As maiores causas de morte de jovens no Brasil e no mundo, segundo a OMS
Relatório diz que houve 1,2 milhão de mortes, a maioria por causas evitáveis, em 2015, uma média de 3 mil por dia; violência e trânsito estão por trás da maioria dos óbitos brasileiros.
A violência interpessoal é a principal razão pela qual jovens de 10 a
19 anos perdem a vida precocemente no Brasil, revelou a Organização
Mundial da Saúde (OMS) à BBC Brasil.
A informação vem de um estudo global sobre óbito de adolescentes ,
publicado nesta terça-feira (16). A OMS estima que 1,2 milhão de
adolescentes morrem por ano no mundo - três mil por dia.
De acordo com a entidade, as principais causas de mortes entre
adolescentes brasileiros de 10 a 15 anos são, nesta ordem: violência
interpessoal, acidentes de trânsito, afogamento, leucemia e infecções
respiratórias.
Já jovens na faixa de 15 a 19 anos morrem em decorrência de violência
interpessoal, acidentes de trânsito, suicídio, afogamento e infecções
respiratórias.
A OMS repassou esse ranking estimado com exclusividade à BBC Brasil,
mas não ofereceu números absolutos para ilustrar a lista, pois o estudo
foi organizado por regiões.
O Global Acceleration Action for the Health of Adolescents (Ação Global
Acelerada para a Saúde de Adolescentes, em tradução livre) não avalia
países individualmente, mas áreas econômicas do planeta. O Brasil está
inserido na categoria "países de renda baixa-média das Américas".
A tendência observada dentro desse grupo também aponta a violência
interpessoal como principal causa da morte, representando 43% dos
óbitos.
"O Brasil se insere exatamente no perfil da região", disse à BBC
Brasil, por email, Kate Strong, especialista da OMS para o monitoramento
de crianças e jovens.
Violência interpessoal
O conceito de violência interpessoal explorado no documento é bastante
amplo, pois engloba desde a preponderante agressão relacionada às
gangues e ao narcotráfico até o feminicídio.
"Inclui assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional", descreve o documento.
De acordo com números da edição de 2016 do relatório, publicado pela
iniciativa Mapadaviolência.org.br, a situação é preocupante. "A
principal vítima da violência homicida no Brasil é a juventude", afirma o
documento nacional.
Nesse levantamento, que compilou dados de 2014, foi observado que
jovens de 15 a 29 anos de idade representavam aproximadamente 26% da
população do país, mas a participação deles no total de homicídios por
armas de fogo era desproporcionalmente superior. O peso demográfico dos
jovens nos casos de mortes com armas correspondem a quase 60% dos
crimes.
No resto do mundo, as cinco principais causas de morte entre jovens de
ambos os sexos, de 10 e 19 anos são: acidentes de trânsito, infecções
respiratórias (pneumonia), suicídio, infecções intestinais (diarreia) e
afogamentos.
Mais de dois terços dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento, revelam os dados de 2015 da OMS.
Dividindo por sexo, a estimativa aponta que, no mundo todo, meninos de
10 a 19 anos morrem principalmente por acidentes de trânsito, violência
interpessoal, afogamento, infecção do sistema respiratório e suicídio.
As meninas da mesma faixa-etária têm mortes atribuídas a infecções do
sistema respiratório, suicídio, infecções intestinais, problemas
relacionados à maternidade e acidentes de trânsito.
Essas tragédias poderiam ser evitadas se os países investissem mais em educação, serviços de saúde e apoio social, diz a OMS.
"O período da adolescência é um momento particularmente importante para
a saúde, porque definirá hábitos que terão impacto na qualidade de vida
pelas próximas décadas. É nessa época que a inatividade física, a má
dieta e o comportamento sexual de risco têm início", disse a OMS.
A organização critica a falta de atenção dada a essa faixa-etária da
população nas políticas públicas.
"Adolescentes estiveram completamente
ausentes dos planejamentos de saúde nacional por décadas", lamentou
Flávia Bustreo, Diretora-Geral assistente da OMS.
Soluções
O documento aponta ainda soluções que podem ajudar a evitar essas
mortes precoces. São sugestões de políticas públicas que podem ter
grande impacto nas estatísticas. Um exemplo é a recomendações da
implementação de leis e campanhas de conscientização pelo uso do cinto
de segurança. Em 2015, acidentes de trânsito mataram 115 mil jovens de
10 a 19 anos no mundo todo.
O Brasil é citado no documento como caso bem sucedido no combate a
mortes no trânsito. "Entre 1991 e 1997 o Ministério da Saúde do Brasil
registrou aumento dramático na mortalidade de jovens em acidentes de
trânsito", afirma o documento.
"Em resposta, legisladores introduziram um novo código de trânsito em
1998 que tornava mais severa as punições aos infratores". O novo código
de trânsito teria ajudado a salvar 5 mil vidas no período entre 1998 e
2001 segundo a OMS.
Apesar de o trânsito ser um problema universal, há marcantes diferenças
entre as regiões quanto às causas de óbito. Nos países de renda
baixa-média da África, doenças transmissíveis como HIV-AIDS, infecções
do sistema respiratório, meningite e diarréia são os principais vilões.
A anemia, doença causada pela deficiência de ferro no sangue, também é
um mal muito comum, que atinge milhares de jovens no mundo todo em
países pobres e ricos.
O suicídio, ou a morte acidental causada por atitudes auto-destrutivas,
foi a terceira causa de mortalidade de adolescentes em 2015,
totalizando 67 mil mortes. Em sua maioria, as vítimas são adolescentes
mais velhos.
Em regiões com boas condições econômicas como a Europa, o suicídio
também aparece entre as principais causas. Cortar a si mesmo é o tipo de
auto-violência mais comum observado no continente.
A estimativa global da OMS é de que até 10% da população adolescente mundial cometa algum ato de violência contra si.
O documento recomenda fazer mais investimentos e dar atenção especial
às pessoas nessa fase da vida, onde grandes frustrações e incertezas
despontam: "jovens normalmente tomam responsabilidades de adultos como
cuidar de irmãos menores, trabalhar, ter de abandonar os estudos, casar
cedo, praticar sexo por dinheiro, simplesmente porque precisam dar conta
das necessidades básicas de sobrevivência.
Como resultado, eles sofrem de desnutrição, acidentes, gravidez
indesejada, violência sexual, doenças sexualmente transmissíveis e
transtornos mentais", resume o documento.
"Melhorar a forma como o sistema de saúde atende aos adolescentes é
apenas uma parte da melhora da saúde deles", diz Anthony Costello,
médico da OMS.
"Uma família e uma comunidade que apoia os seus jovens são extremamente importantes", completa.
Entre as políticas básicas que os países devem tentar implementar para
diminuir o risco de mortes precoces estão: programas de orientação
sexual na escola, aumento da idade mínima para consumo de álcool,
obrigatoriedade do uso do cinto de segurança nos automóveis e de
capacetes para ciclistas e motociclistas; redução do acesso a armas de
fogo, aumento da qualidade da água e melhoria da infra-estrutura
sanitária.
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