sábado, 10 de outubro de 2015

Jovens saudáveis que usam remédio antiaids já fizeram sexo sem camisinha

Pesquisa brasileira mostrou que 65% dos homens que fazem sexo com homens e ingerem o medicamento anti-aids de forma preventiva não usaram preservativos em pelo menos duas relações sexuais no último ano.

- Atualizado em



A pesquisa tem como objetivo avaliar a aceitação, viabilidade e a melhor forma de oferecer o Truvada, um medicamento para prevenção do HIV, no país(Divulgação/VEJA)
O medo de contrair o vírus HIV assusta 53,8% dos jovens brasileiros. Ainda assim, 65% não utilizaram o preservativo em pelo menos duas relações sexuais no período de 12 meses. É o que revelam os dados preliminares da pesquisa Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) Brasil, divulgada nesta quarta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O estudo tem como objetivo avaliar a aceitação, a viabilidade e a melhor forma de oferecer o medicamento anti-aids (o Truvada) para prevenção do HIV no país.
Participaram do estudo 500 homossexuais. Os voluntários usam o Truvada desde o início da pesquisa -- abril do ano passado. Todos serão acompanhados até maio de 2016, quando os pesquisadores divulgarão a conclusão do estudo.
O Ministério da Saúde informou recentemente que estuda a possibilidade de incluir a distribuição do remédio no Sistema Único de Saúde (SUS) como forma preventiva para pessoas que apresentam riscos elevados de infecção.
O Truvada age de forma a bloqueiar a entrada do vírus HIV no DNA das células de defesa do organismo, impedindo a sua replicação. Ele foi aprovado como tratamento para evitar o HIV nos Estados Unidos em 2012. No Basil, recebeu aval da Anvisa para ser comercializado há três meses.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/a-maioria-dos-jovens-que-tomam-remedio-para-prevenir-a-aids-ja-fizeram-sexo-sem-protecao

31/10/2015 às 00h20

"Jovens com HIV não usam preservativo nem antes ou depois do diagnóstico", afirma especialista 

Psicólogo lança livro sobre comportamento de risco entre jovens
 
Psicólogo faz análise sobre HIV em jovens KENZO TRIBOUILLARD/AFP
 
Os jovens brasileiros contaminados pelo HIV têm comportamento descuidado em relação a transmissão do vírus para seus parceiros sexuais. Essa foi a conclusão que o psicólogo Renato Caio dos Santos chegou em sua pesquisa de mestrado na Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) sobre o impacto do vírus HIV entre os jovens do País. Por três anos, ele analisou os hábitos de homens contaminados pelo vírus, entre 18 e 25 anos, que se tratavam no hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
De acordo com Santos, a contaminação pelo vírus do HIV vem crescendo entre jovens do sexo masculino no Brasil. A proporção é de 18 casos de Aids em homens para cada 10 mulheres. As regiões onde se concentram o maior número de casos são regiões Sul e Sudeste. — Esses jovens que têm HIV não usam preservativo antes de descobrir que têm a doença e muito menos depois. Muitos dos jovens acham que as pessoas que têm um nível acadêmico elevado, de classe média alta, branco não estão sujeitos a contrair a doença, pensam que só pobres, negros que terão o HIV.
O resultado da pesquisa rendeu o livro Na Escuridão do Arco íris: a vivência das relações afetivo-sexuais de jovens gays após o diagnóstico de HIV, que foi lançado neste mês. O psicólogo também publicou recentemente o livro Brincando com Fogo, que analisa por meio de estudos nacionais e internacionais o comportamento sexual de jovens com o vírus.
Veja a seguir a entrevista completa R7 com o autor do livro sobre a situação do vírus HIV no País:
R7- Em geral, como está a situação do HIV no Brasil?
Renato Caio dos Santos- O Brasil apresenta uma estabilização dos casos nos últimos dez anos, com uma média de 20,5 casos para cada 100 mil habitantes. A grande questão é que a propagação vem aumentando entre jovens do sexo masculino. De certa forma, parece que os jovens homossexuais pensam "Ah, eu sou gay, porque não ter? É quase certo que terei a doença". Um dos entrevistados falou que era muito bom ele ter o diagnóstico positivo para HIV porque todas as pessoas ja saberiam que ele é gay.
R7- Existe alguma causa que justifique esse comportamento?
Renato Caio dos Santos- Há aumento entre os jovens que não viram os primeiros anos da epidemia, não sabem o quão terrível foi. Muitos acham que as pessoas que têm um certo nível acadêmico, que são de classe média alta, brancos e etc não estão sujeitos a contrair a doença, pensam que só pobres e negros terão o HIV.
R7- Ainda existe um estigma muito forte que relaciona os homossexuais ao HIV?
Renato Caio dos Santos- As duas coisas se combinam muito e ainda há um preconceito muito grande. As pessoas ainda acham que o HIV é uma questão homossexual. No começo da epidemia, os travestis eram quem tinham a maior taxa de incidência da doença, hoje em dia, eles são o grupo com menor taxa de HIV.
R7- O que mais te chamou atenção ao realizar a pesquisa?
Renato Caio dos Santos- Esses jovens que têm HIV não usam preservativo antes do diagnóstico e depois muito menos. Um dos principais fatores que estamos associando é que eles não têm a noção do perigo, acham que dependendo da pessoa que eles se relacionam não há problema, pensam que o HIV tem remedio, que não mata. As campanhas do governo são focadas no diagnóstico, mas deveriam contemplar também o tratamento.
R7- Quando surgiu a ideia do livro Na Escuridão do Arco Iris?
Renato Caio dos Santos- O livro é resultante da minha dissertação de mestrado, enquanto o Brincando com fogo é resultado de minha dissertação de aprimoramento profissional. O primeiro livro fala do comportamento de jovens homossexuais, como fica a vida deles após a descoberta do vírus. O outro livro é focado nas experiências dos jovens, independentemente de orientação sexual, cor, raça ou posição social. Queríamos saber mais sobre essa molecada que já tem o HIV, como é a vida sexual deles após o diagnóstico.
R7- Qual foi a maior dificuldade em produzir as duas obras?
Renato Caio dos Santos- No Brasil, existe uma falta gigantesca de material sobre o assunto, não é nada que seja fácil de encontrar, mesmo em questão de artigos científicos. Toda a literatura que usamos para compor os livros é internacional, por exemplo. Para ambos os livros, algo que falamos muito é a importância das redes sociais e a troca de experiências para que os jovens possam encontrar outras pessoas que estão vivendo a mesma situação que eles.
R7- Qual sua opnião sobre os homossexuais não poderem doar sangue?
Renato Caio dos Santos- Isso é a coisa mais ridícula que existe. Em um período de até 12 meses, se você teve relações sexuais com alguém do mesmo sexo você fica impedido de doar sangue, mas na verdade, todo sangue coletado hoje em dia é testado em laboratório, independente do sexo da pessoa, então não faz sentido impedir alguém com uma orientação sexual X de doar. Se esse comportamento caísse em desuso, os bancos de sangue não teriam problema de estoque.
*Colaborou de Raphael Andrade, estagiário do R7

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