terça-feira, 12 de julho de 2016

11/07/2016 19h34 - Atualizado em 11/07/2016 20h56

USP abre sindicância para investigar pesquisador da fosfoetanolamina

Processo apura se houve infração na distribuição em São Carlos (SP).
Advogado diz que universidade sabia da pesquisa desde o início.

 O pesquisador Gilberto Chierice, desenvolvedor da fosfoetanolamina sintética, a chamada pílula do câncer na USP de São Carlos (Foto: Reprodução/ EPTV) 

Químico da USP Gilberto Chierice, pesquisador da fosfoetanolamina sintética (Foto: Reprodução/ EPTV)

A Universidade de São Paulo (USP) abriu uma sindicância para investigar a atividade do químico Gilberto Chierice, pesquisador que desenvolveu a fosfoetanolamina sintética, a chamada 'pílula do câncer', nos laboratórios do Instituto de Química em São Carlos. A universidade informou nesta segunda-feira (11) que "apura uma eventual infração funcional referente à confecção e à distribuição da substância". A USP diz ainda que o pesquisador pode ter a aposentadoria cassada.

Segundo o advogado Fábio Maia Soares, que representa o pesquisador, a USP tinha ciência da pesquisa desde o início. “Não existe base legal para o que estão tentando apontar. A diretoria sempre soube que a fosfo era produzida ali dentro por conta de um convênio que a própria USP firmou como hospital Amaral Carvalho, de Jaú. O professor designado para atender esse convênio foi o professor Gilberto. Nunca nada foi feito fora do padrão do que havia sido combinado”, disse.

Desenvolvida no campus de São Carlos para o tratamento de tumor maligno, a substância é apontada como possível cura para diferentes tipos de câncer, mas não passou por esses testes em humanos e não tem eficácia comprovada, por isso não é considerada um remédio. Ela não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e seus efeitos nos pacientes ainda são desconhecidos.

USP alega prejuízos
A sindicância ocorre a pedido do reitor, Marco Antonio Zago. Apesar de confirmar a sindicância, a USP não deu mais detalhes porque o processo tramita sob sigilo.

Segundo o advogado do pesquisador, a reitoria pede o cancelamento da aposentadoria de Chierice, alegando que o volume de processos ajuizados em relação à USP prejudicou a universidade e que houve risco na forma como foi conduzida a pesquisa, produção e distribuição da substância.

Ainda de acordo com o defensor, na última sexta-feira (8) o pesquisador foi convocado pela USP para participar de uma audiência interna em que estiveram presentes uma médica, uma professora de química, um professor de farmácia e o departamento jurídico da universidade.
O químico Gilberto Chierice, pesquisador que desenvolveu a fosfoetanolamina sintética na USP de São Carlos (Foto: Wilson Aiello/ EPTV) 
Sindicância da USP investiga atividades do químico Gilberto Chierice (Foto: Wilson Aiello/ EPTV)
 
Cassação da aposentadoria
Questionado sobre a cassação da aposentadoria do pesquisador, o advogado afirmou que não existe a possibilidade. “Ele já é aposentado e, além do que contribuiu no período, não existe falta grave, seja qual for o ângulo de análise. A sindicância veio para analisar para ver se existe alguma situação que a própria USP já deveria saber", disse.

O advogado afirmou ainda que vai aguardar a conclusão da sindicância, que pode levar até 60 dias. "A gente espera que haja uma análise bastante tranquila e isso seja arquivado definitivamente”, ressaltou.

Em março deste ano, a USP já havia dencunciado o pesquisador à polícia alegando que ele cometeu curandeirismo. O inquérito concluiu que não foram encontradas evidências de crime.

Testes em laboratório
Em 1º de abril, a USP fechou o laboratório que produzia a substância. A fosfoetanolamina passou a ser produzida em um laboratório de Cravinhos (SP), autorizado a produzir a substância para análises clínicas. O laboratório entregou à Fundação para o Remédio Popular (Furp) o primeiro lote da "pílula do câncer" no dia 2 de maio.
Cápsulas de fosfoetanolamina produzidas desde os anos 90 no Instituto de Química de São Carlos (Foto: Cecília Bastos/USP Imagem) 
Cápsulas de fosfoetanolamina produzidas desde os anos 90 na USP (Foto: Cecília Bastos/USP Imagem)
 
Em maio, o Supremo Tribunal Fderal (STF) suspendeu a lei sancionada  em abril pela presidente afastada Dilma Rousseff que permitiria o uso do composto antes da conclusão dos testes clínicos.

No início de junho, um teste realizado com 40 camundongos, pesquisadores demonstraram que a fosfoetanolamina foi capaz de reduzir em 34% o tamanho de tumores de pele nos animais que a ingeriram durante 24 dias, uma vez ao dia.

Em novos testes divulgados no meio do mês passado o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP) apontou baixa eficácia contra as células de câncer de pâncreas ou melanoma.

Fonte: http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2016/07/usp-abre-sindicancia-para-investigar-pesquisador-da-fosfoetanolamina.html

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