Tatuadores e esteticistas criticam projeto que altera Lei do Ato Médico
Texto determina que apenas médicos podem realizar procedimentos que invadem ‘epiderme ou derme com o uso de produtos químicos’
por Renato Grandelle
RIO — Um projeto de lei com o objetivo de definir atividades exclusivas dos médicos causa controvérsia nas redes sociais e atrai a atenção da opinião pública. O site do Senado já registrou mais de 180 mil cliques contra ou a favor do texto apresentado pela senadora Lúcia Vânia (PSB-GO), que deixa em lados opostos a comunidade médica e as clínicas de estética. O artigo mais polêmico determina que apenas pessoas pessoas formadas em Medicina podem realizar procedimentos que invadem “epiderme e derme com o uso de produtos químicos ou abrasivos”. Se aprovado sem alterações, o texto acabaria com o ganha-pão de tatuadores e de grande parte das clínicas de estética.
Entre os mais de 186 mil registros de opinião manifestados na consulta pública no site do Senado, 59,4% são contrários à Lei do Ato Médico. Segundo um depoimento publicado por Lúcia Vânia no Facebook, “A matéria ainda está sendo discutida, e não será votada sem que haja um consenso. Estejam tranquilos e seguros de que não há qualquer intenção de prejudicar nenhuma categoria profissional e nem, em específico, os profissionais que atuam nas artes corporais, como os tatuadores”, escreveu em sua página.
MATERIAL ESTERELIZADO E DESCARTÁVEL
A suposta intervenção do projeto sobre a atividade dos tatuadores foi discutida na semana passada pela Academia Nacional de Medicina. O presidente da entidade, Francisco Sampaio, ressalta que não há objeção à atividade do tatuador, desde que cuidados básicos sejam obedecidos.
— As autoridades de vigilância sanitária devem fiscalizar o funcionamento das clínicas e estúdios de tatuagem, porque sua confecção pode causar infecção pelo vírus HIV e hepatite, entre outras doenças — pondera. — É importante assegurar que o material seja esterilizado e descartável.
Organizador da Tattoo Week Rio, o tatuador Sylvio Freitas considera que a tatuagem está “sob o guarda-chuva da arte, e não da medicina”.
De acordo com Freitas, parte da orientação deve vir do próprio cliente, que deve apontar problemas de saúde que possam gerar riscos para ele. A importância desta iniciativa é reforçada por Gabriel Gontijo, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia:
— Ao examinar uma pinta, o dermatologista diz se ela pode virar um câncer de pele. Normalmente há dicas como sua assimetria, a borda irregular, a coloração e o diâmetro — conta. — Os clientes dos estúdios também podem desenvolver reação alérgica à tinta.
Quando o assunto são as clínicas de estética, porém, a comunidade médica não economiza nas críticas.
— Houve um caso recente no qual uma aplicação de peeling de fenol resultou em queimadura de terceiro grau — destaca Gabriel Gontijo, que também faz ressalvas sobre a aplicação de botox. — É preciso ter muito cuidado com a injeção da toxina botulínica. Se for aplicada na dose incorreta próximo aos olhos pode causar visão dupla e queda da pálpebra.
Francisco Sampaio, por sua vez, avalia que o “culto à beleza” leva à multiplicação de clínicas de estética com profissionais despreparados. Daí, procedimentos que deveriam ser exclusivos dos consultórios, como a remoção de manchas ou a aplicação de silicone, transformam-se em “tragédias”.
A esteticista Tatiane Galhanone, porém, avalia que um médico não conseguiria orientar seu serviço.
Para Tatiane, as críticas à sua profissão devem-se à percepção geral de como a área da estética está crescendo.
— Todo mundo quer comer um pedaço desse bolo. E, como nossa profissão não é regulamentada, a medicina acaba falando mais alto — acusa.
Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/tatuadores-esteticistas-criticam-projeto-que-altera-lei-do-ato-medico-19779070
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