Ministério da Saúde não recomenda uso de polvos de crochê em incubadoras; entenda
Governo não proíbe bichinhos, mas diz que não vê comprovação científica dos benefícios. Iniciativa surgiu na Dinamarca, em 2013, e se espalhou pelo país; defensores apontam melhora em bebês.
O Ministério da Saúde enviou uma nota técnica a todas as secretarias
estaduais do país, no último mês, para informar que não recomenda o uso
de polvos de crochê em incubadoras de recém-nascidos. Segundo o governo,
não há comprovação científica sobre os benefícios do bichinho como
instrumento terapêutico.
Em nota ao G1,
o ministério informou que isso não significa que o polvo está proibido,
ou que faça mal aos bebês. A nota indica que esse tipo de tratamento
não é chancelado pelo ministério – ou seja, a adoção do método é de
responsabilidade de cada médico ou gestor local.
"O objeto trata-se, na verdade, de um brinquedo e não há qualquer tipo de comprovação científica na literatura médica nacional ou mundial apontando benefícios ou melhoras com esse tipo de instrumento", diz o texto enviado à reportagem.
A nota técnica é assinada pela Coordenação Geral de Saúde da Criança e
Aleitamento Materno do ministério. Segundo as coordenadoras do setor, a
melhor forma de cuidar dos recém-nascidos é o chamado método canguru,
adotado desde 2000 no país, e que prevê o contato direto, pele a pele,
entre bebês e familiares.
Os bonecos de crochê são feitos em fios 100% algodão, com oito
tentáculos de 22 centímetros – muitas vezes, os bichinhos são maiores
que as próprias crianças. Antes de serem colocados nas incubadoras, os
objetos precisam ser esterilizados para evitar infecções. Em geral, os
bebês podem levar os bichos para casa quando recebem alta médica.
Virou febre
Os polvos de crochê surgiram em um hospital universitário da Dinamarca,
em 2013, e ficaram conhecidos como "projeto Octo". No Brasil, uma das
primeiras unidades a adotar o método foi o Hospital Regional de Santa
Maria, no Distrito Federal. Lá, os bonecos começaram a ser usados no fim
de março.
Segundo os defensores da iniciativa, os polvos envolvem os bebês e
aumentam a sensação de acolhimento das incubadoras, evitando choques e
acidentes nas paredes do leito. Além disso, os tentáculos remeteriam ao
cordão umbilical da mãe, dando sensação de proteção ao bebê.
"Os relatos são de melhora nos sinais vitais e ganho de peso mais
rápido. Além disso, o polvo evita que eles puxem a sonda e tubos
instalados", afirmou a gerente de enfermagem do Hospital de Santa Maria,
Cíntia Pelegrino, em material divulgado pelo governo do DF em março.
O neonatologista Marc Ruberto, do mesmo hospital, diz que o polvo
também gera alívio para as mães, conforme os sinais de melhora vão
aparecendo nas crianças. "São bebês que ainda precisam de ventilação
mecânica, uso de medicamentos e ainda estão em estado grave. Mesmo que
ainda sejam muito pequenos, eles fazem a interação com o polvo", afirma.
O projeto virou febre em todo o país, e foi abraçado por grupos de
voluntários que se reúnem para confeccionar os pequenos polvos. Nos
últimos meses, a ação foi replicada em hospitais de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina e Minas Gerais.
Polvo ou canguru?
O governo federal classifica os polvos do projeto Octo como um
"brinquedo", e nega que a semelhança dos tentáculos com o cordão
umbilical seja suficiente para despertar algum conforto extra ao bebê.
Segundo a nota técnica, qualquer brinquedo do tipo – "girafas, sapos,
ursos, bonecos, carros" – geraria o mesmo benefício, "desde que
respeitadas as normas e protocolos de controle de infecção hospitalar de
cada unidade".
Ainda de acordo com o documento, "as evidências mostram que o cordão
umbilical, a placenta e as paredes uterinas oferecem outros estímulos e
sensações (cheiros, sons, texturas, umidade e o pulsar)". Na prática, o
texto diz que o recém-nascido não se engana, e consegue perceber que o
polvo não tem relação com o cordão umbilical da mãe.
Em contrapartida, o Ministério da Saúde classifica o método canguru
como um "modelo de assistência integral", que começa na gravidez de
risco e segue até o recém-nascido alcançar 2,5 kg.
"Dessa forma, o acompanhamento contempla todo o pré-natal, internação
materna, parto e nascimento, internação do recém-nascido e retorno para
casa. Envolve cuidado humanizado, valorizando, principalmente, o contato
pele a pele entre bebê e seus pais, controle ambiental, redução da dor,
cuidado com a família e todo suporte necessário com equipe
multiprofissional na área de saúde", diz a pasta.
Entre as vantagens oferecidas pelo método canguru – e comprovadas
cientificamente, de acordo com o Ministério da Saúde – estão o
favorecimento do vínculo pai-mãe-bebê-família, estímulos sensoriais
positivos, melhora no desenvolvimento do bebê, estímulo ao aleitamento
materno e redução no risco de infecção hospitalar.
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