Quando a linguagem ajuda a detectar a demência
Para
um leigo que convive com uma pessoa mais velha, detectar os primeiros
sinais da demência é certamente uma situação angustiante. O próprio
idoso pode perceber suas limitações e se perturbar, mas a situação fica
mais complexa quando não há sinais claros de fragilidade física ou
aparente necessidade de monitoramento. No entanto, a linguagem pode ser
um ponto de partida para se observar mudanças sutis na capacidade de
compreensão e articulação de um ente querido.
O
envelhecimento tem modificações fisiológicas, neurológicas,
neuropsicológicas, psicossociais e funcionais. Mudanças como perda de
acuidade visual e aditiva, ou a diminuição de interação social, vão
influenciar a linguagem. Esse declínio natural produz o que se
convencionou chamar de “conversa de velho”: um pouco mais lenta,
arrastada, mas pertinente e compreensível. Contar histórias antigas, por
exemplo, é uma forma de resgate da identidade. Mas sinais como
esquecimento, confusão ou repetição excessiva não devem ser
negligenciados. A questão central é a mudança de padrão.
Na
demência, o prejuízo se dá no plano discursivo, que apresenta falhas.
Um teste utilizado por especialistas pede que o idoso descreva uma
sequência de imagens que representa uma história. Quando há
comprometimento cognitivo, é provável que essa descrição seja
fragmentada, como se não houvesse relação entre os quadros. A pessoa
descreverá cada um deles sem chegar a um nível satisfatório de
significação.
Os testes buscam mudanças nas habilidades cognitivas e funcionais do paciente, comparando a forma como age agora e como costumava ser.
Há
uma gama enorme de indicadores: memória, orientação, concentração,
resolução de problemas, habilidades em casa e atividades fora dela,
tomada de decisões, hábitos de higiene pessoal, alterações de
comportamento e personalidade, habilidades de linguagem e comunicação. E
uma escala de dificuldades, de leves a severas. O que todos podemos
fazer é prestar mais atenção em nossos velhos e propor que o novo deve
fazer parte de suas rotinas. Sair da zona do conforto, aprender
a aprender, vai quebrar crenças negativas sobre o envelhecimento e as
próprias capacidades, além de fazer bem ao cérebro.
Não ignoremos os números do relatório divulgado em 2015
pela Alzheimer's Disease International, instituição que reúne
associações do mundo todo. Há cerca de 900 milhões de pessoas acima dos
60 anos no planeta e estima-se que atualmente 47 milhões vivam com
demência, com perto de dez milhões de novos casos por ano. A expectativa
é de que o número dobre a cada 20 anos, atingindo 75 milhões em 2030.
O
problema diz respeito a todos nós.
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