frigoríficos, na década de 1910, foi outra. Em 1918, restaram apenas cinco charqueadas em Pelotas. "O coronel Pedro Osório, que começou como charqueador, passou a plantar arroz em 1905, transformando-se no maior industrial do setor no mundo e conhecido como Rei do Arroz".
A Guerra dos Farrapos
A Formação do Rio Grande
Através
da criação de gado e da produção de charque, o Rio Grande do Sul
integrou-se à economia central de exportação de forma subsidiária, como
abastecedor do mercado interno. Com isso, o Rio Grande passava a possuir
uma riqueza econômica, deixando de ser considerado apenas como ponto
estratégico da defesa do contrabando no Prata.
Na verdade, estes foram processos que ocorreram interligados ao longo do século XVIII: de um lado, a apropriação econômica da terra, por parte de particulares, mediante o saque e a violência contra os espanhóis; de outro, a preocupação oficial lusa com o comércio platino, implicando disputas e controvérsias em torno da posse de Sacramento e das Missões.
Em face do permanente estado de alerta, mais contavam para a defesa da terra as forças irregulares da campanha gaúcha - os estancieiros com seus homens - do que propriamente as tropas de linha, sediadas em Sacramento ou em Rio Grande, reduto militar fundado pela Coroa em 1737.
Além dos sucessivos incidentes de tomada e retomada da Colônia do Sacramento pelos portugueses, o Rio Grande do Sul sofreu três invasões castelhanas em seu território, além de ser palco da chamada "Guerra Guaranítica", que envolveu tropas luso-castelhanas em um combate com os índios missioneiros, tentando obrigá-los a abandonar as reduções em obediência às disposições do Tratado de Madri. Assinado em 1750 entre as duas nações ibéricas, este tratado estabelecia que as Missões passariam para o domínio português, ficando Sacramento com a Coroa espanhola, não chegando contudo a se efetivar a troca. Dentro deste contexto de verdadeiro acampamento militar a que ficara reduzido o Rio Grande, estabeleceu-se “um modus vivendi” entre a Coroa e os senhores locais. Além da terra que lhes era concedida, os estancieiros passaram a ocupar cargos de chefes e guardas da fronteira. Este poder dos senhores de terras, exercido na maior parte das vezes em defesa de seus interesses privados, entrava seguidamente em choque com a autoridade dos comandantes militares que representavam os interesses da Coroa no Rio Grande.
Se, por um lado, a economia gaúcha antes do fim do século não atingira ainda um grau de estabilidade e rendimento que desse respaldo ao poder dos senhores locais, por outro lado, a importância militar do estancieiro-soldado com suas tropas fez com que a Coroa permitisse uma certa autonomia do poder local em relação à administração lusa.
Desta forma, a apropriação econômica da terra foi acompanhando a apropriação militar: em cada nova area conquistada aos espanhóis, eram distribuídas sesmarias para a criação de gado. No final do século XVIII, o enriquecimento proporcionado pelo charque contribuiu para agravar os pontos de atrito existentes entre a camada senhorial local e os representantes da Coroa. Clãs familiares enriquecidos passaram a pressionar o governo no sentido de obter cada vez mais poder e autoridade, usufruindo dos cargos em proveito da consolidação da sua riqueza.
Um exemplo dessa interferência foi a política de redistribuição de terras iniciada a partir de 1780, quando começou o processo de expropriação dos antigos proprietários, como os colonos açorianos ou mesmo detentores de sesmarias da primeira fase de expansão da fronteira, em função da nova elite enriquecida. Conforme depoimento da época, ocorreu uma verdadeira "febre" na corrida pelas sesmarias, registrando-se muitos abusos. Referia-se, em 1808, Manoel Antônio de Magalhães, no seu Almanaque da Vila de Porto Alegre, à apropriação de terras no Rio Grande do Sul:
"Um homem que tinha a proteção tirava uma sesmaria em seu nome, outra em nome do filho mais velho, outras em nome da filha e filho que ainda estavam no berço, e deste modo há casa de quatro e mais sesmarias: este permicioso abuso parece se deveria evitar."
Na verdade, os agentes da Coroa no Rio Grande do Sul não eram os representantes dos fazendeiros nem os defensores dos seus interesses, mas o poder colonial, por razões militares, era obrigado a ceder às ambições dos chefes locais, dando-lhes terras, fazendo "vista grossa" aos abusos de poder que se registravam".
Paralelamente ao florescimento das charqueadas gaúchas, surgiram estabelecimentos similares no Prata - os saladeiros - que passaram a disputar com o produto rio-grandense o abastecimento do mercado interno brasileiro, além de controlarem o fornecimento para Cuba.
No final do século XVIII, o charque tomou-se o primeiro produto de exportação do Vice-Reinado do Prata e a base de sua economia, reorientando a criação de gado para fins mercantis.
Desde 1778 vigorava o regime de livre comércio, o que permitiu aos saladeiristas, fazendeiros e comerciantes manterem uma atividade de exportação em crescimento.
No mesmo intuito de beneficiar o setor de ponta da economia platina, foi concedida a isenção de direitos de importação sobre o sal de Cádiz (insumo fundamental para a produção do charque) e, pelas Reais Ordens de 10.4.1793 e 20.12.1892, estabeleceu-se a isenção dos direitos de exportação sobre as carnes salgadas. Tais incentivos, concedidos pelas autoridades, acarretavam um menor custo de produção para os saladeiros platinos, permitindo que eles colocassem sua produção a um mais baixo preço nos mercados brasileiros.
O charque rio-grandense, no caso, não era objeto de iguais medidas protecionistas ou de especial atenção das autoridades, uma vez que se tratava de uma economia subsidiária da economia central de exportação.
Entretanto, essas melhores condições de desenvolvimento do charque platino, sob amparo governamental, foram anuladas, em face das perturbações políticas ocorridas na região no início do século XIX. De 1810 a 1820, o Prata esteve envolvido em guerras de independência, que determinaram a crise dos saladeiros locais. Essas perturbações políticas na área, que iniciaram com a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata em 1810, sob a hegemonia de Buenos Aires, prosseguiram em disputas internas entre as forças da chamada Banda Oriental (hoje República do Uruguai) contra a supremacia argentina e culminaram com as invasões das tropas de D. João, no Prata. Em 1820, a Banda Oriental foi anexada ao Brasil com o nome de Província Cisplatina, o que terminou por desorganizar totalmente a produção saladeiril da região. O gado uruguaio foi então orientado para as charqueadas rio-grandenses, seus peões incorporados ao exército brasileiro e vários fazendeiros e militares sulinos estabeleceram-se com estâncias em território oriental.
Face, pois, a perturbações políticas ocorridas na região, o Rio Grande do Sul pôde suplantar seu concorrente no abastecimento de charque no mercado interno brasileiro.
O fortalecimento econômico dos pecuaristas rio-grandenses tendeu a se expressar também no plano político-administrativo. Nos momentos finais do domínio colonial português no Brasil, começaram, assim, a surgir áreas de atrito cada vez maiores entre os representantes da Coroa na região e a camada senhorial sulina, enriquecida pela pecuária em ascensão.
Na verdade, estes foram processos que ocorreram interligados ao longo do século XVIII: de um lado, a apropriação econômica da terra, por parte de particulares, mediante o saque e a violência contra os espanhóis; de outro, a preocupação oficial lusa com o comércio platino, implicando disputas e controvérsias em torno da posse de Sacramento e das Missões.
Em face do permanente estado de alerta, mais contavam para a defesa da terra as forças irregulares da campanha gaúcha - os estancieiros com seus homens - do que propriamente as tropas de linha, sediadas em Sacramento ou em Rio Grande, reduto militar fundado pela Coroa em 1737.
Além dos sucessivos incidentes de tomada e retomada da Colônia do Sacramento pelos portugueses, o Rio Grande do Sul sofreu três invasões castelhanas em seu território, além de ser palco da chamada "Guerra Guaranítica", que envolveu tropas luso-castelhanas em um combate com os índios missioneiros, tentando obrigá-los a abandonar as reduções em obediência às disposições do Tratado de Madri. Assinado em 1750 entre as duas nações ibéricas, este tratado estabelecia que as Missões passariam para o domínio português, ficando Sacramento com a Coroa espanhola, não chegando contudo a se efetivar a troca. Dentro deste contexto de verdadeiro acampamento militar a que ficara reduzido o Rio Grande, estabeleceu-se “um modus vivendi” entre a Coroa e os senhores locais. Além da terra que lhes era concedida, os estancieiros passaram a ocupar cargos de chefes e guardas da fronteira. Este poder dos senhores de terras, exercido na maior parte das vezes em defesa de seus interesses privados, entrava seguidamente em choque com a autoridade dos comandantes militares que representavam os interesses da Coroa no Rio Grande.
Se, por um lado, a economia gaúcha antes do fim do século não atingira ainda um grau de estabilidade e rendimento que desse respaldo ao poder dos senhores locais, por outro lado, a importância militar do estancieiro-soldado com suas tropas fez com que a Coroa permitisse uma certa autonomia do poder local em relação à administração lusa.
Desta forma, a apropriação econômica da terra foi acompanhando a apropriação militar: em cada nova area conquistada aos espanhóis, eram distribuídas sesmarias para a criação de gado. No final do século XVIII, o enriquecimento proporcionado pelo charque contribuiu para agravar os pontos de atrito existentes entre a camada senhorial local e os representantes da Coroa. Clãs familiares enriquecidos passaram a pressionar o governo no sentido de obter cada vez mais poder e autoridade, usufruindo dos cargos em proveito da consolidação da sua riqueza.
Um exemplo dessa interferência foi a política de redistribuição de terras iniciada a partir de 1780, quando começou o processo de expropriação dos antigos proprietários, como os colonos açorianos ou mesmo detentores de sesmarias da primeira fase de expansão da fronteira, em função da nova elite enriquecida. Conforme depoimento da época, ocorreu uma verdadeira "febre" na corrida pelas sesmarias, registrando-se muitos abusos. Referia-se, em 1808, Manoel Antônio de Magalhães, no seu Almanaque da Vila de Porto Alegre, à apropriação de terras no Rio Grande do Sul:
"Um homem que tinha a proteção tirava uma sesmaria em seu nome, outra em nome do filho mais velho, outras em nome da filha e filho que ainda estavam no berço, e deste modo há casa de quatro e mais sesmarias: este permicioso abuso parece se deveria evitar."
Na verdade, os agentes da Coroa no Rio Grande do Sul não eram os representantes dos fazendeiros nem os defensores dos seus interesses, mas o poder colonial, por razões militares, era obrigado a ceder às ambições dos chefes locais, dando-lhes terras, fazendo "vista grossa" aos abusos de poder que se registravam".
Paralelamente ao florescimento das charqueadas gaúchas, surgiram estabelecimentos similares no Prata - os saladeiros - que passaram a disputar com o produto rio-grandense o abastecimento do mercado interno brasileiro, além de controlarem o fornecimento para Cuba.
No final do século XVIII, o charque tomou-se o primeiro produto de exportação do Vice-Reinado do Prata e a base de sua economia, reorientando a criação de gado para fins mercantis.
Desde 1778 vigorava o regime de livre comércio, o que permitiu aos saladeiristas, fazendeiros e comerciantes manterem uma atividade de exportação em crescimento.
No mesmo intuito de beneficiar o setor de ponta da economia platina, foi concedida a isenção de direitos de importação sobre o sal de Cádiz (insumo fundamental para a produção do charque) e, pelas Reais Ordens de 10.4.1793 e 20.12.1892, estabeleceu-se a isenção dos direitos de exportação sobre as carnes salgadas. Tais incentivos, concedidos pelas autoridades, acarretavam um menor custo de produção para os saladeiros platinos, permitindo que eles colocassem sua produção a um mais baixo preço nos mercados brasileiros.
O charque rio-grandense, no caso, não era objeto de iguais medidas protecionistas ou de especial atenção das autoridades, uma vez que se tratava de uma economia subsidiária da economia central de exportação.
Entretanto, essas melhores condições de desenvolvimento do charque platino, sob amparo governamental, foram anuladas, em face das perturbações políticas ocorridas na região no início do século XIX. De 1810 a 1820, o Prata esteve envolvido em guerras de independência, que determinaram a crise dos saladeiros locais. Essas perturbações políticas na área, que iniciaram com a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata em 1810, sob a hegemonia de Buenos Aires, prosseguiram em disputas internas entre as forças da chamada Banda Oriental (hoje República do Uruguai) contra a supremacia argentina e culminaram com as invasões das tropas de D. João, no Prata. Em 1820, a Banda Oriental foi anexada ao Brasil com o nome de Província Cisplatina, o que terminou por desorganizar totalmente a produção saladeiril da região. O gado uruguaio foi então orientado para as charqueadas rio-grandenses, seus peões incorporados ao exército brasileiro e vários fazendeiros e militares sulinos estabeleceram-se com estâncias em território oriental.
Face, pois, a perturbações políticas ocorridas na região, o Rio Grande do Sul pôde suplantar seu concorrente no abastecimento de charque no mercado interno brasileiro.
O fortalecimento econômico dos pecuaristas rio-grandenses tendeu a se expressar também no plano político-administrativo. Nos momentos finais do domínio colonial português no Brasil, começaram, assim, a surgir áreas de atrito cada vez maiores entre os representantes da Coroa na região e a camada senhorial sulina, enriquecida pela pecuária em ascensão.
Antecedentes e Causas da Revolução
Guerra
dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou
conhecida a revolução ou guerra regional de caráter republicano contra o
governo imperial do Brasil, na então Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da
província como estado republicano, dando origem à República
Rio-grandense. Durou de 1835 a 1845.
A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal que viria a ocorrer em São Paulo em 1842 e para a Revolta denominada Sabinada na Bahia em 1837, ambas de ideologia do partido Liberal da época, moldado nas Lojas maçônicas. Inspirou-se na recém-finda guerra de independência do Uruguai, mantendo conexões com a nova república do Rio da Prata, além de províncias independentes argentinas, como Corrientes e Santa Fé. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: Bento Gonçalves, Souza Neto, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, Davi Canabarro, José Mariano de Matos, Gomes Jardim, além de receber inspiração ideológica de italianos carbonários refugiados, como o cientista Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além de Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. A questão da abolição também esteve envolvida, organizando-se exércitos contando com homens negros que aspiravam à liberdade.
A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal que viria a ocorrer em São Paulo em 1842 e para a Revolta denominada Sabinada na Bahia em 1837, ambas de ideologia do partido Liberal da época, moldado nas Lojas maçônicas. Inspirou-se na recém-finda guerra de independência do Uruguai, mantendo conexões com a nova república do Rio da Prata, além de províncias independentes argentinas, como Corrientes e Santa Fé. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: Bento Gonçalves, Souza Neto, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, Davi Canabarro, José Mariano de Matos, Gomes Jardim, além de receber inspiração ideológica de italianos carbonários refugiados, como o cientista Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além de Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. A questão da abolição também esteve envolvida, organizando-se exércitos contando com homens negros que aspiravam à liberdade.
Os Farrapos
Farrapos
ou Farroupilhas foram chamados todos os que se revoltaram contra o
governo imperial, e que culminou com a Proclamação da República
Rio-Grandense. Era termo considerado originalmente pejorativo, já
utilizado pelo menos uma década antes da Guerra dos Farrapos para
designar os sul-riograndenses vinculados ao Partido Liberal,
oposicionistas e radicais ao governo central, destacando-se os chamados
jurujubas. O termo, oriundo do parlamento, com o tempo foi adotado pelos
próprios revolucionários, de forma semelhante à que ocorreu com os sans
cullotes à época da Revolução Francesa. Seus oponentes imperiais eram
por eles chamados de Caramurus, termo jocoso em geral aplicado aos
membros do Partido Restaurador no Parlamento
Em 1831, no Rio de Janeiro, haviam os jornais Jurujuba dos Farroupilhas e Matraca dos Farroupilhas. Em 1832 foi fundado o Partido Farroupilha pelo tenente Luis José dos Reis Alpoim, deportado do Rio para Porto Alegre. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva, sede também da Sociedade Continentino. Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a instalação da Sociedade Militar em Porto Alegre.
Inicialmente, reivindicavam a retirada de todos os portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do Exército, mesmo depois da Independência, respaldados pelo Partido Restaurador ou caramuru. Os caramurus almejavam a volta de D. Pedro I ao governo do Brasil.
No entanto, é bom notar que entre os farrapos havia os que acreditavam que só tornando suas províncias independentes poderiam obter uma "sociedade chula", ou seja, administrada por provincianos. Havia, portanto, estancieiros, estancieiros-militares, farroupilhas-libertários, militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos que buscavam a liberdade, e assim por diante, numa combinação e interpenetração ideológica sem fim. Inicialmente nem todos eram republicanos e separatistas, mas os acontecimentos e os novos rumos do movimento conduziram a esse desfecho. A maçonaria sulista teve importante papel nos rumos tomados, tendendo aos ideais republicanos.
Naquele ano foi nomeado como presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, nome que apesar de inicialmente ter agradado aos liberais, aos poucos se mostrou pouco digno de confiança. No dia em que tomou posse, Fernandes Braga fez séria acusação de separatismo contra os estancieiros rio-grandenses, chegando a citar nomes, o que praticamente liquidou as chances de conviver em paz com os seus governados.
Na noite de 18 de setembro de 1835, em uma reunião onde estavam presentes José Mariano de Mattos, (um ferrenho separatista), Gomes Jardim (primo de Bento e futuro Presidente da República Rio-grandense), Vicente da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso farroupilha), Paulino da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio de Souza Netto (imperialista e farroupilha, mas que simpatizava com as idéias republicanas) e Domingos José de Almeida (separatista e grande administrador da República), decidiu-se por unanimidade que dentro de dois dias, no dia 20 de setembro de 1835, tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente provincial Fernandes Braga.
Em várias cidades do interior as milícias estavam alertas para deflagrarem a revolta. Bento comandava uma tropa reunida em Pedras Altas, hoje cidade de Guaíba. Gomes Jardim e Onofre Pires eram os comandantes farroupilhas aquartelados, com cerca de 200 homens, no morro da Azenha, o atual Cemitério São Miguel e Almas. Mantinham, no dia 19 de setembro de 1835, um piquete nas imediações da ponte da Azenha, com orientação para interceptar quem por ali transitasse, evitando que se alertasse o presidente de suas presenças.
Estavam, portanto, os farroupilhas a uma prudente distância da vila. O piquete avançado, com 30 homens, posto nas imediações da ponte da Azenha, era comandado por Manuel Vieira da Rocha, o Cabo Rocha e aguardava o amanhecer do dia 20 para investir, junto com o restante da tropa, contra os muros da vila.
Porém Fernandes Braga ouvira comentários e insinuações. Desconfiado, mandou uma partida de 9 homens sob o comando de José Gordilho de Barbuda Filho, o 2° Visconde de Camamu, fazer um reconhecimento, mesmo à noite. Descuidados e inexperientes, os guardas se fizeram notar. Alertas e de prontidão, o piquete republicano atacou os imperiais, que fugiram em desabalada correria, resultando 2 mortos e cinco feridos. Um dos feridos, o próprio Visconde, alertou Fernandes Braga da revolta. Eram 11 horas da noite de 19 de setembro de 1835. Fernandes Braga ainda tentou organizar uma resistência, ao amanhecer estava junto ao arsenal de guerra, hoje ponta do Gasômetro, tentando reunir homens para a resistência. Porém, até o meio da tarde somente 17 homens se apresentaram para defender a cidade, pois o 8° Batalhão de Caçadores, comandado por João Manuel de Lima e Silva havia se declarado revolucionário]. Vendo a escassez de armas e munição, Braga resolve fugir a bordo da escuna Rio-Grandense, seguido pela canhoneira 19 de Outubro, indo parar em Rio Grande, então maior cidade da Província, não sem antes voltar ao palácio do Governo, pegar alguns documentos e todo o dinheiro dos cofres provinciais.
Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de setembro de 1835, chegam às portas da cidade Bento Gonçalves da Silva e os demais comandantes, seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se aos revolucionários.
Estava praticamente cumprida a missão. Apenas alguns focos de resistência em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os farroupilhas ocupados.
A Câmara Municipal reúne-se extraordinariamente para ocupar o cargo de Presidente. Na ausência dos vices-presidentes imediatos, assume o quarto vice, Dr. Marciano Pereira Ribeiro. Logo expedem uma carta ao Regente Imperial Padre Diogo Antônio Feijó explicando os motivos da revolta e solicitando a nomeação de um novo Presidente.
Em 1831, no Rio de Janeiro, haviam os jornais Jurujuba dos Farroupilhas e Matraca dos Farroupilhas. Em 1832 foi fundado o Partido Farroupilha pelo tenente Luis José dos Reis Alpoim, deportado do Rio para Porto Alegre. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva, sede também da Sociedade Continentino. Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a instalação da Sociedade Militar em Porto Alegre.
Inicialmente, reivindicavam a retirada de todos os portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do Exército, mesmo depois da Independência, respaldados pelo Partido Restaurador ou caramuru. Os caramurus almejavam a volta de D. Pedro I ao governo do Brasil.
No entanto, é bom notar que entre os farrapos havia os que acreditavam que só tornando suas províncias independentes poderiam obter uma "sociedade chula", ou seja, administrada por provincianos. Havia, portanto, estancieiros, estancieiros-militares, farroupilhas-libertários, militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos que buscavam a liberdade, e assim por diante, numa combinação e interpenetração ideológica sem fim. Inicialmente nem todos eram republicanos e separatistas, mas os acontecimentos e os novos rumos do movimento conduziram a esse desfecho. A maçonaria sulista teve importante papel nos rumos tomados, tendendo aos ideais republicanos.
Naquele ano foi nomeado como presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, nome que apesar de inicialmente ter agradado aos liberais, aos poucos se mostrou pouco digno de confiança. No dia em que tomou posse, Fernandes Braga fez séria acusação de separatismo contra os estancieiros rio-grandenses, chegando a citar nomes, o que praticamente liquidou as chances de conviver em paz com os seus governados.
Na noite de 18 de setembro de 1835, em uma reunião onde estavam presentes José Mariano de Mattos, (um ferrenho separatista), Gomes Jardim (primo de Bento e futuro Presidente da República Rio-grandense), Vicente da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso farroupilha), Paulino da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio de Souza Netto (imperialista e farroupilha, mas que simpatizava com as idéias republicanas) e Domingos José de Almeida (separatista e grande administrador da República), decidiu-se por unanimidade que dentro de dois dias, no dia 20 de setembro de 1835, tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente provincial Fernandes Braga.
Em várias cidades do interior as milícias estavam alertas para deflagrarem a revolta. Bento comandava uma tropa reunida em Pedras Altas, hoje cidade de Guaíba. Gomes Jardim e Onofre Pires eram os comandantes farroupilhas aquartelados, com cerca de 200 homens, no morro da Azenha, o atual Cemitério São Miguel e Almas. Mantinham, no dia 19 de setembro de 1835, um piquete nas imediações da ponte da Azenha, com orientação para interceptar quem por ali transitasse, evitando que se alertasse o presidente de suas presenças.
Estavam, portanto, os farroupilhas a uma prudente distância da vila. O piquete avançado, com 30 homens, posto nas imediações da ponte da Azenha, era comandado por Manuel Vieira da Rocha, o Cabo Rocha e aguardava o amanhecer do dia 20 para investir, junto com o restante da tropa, contra os muros da vila.
Porém Fernandes Braga ouvira comentários e insinuações. Desconfiado, mandou uma partida de 9 homens sob o comando de José Gordilho de Barbuda Filho, o 2° Visconde de Camamu, fazer um reconhecimento, mesmo à noite. Descuidados e inexperientes, os guardas se fizeram notar. Alertas e de prontidão, o piquete republicano atacou os imperiais, que fugiram em desabalada correria, resultando 2 mortos e cinco feridos. Um dos feridos, o próprio Visconde, alertou Fernandes Braga da revolta. Eram 11 horas da noite de 19 de setembro de 1835. Fernandes Braga ainda tentou organizar uma resistência, ao amanhecer estava junto ao arsenal de guerra, hoje ponta do Gasômetro, tentando reunir homens para a resistência. Porém, até o meio da tarde somente 17 homens se apresentaram para defender a cidade, pois o 8° Batalhão de Caçadores, comandado por João Manuel de Lima e Silva havia se declarado revolucionário]. Vendo a escassez de armas e munição, Braga resolve fugir a bordo da escuna Rio-Grandense, seguido pela canhoneira 19 de Outubro, indo parar em Rio Grande, então maior cidade da Província, não sem antes voltar ao palácio do Governo, pegar alguns documentos e todo o dinheiro dos cofres provinciais.
Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de setembro de 1835, chegam às portas da cidade Bento Gonçalves da Silva e os demais comandantes, seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se aos revolucionários.
Estava praticamente cumprida a missão. Apenas alguns focos de resistência em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os farroupilhas ocupados.
A Câmara Municipal reúne-se extraordinariamente para ocupar o cargo de Presidente. Na ausência dos vices-presidentes imediatos, assume o quarto vice, Dr. Marciano Pereira Ribeiro. Logo expedem uma carta ao Regente Imperial Padre Diogo Antônio Feijó explicando os motivos da revolta e solicitando a nomeação de um novo Presidente.
A Reação Imperial
De
Rio Grande, Fernandes Braga embarca para o Rio de Janeiro em 23 de
outubro, capital do Império do Brasil. Uma vez na Corte, Braga passa a
sua versão da história, bastante diferente da carta enviada por Bento
Gonçalves, o que faz o Império decidir-se por combater e esmagar a
revolta.
O novo indicado José Araújo Ribeiro, veio acompanhado de um verdadeiro aparato de guerra, com brigues e canhoneiras, armamento e muitos soldados imperiais. Os Farroupilhas gaúchos temiam o mal-entendido, a perseguição, a prisão e a morte exemplar, muito utilizada pelo Império em outras revoltas.
Houve, por isso, alguma demora na Assembléia Provincial a discutir a aceitação ou não do novo indicado, o que ocasionou a assunção de Araújo Ribeiro à Presidência perante a Câmara Municipal de Rio Grande. Daí em diante temos dois governos “legítimos” e simultâneos na Província, situação que perduraria até o final da guerra, em 1845.
Como Presidente Imperial da Província, Araújo Ribeiro tratou de recompor seu exército, reunir os oficiais gaúchos contrários aos farroupilhas João da Silva Tavares, Francisco Pedro de Abreu (o “Chico Pedro” ou Moringue), o então major Manuel Marques de Souza, que viria a receber o título de "conde de Porto Alegre", Bento Manuel Ribeiro (que iria trocar de lado na disputa duas vezes), Manuel Luiz Osório (o general Osório, hoje patrono da Cavalaria do Brasil), e mesmo contratar mercenários vindos do Uruguai. Administrativamente mandou fechar a Assembléia Provincial, e destituiu Bento Gonçalves do Comando da Guarda Nacional, nomeação feita por Marciano José Ribeiro, desautorizando-o. Inicia aí a resistência em Rio Grande e a perseguição aos revoltosos.
Em abril de 1836, o comandante-das-armas farroupilhas, João Manuel de Lima e Silva (tio de Luis Alves de Lima e Silva, que viria a ser o Duque de Caxias), prende o Major Manuel Marques de Sousa, que é trazido junto com os demais prisioneiros para o navio-prisão Presiganga. Com a ajuda de um guarda corrupto, são soltos os prisioneiros, e sob o comando de Marques de Sousa, os Imperiais retomam a cidade de Porto Alegre das mãos dos farroupilhas. Era a noite de 15 de junho de 1836.
Dias depois, Bento Gonçalves tentar retomar a capital, é rechaçado, e começa um sítio ao redor da cidade que ficou na história como um dos mais longos sítios militares a uma cidade brasileira. Ao todo 1.283 dias, terminando somente em dezembro de 1840.
Sem o controle da capital e do único porto marítimo da província, os revoltosos estabeleceram quartel-general na cidade de Piratini.
A república Riograndense tinha escasso apoio nas áreas colonizadas pela recente imigração alemã. Esses imigrantes haviam se fixado na desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo em colônias cedidas pelo Império, no Vale do Rio dos Sinos, e esboçava incipiente indústria manufatureira. Em Porto Alegre, apesar da simpatia de parte das camadas médias, não recebia o apoio popular, que mobilizava outras cidades da Província de São Pedro do Rio Grande. Inicialmente sua base social era originária de liberais, militares, industriais do charque e, especialmente de estancieiros com capacidade de liderar exércitos particulares de "peões", vaqueiros que lhes prestavam serviços ou deles dependiam para subsistência e defesa e cuja obediência e fidelidade era garantida por traços feudais da cultura local; e por escravos, que no meio rural eram incluídos no convívio social dos peões. Como haviam interfaces com o Uruguai, também eram contratados elementos de lá provenientes. Os exímios cavaleiros forjados nas lides campeiras, chamados "gaúchos", formavam corpos de cavalaria de choque aptos a travar uma guerra de guerrilha. Esses exércitos dispunham de alta mobilidade e conhecimento do terreno, mas sem dispor de infantaria nem adequada artilharia, os Farroupilhas tinham fraca capacidade bélica contra as cidades fortificadas do Rio Grande e Porto Alegre, e pouca capacidade de defesa das praças que controlavam.
O novo indicado José Araújo Ribeiro, veio acompanhado de um verdadeiro aparato de guerra, com brigues e canhoneiras, armamento e muitos soldados imperiais. Os Farroupilhas gaúchos temiam o mal-entendido, a perseguição, a prisão e a morte exemplar, muito utilizada pelo Império em outras revoltas.
Houve, por isso, alguma demora na Assembléia Provincial a discutir a aceitação ou não do novo indicado, o que ocasionou a assunção de Araújo Ribeiro à Presidência perante a Câmara Municipal de Rio Grande. Daí em diante temos dois governos “legítimos” e simultâneos na Província, situação que perduraria até o final da guerra, em 1845.
Como Presidente Imperial da Província, Araújo Ribeiro tratou de recompor seu exército, reunir os oficiais gaúchos contrários aos farroupilhas João da Silva Tavares, Francisco Pedro de Abreu (o “Chico Pedro” ou Moringue), o então major Manuel Marques de Souza, que viria a receber o título de "conde de Porto Alegre", Bento Manuel Ribeiro (que iria trocar de lado na disputa duas vezes), Manuel Luiz Osório (o general Osório, hoje patrono da Cavalaria do Brasil), e mesmo contratar mercenários vindos do Uruguai. Administrativamente mandou fechar a Assembléia Provincial, e destituiu Bento Gonçalves do Comando da Guarda Nacional, nomeação feita por Marciano José Ribeiro, desautorizando-o. Inicia aí a resistência em Rio Grande e a perseguição aos revoltosos.
Em abril de 1836, o comandante-das-armas farroupilhas, João Manuel de Lima e Silva (tio de Luis Alves de Lima e Silva, que viria a ser o Duque de Caxias), prende o Major Manuel Marques de Sousa, que é trazido junto com os demais prisioneiros para o navio-prisão Presiganga. Com a ajuda de um guarda corrupto, são soltos os prisioneiros, e sob o comando de Marques de Sousa, os Imperiais retomam a cidade de Porto Alegre das mãos dos farroupilhas. Era a noite de 15 de junho de 1836.
Dias depois, Bento Gonçalves tentar retomar a capital, é rechaçado, e começa um sítio ao redor da cidade que ficou na história como um dos mais longos sítios militares a uma cidade brasileira. Ao todo 1.283 dias, terminando somente em dezembro de 1840.
Sem o controle da capital e do único porto marítimo da província, os revoltosos estabeleceram quartel-general na cidade de Piratini.
A república Riograndense tinha escasso apoio nas áreas colonizadas pela recente imigração alemã. Esses imigrantes haviam se fixado na desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo em colônias cedidas pelo Império, no Vale do Rio dos Sinos, e esboçava incipiente indústria manufatureira. Em Porto Alegre, apesar da simpatia de parte das camadas médias, não recebia o apoio popular, que mobilizava outras cidades da Província de São Pedro do Rio Grande. Inicialmente sua base social era originária de liberais, militares, industriais do charque e, especialmente de estancieiros com capacidade de liderar exércitos particulares de "peões", vaqueiros que lhes prestavam serviços ou deles dependiam para subsistência e defesa e cuja obediência e fidelidade era garantida por traços feudais da cultura local; e por escravos, que no meio rural eram incluídos no convívio social dos peões. Como haviam interfaces com o Uruguai, também eram contratados elementos de lá provenientes. Os exímios cavaleiros forjados nas lides campeiras, chamados "gaúchos", formavam corpos de cavalaria de choque aptos a travar uma guerra de guerrilha. Esses exércitos dispunham de alta mobilidade e conhecimento do terreno, mas sem dispor de infantaria nem adequada artilharia, os Farroupilhas tinham fraca capacidade bélica contra as cidades fortificadas do Rio Grande e Porto Alegre, e pouca capacidade de defesa das praças que controlavam.
A Proclamação da República
Destacado
por Bento Gonçalves da Silva, Antônio de Souza Neto desloca-se, no
início de setembro de 1836 à região de Bagé, onde o imperial João da
Silva Tavares, vindo do Uruguai, faz grande alarde. A Primeira Brigada
de Neto, com 400 homens atravessa o Arroio Seival e encontra as tropas
de Silva Tavares (560 homens) sobre uma coxilha. Era a tarde de 10 de
setembro de 1836. Observam-se por minutos, e Silva Tavares desce a
coxilha em desabalada carga. Neto ordena também a carga de lança e
espada, sem tiros. As forças se encontram em sangrento combate. Silva
Tavares foge e seus homens são derrotados. Os farrapos ficam quase
intactos, enquanto do outro lado há 180 mortos, 63 feridos e 100
prisioneiros.
Após a flamante vitória os revoltosos resolvem proclamar a república riograndense centrada no povo, suas vontades e necessidades, e não na elite governativa. Passaram,então a redigir o documento da Proclamação que seria lida pelo General Antônio de Souza Neto, perante a tropa perfilada, em 11 de setembro.
Após a cerimônia de Proclamação, irrompem todos em gritos de euforia, liberdade, e vivas à República, com tiros para o alto e cantorias. Logo chega à galope o tenente Teixeira Nunes, empunhando pela primeira vez a bandeira tricolor, mandada fazer às pressas em Bagé. Passa então a desfilar por entre seus companheiros com a bandeira verde, vermelha e amarela da República Rio-grandense, comemorando sua independência. Foi adotada uma constituição republicana conclamando as demais províncias brasileiras a unirem-se como entes federados no sistema republicano, um hino nacional e bandeira própria do novo estado, até hoje cultivados pelo Estado do Rio Grande do Sul, também estabelecida a capital na pequena cidade de Piratini, donde surgiu uma nova alcunha, República de Piratini.
A partir deste momento, temos a falência imediata da Revolta Farroupilha, e o início da Guerra dos Farrapos, propriamente dita. A mudança de posicionamento dos Farrapos foi imediata.
Já não desejavam mais substituir o Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande por outro, pois agora haveriam de ter um Presidente da república independente.
Os combatentes não era mais revoltosos farroupilhas, mas soldados do Exército Republicano Rio-Grandense.
O pavilhão que defendiam não era mais a bandeira imperial verde-amarela, mas a quadrada bandeira republicana verde, vermelha e amarela em diagonal (sem o brasão no meio).
Não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país.
Já não era mais a luta de revoltosos em busca de justiça, mas uma guerra de exército defensor (republicano) contra exército agressor (imperial);
Após a flamante vitória os revoltosos resolvem proclamar a república riograndense centrada no povo, suas vontades e necessidades, e não na elite governativa. Passaram,então a redigir o documento da Proclamação que seria lida pelo General Antônio de Souza Neto, perante a tropa perfilada, em 11 de setembro.
Após a cerimônia de Proclamação, irrompem todos em gritos de euforia, liberdade, e vivas à República, com tiros para o alto e cantorias. Logo chega à galope o tenente Teixeira Nunes, empunhando pela primeira vez a bandeira tricolor, mandada fazer às pressas em Bagé. Passa então a desfilar por entre seus companheiros com a bandeira verde, vermelha e amarela da República Rio-grandense, comemorando sua independência. Foi adotada uma constituição republicana conclamando as demais províncias brasileiras a unirem-se como entes federados no sistema republicano, um hino nacional e bandeira própria do novo estado, até hoje cultivados pelo Estado do Rio Grande do Sul, também estabelecida a capital na pequena cidade de Piratini, donde surgiu uma nova alcunha, República de Piratini.
A partir deste momento, temos a falência imediata da Revolta Farroupilha, e o início da Guerra dos Farrapos, propriamente dita. A mudança de posicionamento dos Farrapos foi imediata.
Já não desejavam mais substituir o Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande por outro, pois agora haveriam de ter um Presidente da república independente.
Os combatentes não era mais revoltosos farroupilhas, mas soldados do Exército Republicano Rio-Grandense.
O pavilhão que defendiam não era mais a bandeira imperial verde-amarela, mas a quadrada bandeira republicana verde, vermelha e amarela em diagonal (sem o brasão no meio).
Não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país.
Já não era mais a luta de revoltosos em busca de justiça, mas uma guerra de exército defensor (republicano) contra exército agressor (imperial);
A Batalha do Fanfa
No
dia 12 de setembro, um dia após à Proclamação da República por Antônio
de Souza Neto, a seguir à vitória na Batalha do Seival, houve a
solenidade de lavratura e assinatura da Ata de Declaração de
Independência, pela qual os abaixo-assinantes declaram não embainhar
suas espadas, e derramar todo o seu sangue, antes de retroceder de seus
princípios políticos, proclamados na presente declaração. Fez-se várias
cópias da Ata e foram enviadas às câmaras municipais e aos principais
comandantes do Exército Republicano.
Como resposta imediata, as câmaras de Jaguarão, Alegrete, Cruz Alta, Piratini, entre outras, convocaram sessões extraordinárias onde puderam analisar e corroborar os feitos, fazendo constar em Atas Legislativas suas adesões, proclamando a independência política da Província, por ser a vontade geral da maioria.
Bento Gonçalves não pudera estar presente devido a um fato circunstancial. Ao tomar conhecimento do ato da Proclamação da República Riograndense, Bento Gonçalves levanta seu acampamento na lomba do Tarumã, parte do sítio que impingia a Porto Alegre, segue a várzea do Rio Gravataí, marcha para São Leopoldo e cruza o rio dos Sinos e o Rio Caí, passa a deslocar-se, beirando o Rio Jacuí, para junção de forças com Neto. Fatalmente ele precisava atravessar o rio na Ilha do Fanfa, no município de Triunfo por causa da época de cheias. Ciente dos acontecimentos, Bento Manuel agora a serviço do Império, desloca suas tropas com 660 homens embarcados, a partir de Triunfo, de modo a impedir a passagem de Bento Gonçalves.
Bento Gonçalves decide cruzar o rio Jacuí, para unir suas tropas com as de Domingos Crescêncio, e na noite de 1 de outubro levanta acampamento e na manhã seguinte inicia, com dois pontões para 40 homens, o cruzamento para a Ilha do Fanfa. José Bonifácio de Araújo Ribeiro, alertado por Bento Manuel, envia a Marinha, comandada pelo mercenário inglês John Grenfell, com 18 barcos de guerra, escunas e canhoneiras guardando o lado sul da Ilha, só percebida pelos Farrapos depois de estarem na ilha. Fechando o cerco por terra, Bento Manuel ficou senhor da situação. Era 3 de outubro de 1836. Apesar da “ratoeira” em que estavam, os farrapos resistem bravamente, sabedores da proximidade das tropas de Crescêncio carvalho, repelem os fuzileiros que desembarcam na ilha pela costa sul e qualquer tentativa de travessia pelo norte. Naquela noite, porém, Bento Manuel levanta a bandeira de “parlamento”. Bento Gonçalves aceita negociar. O acordo foi feito e assinado na tenda de Bento Manuel. Os Farrapos entregariam as armas, capitulariam, e voltariam livres para suas casas. Segundo Bento Manuel a guerra estaria terminada, com a vitória do Império. Ele pacificara a Província, e receberia as glórias da Corte. Porém, Bento Gonçalves não era tão ingênuo. Aceitaria as condições, sairia perdedor dali, mas estariam vivos para recuperar o tempo e o terreno perdido.
Pela manhã do dia 4 de outubro era formalizada a capitulação. Alguns guerreiros, no entanto, preferiam jogar as armas ao rio a entregá-las ao inimigo. No momento em que confraternizavam as tropas (Bento Gonçalves sempre teve a esperança de trazer o primo e amigo para o convívio republicano), chega Araújo Ribeiro, em pessoa, trazido por John Grenfell. Imediatamente ordena a prisão dos Farrapos, desprevenidos e desarmados, não aceitando o combinado entre os dois Bentos. Bento Manuel colabora com a captura do maior número possível de Farrapos: Bento Gonçalves, Tito Lívio, Pedro Boticário, entre outros. A maior parte dos líderes do movimento foi preso na [Presiganga] e depois enviada para a Corte e enfim encarcerada na prisão de Santa Cruz e no Forte da Lage, no Rio de Janeiro.
Como resposta imediata, as câmaras de Jaguarão, Alegrete, Cruz Alta, Piratini, entre outras, convocaram sessões extraordinárias onde puderam analisar e corroborar os feitos, fazendo constar em Atas Legislativas suas adesões, proclamando a independência política da Província, por ser a vontade geral da maioria.
Bento Gonçalves não pudera estar presente devido a um fato circunstancial. Ao tomar conhecimento do ato da Proclamação da República Riograndense, Bento Gonçalves levanta seu acampamento na lomba do Tarumã, parte do sítio que impingia a Porto Alegre, segue a várzea do Rio Gravataí, marcha para São Leopoldo e cruza o rio dos Sinos e o Rio Caí, passa a deslocar-se, beirando o Rio Jacuí, para junção de forças com Neto. Fatalmente ele precisava atravessar o rio na Ilha do Fanfa, no município de Triunfo por causa da época de cheias. Ciente dos acontecimentos, Bento Manuel agora a serviço do Império, desloca suas tropas com 660 homens embarcados, a partir de Triunfo, de modo a impedir a passagem de Bento Gonçalves.
Bento Gonçalves decide cruzar o rio Jacuí, para unir suas tropas com as de Domingos Crescêncio, e na noite de 1 de outubro levanta acampamento e na manhã seguinte inicia, com dois pontões para 40 homens, o cruzamento para a Ilha do Fanfa. José Bonifácio de Araújo Ribeiro, alertado por Bento Manuel, envia a Marinha, comandada pelo mercenário inglês John Grenfell, com 18 barcos de guerra, escunas e canhoneiras guardando o lado sul da Ilha, só percebida pelos Farrapos depois de estarem na ilha. Fechando o cerco por terra, Bento Manuel ficou senhor da situação. Era 3 de outubro de 1836. Apesar da “ratoeira” em que estavam, os farrapos resistem bravamente, sabedores da proximidade das tropas de Crescêncio carvalho, repelem os fuzileiros que desembarcam na ilha pela costa sul e qualquer tentativa de travessia pelo norte. Naquela noite, porém, Bento Manuel levanta a bandeira de “parlamento”. Bento Gonçalves aceita negociar. O acordo foi feito e assinado na tenda de Bento Manuel. Os Farrapos entregariam as armas, capitulariam, e voltariam livres para suas casas. Segundo Bento Manuel a guerra estaria terminada, com a vitória do Império. Ele pacificara a Província, e receberia as glórias da Corte. Porém, Bento Gonçalves não era tão ingênuo. Aceitaria as condições, sairia perdedor dali, mas estariam vivos para recuperar o tempo e o terreno perdido.
Pela manhã do dia 4 de outubro era formalizada a capitulação. Alguns guerreiros, no entanto, preferiam jogar as armas ao rio a entregá-las ao inimigo. No momento em que confraternizavam as tropas (Bento Gonçalves sempre teve a esperança de trazer o primo e amigo para o convívio republicano), chega Araújo Ribeiro, em pessoa, trazido por John Grenfell. Imediatamente ordena a prisão dos Farrapos, desprevenidos e desarmados, não aceitando o combinado entre os dois Bentos. Bento Manuel colabora com a captura do maior número possível de Farrapos: Bento Gonçalves, Tito Lívio, Pedro Boticário, entre outros. A maior parte dos líderes do movimento foi preso na [Presiganga] e depois enviada para a Corte e enfim encarcerada na prisão de Santa Cruz e no Forte da Lage, no Rio de Janeiro.
A Guerra Sem Bento
Na
sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da
República Rio-grandense em 6 de novembro de 1836, procedeu-se
formalmente a votação para Presidente da República, conforme os
parâmetros da época. A concorrida eleição foi vencida por Bento
Gonçalves da Silva (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro
vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assume o vice
interinamente a presidência com a incumbência de convocar uma Assembléia
Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.
A luta entre Farroupilhas e Imperiais continuou acirrada. O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais munições, com pouquíssimo resultado prático.
Pelo lado imperial, Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de janeiro de 1837 pelo Brigadeiro Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Brito passou a acumular os cargos de Comandante das Armas e de Presidente da Província com capital em Porto Alegre. Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito perseguiu e prendeu até mesmo civis simpatizantes das idéias farroupilhas, confiscando seus bens; alguns destes foram punidos com a pena de desterro. Em contrapartida os Farrapos eram senhores do pampa, recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de Brito, e ainda em Janeiro de 1837, ganham o apoio dos habitantes de Lages de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito era o Comandante das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que Bento Manuel Ribeiro. Vaidoso, e prepotente, Bento Manuel não aceitava a auto-nomeação de Brito, e continuava a dar suas próprias ordens às tropas. Brito, então, sai pessoalmente ao seu encalço. Bento foge mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato. Situação que se arrasta até o dia 23 de março de 1837 quando, num golpe de mestre, Bento Manuel Ribeiro deixa um piquete para trás, sob o comando do major Demétrio Ribeiro que, de surpresa, cai sobre as tropas de Brito e prende o Presidente Imperial da Província. Com isso novamente o traidor é aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais.
Em 8 de abril o general Netto conquista Caçapava do Sul, centro de reabastecimento imperial, depois de sete dias de cerco, apreendendo 15 canhões e fazendo prisioneiros a 540 imperiais, comandados pelo coronel João Crisóstomo da Silva. Ainda neste ano, em 2 de julho, acontece o Combate de Ivai, onde Bento Manuel é capturado, mas após um ataque farroupilha 50 legalistas são mortos, enquanto o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto foge para Caçapava do Sul.
A sustentação econômica da República era propiciada pelo apoio da vizinha República Oriental do Uruguai, que permitia o comércio do charque produzido pelos rio-grandenses para o próprio Brasil. A exportação era feita por terra até o Porto de Montevidéu, ou pelo Rio Uruguai. Em 29 de agosto é assassinado o coronel João Manuel de Lima e Silva, que havia derrotado Bento Manoel Ribeiro imperial, no ano anterior.
A 29 de agosto de 1838 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo, e coloca a nação gaúcha no seu verdadeiro lugar entre as demais nações da Terra: -Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer. Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas. E no trecho final, um juramento importante lembrado e cobrado pelos Farrapos de todos os tempos: - Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência. Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Ponche Verde.
A luta entre Farroupilhas e Imperiais continuou acirrada. O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais munições, com pouquíssimo resultado prático.
Pelo lado imperial, Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de janeiro de 1837 pelo Brigadeiro Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Brito passou a acumular os cargos de Comandante das Armas e de Presidente da Província com capital em Porto Alegre. Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito perseguiu e prendeu até mesmo civis simpatizantes das idéias farroupilhas, confiscando seus bens; alguns destes foram punidos com a pena de desterro. Em contrapartida os Farrapos eram senhores do pampa, recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de Brito, e ainda em Janeiro de 1837, ganham o apoio dos habitantes de Lages de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito era o Comandante das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que Bento Manuel Ribeiro. Vaidoso, e prepotente, Bento Manuel não aceitava a auto-nomeação de Brito, e continuava a dar suas próprias ordens às tropas. Brito, então, sai pessoalmente ao seu encalço. Bento foge mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato. Situação que se arrasta até o dia 23 de março de 1837 quando, num golpe de mestre, Bento Manuel Ribeiro deixa um piquete para trás, sob o comando do major Demétrio Ribeiro que, de surpresa, cai sobre as tropas de Brito e prende o Presidente Imperial da Província. Com isso novamente o traidor é aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais.
Em 8 de abril o general Netto conquista Caçapava do Sul, centro de reabastecimento imperial, depois de sete dias de cerco, apreendendo 15 canhões e fazendo prisioneiros a 540 imperiais, comandados pelo coronel João Crisóstomo da Silva. Ainda neste ano, em 2 de julho, acontece o Combate de Ivai, onde Bento Manuel é capturado, mas após um ataque farroupilha 50 legalistas são mortos, enquanto o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto foge para Caçapava do Sul.
A sustentação econômica da República era propiciada pelo apoio da vizinha República Oriental do Uruguai, que permitia o comércio do charque produzido pelos rio-grandenses para o próprio Brasil. A exportação era feita por terra até o Porto de Montevidéu, ou pelo Rio Uruguai. Em 29 de agosto é assassinado o coronel João Manuel de Lima e Silva, que havia derrotado Bento Manoel Ribeiro imperial, no ano anterior.
A 29 de agosto de 1838 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo, e coloca a nação gaúcha no seu verdadeiro lugar entre as demais nações da Terra: -Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer. Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas. E no trecho final, um juramento importante lembrado e cobrado pelos Farrapos de todos os tempos: - Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência. Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Ponche Verde.
A Queda da "Tranqueira Invicta"
Em
Rio Pardo estava concentrada uma divisão do exército imperial,
comandada pelo marechal Sebastião Barreto, com os brigadeiros Francisco
Xavier da Cunha comandando a infantaria e Bonifácio Caldeiron a
cavalaria, num total de 1200 combatentes. A cidade era junto com Porto
Alegre e Rio Grande, uma das mais importantes do estado, contando com
quase o dobro de habitantes da capital.
A concentração de tropas imperiais chamou a atenção dos farroupilhas, conscientes das possíveis consequências desta tropa quando se movimentasse Bento Manuel Ribeiro, ao lado de Antônio de Souza Neto em 30 de abril de 1838, comandando 2500 homens, 800 deles de cavalaria, surpreendem a cidade, na batalha do Barro Vermelho, na entrada da cidade, derrotando os imperiais, conquistando Rio Pardo, a ex-tranqueira invicta, matando 71 homens e fazendo mais de 130 prisioneiros.
Este fato foi importante por vários aspectos. Rio Pardo formava, com Rio Grande e Porto Alegre, a fronteira de domínio imperial, um ponto de apoio para a conquista do interior, tinha fama de inexpugnável, e a vitória farrapa foi incontestável. Importante também porque em Rio Pardo se encontrava, na ocasião, a Banda Imperial, sob o comando do maestro mineiro Joaquim José Mendanha, que viria a compor, sob a encomenda de Bento Gonçalves o Hino Nacional da República Riograndense. Com a letra do republicano Serafim Joaquim de Alencastre, o hino foi executado e cantado pela primeira vez na cerimônia de comemoração do primeiro aniversário da Tomada de Rio Pardo. Hoje a música do hino é a mesma, mas foi composta outra letra, por Francisco Pinto da Fontoura, o Chiquinho da Vovó, para se adequar aos novos tempos.
Cabe ressaltar que a primeira composição do Hino Nacional da República Riograndense destacava a mesma idéia dos discursos de Bento Gonçalves, de não ceder à paz vergonhosa da deposição das armas: “Nobre povo rio-grandense, / Povo de heróis, povo bravo! / Conquistaste a independência / Nunca mais serás escravo”
Notas sobre o "Hymno republicano riograndense de 1835": A partitura manuscrita pertencente ao acervo do Museu Júlio de castilhos, Porto Alegre, e nela consta a inscrição "Este hino foi solfejado pelo m...(palavra ilegível, interpretada pelos técnicos do Museu como ministro) Augusto Pereira Leitão, revolucionário de 35". O acorde de 7ª na abertura foi realizado como um arpeggio à guisa de introdução. Foram alterados acidentes nos compassos 14 e 18 que indicavam Lá#, incongruente com a clave de Fá maior (talvez erro de cópia), e acrescentado um # no Fá do baixo, que constava natural contra um Fá# da melodia acima, na falsa preparação para Sol menor. Também uma nota do baixo do segundo compasso foi alterada de Lá para Sib por aparentemente ser um erro de harmonia, comparando-se com passagem idêntica mais adiante que traz o Sib no mesmo ponto.
O Hino Rio-Grandense é o hino oficial do estado do Rio Grande do Sul. Tem letra de Francisco Pinto da Fontoura, música de Comendador Maestro Joaquim José Mendanha e harmonização de Antônio Corte Real. A obra original possuía uma estrofe que foi suprimida, além de uma repetição do estribilho, pelo mesmo dispositivo legal que a oficializou como hino do estado - A lei nº 5.213, de 5 de Janeiro de 1966.
Como aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o vinte de setembro
O precursor da liberdade
Refrão
Mostremos valor e constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Refrão
Mostremos valor e constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
Trecho suprimido. Em 1966, a segunda estrofe foi retirada oficialmente.
Que entre nós, reviva Atenas
para assombro dos tiranos
Sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos
A concentração de tropas imperiais chamou a atenção dos farroupilhas, conscientes das possíveis consequências desta tropa quando se movimentasse Bento Manuel Ribeiro, ao lado de Antônio de Souza Neto em 30 de abril de 1838, comandando 2500 homens, 800 deles de cavalaria, surpreendem a cidade, na batalha do Barro Vermelho, na entrada da cidade, derrotando os imperiais, conquistando Rio Pardo, a ex-tranqueira invicta, matando 71 homens e fazendo mais de 130 prisioneiros.
Este fato foi importante por vários aspectos. Rio Pardo formava, com Rio Grande e Porto Alegre, a fronteira de domínio imperial, um ponto de apoio para a conquista do interior, tinha fama de inexpugnável, e a vitória farrapa foi incontestável. Importante também porque em Rio Pardo se encontrava, na ocasião, a Banda Imperial, sob o comando do maestro mineiro Joaquim José Mendanha, que viria a compor, sob a encomenda de Bento Gonçalves o Hino Nacional da República Riograndense. Com a letra do republicano Serafim Joaquim de Alencastre, o hino foi executado e cantado pela primeira vez na cerimônia de comemoração do primeiro aniversário da Tomada de Rio Pardo. Hoje a música do hino é a mesma, mas foi composta outra letra, por Francisco Pinto da Fontoura, o Chiquinho da Vovó, para se adequar aos novos tempos.
Cabe ressaltar que a primeira composição do Hino Nacional da República Riograndense destacava a mesma idéia dos discursos de Bento Gonçalves, de não ceder à paz vergonhosa da deposição das armas: “Nobre povo rio-grandense, / Povo de heróis, povo bravo! / Conquistaste a independência / Nunca mais serás escravo”
Notas sobre o "Hymno republicano riograndense de 1835": A partitura manuscrita pertencente ao acervo do Museu Júlio de castilhos, Porto Alegre, e nela consta a inscrição "Este hino foi solfejado pelo m...(palavra ilegível, interpretada pelos técnicos do Museu como ministro) Augusto Pereira Leitão, revolucionário de 35". O acorde de 7ª na abertura foi realizado como um arpeggio à guisa de introdução. Foram alterados acidentes nos compassos 14 e 18 que indicavam Lá#, incongruente com a clave de Fá maior (talvez erro de cópia), e acrescentado um # no Fá do baixo, que constava natural contra um Fá# da melodia acima, na falsa preparação para Sol menor. Também uma nota do baixo do segundo compasso foi alterada de Lá para Sib por aparentemente ser um erro de harmonia, comparando-se com passagem idêntica mais adiante que traz o Sib no mesmo ponto.
O Hino Rio-Grandense é o hino oficial do estado do Rio Grande do Sul. Tem letra de Francisco Pinto da Fontoura, música de Comendador Maestro Joaquim José Mendanha e harmonização de Antônio Corte Real. A obra original possuía uma estrofe que foi suprimida, além de uma repetição do estribilho, pelo mesmo dispositivo legal que a oficializou como hino do estado - A lei nº 5.213, de 5 de Janeiro de 1966.
Como aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o vinte de setembro
O precursor da liberdade
Refrão
Mostremos valor e constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Refrão
Mostremos valor e constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
Trecho suprimido. Em 1966, a segunda estrofe foi retirada oficialmente.
Que entre nós, reviva Atenas
para assombro dos tiranos
Sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos
Os Lanchões de Garibaldi
Foi
preciso engendrar uma manobra incomum para conquistar um ponto que
pudesse ligar o Rio Grande dos farrapos com o mar. Este ponto era
laguna, em Santa Catarina. O primeiro passo era constituir a Marinha
Rio-Grandense. Giuseppe Garibaldi conhecera Bento Gonçalves ainda em sua
prisão, no Rio de Janeiro, e obteria dele uma carta de corso para
aprisionar embarcações imperiais. Em 1º de setembro de 1838, Garibaldi é
nomeado capitão-tenente, comandante da marinha Farroupilha.
O plano era criar um estaleiro, junto a uma fábrica de armas e munições em Camaquã, na estância de Ana Gonçalves, irmã de Bento Gonçalves, trazer os barcos pela Lagoa até o Rio Capivari, e dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar. Assim foi feito, mas não sem dificuldades.
Os imperiais, informados dos planos farrapos, atacaram o estaleiro de Camaquã, comandados por Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido por Moringue. Eram mais de uma centena de homens, cercando o galpão com 14 trabalhadores entrincheirados. A comandá-los, Giuseppe Garibaldi. Foram horas de ataque e resistência heróica. Quase ao anoitecer, Moringue precipita-se do esconderijo e leva um balaço no peito. Seus companheiros o recolhem e fogem tão rapidamente quanto chegaram.
Já com os lanchões Seival e Farroupilha cortando as águas da Lagoa dos Patos, eram fustigados pela retaguarda pelo temível John Grenfell, Comandante da Marinha Imperial na Província. Fugindo e despistando conseguem enveredar pelo estreito do Rio Capivari e passam os barcos a terra. Puxando sobre rodados, os dois lanchões artilhados, com cem juntas de bois, atravessaram ásperos caminhos, pelos campos úmidos - em alguns trechos completamente submersos, pois era inverno, tempo feio com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal. Cada barco tinha dois eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro cru. Piquetes corriam os campos entulhando atoleiros, enquanto outros, cuidavam da boiada.
Levaram seis dias até a Lagoa Tomás José, vencendo 90 km e chegando a 11 de julho. No dia 13, seguem da Lagoa Tomás José à Barra do Rio Tramandaí, sob o Oceano Atlântico, e, no dia 15, lançam-se ao mar com sua tripulação mista de 70 homens. O Seival, de doze toneladas, era comandado pelo norte-americano John Griggs, conhecido como “João Grandão”, e o Farroupilha, de dezoito toneladas, comandado por Garibaldi, ambos armados com quatro canhões de doze polegadas, de molde "escuna".
Finalmente atacam Laguna por terra, com as forças de Canabarro, e por água. Entrando através da Lagoa da Garopaba do Sul, passando pelo Rio Tubarão e atacando Laguna por trás, surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa'. Garibaldi com o Seival, toma Laguna, com ajuda do próprio povo lagunense, a 22 de julho de 1839. A 29 deste mês proclama-se a República Juliana, feito um país independente, ligada à República Rio-grandense pelos laços do confederalismo.
Prepara-se o ataque farrapo à ilha do Desterro, hoje Florianópolis, mas o império contra-ataca de surpresa, com força total. Comandados pelo General Andréa, por terra, mais de 3.000 homens e por mar, com uma frota de 13 navios, melhor equipados e experientes, na batalha naval de Laguna, quando teve pela frente o Almirante Imperial Frederico Mariath.
Garibaldi recebe ordem superior de queimar os seus seis navios e de juntar o que resta de suas tripulações ao exército de terra, que prepara a retirada de Laguna. Os imperiais retomam Laguna a 15 de novembro de 1839, expulsando os farrapos Garibaldi e Canabarro. Garibaldi foge com Ana, que tornar-se-ia conhecida como Anita Garibaldi, uma mulher lagunense casada, cujo esposo alistara-se no exército imperial, abandonando-a, um escândalo para a época. Anita veio a ser sua companheira de todos os momentos, lutando lado-a-lado com Garibaldi seja nos pampas gaúchos, como na Itália, onde é considerada heroína.
O plano era criar um estaleiro, junto a uma fábrica de armas e munições em Camaquã, na estância de Ana Gonçalves, irmã de Bento Gonçalves, trazer os barcos pela Lagoa até o Rio Capivari, e dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar. Assim foi feito, mas não sem dificuldades.
Os imperiais, informados dos planos farrapos, atacaram o estaleiro de Camaquã, comandados por Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido por Moringue. Eram mais de uma centena de homens, cercando o galpão com 14 trabalhadores entrincheirados. A comandá-los, Giuseppe Garibaldi. Foram horas de ataque e resistência heróica. Quase ao anoitecer, Moringue precipita-se do esconderijo e leva um balaço no peito. Seus companheiros o recolhem e fogem tão rapidamente quanto chegaram.
Já com os lanchões Seival e Farroupilha cortando as águas da Lagoa dos Patos, eram fustigados pela retaguarda pelo temível John Grenfell, Comandante da Marinha Imperial na Província. Fugindo e despistando conseguem enveredar pelo estreito do Rio Capivari e passam os barcos a terra. Puxando sobre rodados, os dois lanchões artilhados, com cem juntas de bois, atravessaram ásperos caminhos, pelos campos úmidos - em alguns trechos completamente submersos, pois era inverno, tempo feio com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal. Cada barco tinha dois eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro cru. Piquetes corriam os campos entulhando atoleiros, enquanto outros, cuidavam da boiada.
Levaram seis dias até a Lagoa Tomás José, vencendo 90 km e chegando a 11 de julho. No dia 13, seguem da Lagoa Tomás José à Barra do Rio Tramandaí, sob o Oceano Atlântico, e, no dia 15, lançam-se ao mar com sua tripulação mista de 70 homens. O Seival, de doze toneladas, era comandado pelo norte-americano John Griggs, conhecido como “João Grandão”, e o Farroupilha, de dezoito toneladas, comandado por Garibaldi, ambos armados com quatro canhões de doze polegadas, de molde "escuna".
Finalmente atacam Laguna por terra, com as forças de Canabarro, e por água. Entrando através da Lagoa da Garopaba do Sul, passando pelo Rio Tubarão e atacando Laguna por trás, surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa'. Garibaldi com o Seival, toma Laguna, com ajuda do próprio povo lagunense, a 22 de julho de 1839. A 29 deste mês proclama-se a República Juliana, feito um país independente, ligada à República Rio-grandense pelos laços do confederalismo.
Prepara-se o ataque farrapo à ilha do Desterro, hoje Florianópolis, mas o império contra-ataca de surpresa, com força total. Comandados pelo General Andréa, por terra, mais de 3.000 homens e por mar, com uma frota de 13 navios, melhor equipados e experientes, na batalha naval de Laguna, quando teve pela frente o Almirante Imperial Frederico Mariath.
Garibaldi recebe ordem superior de queimar os seus seis navios e de juntar o que resta de suas tripulações ao exército de terra, que prepara a retirada de Laguna. Os imperiais retomam Laguna a 15 de novembro de 1839, expulsando os farrapos Garibaldi e Canabarro. Garibaldi foge com Ana, que tornar-se-ia conhecida como Anita Garibaldi, uma mulher lagunense casada, cujo esposo alistara-se no exército imperial, abandonando-a, um escândalo para a época. Anita veio a ser sua companheira de todos os momentos, lutando lado-a-lado com Garibaldi seja nos pampas gaúchos, como na Itália, onde é considerada heroína.
Os Campos de Lages
Em
março de 1838 os farroupilhas haviam adentrado a região de Lages,
anexando-a à República Rio-Grandense, com o apoio de alguns fazendeiros
locais.
Depois das queda de Laguna as tropas farrapas, tomaram o caminho de Lages para retornar ao Rio Grande do Sul. Enquanto isso o governo imperial havia decidido enviar um contingente de tropas ao sul pelo interior com a missão de retomar Lages e depois auxiliar contra o cerco de Porto Alegre pelos farrapos. Em Rio Negro reuniram-se 1500 homens, vindos do Rio de Janeiro, Curitiba, Paranaguá, Antonina e Campo do tenente, deslocando-se em seguida para santa cecília, onde acamparam em 25 de outubro de 1839.
Travando pequenos combates com piquetes farroupilhas em novembro, através dos Campos dos Curitibanos e Campos Novos, chegaram a Lages, onde retomaram a vila. Dali uma parte da coluna do brigadeiro Francisco Xavier da Cunha decidiu seguir em direção ao Rio Pelotas, para invadir o Rio Grande do Sul.
Os farrapos, derrotados em Lajes, se reuniram em um entreposto alfandegário, para cobrança de impostos sobre as tropas de gado e mulas que vinham de Viamão e seguiam para Sorocaba, conhecido como Santa Vitória.
O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, foi informado e para lá dirigiu-se, com seus dois mil homens. Foi surpreendido, em 14 de dezembro de 1839, por Teixeira Nunes, que com sua cavalaria, conseguiu dividir a tropa legalista e o fez retroceder. Em um renhido combate as tropas legalistas foram derrotadas. O brigadeiro ferido e protegido por alguns oficiais, tentou escapar e ao cruzar o Rio Pelotas, morreu afogado.
Os farroupilhas retomaram Lajes novamente, mas as tropas legalistas foram reforçadas por uma divisão vinda de Cruz Alta, sob o comando do coronel Antônio de Melo Albuquerque, o "Melo Manso".
Garibaldi e Teixeira Nunes, pressentido um ataque, dividiram suas tropas, uma partiu para o norte, onde perto do Rio Marombas encontrou uma tropa legalista superior e, 12 de janeiro de 1840. Os republicanos foram dizimados, dos 500 iniciais, menos de 50 conseguiram retornar a Lajes e depois voltar ao Rio Grande do Sul.
Depois das queda de Laguna as tropas farrapas, tomaram o caminho de Lages para retornar ao Rio Grande do Sul. Enquanto isso o governo imperial havia decidido enviar um contingente de tropas ao sul pelo interior com a missão de retomar Lages e depois auxiliar contra o cerco de Porto Alegre pelos farrapos. Em Rio Negro reuniram-se 1500 homens, vindos do Rio de Janeiro, Curitiba, Paranaguá, Antonina e Campo do tenente, deslocando-se em seguida para santa cecília, onde acamparam em 25 de outubro de 1839.
Travando pequenos combates com piquetes farroupilhas em novembro, através dos Campos dos Curitibanos e Campos Novos, chegaram a Lages, onde retomaram a vila. Dali uma parte da coluna do brigadeiro Francisco Xavier da Cunha decidiu seguir em direção ao Rio Pelotas, para invadir o Rio Grande do Sul.
Os farrapos, derrotados em Lajes, se reuniram em um entreposto alfandegário, para cobrança de impostos sobre as tropas de gado e mulas que vinham de Viamão e seguiam para Sorocaba, conhecido como Santa Vitória.
O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, foi informado e para lá dirigiu-se, com seus dois mil homens. Foi surpreendido, em 14 de dezembro de 1839, por Teixeira Nunes, que com sua cavalaria, conseguiu dividir a tropa legalista e o fez retroceder. Em um renhido combate as tropas legalistas foram derrotadas. O brigadeiro ferido e protegido por alguns oficiais, tentou escapar e ao cruzar o Rio Pelotas, morreu afogado.
Os farroupilhas retomaram Lajes novamente, mas as tropas legalistas foram reforçadas por uma divisão vinda de Cruz Alta, sob o comando do coronel Antônio de Melo Albuquerque, o "Melo Manso".
Garibaldi e Teixeira Nunes, pressentido um ataque, dividiram suas tropas, uma partiu para o norte, onde perto do Rio Marombas encontrou uma tropa legalista superior e, 12 de janeiro de 1840. Os republicanos foram dizimados, dos 500 iniciais, menos de 50 conseguiram retornar a Lajes e depois voltar ao Rio Grande do Sul.
1840: Os Farrapos Perdem Território
A
queda de Laguna deu início ao declínio Farroupilha. O General Andréa,
que havia retomado Laguna, logo é nomeado o novo Presidente Imperial da
Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e Comandante do Exército
Imperial na Província.
Entre as frustrações de 1840 estão:
• Caçapava, a então capital da República é invadida pelos imperiais. Instala-se a capital em Alegrete.
• Em Julho os farrapos perdem São Gabriel.
• Francisco Pedro de Abreu, o Moringue, surpreende Souza Neto quase fazendo-o prisioneiro.
• Bento Gonçalves da Silva, em campanha pela conquista de São José do Norte, trava duríssima batalha de quase nove horas, mas tem que desistir. As condições eram totalmente desfavoráveis; o império ameaça retomar o controle da Província.
Estes insucessos, deu pretexto a lideranças de objetivos menos firmes, como Bento Manuel, tido como fiel da balança do confronto, para abandonar os revolucionários.
Em outros combates como em novembro de 1841 Chico Pedro fez 20 prisioneiros e tomou 400 cavalos dos Farroupilhas, perto de São Gabriel; em Rincão Bonito o coronel João Propício Mena Barreto provoca 120 mortes, faz 182 prisioneiros e toma 800 cavalos; em 20 de janeiro de 1842 Chico Pedro, atacado por Bento Gonçalves e 300 homens, derrota-o, provocando 36 mortes, 20 prisioneiros e capturando toda a bagagem, sofrendo somente 3 mortes e 7 feridos.
Uma Assembléia Constituinte havia sido convocada em 10 de fevereiro de 1840, porém manobras de Bento Gonçalves, que não queria perder poderes, levaram a que somente em 1842, fosse promulgada a Constituição da República, o que deu um ânimo momentâneo à luta.
Entre as frustrações de 1840 estão:
• Caçapava, a então capital da República é invadida pelos imperiais. Instala-se a capital em Alegrete.
• Em Julho os farrapos perdem São Gabriel.
• Francisco Pedro de Abreu, o Moringue, surpreende Souza Neto quase fazendo-o prisioneiro.
• Bento Gonçalves da Silva, em campanha pela conquista de São José do Norte, trava duríssima batalha de quase nove horas, mas tem que desistir. As condições eram totalmente desfavoráveis; o império ameaça retomar o controle da Província.
Estes insucessos, deu pretexto a lideranças de objetivos menos firmes, como Bento Manuel, tido como fiel da balança do confronto, para abandonar os revolucionários.
Em outros combates como em novembro de 1841 Chico Pedro fez 20 prisioneiros e tomou 400 cavalos dos Farroupilhas, perto de São Gabriel; em Rincão Bonito o coronel João Propício Mena Barreto provoca 120 mortes, faz 182 prisioneiros e toma 800 cavalos; em 20 de janeiro de 1842 Chico Pedro, atacado por Bento Gonçalves e 300 homens, derrota-o, provocando 36 mortes, 20 prisioneiros e capturando toda a bagagem, sofrendo somente 3 mortes e 7 feridos.
Uma Assembléia Constituinte havia sido convocada em 10 de fevereiro de 1840, porém manobras de Bento Gonçalves, que não queria perder poderes, levaram a que somente em 1842, fosse promulgada a Constituição da República, o que deu um ânimo momentâneo à luta.
Reforços Liberais
O
fim rebeliões em outras províncias, como a Sabinada na Bahia e a
revolução Liberal de 1842 em São Paulo, trazem novos reforços às tropas
farrapas, como Daniel Gomes de Freitas (signatário depois do tratado de
paz), o coronel Manoel Gomes Pereira, Francisco José da Rocha e João
Rios Ferreira, da Bahia; e Rafael Tobias de Aguiar, de São Paulo.
Por outro lado, o fim destas outras rebeliões, também liberam as tropas do exército brasileiro para concentrarem seus esforços contra os Farroupilhas.
Por outro lado, o fim destas outras rebeliões, também liberam as tropas do exército brasileiro para concentrarem seus esforços contra os Farroupilhas.
O duelo entre Bento Gonçalves e Onofre Pires
A
República Rio-Grandense não ficou isenta das disputas pelo poder.
Começaram a aparecer em sua fileiras pessoas inteligentes e capazes,
dispostas a rachar a necessária unidade nacional naquele momento em que a
nação gaúcha precisa de todas as suas forças para combater um inimigo
reconhecidamente superior em número e riqueza. Em dezembro de 1842,
quando se instalou a Assembléia Constituinte, as divergências se
exteriorizaram, contrapondo a “maioria” de Bento Gonçalves e contra a
"minoria" de Antonio Vicente da Fontoura. Isto levou o projeto de
Constituição publicado em fevereiro de 1843, a ter prejudicada a
sistematização das idéias de todos aqueles que ainda estavam na
revolução ou a apoiavam.
Bento Gonçalves renuncia, por conta da campanha de intrigas, à Presidência da República Riograndense a 4 de agosto de 1843, assumindo seu vice Gomes Jardim. Lança um manifesto dizendo-se acometido de uma enfermidade pulmonar, que talvez já o estivesse incomodando, e incita a nação a se unir em torno do novo Presidente. Passa em seguida a comandar uma divisão do Exército Rio-Grandense.
Opositores, entre eles o deputado Antônio Vicente da Fontoura, induzem Onofre Pires a destratar e humilhar Bento Gonçalves, chamando-o de assassino ( de Paulinho da Fontoura) e ladrão. Onofre, desafiado por Bento para um duelo realizado em 27 de fevereiro de 1844, é ferido no braço direito, sendo socorrido por Bento, mas vindo a falecer, dias depois, por complicações advindas daquele ferimento.
Bento Gonçalves renuncia, por conta da campanha de intrigas, à Presidência da República Riograndense a 4 de agosto de 1843, assumindo seu vice Gomes Jardim. Lança um manifesto dizendo-se acometido de uma enfermidade pulmonar, que talvez já o estivesse incomodando, e incita a nação a se unir em torno do novo Presidente. Passa em seguida a comandar uma divisão do Exército Rio-Grandense.
Opositores, entre eles o deputado Antônio Vicente da Fontoura, induzem Onofre Pires a destratar e humilhar Bento Gonçalves, chamando-o de assassino ( de Paulinho da Fontoura) e ladrão. Onofre, desafiado por Bento para um duelo realizado em 27 de fevereiro de 1844, é ferido no braço direito, sendo socorrido por Bento, mas vindo a falecer, dias depois, por complicações advindas daquele ferimento.
General
Bento Gonçalves da Silva, assim como Souza Netto, vendo que as
proposições farrapas não seriam totalmente atendidas, como a libertação
dos negros escravos, retirou-se das tratativas de paz, deixando em seu
lugar o general David Canabarro.
As Negociações de Paz e a Surpresa de Porongos
Em
novembro de 1844 estavam todos em pleno armistício. Suspensão de armas,
condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz. Por
isso o relaxamento da guarda no acampamento da curva do arroio Porongos.
Recolheram os cartuchos de munições para colocá-los ao sol para secar.
Canabarro e seus oficiais imediatos foram a uma estância próxima visitar
a mulher viúva de um ex-guerreiro farrapo. O coronel Teixeira Nunes e
seu corpo de Lanceiros negros descansavam. Foi então que apareceu
Moringue, de surpresa, quebrando o decreto de suspensão de armas. Mesmo
assim o corpo de Lanceiros Negros, cerca de 100 homens de mãos livres,
pelearam, resistiram e bravamente lutaram até a aniquilação, em uma
posição de difícil defesa. Além disso foram presos mais de 300
republicanos entre brancos e negros, inclusive 35 oficiais.
O general Canabarro, recuperado, reuniria ainda todo o restante de seu exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada a 7 de dezembro de 1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.
O general Canabarro, recuperado, reuniria ainda todo o restante de seu exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada a 7 de dezembro de 1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.
A Paz do Poncho Verde
Por fim, a 1 de março de 1845, assinou-se a paz: o Tratado de Poncho Verde ou Paz do Poncho Verde, após quase dez anos de guerra que teria causado 47829 mortes. Entre suas principais condições estavam a anistia plena aos revoltosos, a libertação dos escravos que combateram no Exército piratinense e a escolha de um novo presidente provincial pelos farroupilhas. O cumprimento parcial ou integral do tratado até hoje suscita discussões. A impossibilidade de uma abolição da escravatura regionalmente restrita, a persistência de animosidade entre lideranças locais e outros fatores administrativos e operacionais podem ter ao menos dificultado, senão impedido o cumprimento integral do mesmo. Tal discussão é remetida para o artigo principal deste assunto.Dos escravos sobreviventes, alguns acompanharam o exército do general Antônio Neto em seu exílio no Uruguai, outros foram incorporados ao Exército Imperial e muitos foram vendidos novamente como escravos no Rio de Janeiro.
A atuação de Luís Alves de Lima e Silva foi tão nobre e correta para com os oponentes que a Província, novamente unificada, o indicou para senador. O Império, reconhecido, outorgou ao general o título nobiliárquico de Conde de Caxias. Mais tarde, (1850), com a iminência da Guerra contra Rosas seria indicado presidente da província de São Pedro do Rio Grande.
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/a-revoluccedilatildeo-farroupilha.html
Danças e Ritmos
As danças ocupam um espaço nobre dentro do tradicionalismo gaúcho. Tanto como expressão de emotividade quanto uma manifestação de arte, que requer técnica e habilidade. Desde os primórdios, a dança se constitui num exercício para corpo e um descanso para espírito. A topografia do terreno, a vestimenta, o espírito, a idiossincrasia e a emotividade do indivíduo, foram os pontos de apoio em que se assentaram as bases para a formação coreográfica que se criou em cada setor do universo. Segue algumas danças e ritmos:Danças em Grupos (Invernadas)
Anu: Dança típica do fandango gaúcho, o "Anu" divide-se em duas partes totalmente distintas: uma para ser cantada, e outra para ser sapateada. Aproxima-se bastante da "Quero-Mana", principalmente pelo passeio cerimonioso que os pares realizam. O período que o "Anu" gozou de maior popularidade, no Rio Grande do Sul, foi em meados do século passado.
♪ O Anu é pass'o preto, ai,
O Anu é pass'o preto, ai,
Passarinho de verão,
Ai, passarinho de verão, ai!
(palmas)
O Anu é pass'o preto, ai,
Quando canta a meia-noite,
Dá uma dor no coração,
Ai, dá uma dor no coração, ai!
E se tu, Anu, soubesse, ai,
E se tu, Anu, soubesse,
Quanto custa um bem querer,
Ai, quanto custa um bem querer, ai!
(palmas)
Ai se tu, Anu, soubesse, ai,
Por certo não cantarias
Nas horas do amanhecer
Ai, nas horas do amanhecer, ai! ♪
Balaio: O balaio é brasileiro da gema e procede do Nordeste. O balaio guarda nitidamente a feição de nossos velhos lundus que criaram, no Nordeste do Brasil, o baião ou baiano. O nome “balaio” origina-se do aspecto de cesto que moças dão as suas saias, quando o cantador diz: “moça que não tem balaio, bota a costura no chão”.
Teve suas raízes na chula. Inicialmente dançada de pares soltos, com cantigas e danças. Com a evolução surgiu o balaio híbrido, com momentos de pares soltos e outros enlaçados, sempre com sapateios de peões e giros das prendas. O balaio, como o próprio nome diz, sugere uma dança de círculo.
♪Eu queria ser balaio balaio eu queria sê,
para andar dependurado na cintura de você.
Eu queria ser balaio na colheita da mandioca
para andar dependurado na cintura das chinocas.
Mandei fazer um balaio Pra guardar meu algodão,
balaio saiu pequeno Não quero balaio não.
Refrão:
Balaio, meu bem, balaio, sinhá, balaio do coração.
Moça que não tem balaio, sinhá, bota a costura no chão (bis). ♪
Cana-Verde: A “Cana-verde” chegou de Portugal e se tornou popular em vários estados brasileiros. Naturalmente foi adquirida cores locais, em cada região e dessa forma produzindo variantes da dança-origem. A coreografia foi a mais difundida no nordeste e litoral do Rio Grande do Sul.
♪Eu plantei a cana-verde sete palmo de fundura. (bis)
Não levou nem sete dia e a cana estava madura. (bis)
Ai-ai! Meu bem! (4 vezes)
Não levou nem sete dia e a cana estava madura.
Eu plantei a cana-verde ninguém me ajudou a plantar. (bis)
Depois da cana madura todos queriam chupar. (bis)
(Refrão)
Ai-ai! Meu Bem! (4 vezes)
Depois da cana madura todos queriam chupar. ♪
Caranguejo: Diz Oneyda Alveranga que o “caranguejo foi popular no país todo e sobre ele há referência desde o século XIX. É dança grave, de pares dependentes, lembrando uma muito possível origem no minueto. No Rio Grande do Sul o primeiro registro musical foi feito por Alcides Cruz, para o “Anuário do Rio Grande do Sul”, de 1903.
Chimarrita ou Chamarrita: Com o nome de Chama-Rita, foi introduzida pelos colonos açorianos ao inicio da formação do Rio Grande do Sul, esta dança era então popular no Arquipélago dos Açores e na Ilha da Mandeira. Desde a sua chegada, a “chamarrita" foi-se amoldando às subseqüentes gerações coreográficas, como um misto de valsa e chotes. Do Rio Grande do Sul (e de Santa Catarina), a dança passou ao Paraná, ao Estado de São Paulo, bem como às províncias argentinas de Corrientes e Entre Rios, onde ainda hoje são populares as variantes “Chamarrita e Chamame”.
Variação:
- Chimarrita-Balão: A “Chimarrita-Balão” é conhecida somente no litoral-norte e planalto-do-nordeste do Rio Grande do Sul. “Balão” foi uma dança bastante vulgarizada em Portugal no Século passado, e teve, no Brasil, variantes como ‘Balão-Faceiro”. Não encontramos, a não ser na denominação, a mínima semelhança entre a “Chimarrita-Balão” e a tradicional “Chimarrita”.
♪ Chimarrita vou cantar
Qu'inda hoje não cantei (bis)
Deus lhe dê muita boa noite
Qu'inda hoje não lhe dei (bis)
Chimarrita morreu ontem,
ontem mesmo se enterrou (bis)
Quem falar da chimarrita
Leva o fim que ela levou (bis)
Chimarrita que eu canto
Veio de cima-da-serra (bis)
A pular de galho em galho
até chegar na minha terra (bis) ♪
Chotes: Tal como acentecera com as danças de anteriores ciclos coreográficos, a “schottisch” vio a se amoldar, no Rio Grande do Sul, a instrumentação típica, e deu margem a uma nova criação musical, bastante viva e que hoje constitui verdadeira manifestação folclórica do gaúcho, é o chotes. É também usual a pronúncia “chote”.
Coreográficamente o chotes herdou os mesmos passos da dança-origem, mas se enriqueceu de uma série de variantes.
Variações:
- Chote de duas damas: Bonita variante do chote, em que o homem dança com duas damas simultaneamente. Essa presença de duas mulheres não é raridade: antigas danças germânicas também foram assim, os platinos tiveram o “palito”, e na cidade de São Paulo dançou-se da década de 20 um “chote militar” com duas damas. Não necessita de melodia específica, dança-se ao som de um chote comum. Por nós é dançada com partitura de “Chote Laranjeira”.
- Chote Inglês: Dança de salão difundido nas cidades brasileiras ao final do século XIX. Suas melodias, executadas ao piano nos centros urbanos, chegaram a ser conhecidas no meio rural. Registramos algumas variantes de chote inglês em várias regiões do Rio Grande do Sul.
- Chote Carreirinha: Originária do schottinh trazido pelos imigrantes alemães. Na primeira parte da dança, os pares desenvolvem uma pequena corrida compassada, o que deu razão ao nome da dança: carreirinha.
Eu vou voltar pro meu rincão,
Pra beber água dos teus olhos
Sangue do teu coração.
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pro meu rincão,
Que é pra comer churrasco gordo
E tomar mate chimarrão.
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pra fronteira,
Que é pra comer churrasco gordo
E tomar café de chaleira
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pra fronteira,
Mas eu hei-de levar comigo
Este chotes-laranjeira! ♪
Chula: Um dos mais importantes livros-de-viagem referente ao Estado do Rio Grande do Sul – a “Notícia Descrita da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul,” escrita por Nicolau Dreys em 1817 e publicada em 1839 - foi acentuado por uma passagem da obra, em que o viajante nos fala que a sociedade dos gaúchos era uma sociedade sem mulheres. Naquela época, “gaúcho” era um termo pejorativo indígena, homem sem lar e sem querência – bem distinto do campeiro das estâncias, apegado à terra e à família. O tempo passa-se em jogar, tocar ou escutar uma guitarra n’ alguma pulperia, e às vezes, dançando chula, sem a participação de mulheres, enfim a chula é dança de agilidade masculina ou de habilidade sapateadora, em que os executantes demonstram suas qualidades individuais.
A Chula reveste-se de particular importância no nosso folclore, pois encarna os traços do propalado machismo gaúcho. Num universo de masculinidade, a Chula era o símbolo do espírito másculo, retratando a força e a agilidade do peão, em clima de disputas.
Dança muito difundida em Portugal e também dançada pelos Açorianos. A Chula caracteriza-se pela agilidade do sapateio do peão ou diversos peões, em disputas, sapateando sobre uma lança estendida no salão.
♪ Venha seu mestre chula, ai seu chuliador,
E dê uma paradinha para o tocador!
Venha seu mestre chula, ai que chulia bem,
E dê uma paradinha para mim também! ♪
Dança dos Facões: Danças de esgrima, em que, ao invés de porretes ou bastões, se usam espadas ou facas de verdade, são registradas na Ásia, na Europa Oriental, na África muçulmana, em regiões onde se encontram aglomerados predominantemente masculinas. Cada dançarino mune-se de dois facões, afiados, e as evoluções exigem destreza, acuidade, reflexos rápidos.
Malambo: Tradicional sapateado argentino, executado apenas por homens. Do folclore o malambo passou ao teatro tradicionalista argentino e hoje foi incorporado, com muito entusiasmo às festas típicas dos tradicionalistas uruguaios e sul-riograndeses. Além de uma melodia tradicional, inconfundível, há várias melodias de malambo criadas por eméritos compositores platinos, dando oportunidade ao surgimento de notáveis criações coreográficas, artísticas, onde os dançarinos fazem malabarismo com base no tema folclórico original.
Maçanico: Essa dança, por suas características coreográficas, parece ser portuguesa (apesar da música adquirir, quando executada por violinistas autenticos do Rio Grande do Sul, um estilo sincopado muito próprio, alheio à música portuguesa). Com o nome de “Maçanico” surgiu no Estado de Santa Catarina e daí passou ao nordeste e litoral do Rio Grande do Sul.
É uma de nossas danças mais animadas. O nome maçanico é corruptela de maçanico, ave das lagoas.
♪ Maçanico, maçanico, maçanico do banhado (bis)
Quem não dança o maçanico não arruma namorado (bis)
Maçanico, maçanico, mas que bicho impertinente! (bis)
Maçanico vai-te embora! Na tua casa chegou gente! (bis)
Maçanico, maçanico se põe na sala a dançar (bis)
Maçanico, pula e corre bate as asas pra voar (bis)
Maçanico, maçanico, mas que bicho impertinente! (bis)
Maçanico vai-te embora! Na tua casa chegou gente! (bis) ♪
Pau-de-fitas: Nenhuma dança, como o “Pau-de-fitas”, pode merecer, com tamanha propriedade, o nome “dança universal” e é de todo infrutífero, ao pesquisador, tentar buscar-lhe o ponto geográfico de origem, pois a “dança das fitas” parece surgir de todos os lados e em todos os povos. A tese mais acertada é a do folclore argentino Carlos Veja que vê na “dança das fitas” uma sobrevivência das solenidades de cultura às árvores, tão disseminada entre os povos primitivos. O Nome da música que é dançada chama-se “Meu Cabelo”.
♪ Muitas vezes me dá uma gana de fazer certas asneiras
De rasgar a bandeirinha da Maria Brasileira (bis)
Não sei o que tem meu cabelo que não combina com a banha
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha (bis)
Muitas vezes me dá uma gana de fazer certas asneiras
De rasgar a bandeirinha da Maria Brasileira (bis)
Não sei o que tem meu cabelo que não combina com a banha
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha
Não sei o que tem meu cabelo que com a banha não combina
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha ♪
Pericóm: Como reflexo do que ocorrera em Paris e em toda América, surgiu no Prata, na primeira dança de um conjunto chamada “Pericom”. Da província de Entre-rios e a Banda da Oriental do Uruguai o ”Pericom” passou à campanha do Rio Grande do Sul. Na fronteira entre o Brasil e o Uruguai.
Pezinho: O “Pézinho” constitui uma das mais simples e ao mesmo tempo uma das mais belas danças gaúchas. Como dança e como elemento de festas, foi e é ainda muito popular em Portugal e nos Açores, veio a gozar de intensa popularidade no litoral dos estados brasileiros de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
É necessário frisar que o "Pezinho" é a única dança popular rio-grandense em que todos os dançarinos obrigatoriamente cantam, não se limitando, portanto, à simples execução da coreografia.
♪ Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho, o teu pezinho bem juntinho com o meu.
Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho, o teu pezinho o teu pezinho ao pé do meu.
Depois não vá dizer que você já me esqueceu (bis)
(refrão)
E no chegar desse teu corpo um abraço quero eu (bis)
(refrão)
Agora que estamos juntinhos dá cá um abraço e um beijinho (bis) ♪
Rancheira de carreirinha: A rancheira é uma versão da mazurca argentina e uruguaia. No Brasil, sua difusão se dá após o aparecimento do rádio. É importante notar que a rancheira é uma "valsa abagualada", com ritmo mais animado e dançante que a própria valsa. A primeira rancheira de sucesso no Rio Grande foi a argentina Mate Amargo. É interessante notar que poucos conjunto musicais têm em seu repertório rancheiras. O ritmo musical é mais difundido nas regiões missioneiras do que no lado centro-sul do Estado.
♪ Vem cá, vem cá, minha linda gauchinha
Pra nós dançar, rancheira de carreirinha
Nesta parte, a dança é fácil porque só se tem que rancheirar
Mas, depois, já se complica por isso vou lhe explicar
Leve um pé bem para o lado, puxe o outro pé e repita este passo
E depois a carreirinha, mas, não vá perder o compasso
Um passo e outro, e, agora, a carreirinha
Pra o outro lado, esta parte é puladinha
Esta parte, a dança é fácil, só tem que dançar a carreirinha
Pois se o índio se descuida, pisa os pés da gauchinha
E, agora, minha gente, vamos todo mundo a rodear
Mas, se alguém tiver vontade, que se prenda a sapatear. ♪
Ratoeira: Dança em formação de roda, aparentada com as cirandas, que se difundiu nas áreas de cultura açoriana do Estado de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul sua presença foi assinalada apenas no litoral-norte e planalto de Vacaria
Rilo: Paris importou juntamente com as contradanças uma dança da Escócia chamada ‘reel’ em formação de roda e utilizando a figura do 8, com o nome ’ril’ a dança foi apreciada nos salões brasileiros em meados do século passado e daí chegou aos meios rurais rio-grandenses, onde a denominação foi aportuguesada para ‘rilo’.
Roseira: Uma das danças regionais sul-rio-grandenses onde se percebe maior parentesco com danças regionais de Portugal, numa confirmação de tese do foco de origem comum.
Sarrabalho: É uma das danças gaúchas mais características da geração coreográfica de pares soltos, com o homem parecendo perseguir à mulher, ambos castanholando com os dedos, forte sapateado, tudo de acordo com a longínqua origem ibérica.
Tatu: O "Tatu" era uma das cantigas do fandango gaúcho (entremeiadas de sapateado). Mesmo após o desaparecimento das danças sapateadas, continuou o "Tatu" a existir, sob a forma de uma "décima" popular em todo o Rio Grande do Sul (chama-se "décima", neste estado, a uma história contada em versos com dez frases).
Devido à popularidade com que se cantou a história do Tatu, observou-se, nessa dança do fandango, algo bastante curioso: chegou uma época em que o sapateado passou a se executar simultaneamente com a execução do canto - numa exceção à regra geral de que o canto interrompe a dança no fandango.
♪ Eu vim pra contar a história
De um tatu que já morreu
Passando muito trabalho
Por este mundo de Deus.
Anda roda, o Tatu é meu,
Voltinha-no-meio, o Tatu é teu (bis)
O Tatu é bicho manso
Nunca mordeu a ninguém:
Só deu uma dentadinha
Na perninha do seu bem.
Anda a rota, tatu-da-roça
Moça bonita da perna grossa. (bis) ♪
Variações:
- Tatu, com volta no meio: Nos primeiros tempos, o “tatu”, como legítima dança do fandango, consistia num sapateado pelos pares soltos, sem maiores características. Posteriormente, o “tatu” sofreu a intromissão, em sua coreografia, da “Volta-no-Meio” – uma dança que se tornou popular no Brasil em meados do século XX.
- Tatu Novo: Em 1954, quando da visita a Porto Alegre da Sociedade Crioulla El Pericón, de Montevidéu, foi prestada uma homenagem aos visitantes com uma dança nova, deliberadamente montada pelo CTG “35” para assinalar aquele grato encontro. Trata-se de uma adaptação à música do “Anuário”, com base do antigo sapateado à gaúcha. Essa criação coreográfica tornou a ser apresentada posteriormente, por outros grupos, e ganhou nos círculos tradicionais o nome de tatu “novo”.
Tirana: A “tirana” foi uma das danças espanholas mais difundida na América Latina. Afirma-se que a “tirana” nasceu em Madri, em 1773, lançada pela cantora Maria Rosário Fernandez, esposa de um ator cognominado “El Tirano”.
Dança de pares soltos e com sapateios. Nos primeiros tempos a Tirana era exclusivamente de pares soltos, mas com o tempo, foi se transformando em contradança, com momentos de pares soltos e outros de pares enlaçados. Algumas formas da Tirana: Tirana do Ombro (peões e prendas tocam-se no ombro) e Tirana do Lenço (peões e prendas acenam lenços, em manifestações amorosas).
Danças de Salão
Bugio: Este ritmo puramente gaúcho, rude como animal das indomáveis querências, brotou da gaita 48 baixos de Neneca Gomes – Wencelau da Silva Gomes – nas serras de Mato Grande, 5.º distrito de São Francisco de Assis, o umbigo Rio Grande do Sul, como denominava Getúlio Vargas esta região. Muito popular nestes pagos por suas habilidades musicais, Neneca Gomes procurou imitar o ronco do Bugio por volta de 1928, tendo em seguida chegado numa espécie de canto cadenciado que levou o nome de “os Três Bugios”, em homenagens a estes bichos domesticados que tinha em casa. A música muito popular entre os gaiteiros da região missioneira de São Francisco de Assis, Santiago. Bossoroca, Jaguarí e São Borja, ganhou impulso e notoriedade maior a partir dos estudos musicais realizados por Paixão Cortes e Barbosa Lessa e, posteriormente, com a gravação dos irmãos Bertussi e um pouco mais tarde a divulgação feita pelo músico Leonardo. O Bugio é uma composição de notas retratando a vida simples da campanha onde a dança permanece muito cultuada embora a música tenha ganho as cidades. “O Bugio é cantado em diversas facetas. Em momentos representa o piá arteiro, peão destemido, moço faceiro etc. Noutra o próprio animal, numa defesa e valorização ecológica da fauna gaúcha.
Chamamé: Ritmo originário da Argentina, a difusão deste gênero de música na década de 40 se deve em princípio às gravadoras de Buenos Aires e advento do rádio.No Rio Grande do Sul a entrada deste ritmo se deve em muito a proximidade do Brasil e suas fronteiras com países como a Argentina e o Uruguai. Outros gêneros de músicas como a Milonga, o Tango e o Bolero tiveram e ainda têm influência direta na história da formação musical do Rio Grande do Sul. Assim também o chamamê teve sua influência na cultura musical do Estado, principalmente nos últimos vinte anos; foi um dos que mais se popularizou, fazendo hoje parte de todo tipo de encontro onde houver música regional.O chamamê dançado por argentinos ou uruguaianos, em que a marcação também é ternária, assemelha-se à marcação da valsa, nada tem a ver com as loucuras feitas hoje em dia nos nossos bailes, onde acabaram inventando o chamachote ou choteme e, depois, na hora de dançar um chote, caminham como se fosse um chamamê.Opções para figuras ou variações dentro do chamamê, seriam algumas figuras de tango, que, mesmo antes de fazerem parte do tango, já ilustravam as polcas, chamamês e milongas. Vale dizer aqui rapidamente sobre o por quê motivo falo do tango: é que este surgiu primeiro como dança, mas depois se casou com o ritmo do tango andaluz que chegou a região dos pampas. Antes os passos, que depois virão a casar com o ritmo aprendido nos camdombes, eram dançados pelos compadritos em ritmos da sociedade de então, entre estes o chamamê.
Milonga: É um ritmo argentino, mas de origem africana e que surgiu no fim séc. XIX. Inicialmente era considerada vulgar. Seu nome provém do dialeto angolano quimbundo e significa palavra. Foi esse nome que o povo deu ao canto dos payadores. Nascida nos arredores de Buenos Aires, alguns autores ainda alegam que teria surgido a partir da mazurca.A milonga foi introduzida no Rio Grande do Sul inicialmente na fronteira, ao som do violão, o acompanhamento predileto dos declamadores gaúchos.A milonga no Rio Grande do Sul é dançada com a marcação de 2 e 1, duas marcações feitas com uma perna e a outra fazendo deslocamento com um passo para frente ou para trás.
Rancheira: É uma versão da mazurca, muito divulgada no séc. XIX em toda a comunidade européia. Este ritmo é também muito conhecido no sul da Argentina como ranchera ou, inicialmente, “mazurca de rancho”. No Rio Grande do Sul, segundo Paixão Cortes e Babosa Lessa, a divulgação deste ritmo se deu em maior escala com o aparecimento do rádio, sendo uma versão regional da mazurca polonesa. Sua coreografia é executada de três maneiras: primeiro como uma espécie de valsa, típica da fronteira; depois, à maneira serrana, a rancheira sendo dançada com maior vitalidade, com forte marcação na primeira batida; finalmente, ela é dançada no litoral, onde sua forma mais usada é a marchadinha, ou seja, com passos duplos de terol (segundo Paixão Cortes e Barbosa Lessa são passos duplos de marcha), onde o homem empurra e puxa a mulher e onde o par se segura nos cotovelos, como a Chimarrita Balão (dança do folclore gaúcho).Na primeira maneira de dançar, ou seja, na rancheira da fronteira, a marcação é como valsa, ma com a diferença de que é feita uma forte marcação no primeiro passo, no tempo mais forte da música, maneira esta mais utilizada na fronteira do Estado. A segunda é a rancheira serrana, cujo passo é executado saindo do chão, com vitalidade e sendo mais pulada, mas mantendo os passos da primeira. A diferença está na execução. A terceira marcação possível é a de utilizar sua coreografia é de forma puladinha ou marchadinha, como a utilizada no litoral do Rio Grande do Sul.
Valsa: Walsem (em alemão= andar, peregrinar ou dar voltas). Daí provém o nome valsa. A dança surgiu do antigo minueto, claro que com forte influência de ritmos nacionais da Áustria como Leander e o Deustscher, Tanz sendo a primeira dança de salão de pares enlaçados firmemente. Nas primeiras notícias sobre valsa, temos menção de apresentações datadas de 1660 em Viena, difundindo-se no ínicio do século passado para a França e a Inglaterra. Sendo esta dança tocada em compasso ternário allegro, sempre com diversas partes.
Vanera: Origina-se da habanera, que é um ritmo, cubano de danças e canções, nome este dado em referência a esta capital Havana (La Habana).Seu compasso é binário, de moderado a lento ritmo que foi se popularizar no século XIX e foi muito utilizado por compositores espanhóis e franceses.No Brasil, influenciou não somente ritmos do Rio Grande do Sul, mas também outros, como o samba-canção.No Rio Grande do Sul, a nossa vanera adotou nomenclaturas diversas, como vaneirinha, vanerão ou, ainda, limpa-banco.Dançada assim, com marcação 2 e 2, nos salões do Rio Grande do Sul, dançada puladinha (no que lembra o passo do Bugio) ou arrastada, esta marcação é feita em qualquer direção.O homem inicia com o pé esquerdo indo em diagonal; logo depois, o segundo passo é dado para frente. Entre estes dois movimentos, o outro pé desloca-se levemente em um pequeno arrastar.Os pés partem da posição inicial já indicada nos fundamentos da postura, sendo que os primeiros passos são feitos como se quiséssemos formar um horário de dez para as duas.
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/danccedilas-e-ritmos.html
Música Nativista
Música nativista
é um gênero musical brasileiro característico do Rio Grande do Sul e
que tem como temas principais o amor pelas coisas do estado, pelo campo,
pelo cavalo, pelos rios e pela mulher.
Música Gaúcha
A
música gaúcha de origem tradicionalista parece ter origem na escola
literária do parnasianismo, por sua semelhança quando canta coisas da
natureza e do ambiente como: a terra, o chão, os costumes, o cavalo - e
pela musicalidade, sempre buscando a rima num arranjo muito acertado com
as melodias, criando entre letra, música e dramatização, uma dinâmica
que rebusca origens e paixões. Vale a pena estudar este aspecto e
descobrir que por outras origens históricas podemos enriquecer nossas
culturas.
O estilo musical gauchesco mostra também origens fortes na música flamenca espanhola, e na música portuguesa. Os campos harmônicos bem arranjados, denotam ritmos bem elaborados e melodias com dois ou mais violões. Com uma formação harmônica/melódica complexa, a música tradicionalista torna-se difícil de ser interpretada em alguns casos, por outros grupos ou músicos que não possuem ligação direta com a cultura gaúcha.
O estilo musical gauchesco mostra também origens fortes na música flamenca espanhola, e na música portuguesa. Os campos harmônicos bem arranjados, denotam ritmos bem elaborados e melodias com dois ou mais violões. Com uma formação harmônica/melódica complexa, a música tradicionalista torna-se difícil de ser interpretada em alguns casos, por outros grupos ou músicos que não possuem ligação direta com a cultura gaúcha.
Música Nativista e Tradicionalista
Apesar
de tratar dos mesmos temas que os tradicionalistas, os nativistas
discordam destes em alguns pontos. Entre os pontos de maior divergência
estão o passado do Rio Grande do Sul e a influência espanhola dos países
vizinhos.
São divergências bastante sutis, mas podem ser percebidas em certas canções, como por exemplo "Sabe, Moço", cantada por Leopoldo Rassier, que fala da tristeza de um soldado que lutou nas guerras históricas do estado e recebeu cicatrizes em vez de medalhas. É um assunto que dificilmente seria abordado pelos tradicionalistas, que preferem ver glória e heroísmo nas mesmas guerras.
Quanto à influência espanhola, os tradicionalistas têm um certo desprezo por considerar que os espanhóis muitas vezes no passado foram inimigos nas guerras em que o estado se envolveu. Os nativistas, por outro lado, não se envergonham de admitir que muitas características culturais e folclóricas são originárias dos países vizinhos (Argentina e Uruguai), muitos chegam a gravar músicas em espanhol e até se fala em "três pátrias gaúchas" (Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul).
Outro ponto de divergência entre tradicionalistas e nativistas é a religião. Tradicionalistas na maioria das vezes são católicos fervorosos, enquanto alguns nativistas poucas vezes falam em Deus, e há letras que chegam a falar em Ateismo (como por exemplo a canção Changueiro De Vida E Lida, cantada por Adair de Freitas, Jari Terres e Luiz Marenco)
São divergências bastante sutis, mas podem ser percebidas em certas canções, como por exemplo "Sabe, Moço", cantada por Leopoldo Rassier, que fala da tristeza de um soldado que lutou nas guerras históricas do estado e recebeu cicatrizes em vez de medalhas. É um assunto que dificilmente seria abordado pelos tradicionalistas, que preferem ver glória e heroísmo nas mesmas guerras.
Quanto à influência espanhola, os tradicionalistas têm um certo desprezo por considerar que os espanhóis muitas vezes no passado foram inimigos nas guerras em que o estado se envolveu. Os nativistas, por outro lado, não se envergonham de admitir que muitas características culturais e folclóricas são originárias dos países vizinhos (Argentina e Uruguai), muitos chegam a gravar músicas em espanhol e até se fala em "três pátrias gaúchas" (Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul).
Outro ponto de divergência entre tradicionalistas e nativistas é a religião. Tradicionalistas na maioria das vezes são católicos fervorosos, enquanto alguns nativistas poucas vezes falam em Deus, e há letras que chegam a falar em Ateismo (como por exemplo a canção Changueiro De Vida E Lida, cantada por Adair de Freitas, Jari Terres e Luiz Marenco)
Nativismo e Tchê Music
Existe
um certo atrito entre os artistas nativistas e os representantes
da Tchê Music. A principal razão disso é cultural: enquanto os
nativistas buscam o retorno às raízes da música gaúcha, os "tchê's"
buscam modernizá-la, adicionando elementos de ritmos brasileiros e até
estrangeiros - o que faz com que os nativistas afirmem que a música
deles já não é mais tipicamente gaúcha.
As acusações geralmente incluem também, por parte dos nativistas, o fato de os representantes da Tchê Music trabalharem para tornar seu som o mais dançante e comercial possível. Os "tchês", por sua vez, acusam os nativistas e tradicionalistas de tentarem prejudicar seu trabalho, impedindo-os de tocar em CTG´s, bailes tradicionais e eventos diversos realizados pelo MTG ou por outras entidades tradicionalistas e/ou nativistas.
As acusações geralmente incluem também, por parte dos nativistas, o fato de os representantes da Tchê Music trabalharem para tornar seu som o mais dançante e comercial possível. Os "tchês", por sua vez, acusam os nativistas e tradicionalistas de tentarem prejudicar seu trabalho, impedindo-os de tocar em CTG´s, bailes tradicionais e eventos diversos realizados pelo MTG ou por outras entidades tradicionalistas e/ou nativistas.
Sociedade Sul-riograndense
União Gaúcha - Voldinei B. Lucas
A Sociedade Sul-Riograndense foi fundada em 08 de novembro de 1857 pelo professor e filólogo Antônio Alvares Pereira Coruja.
É, portanto, a mais antiga entidade representativa do povo gaúcho que existe, seguida de longe pelo "Grêmio Gaúcho", fundado em 22 de maio de 1898, a "União Gaúcha de Pelotas", em 10 de setembro de 1899, "O Centro Gaúcho de Bagé", em 20 de setembro de 1899 e o "Grêmio Gaúcho de Santa Maria" e, 08 de setembro de 1901.
Este núcleo de tradições resultou da união de um grupo de gaúchos, alguns deles revolucionários que foram presos e deportados de Porto Alegre e que aqui no Rio de Janeiro resolveram fundar esta Sociedade, com caráter beneficiente e intenção de reunir cada vez maior número de gaúchos aqui residentes e ajudar os menos favorecidos pela sorte, até proporcionando meios para o retorno à terra natal.
No dia 08 de novembro de 1857, Antônio Coruja, primeiro gramático do Brasil, fundou a SOCIEDADE RIOGRANDENSE BENEFICIENTE E HUMANITÁRIA, que visava reunir os gaúchos "de posses" residentes na Capital do Império para ajudar os gaúchos "necessitados" no Rio de Janeiro, inclusive proporcionar meios para o seu retorno à terra natal.
Tamanho foi o desenvolvimento da Sociedade na área de beneficiência, do humanismo e da cultura, que teve os seus atos reconhecidos através do Decreto 2933 de 11/06/1862, assinado pelo Conselheiro do Estado, o Marquês de Olinda e chancelado por Sua Majestade o Imperador Dom Pedro II, lhe concedendo a "Autorização de Atuação Beneficente e Humanitária".
Na sua evolução politica, econômica, social e beneficiente, a Sociedade passou por importantes modificações na sua estrutura, mudou o nome para SOCIEDADE SUL RIO-GRANDENSE e, em 14/08/1975, foram criados os departamentos de sede campestre, cívico cultural e esportivo.
Coube à SOCIEDADE SUL RIO-GRANDENSE a articulação de um movimento que visava angariar fundos para erguer uma estátua do Marechal Osório, Marquês do Herval, na Capital do império para perpetuar a imagem do digno militar representante do povo gaúcho. O monumento, erguido no antigo Largo do Paço, hoje Praça XV de Novembro, foi inaugurado em 12/11/1892.
No dia 20/09/1977 a diretoria da Sociedade emposssa a primeira patronagem do recém criado Centro de Tradições Gaúchas Desgarrados do Pago.
É, portanto, a mais antiga entidade representativa do povo gaúcho que existe, seguida de longe pelo "Grêmio Gaúcho", fundado em 22 de maio de 1898, a "União Gaúcha de Pelotas", em 10 de setembro de 1899, "O Centro Gaúcho de Bagé", em 20 de setembro de 1899 e o "Grêmio Gaúcho de Santa Maria" e, 08 de setembro de 1901.
Este núcleo de tradições resultou da união de um grupo de gaúchos, alguns deles revolucionários que foram presos e deportados de Porto Alegre e que aqui no Rio de Janeiro resolveram fundar esta Sociedade, com caráter beneficiente e intenção de reunir cada vez maior número de gaúchos aqui residentes e ajudar os menos favorecidos pela sorte, até proporcionando meios para o retorno à terra natal.
No dia 08 de novembro de 1857, Antônio Coruja, primeiro gramático do Brasil, fundou a SOCIEDADE RIOGRANDENSE BENEFICIENTE E HUMANITÁRIA, que visava reunir os gaúchos "de posses" residentes na Capital do Império para ajudar os gaúchos "necessitados" no Rio de Janeiro, inclusive proporcionar meios para o seu retorno à terra natal.
Tamanho foi o desenvolvimento da Sociedade na área de beneficiência, do humanismo e da cultura, que teve os seus atos reconhecidos através do Decreto 2933 de 11/06/1862, assinado pelo Conselheiro do Estado, o Marquês de Olinda e chancelado por Sua Majestade o Imperador Dom Pedro II, lhe concedendo a "Autorização de Atuação Beneficente e Humanitária".
Na sua evolução politica, econômica, social e beneficiente, a Sociedade passou por importantes modificações na sua estrutura, mudou o nome para SOCIEDADE SUL RIO-GRANDENSE e, em 14/08/1975, foram criados os departamentos de sede campestre, cívico cultural e esportivo.
Coube à SOCIEDADE SUL RIO-GRANDENSE a articulação de um movimento que visava angariar fundos para erguer uma estátua do Marechal Osório, Marquês do Herval, na Capital do império para perpetuar a imagem do digno militar representante do povo gaúcho. O monumento, erguido no antigo Largo do Paço, hoje Praça XV de Novembro, foi inaugurado em 12/11/1892.
No dia 20/09/1977 a diretoria da Sociedade emposssa a primeira patronagem do recém criado Centro de Tradições Gaúchas Desgarrados do Pago.
O tradicionalismo organiza-se definitivamente a partir de 1947, quase como uma birra. Em 1940, com a estatização da Rádio Nacional por Getúlio Vargas, a padronização cultural borra as manifestações culturais regionais. Por sorte, graças a sua força legítima não se apaga. Em 1941, os Estados Unidos reforçam as relações econômicas e culturais com a América Latina. O presidente Franklin Roosvelt cria o Birô interamericano. Chefiado por Nelson Rockfeller, o Birô começa a divulgar no Brasil o american way of life, ou seja, o estilo de vida compatível com o consumo dos produtos tipicamente norte-americanos, desde a Coca-Cola até a revista Pato Donald. A indústria de refrigerantes investe altos valores monetários na Rádio Nacional para colocar no ar o programa Um Milhão de Melodias, uma espécie de parada musical norte-americana. Isto, na verdade serve como ponta de lança para a introdução do refrigerante e dos produtos da indústria cultural daquele país em todo o território brasileiro. A partir daí patrocinadores passam a ter suas marcas associadas aos programas, a exemplo de Teatro Good-Year, Recital Johnson, Programa Bayer e Calendário Kolynos.
Eles se tornam os maiores sucessos radiofônicos dos anos 40. O rádio torna-se o fascínio dos ouvintes. Passa a ser o maior influenciador dos hábitos e costumes de milhões de brasileiros.
Segundo o historiador Gerson Moura, no seu livro Tio Sam Chega ao Brasil, "foi dessa maneira que entre 1946 e 1947 o Brasil foi inundado de produtos made in Usa..." Toda esta avalanche de informações culturais chega num momento em que o País atravessa um período de fragilidade cultural. Getúlio Vargas cria o Estado Novo e promove uma afronta às diferenças culturais do País. Estabelece, em 1937, a Constituição com o objetivo de unificar a Nação. O gaúcho de São Borja, enquanto presidente, institui que a bandeira, o hino, o escudo e as armas passam a ser os únicos no País. Com a cerimônia da queima das bandeiras em praça pública, ao som do hino nacional, quando são hasteadas 21 peças da bandeira nacional em lugar das estaduais, fica clara a perda do poder regional e estadual. A partir daí, as mudanças profundas movem com o imaginário popular e a cultura passa a ser algo estabelecido pelo Estado Central. O samba ganha legitimidade como a representação musical e a identidade cultural do País. Depois, o governo que impõe uma postura de unidade nacional, permite que esta nacionalidade seja enxovalhada pela de outro país.
Com a queda da Ditadura Vargas o cotidiano regional começa a ser repensado. A imprensa começa atuar livremente e os intelectuais retornam a divulgar o Brasil como uma nação de vários segmentos culturais.
Em 1947, o jovem estudante do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, de Porto Alegre, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, recém chegado de Santana do Livramento, sai para tomar um cafezinho e avista uma bandeira do Rio Grande do Sul servindo de cortina para tapar o vidro de uma janela do bar, entre cachaça e cigarro. O comerciante não sabia do que se tratava aquele pano. Foi a gota d'água. Naquele ano Paixão Côrtes cria, juntamente com alguns colegas, o Departamento de Tradições Gaúchas, no Colégio Julinho. O grupo acompanha de-a-cavalo o traslado dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro. A primeira Ronda Crioula é criada para preservar, desenvolver e proporcionar a revitalização à cultura rio-grandense. O DTG comemora os 112 anos da Revolução Farroupilha. Acende-se da Pira da Pátria pela primeira vez o fogo que os tradicionalistas denominam de Chama Crioula.
"Não estávamos, nós os jovens, nos insurgindo contra as coisas do desenvolvimento, da liberdade, do progresso, e nem éramos insensíveis à evolução. Mas queríamos também o direito de fixar as nossas coisas, de preservá-las, de valorizá-las dignamente nos seus devidos lugares", afirma Paixão Côrtes no seu livro Origem da Semana Farroupilha - Primórdios do Movimento Tradicionalista.
Em 24 de abril de 1948 é fundado o 35 CTG, o pioneiro daquelas entidades. Hoje são mais de 1700 CTGs em todo o País. Em 1959, quando é criado o Conselho Coordenador, o Estado já conta com diversos CTGs. Em 1966 cria-se o Movimento Tradicionalista Gaúcho e em 1975, o Conselho Coordenador transforma-se em Conselho Diretor, ativo até a atualidade.
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/a-criaccedilatildeo-do-tradicionalismo.html
O movimento nativista surge com a criação
da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, na cidade de
Uruguaiana, em 1971. O País atravessa a sangrenta Ditadura Militar. A
censura, com mão de chumbo, define o que é mais apropriado para veicular
ao povo. A música em idioma estrangeiro ganha as paradas de sucesso das
emissoras de rádio e televisão, numa forma de adormecer aos mais
atuantes cultural e politicamente. Em revés a estes cinzentos tempos, há
grande movimentação cultural com a realização de festivais de música
popular brasileira nas mais diversas cidades do País. O mercado da
música gaúcha está voltado para o regionalismo e o tradicionalismo. A
trova está em alta, ainda por resquícios do programa radiofônico Grande
Rodeio Coringa e alguns programas em emissoras AM no amanhecer ou
entardecer do dia. Mas apesar disso, a parcela gaúcha no mercado
discográfico é irrelevante, excetuando-se o fenômeno Teixeirinha,
recordista em vendas de discos até hoje.
A Califórnia da Canção é promovida por um grupo ligado ao CTG Sinuelo do Pago, em Uruguaiana. Na primeira edição, sessenta pessoas fazem a platéia. Nos tempos de ouro da Califórnia, entre a décima e a vigésima edição, chega atrair 60 mil pessoas. O poeta Colmar Pereira Duarte é o centro de uma polêmica que gera o surgimento do festival. Acaba vencendo a primeira edição do evento que passa a ser exemplo para o ciclo dos festivais no Estado.
Na década de 80, surgem novos festivais e um verdadeiro turbilhão nativista começa a tomar conta do Estado. Os jovens passam a vestir bombachas, sair às ruas dos grandes centros com suas mateiras e formar rodas de mate nas praças. Apressadamente alguns tradicionalistas julgam que o movimento é apenas um modismo. Hoje já contabiliza três décadas de atuação e centenas de títulos de festivais. Atualmente são em média 40 festivais por ano, mas já houve época com mais eventos deste tipo do que finais de semana. Com a grande produção musical gerada pelo nativismo surgem novos programas de rádio e televisão. A mídia começa olhar com atenção para os nativistas e vê fundamento nos temas que são abordados pelos novos valores que começam surgir ano a ano. Os festivais tornam-se mercado de trabalho e hoje há um elenco de mais de mil nomes cadastrados como compositores, músicos e intérpretes deste gênero musical só no Rio Grande do Sul.
Na década de 80 surge a primeira emissora de rádio segmentada exclusivamente na cultura gaúcha, a Rádio Liberdade FM. Antes disso algumas emissoras já dão cobertura jornalística aos festivais de música e aos eventos da tradição. Na atualidade são seis emissoras no Estado, cinco FMs e uma AM.
O primeiro disco da Califórnia foi gravado em São Paulo. O movimento estruturou o mercado de trabalho, gerando uma espécie de indústria cultural gaudéria. Atualmente existe uma dezena de gravadoras no Estado e uma quantidade imensa de estúdios de gravações. O consumo discográfico gaúcho alcança a expressiva quota de 2 milhões de discos ao ano.
Assim como o tradicionalismo dá sustentação aos conjuntos musicais em seus fandangos, o nativismo faz surgir novos valores que em breve tornam-se profissionais e passam a atuar como contratados dos próprios festivais para espetáculos especiais. Alguns deles já se orgulham da conquista do Disco de Ouro pela vendagem de 100 mil cópias de seus CDs.
Assim como o tradicionalismo tem no seu ENART (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha) o seu principal encontro artístico anual, surge para o nativismo a lei que cria o Troféu Vitória, em 1995. Uma espécie de Oscar dos festivais, o Troféu Vitória acontece por três anos no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, a partir de março de 1996. Este encontro, promovido pela Associação dos Compositores, Intérpretes e Músicos Nativistas (ACIMN) conta com o apoio do governo estadual da época que destina 100 mil reais para as premiações aos três melhores festivais e os artistas mais premiados do ano. Apesar de ter dado uma nova vida aos festivais, ele não acontece mais, embora a lei que o cria não tenha sido revogada.
A ACOFEM (Associação das Comissões Organizadoras dos Festivais de Música do Rio Grande do Sul) atua em plena sintonia com a SEDAC (Secretaria de Estado da Cultura) e CEC (Conselho Estadual de Cultura). Este equilíbrio entre as entidades é fundamental em virtude do movimento nativista depender de apoio da Lei de Incentivo à Cultura para a realização dos festivais.
A Califórnia da Canção é promovida por um grupo ligado ao CTG Sinuelo do Pago, em Uruguaiana. Na primeira edição, sessenta pessoas fazem a platéia. Nos tempos de ouro da Califórnia, entre a décima e a vigésima edição, chega atrair 60 mil pessoas. O poeta Colmar Pereira Duarte é o centro de uma polêmica que gera o surgimento do festival. Acaba vencendo a primeira edição do evento que passa a ser exemplo para o ciclo dos festivais no Estado.
Na década de 80, surgem novos festivais e um verdadeiro turbilhão nativista começa a tomar conta do Estado. Os jovens passam a vestir bombachas, sair às ruas dos grandes centros com suas mateiras e formar rodas de mate nas praças. Apressadamente alguns tradicionalistas julgam que o movimento é apenas um modismo. Hoje já contabiliza três décadas de atuação e centenas de títulos de festivais. Atualmente são em média 40 festivais por ano, mas já houve época com mais eventos deste tipo do que finais de semana. Com a grande produção musical gerada pelo nativismo surgem novos programas de rádio e televisão. A mídia começa olhar com atenção para os nativistas e vê fundamento nos temas que são abordados pelos novos valores que começam surgir ano a ano. Os festivais tornam-se mercado de trabalho e hoje há um elenco de mais de mil nomes cadastrados como compositores, músicos e intérpretes deste gênero musical só no Rio Grande do Sul.
Na década de 80 surge a primeira emissora de rádio segmentada exclusivamente na cultura gaúcha, a Rádio Liberdade FM. Antes disso algumas emissoras já dão cobertura jornalística aos festivais de música e aos eventos da tradição. Na atualidade são seis emissoras no Estado, cinco FMs e uma AM.
O primeiro disco da Califórnia foi gravado em São Paulo. O movimento estruturou o mercado de trabalho, gerando uma espécie de indústria cultural gaudéria. Atualmente existe uma dezena de gravadoras no Estado e uma quantidade imensa de estúdios de gravações. O consumo discográfico gaúcho alcança a expressiva quota de 2 milhões de discos ao ano.
Assim como o tradicionalismo dá sustentação aos conjuntos musicais em seus fandangos, o nativismo faz surgir novos valores que em breve tornam-se profissionais e passam a atuar como contratados dos próprios festivais para espetáculos especiais. Alguns deles já se orgulham da conquista do Disco de Ouro pela vendagem de 100 mil cópias de seus CDs.
Assim como o tradicionalismo tem no seu ENART (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha) o seu principal encontro artístico anual, surge para o nativismo a lei que cria o Troféu Vitória, em 1995. Uma espécie de Oscar dos festivais, o Troféu Vitória acontece por três anos no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, a partir de março de 1996. Este encontro, promovido pela Associação dos Compositores, Intérpretes e Músicos Nativistas (ACIMN) conta com o apoio do governo estadual da época que destina 100 mil reais para as premiações aos três melhores festivais e os artistas mais premiados do ano. Apesar de ter dado uma nova vida aos festivais, ele não acontece mais, embora a lei que o cria não tenha sido revogada.
A ACOFEM (Associação das Comissões Organizadoras dos Festivais de Música do Rio Grande do Sul) atua em plena sintonia com a SEDAC (Secretaria de Estado da Cultura) e CEC (Conselho Estadual de Cultura). Este equilíbrio entre as entidades é fundamental em virtude do movimento nativista depender de apoio da Lei de Incentivo à Cultura para a realização dos festivais.
Tradicionalismo ou Nativismo?
Laçador
Quem
quiser demonstrar a cultura gaúcha visualmente vai ter um retângulo
cujas pontas ostentam cores diferentes com um dégradé em direção ao
centro. No ponto mais eqüidistante das extremidades vai existir um matiz
difícil de identificar a que lado pertence. Assim é a cultura do Rio
Grande do Sul, composta por dois movimentos distintos, mas iguais. Há o
tradicionalista que não compreende ou não gosta do nativismo e o
nativista que não entende ou não aprecia os rituais do tradicionalismo.
Porém há aqueles que, como no matiz central do quadro imaginário
proposto, ora são interpretados como tradicionalistas, ora como
nativistas. Transitam nos dois campos culturais com a mesma notoriedade e
legitimidade. Luiz Carlos Barbosa Lessa, falecido, considerado o maior
teórico do tradicionalismo, registra em seu livro Nativismo, que a cada
trinta anos surge um novo "ismo". Menciona o gauchismo de Cezimbra
Jacques em 1889, regionalismo por volta de 1920, o tradicionalismo em
1947 e o nativismo a partir da década de 70. Complementa o folclorista:
em 2000 deve se cuidar para não haver o "barulhismo". Seu temor tem uma
certa ponta de razão, mas ele não prevê o possível momento do centrismo
na cultura gaúcha.
Definir o tradicionalismo e o nativismo parece ser tarefa simples quando se lê as palavras num dicionário, contudo decifrar os movimentos representados por estes dois "ismos" é mais complexo. Saber quem são e o que pensam as pessoas que formam estes dois grupos que se complementam e às vezes se confundem requer uma análise mais profunda do que uma simples frase, muitas vezes preconceituosa. Entender o que pensam os membros destes dois grupos de indumentárias distintas e outras vezes tão semelhantes, é complexo. Decifrar estas duas tribos com guerreiros aquartelados nos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) ou nos ginásios de esporte que viram cenários para os festivais, não é fácil. Conhecer as lideranças dos que ostentam cargos adquiridos através de eleições e dos que conquistam posições por meio de suas prestigiosas manifestações artísticas, é fundamental. É necessário recorrer à sociologia e à antropologia para tentar desvendar o mistério de uma divisão quase oculta e ao mesmo tempo tão declarada.
O tradicionalismo gaúcho é um movimento organizado com uma estrutura hierárquica rígida e um mapeamento do Estado. É quase como um governo paralelo especificamente para o gerenciamento da tradição, mas não exclusivamente. Há uma questão humana intrínseca. Possui um presidente na capital, trinta coordenadores nas chamadas Regiões Tradicionalistas (RTs) e os patrões nos Centros de Tradições Gaúchas. Há cidades que possuem ainda uma associação das entidades, cujo presidente tem sua posição hierárquica estabelecida entre o patrão e o coordenador. Como primeiras-damas culturais existem as primeiras prendas em três modalidades e três níveis. As modalidades são mirim, juvenil e adulta e os níveis são as prendas das entidades, das regiões e do Estado. Um cargo surgido mais recentemente é o de Peão Farroupilha, nos mesmos níveis das prendas e nas modalidades de piá e adulto. Todos são uma espécie de relações públicas do tradicionalismo e conquistam seus cargos num verdadeiro vestibular cultural. Ao contrário do nativismo, há uma rigidez quase militar no tradicionalismo no que tange a indumentária. Chega em alguns casos no limite de que a imagem vale mais do que o conteúdo.
O nativismo gaúcho não é uma entidade e sim um movimento cultural cuja união está na identificação pessoal e na semelhança de produção artística de seus membros. Os líderes são os artistas e os organizadores de festivais, mas não há uma hierarquia estabelecida entre eles. Ambos possuem associações independentes na expectativa de uma organização maior, porém não se pode comparar com as diretorias e patronagens do tradicionalismo. Os guerreiros desta tribo são os admiradores da música nativa, da poesia gaúcha e da pajada rio-grandense. Seguem seus ídolos, mas não lhes dão exclusividade. Aplaudem e consomem o produto cultural dos que mais se identificam. Vão aos festivais com o mesmo entusiasmo com que frequentam os CTGs. Há migrantes entre os grupos, contudo pode-se afirmar independente de qualquer pesquisa de que o tradicionalismo municia o nativismo com maior contingente de pessoas do que o contrário.
Se há diferença organizacional entre eles, há semelhança sentimental. Ambos sustentam seus discursos ideológicos no amor à Terra. Tradicionalismo e nativismo cantam as belezas da querência, envergam indumentária típica, demonstram, cada um à sua moda, amor pelo Rio Grande do Sul e são sustentados pelo concurso. Embora nesta demonstração de apego ao pago, o tradicionalismo dance mais do que cante e o nativismo quase que exclusivamente cante, este ano o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) cria um festival de música que abrange todas as RTs, o que significa uma mobilização estadual.
Pela visão antropológica, ambos os segmentos são agregadores da família e do grupo local. Possuem a linguagem dos signos herdada de ancestrais. Falam do seu mundo com a dimensão de seu conhecimento. São responsáveis pelo crescimento da auto-estima do povo rio-grandense e grandes propulsores da economia estadual. Enquanto o tradicionalismo estuda o folclore e a tradição, o nativismo está mais voltado para a manifestação folclórica. O primeiro define o corpus de sua atuação dentro do que estabelece como tradicional e folclórico e o segundo busca universalizar estes dados com enfoque poético-musical mais abrangente e inovador.
As pontas de cores distintas do quadro imaginário que define a cultura gaúcha se debatem nesta questão. Os mais entusiastas do tradicionalismo julgam que o nativismo está deturpando a cultura gaúcha e os vanguardistas do nativismo acusam os tradicionalistas de serem responsáveis pelo saudosismo cultural. Já os que são representados pelo matiz dégradé, visualizam o somatório do poder cultural que os dois movimentos proporcionam para o engrandecimento espiritual dos habitantes do Estado. Juntos, eles mobilizam mais de um milhão de pessoas. Isto só no Rio Grande do Sul, haja vista que a cultura gaúcha está presente em todos os estados brasileiros e fora do território nacional com grande representatividade.
Barbosa Lessa, ao fundamentar o tradicionalismo afirma que "... as duas unidades sociais mais importantes como transmissoras de cultura são a família e o grupo local". Nos grandes centros populacionais urbanos os CTGs são os locais da fuga do individualismo das metrópoles. As pessoas buscam reencontrar o sentimento de grupo local, com os mesmos objetivos e atividades.
A cultura gaúcha como um todo é provedora deste encontro familiar. A freqüência nos CTGs, rodeios e festivais normalmente é de três gerações. Estando os grupos de diferentes idades voltados ao mesmo objetivo, a herança cultural é legada com maior facilidade entre eles e o fortalecimento do regionalismo é mais pulsante. Encontrada no seio da cultura gaúcha, a família rio-grandense posiciona-se na defesa de seus mais íntimos anseios. Os pais acompanham o crescimento etário e cultural de seus filhos e os apóiam nos momentos de dificuldade como amigos da mesma entidade social, sem deixarem de ser exemplos e ídolos. Tanto que o rodeio crioulo, uma das atividades recreativas do tradicionalismo, institui o concurso de laço "pai e filho", incentivando a integração familiar. Da mesma forma acontece no nativismo quando um jovem sobe ao palco para defender sua música num determinado festival, toda a família oferece apoio à sua atuação.
A sociabilidade familiar, um dos maiores problemas da comunidade mundial na atualidade, tem na cultura gaúcha um ponto de apoio importante. Seus exemplos estão presentes desde os CTGs dos mais remotos rincões até os da capital gaúcha.
As lideranças de ambos os movimentos também mobilizam as famílias na questão organizacional. É comum encontrar casais participativos nos CTGs ou na organização de festivais de música ou poesia. Quando no grande grupo, em congressos do Movimento Tradicionalista Gaúcho ou nas reuniões da Associação das Comissões Organizadoras de Festivais de Música do Rio Grande do Sul, é uma grande família. Barbosa Lessa faz uma afirmação sociológica para o evento: "qualquer sociedade poderá evitar a dissolução enquanto for capaz de manter a integridade de seu núcleo cultural." Nestes encontros há o congraçamento de pessoas de todas as facções partidárias, todas as classes sociais, credos e cores. A cultura é o objetivo comum para o qual todos convergem suas dedicações.
Embora isso aconteça na comunidade local, os comandos políticos, distantes do fato cultural, teorizam equivocadamente sobre a cultura gaúcha. Os da extrema direita e da extrema esquerda julgam que a estrutura das estâncias na cultura gaúcha, patrões e peões, seja ideologicamente a favor da primeira e contra a segunda. Ambos estão enganados, por que ela está acima disso. É uma característica atribuída ao meio de vida do rio-grandense. "O gaúcho é socialmente um produto do Pampa, como politicamente é um produto da guerra", afirma o pensador fluminense Oliveira Vianna em seu livro Populações Meridionais do Brasil.
Nos festivais há uma comemoração da arte criada em relação aos temas, mais do que uma vinculação política que ela possa expressar, e normalmente as letras de música estão recheadas de defesa das questões humanas. O antropólogo rio-grandense Ruben Gorge Oliven registra em seu livro A Parte e o Todo - A Diversidade Cultural do Brasil-Nação-, algo comprobatório deste amor à arte acima de tudo. "... o que me chama atenção é o fato de o público aplaudir indistintamente músicas a favor ou contra a figura tradicional do gaúcho." E complementa: "Mas o público parece vibrar com todas; acho que, na realidade, as pessoas vibram com a celebração da identidade gaúcha."
Definir o tradicionalismo e o nativismo parece ser tarefa simples quando se lê as palavras num dicionário, contudo decifrar os movimentos representados por estes dois "ismos" é mais complexo. Saber quem são e o que pensam as pessoas que formam estes dois grupos que se complementam e às vezes se confundem requer uma análise mais profunda do que uma simples frase, muitas vezes preconceituosa. Entender o que pensam os membros destes dois grupos de indumentárias distintas e outras vezes tão semelhantes, é complexo. Decifrar estas duas tribos com guerreiros aquartelados nos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) ou nos ginásios de esporte que viram cenários para os festivais, não é fácil. Conhecer as lideranças dos que ostentam cargos adquiridos através de eleições e dos que conquistam posições por meio de suas prestigiosas manifestações artísticas, é fundamental. É necessário recorrer à sociologia e à antropologia para tentar desvendar o mistério de uma divisão quase oculta e ao mesmo tempo tão declarada.
O tradicionalismo gaúcho é um movimento organizado com uma estrutura hierárquica rígida e um mapeamento do Estado. É quase como um governo paralelo especificamente para o gerenciamento da tradição, mas não exclusivamente. Há uma questão humana intrínseca. Possui um presidente na capital, trinta coordenadores nas chamadas Regiões Tradicionalistas (RTs) e os patrões nos Centros de Tradições Gaúchas. Há cidades que possuem ainda uma associação das entidades, cujo presidente tem sua posição hierárquica estabelecida entre o patrão e o coordenador. Como primeiras-damas culturais existem as primeiras prendas em três modalidades e três níveis. As modalidades são mirim, juvenil e adulta e os níveis são as prendas das entidades, das regiões e do Estado. Um cargo surgido mais recentemente é o de Peão Farroupilha, nos mesmos níveis das prendas e nas modalidades de piá e adulto. Todos são uma espécie de relações públicas do tradicionalismo e conquistam seus cargos num verdadeiro vestibular cultural. Ao contrário do nativismo, há uma rigidez quase militar no tradicionalismo no que tange a indumentária. Chega em alguns casos no limite de que a imagem vale mais do que o conteúdo.
O nativismo gaúcho não é uma entidade e sim um movimento cultural cuja união está na identificação pessoal e na semelhança de produção artística de seus membros. Os líderes são os artistas e os organizadores de festivais, mas não há uma hierarquia estabelecida entre eles. Ambos possuem associações independentes na expectativa de uma organização maior, porém não se pode comparar com as diretorias e patronagens do tradicionalismo. Os guerreiros desta tribo são os admiradores da música nativa, da poesia gaúcha e da pajada rio-grandense. Seguem seus ídolos, mas não lhes dão exclusividade. Aplaudem e consomem o produto cultural dos que mais se identificam. Vão aos festivais com o mesmo entusiasmo com que frequentam os CTGs. Há migrantes entre os grupos, contudo pode-se afirmar independente de qualquer pesquisa de que o tradicionalismo municia o nativismo com maior contingente de pessoas do que o contrário.
Se há diferença organizacional entre eles, há semelhança sentimental. Ambos sustentam seus discursos ideológicos no amor à Terra. Tradicionalismo e nativismo cantam as belezas da querência, envergam indumentária típica, demonstram, cada um à sua moda, amor pelo Rio Grande do Sul e são sustentados pelo concurso. Embora nesta demonstração de apego ao pago, o tradicionalismo dance mais do que cante e o nativismo quase que exclusivamente cante, este ano o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) cria um festival de música que abrange todas as RTs, o que significa uma mobilização estadual.
Pela visão antropológica, ambos os segmentos são agregadores da família e do grupo local. Possuem a linguagem dos signos herdada de ancestrais. Falam do seu mundo com a dimensão de seu conhecimento. São responsáveis pelo crescimento da auto-estima do povo rio-grandense e grandes propulsores da economia estadual. Enquanto o tradicionalismo estuda o folclore e a tradição, o nativismo está mais voltado para a manifestação folclórica. O primeiro define o corpus de sua atuação dentro do que estabelece como tradicional e folclórico e o segundo busca universalizar estes dados com enfoque poético-musical mais abrangente e inovador.
As pontas de cores distintas do quadro imaginário que define a cultura gaúcha se debatem nesta questão. Os mais entusiastas do tradicionalismo julgam que o nativismo está deturpando a cultura gaúcha e os vanguardistas do nativismo acusam os tradicionalistas de serem responsáveis pelo saudosismo cultural. Já os que são representados pelo matiz dégradé, visualizam o somatório do poder cultural que os dois movimentos proporcionam para o engrandecimento espiritual dos habitantes do Estado. Juntos, eles mobilizam mais de um milhão de pessoas. Isto só no Rio Grande do Sul, haja vista que a cultura gaúcha está presente em todos os estados brasileiros e fora do território nacional com grande representatividade.
Barbosa Lessa, ao fundamentar o tradicionalismo afirma que "... as duas unidades sociais mais importantes como transmissoras de cultura são a família e o grupo local". Nos grandes centros populacionais urbanos os CTGs são os locais da fuga do individualismo das metrópoles. As pessoas buscam reencontrar o sentimento de grupo local, com os mesmos objetivos e atividades.
A cultura gaúcha como um todo é provedora deste encontro familiar. A freqüência nos CTGs, rodeios e festivais normalmente é de três gerações. Estando os grupos de diferentes idades voltados ao mesmo objetivo, a herança cultural é legada com maior facilidade entre eles e o fortalecimento do regionalismo é mais pulsante. Encontrada no seio da cultura gaúcha, a família rio-grandense posiciona-se na defesa de seus mais íntimos anseios. Os pais acompanham o crescimento etário e cultural de seus filhos e os apóiam nos momentos de dificuldade como amigos da mesma entidade social, sem deixarem de ser exemplos e ídolos. Tanto que o rodeio crioulo, uma das atividades recreativas do tradicionalismo, institui o concurso de laço "pai e filho", incentivando a integração familiar. Da mesma forma acontece no nativismo quando um jovem sobe ao palco para defender sua música num determinado festival, toda a família oferece apoio à sua atuação.
A sociabilidade familiar, um dos maiores problemas da comunidade mundial na atualidade, tem na cultura gaúcha um ponto de apoio importante. Seus exemplos estão presentes desde os CTGs dos mais remotos rincões até os da capital gaúcha.
As lideranças de ambos os movimentos também mobilizam as famílias na questão organizacional. É comum encontrar casais participativos nos CTGs ou na organização de festivais de música ou poesia. Quando no grande grupo, em congressos do Movimento Tradicionalista Gaúcho ou nas reuniões da Associação das Comissões Organizadoras de Festivais de Música do Rio Grande do Sul, é uma grande família. Barbosa Lessa faz uma afirmação sociológica para o evento: "qualquer sociedade poderá evitar a dissolução enquanto for capaz de manter a integridade de seu núcleo cultural." Nestes encontros há o congraçamento de pessoas de todas as facções partidárias, todas as classes sociais, credos e cores. A cultura é o objetivo comum para o qual todos convergem suas dedicações.
Embora isso aconteça na comunidade local, os comandos políticos, distantes do fato cultural, teorizam equivocadamente sobre a cultura gaúcha. Os da extrema direita e da extrema esquerda julgam que a estrutura das estâncias na cultura gaúcha, patrões e peões, seja ideologicamente a favor da primeira e contra a segunda. Ambos estão enganados, por que ela está acima disso. É uma característica atribuída ao meio de vida do rio-grandense. "O gaúcho é socialmente um produto do Pampa, como politicamente é um produto da guerra", afirma o pensador fluminense Oliveira Vianna em seu livro Populações Meridionais do Brasil.
Nos festivais há uma comemoração da arte criada em relação aos temas, mais do que uma vinculação política que ela possa expressar, e normalmente as letras de música estão recheadas de defesa das questões humanas. O antropólogo rio-grandense Ruben Gorge Oliven registra em seu livro A Parte e o Todo - A Diversidade Cultural do Brasil-Nação-, algo comprobatório deste amor à arte acima de tudo. "... o que me chama atenção é o fato de o público aplaudir indistintamente músicas a favor ou contra a figura tradicional do gaúcho." E complementa: "Mas o público parece vibrar com todas; acho que, na realidade, as pessoas vibram com a celebração da identidade gaúcha."
Fonte: http://regionalismogaucho.weebly.com/tradicionalismo-ou-nativismo.html
PARABÉNS AOS GAÚCHOS (PEÕES E PRENDAS) DESTA QUERÊNCIA AMADA pelos 180 anos da REVOLUÇÃO FARROUPILHA hoje. ORGULHO de ser GAÚCHA!!!
Ir ao CTG vestido a caráter acompanhado do nosso amado CHIMARRÃO é bom demais, não é mesmo? Para um gostoso baile então? É tri legal!!! Leve a família toda e aproveite.
PARABÉNS AOS GAÚCHOS (PEÕES E PRENDAS) DESTA QUERÊNCIA AMADA pelos 180 anos da REVOLUÇÃO FARROUPILHA hoje. ORGULHO de ser GAÚCHA!!!
Ir ao CTG vestido a caráter acompanhado do nosso amado CHIMARRÃO é bom demais, não é mesmo? Para um gostoso baile então? É tri legal!!! Leve a família toda e aproveite.
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