terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Arte pode revelar primeiros sinais de doenças como Parkinson e Alzheimer, diz estudo

Pesquisa usou modelo matemático para analisar obras de sete artistas famosos, entre eles Picasso, Monet e Dalí.

Uma análise detalhada das pinceladas de artistas que mais tarde desenvolveram doenças neurológicas revelou intrigantes pistas sobre mudanças cerebrais ocorridas anos antes do surgimento dos sintomas óbvios desses males. 

O método matemático, que chama-se análise fractal, observa padrões recorrentes presentes tanto na matemática como no mundo natural. 

Padrões fractais podem ser encontrados, por exemplo, em árvores e nuvens. E também nas ondas emitidas por nosso cérebro ou nos nossos batimentos cardíacos. 

O mesmo se aplica às pinceladas de artistas, que podem ser comparadas à sua escrita. 

Como parte de um pequeno estudo, a psicóloga Alex Forsythe, da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, realizou análises fractais de mais de duas mil pinturas feitas por sete artistas famosos. 

São eles: Pablo Picasso, Claude Monet, Marc Chagall (que não tinham diagnóstico conhecido de doenças neurológicas), Salvador Dalí, Norval Morrisseau (que desenvolveram mal de Parkinson), Willem de Kooning e James Brooks (diagnosticados com mal de Alzheimer).

Variações

A pesquisadora encontrou minúsculas variações nos padrões observados nas pinceladas dos artistas.
No entanto, nos trabalhos daqueles que mais tarde desenvolveram demência ou mal de Parkinson os padrões se alteraram de maneira peculiar. 

"O que verificamos é que, até 20 anos antes de serem diagnosticados com algum transtorno neurológico, o conteúdo fractal nas pinturas desses artistas começou a diminuir." 

O artista de origem holandesa Willem de Kooning, que morreu em 1997 aos 93 anos, continuou a pintar até sua oitava década de vida, mesmo após ser diagnosticado com Alzheimer. 

As pinceladas observadas nos primeiros quadros do artista - um dos expoentes do Expressionismo Abstrato no mundo - são diferentes daquelas presentes em obras feitas mais tarde. 

Mas no caso de artistas como Monet e Picasso, que, pelo que se sabe, morreram sem doenças neurológicas, os padrões das pinceladas mantiveram-se constantes. 

Na obra de Picasso, um artista que adotou estilos bastante diferentes de pintura, a constância dos padrões fractais verificados chamou particularmente a atenção dos pesquisadores. 

Esse modesto estudo não ajudará a diagnosticar a demência ou outras doenças neurológicas, os especialistas explicam. 

O trabalho oferece, no entanto, revelações importantes sobre mudanças que podem estar ocorrendo no cérebro anos antes de que uma doença neurológica apareça. 

"Tudo o que nos ajuda a entender melhor o funcionamento do cérebro tem utilidade ao direcionar caminhos futuros de pesquisa", disse Forsythe. 

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