sábado, 24 de outubro de 2015

21/10/2015 06h27 - Atualizado em 22/10/2015 11h39

Pesquisadoras do RJ estão entre cientistas premiadas pela Unesco

Sete jovens cientistas receberam o Prêmio Para Mulheres na Ciência.
Entre elas, matemática e astrofísica desenvolvem seus estudos na UFRJ. 

Duas pesquisadoras do Rio de Janeiro estão entre as sete vencedoras do Prêmio "Para Mulheres na Ciência", entregue em cerimônia realizada na noite desta terça-feira (20) no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio. Cecília Salgado Guimaraes da Silva foi premiada pelo seu trabalho na área das Ciências Matemáticas e Karín Menéndez-Delmestre por sua atuação no campo das Ciências Físicas.
Carioca, Cecília tem 33 anos e trabalha com duas grandes áreas da matemática pura: a geometria algébrica e a teoria de números. Ela foi premiada pela sua pesquisa que investiga códigos corretos de erros gerados durante a transmissão de informação por sistemas de comunicação. Por meio dos resultados deste estudo, ela espera viabilizar melhorias nas plataformas tecnológicas de comunicação.
Cecília estuda sobre códigos corretores de erros, fundamental na solução de falhas na transmissão de informação por sistemas de comunicação como linhas telefônicas ou discos rígidos. (Foto: Daniel Silveira / G1) 
Cecília estuda sobre códigos corretores de erros, fundamental na solução de falhas na transmissão de informação por sistemas de comunicação como linhas telefônicas ou discos rígidos. (Foto: Daniel Silveira / G1)
“É uma infelicidade da escola, do jeito que a matemática é ensinada. Está na hora de mudar isso, de mudar o jeito como ela é ensinada. Ela é ensinada de forma que se decora informações e ninguém brinca, então quase ninguém aprende"
Cecília Salgado Guimaraes da Silva
A pesquisadora faz questão de enfatizar a importância da matemática na vida cotidiana e lamenta que seu estudo seja visto como “terror” por parte da maioria dos estudantes.
“É uma infelicidade da escola, do jeito que a matemática é ensinada. Está na hora de mudar isso, de mudar o jeito como ela é ensinada. Ela é ensinada de forma que se decora informações e ninguém brinca, então quase ninguém aprende”, ressaltou.
Questionada sobre o campo científico no Brasil, Cecília destacou que o país “tem uma ciência que se compara com qualquer país europeu”, mas enfatizou a importância do cientista fazer intercâmbio. Eu sua pesquisa, ela conta com a participação de outros dois pesquisadores, um brasileiro e um costarriquenho que vivem nos Estados Unidos.
Quem também destacou a importância do intercâmbio entre cientistas foi a astrofísica Karín, de 38 anos, que teve reconhecido seu trabalho desenvolvido também na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela é uma autoridade reconhecida no campo da evolução das galáxias e busca compreender os processos de suas formações analisando galáxias distantes e próximas à Via Láctea.
“Tem alguns projetos que desenvolvo sozinha. Mas ciência sozinha é muito chato. A ciência, realmente, é discutindo. Você vai eliminando besteiras que você pensa só dialogando com outras pessoas. Então eu acho que a ciência é um processo bastante social”, disse Karín.
Karín nasceu em Porto Rico e há quatro anos desenvolve no Brasil suas pesquisas sobre as galáxias. Ao longo de sua carreira, a cientista já produziu 37 artigos e mais de 1.200 citações, das quais 350 referem-se às publicações de primeira autora. (Foto: Daniel Silveira / G1) 
Karín nasceu em Porto Rico e há quatro anos desenvolve no Brasil suas pesquisas sobre as galáxias. Ao longo de sua carreira, a cientista já produziu 37 artigos e mais de 1.200 citações, das quais 350 referem-se às publicações de primeira autora. (Foto: Daniel Silveira / G1)
Porto-riquenha, ela conta que veio para o Brasil há quatro anos, movida “pelo amor” ao marido, também físico, que é carioca. Ela afirma que encontra na UFRJ todo o suporte necessário para o desenvolvimento de suas pesquisas e se diz emocionada por receber o prêmio Para Mulheres na Ciência. “É muito emocionante. Fiquei muito empolgada quando recebi a notícia”, disse.
Ciência sozinha é muito chato. A ciência, realmente, é discutindo. Você vai eliminando besteiras que você pensa só dialogando com outras pessoas. Então eu acho que a ciência é um processo bastante social"
Karín Menéndez-Delmestre
O prêmio no campo da Química ficou com a pesquisadora Elisa Orth, do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná. Ela trabalha com o desenvolvimento de enzimas artificiais que podem vir a ser usadas para diminuir o uso de agrotóxicos, além de serem aplicadas       em terapias genéticas de doenças como câncer e Mal de Parkinson.
Pesquisas com foco na saúde
As outras cinco premiadas se dedicam a estudos na área das Ciências da Vida, com foco em saúde e genética.
Da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, Alline Campos estuda os efeitos de substâncias encontradas na maconha, como o canabidiol, no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão. Ela espera poder propor medicamentos mais efetivos nos tratamentos destes transtornos, que ajam mais rápidos e tenham menos efeitos colaterais que as drogas até então utilizadas.
Já a cientista Daiana Ávila, da Universidade Federal do Pampa, no interior do Rio Grande do Sul, foi premiada por liderar estudo sobre uma nova terapia para a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Seu objetivo é desenvolver tratamentos alternativos com medicamento capaz de atrasar a progressão da doença e com menos efeitos colaterais que os promovidos pela medicação existente.
O envelhecimento precoce de pessoas bipolares é o foco do estudo da pesquisadora Elisa Brietzke, do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. Seu objetivo é identificar se quem sofre com transtorno bipolar apresenta envelhecimento celular e imunológico mais rápido. A partir de sua pesquisa ela espera ser possível o desenvolvimento de intervenções, medicamentosas ou não, que possam mudar o curso da doença.
Também de São Paulo, a cientista do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo - USP, Tábita Hunemeier, desenvolve pesquisa pioneira sobre as bases genéticas dos povos indígenas.  Seu principal objetivo é encontrar as variações genéticas dos nativos americanos que os diferenciem dos habitantes de outros continentes. Com isso ela espera compreende questões relacionadas à saúde e processo evolutivo dessa população.
Sobre o prêmio
Em sua décima edição, o Prêmio Para Mulheres na Ciência é o único no país voltado especificamente para jovens mulheres cientistas. Com o objetivo de valorizar a atuação feminina no campo científico e viabilizar o desenvolvimento de pesquisas relevantes, ele premia, a cada ano, sete cientistas com uma bolsa-auxílio, no valor equivalente em reais, de US$ 20 mil.
Promovido por uma multinacional francesa no ramo de cosméticos e chancelada pela Unesco e pela Academia Brasileira de Ciências, o prêmio já reconheceu 68 pesquisadoras em dez anos.

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