'Eu tenho só metade do cérebro, mas ninguém percebe'
Jodie Graves começou a ter convulsões aos três anos com tanta frequência que médicos sugeriram retirar metade do órgão.
Quando tinha apenas três anos, a americana Jodie Graves começou a ter
convulsões com tanta frequência que os médicos sugeriram retirar metade
de seu cérebro.
Jodie havia sido diagnosticada com uma doença rara, a Encefalite de
Rasmussen, caracterizada pela inflamação crônica em um dos lados do
órgão.
A recomendação surpreendeu a família, que acabou optando por seguir,
não sem alta dose de ceticismo, a orientação dos especialistas.
"Tenho metade do cérebro. Quando as pessoas me conhecem, não têm a menor ideia", diz Jodie à BBC".
Ela conta que tudo começou quando um dia desmaiou no jardim de infância.
"Só consigo me lembrar da minha primeira convulsão. Estava brincando no
jardim de infância e a próxima coisa de que eu me lembro foi estar
dentro de uma ambulância", lembra.
A mãe de Jodie, Lynn, conta que a família decidiu "voar para o hospital".
"Permanecemos lá durante todo o dia. No dia seguinte, Jodie teve uma
nova convulsão, mas nada do que os médicos faziam estava dando certo",
diz.
Convulsões frequentes
A partir de então, Jodie começou a ter convulsões repetidamente.
"Ela estava constantemente caindo para o lado esquerdo e chegou a um
ponto tão crítico que um de nós tinha de estar sempre ao lado esquerdo
dela", acrescenta Lynn.
Jodie lembra que as convulsões aconteciam "a cada três minutos".
"Não era legal", resume.
Segundo Lynn, os médicos explicaram à família que "a única maneira de
tratá-la seria remover a metade do cérebro de Jodie que estava afetada".
Eles esperavam que, ao retirar o lado direito do cérebro de Jodie, as funções cerebrais seriam compensadas pelo lado esquerdo.
"Na primeira infância, o cérebro está em um de seus estados mais
plásticos. Sendo assim, se você alterá-lo nesse momento, talvez haja uma
maior capacidade para o órgão reorganizar suas funções", explica Amy
Bastian, professora de Neurociência e Neurologia na Escola de Medicina
da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, uma das mais prestigiadas
dos Estados Unidos.
Jodie tinha três anos quando foi submetida à cirurgia. A operação foi um sucesso e as convulsões acabaram.
Os médicos também ficaram surpresos ao perceber que as funções
cerebrais dela se reativaram antes mesmo do fim do procedimento.
O único efeito adverso da operação foi que Jodie ficou com parte da
mobilidade do lado esquerdo prejudicada: ela tem movimentos restritos no
braço e manca.
Otimismo
"Sou uma pessoa muito otimista e várias vezes brinco que eles tiraram o
lado malvado do meu cérebro e só deixaram o feliz", brinca ela.
"Se você me perguntasse 25 anos atrás se seria possível remover metade
do cérebro e continuar vivendo, eu diria: 'Você está maluco'", diz a mãe
de Jodie.
"Mas aqui estamos nós", completa Lynn.
Para Jodie, a vida sem metade do cérebro não é "diferente da dos outros".
"Estou casada há quatro anos e levo uma vida independente, ao lado de meu marido", diz.
"Fico muito feliz de que meus pais fizeram o que fizeram, pois nunca
estaria onde estou hoje se tivesse feito a cirurgia depois ou tivesse
esperado mais", conclui.
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