Jovens saudáveis que usam remédio antiaids já fizeram sexo sem camisinha
Pesquisa
brasileira mostrou que 65% dos homens que fazem sexo com homens e
ingerem o medicamento anti-aids de forma preventiva não usaram
preservativos em pelo menos duas relações sexuais no último ano.
- Atualizado em
A pesquisa tem como objetivo avaliar a
aceitação, viabilidade e a melhor forma de oferecer o Truvada, um
medicamento para prevenção do HIV, no país(Divulgação/VEJA)O
medo de contrair o vírus HIV assusta 53,8% dos jovens brasileiros.
Ainda assim, 65% não utilizaram o preservativo em pelo menos duas
relações sexuais no período de 12 meses. É o que revelam os dados
preliminares da pesquisa Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) Brasil,
divulgada nesta quarta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O estudo tem como objetivo avaliar a aceitação, a viabilidade e a
melhor forma de oferecer o medicamento anti-aids (o Truvada) para
prevenção do HIV no país.
Participaram do estudo 500 homossexuais. Os voluntários usam o
Truvada desde o início da pesquisa -- abril do ano passado. Todos serão
acompanhados até maio de 2016, quando os pesquisadores divulgarão a
conclusão do estudo.
O Ministério da Saúde informou recentemente que estuda a
possibilidade de incluir a distribuição do remédio no Sistema Único de
Saúde (SUS) como forma preventiva para pessoas que apresentam riscos
elevados de infecção.
O Truvada age de forma a bloqueiar a entrada do vírus HIV no DNA das
células de defesa do organismo, impedindo a sua replicação. Ele foi
aprovado como tratamento para evitar o HIV nos Estados Unidos em 2012.
No Basil, recebeu aval da Anvisa para ser comercializado há três meses.
"Jovens com HIV não usam preservativo nem antes ou depois do diagnóstico", afirma especialista
Psicólogo lança livro sobre comportamento de risco entre jovens
Psicólogo faz análise sobre HIV em jovens KENZO TRIBOUILLARD/AFP
Os jovens brasileiros contaminados pelo HIV têm comportamento descuidado
em relação a transmissão do vírus para seus parceiros sexuais. Essa foi
a conclusão que o psicólogo Renato Caio dos Santos chegou em sua
pesquisa de mestrado na Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da
USP (Universidade de São Paulo) sobre o impacto do vírus HIV entre os
jovens do País. Por três anos, ele analisou os hábitos de homens
contaminados pelo vírus, entre 18 e 25 anos, que se tratavam no hospital
Emílio Ribas, em São Paulo.
De acordo com Santos, a contaminação pelo vírus do HIV vem crescendo
entre jovens do sexo masculino no Brasil. A proporção é de 18 casos de
Aids em homens para cada 10 mulheres. As regiões onde se concentram o maior número de casos são regiões Sul e Sudeste.
— Esses jovens que têm HIV não usam preservativo antes de descobrir que
têm a doença e muito menos depois. Muitos dos jovens acham que as
pessoas que têm um nível acadêmico elevado, de classe média alta, branco
não estão sujeitos a contrair a doença, pensam que só pobres, negros
que terão o HIV.
O resultado da pesquisa rendeu o livro Na Escuridão do Arco íris: a vivência das relações afetivo-sexuais de jovens gays após o diagnóstico de HIV, que foi lançado neste mês. O psicólogo também publicou recentemente o livro Brincando com Fogo, que analisa por meio de estudos nacionais e internacionais o comportamento sexual de jovens com o vírus. Veja a seguir a entrevista completa R7 com o autor do livro sobre a situação do vírus HIV no País: R7- Em geral, como está a situação do HIV no Brasil? Renato Caio dos Santos- O Brasil apresenta uma
estabilização dos casos nos últimos dez anos, com uma média de 20,5
casos para cada 100 mil habitantes. A grande questão é que a propagação
vem aumentando entre jovens do sexo masculino. De certa forma, parece
que os jovens homossexuais pensam "Ah, eu sou gay, porque não ter? É
quase certo que terei a doença". Um dos entrevistados falou que era
muito bom ele ter o diagnóstico positivo para HIV porque todas as
pessoas ja saberiam que ele é gay. R7- Existe alguma causa que justifique esse comportamento? Renato Caio dos Santos- Há aumento entre os jovens que
não viram os primeiros anos da epidemia, não sabem o quão terrível foi.
Muitos acham que as pessoas que têm um certo nível acadêmico, que são de
classe média alta, brancos e etc não estão sujeitos a contrair a
doença, pensam que só pobres e negros terão o HIV. R7- Ainda existe um estigma muito forte que relaciona os homossexuais ao HIV? Renato Caio dos Santos- As duas coisas se combinam
muito e ainda há um preconceito muito grande. As pessoas ainda acham que
o HIV é uma questão homossexual. No começo da epidemia, os travestis
eram quem tinham a maior taxa de incidência da doença, hoje em dia, eles
são o grupo com menor taxa de HIV. R7- O que mais te chamou atenção ao realizar a pesquisa? Renato Caio dos Santos- Esses jovens que têm HIV não
usam preservativo antes do diagnóstico e depois muito menos. Um dos
principais fatores que estamos associando é que eles não têm a noção do
perigo, acham que dependendo da pessoa que eles se relacionam não há
problema, pensam que o HIV tem remedio, que não mata. As campanhas do
governo são focadas no diagnóstico, mas deveriam contemplar também o
tratamento. R7- Quando surgiu a ideia do livro Na Escuridão do Arco Iris? Renato Caio dos Santos- O livroé resultante da minha dissertação de mestrado, enquanto o Brincando com fogo
é resultado de minha dissertação de aprimoramento profissional. O
primeiro livro fala do comportamento de jovens homossexuais, como fica a
vida deles após a descoberta do vírus. O outro livro é focado nas
experiências dos jovens, independentemente de orientação sexual, cor,
raça ou posição social. Queríamos saber mais sobre essa molecada que já
tem o HIV, como é a vida sexual deles após o diagnóstico. R7- Qual foi a maior dificuldade em produzir as duas obras? Renato Caio dos Santos- No Brasil, existe uma falta
gigantesca de material sobre o assunto, não é nada que seja fácil de
encontrar, mesmo em questão de artigos científicos. Toda a literatura
que usamos para compor os livros é internacional, por exemplo. Para
ambos os livros, algo que falamos muito é a importância das redes
sociais e a troca de experiências para que os jovens possam encontrar
outras pessoas que estão vivendo a mesma situação que eles. R7- Qual sua opnião sobre os homossexuais não poderem doar sangue? Renato Caio dos Santos- Isso é a coisa mais ridícula
que existe. Em um período de até 12 meses, se você teve relações sexuais
com alguém do mesmo sexo você fica impedido de doar sangue, mas na
verdade, todo sangue coletado hoje em dia é testado em laboratório,
independente do sexo da pessoa, então não faz sentido impedir alguém com
uma orientação sexual X de doar. Se esse comportamento caísse em
desuso, os bancos de sangue não teriam problema de estoque. *Colaborou de Raphael Andrade, estagiário do R7
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