Falta de medicamento essencial afeta milhares de transplantados em São Paulo
Entrega foi normalizada nesta semana após 20 dias de suspensão; governos trocam acusações
Pacientes aguardavam sem previsão sobre a chegada do remédio
Reprodução Facebook
A entrega do tacrolimo, um dos principais medicamentos de uso contínuo para transplantados, que é distribuído pelo programa do governo CEAF (Componente Especializado da Assistência Farmacêutica), por conta do alto custo, ficou indisponível por vários dias.
Entre os dias 7 e 17 de outubro, a tacrolimo, nas apresentações de 1mg e 5mg, esteve em falta nas unidades de distribuição de remédios de alto custo da Secretaria Estadual de Saúde, segundo as reclamações de pacientes ouvidos pelo R7.
Na Vila Mariana, na zona sul da capital, os pacientes tiveram que aguardar até três horas na sala de espera da Farmácia de Medicamentos Especializados, na semana passada, e voltaram para casa sem o medicamento ou uma explicação sobre a falha no abastecimento. Uma paciente definiu como "exaustiva" a espera. A unidade, na avenida Altino Arantes, fica próxima do Hospital ao Rim, maior centro de transplantes do Estado.
A professora universitária Elisabeth Pinheiro, de 54 anos, recebeu um rim de doador vivo, o próprio irmão, há 11 anos, e sempre teve que usar o tacrolimo diariamente. No começo, eram 18 mg por dia e agora são 2mg. O medicamento sempre foi fornecido pelo Estado e até este mês nunca tinha faltado, segundo a paciente.
Elisabeth mora em Lorena, no interior do Estado, e viaja uma vez por mês até a capital para retirar o medicamento com doses contadas. “Fui no dia 7 e não tinha. Os dias foram passando e nada dele chegar.
Fui ver como era pra comprar, e constatei que, além de caro, era muito difícil porque não é vendido em loja física só pela internet”, disse. O preço encontrado pela professora era em torno de R$ 1.800, com 50 cápsulas de 5mg. A professora ficou sem o remédio que deveria ser fornecido pelo governo. "Depois do transplante, recebemos ordens médicas para seguir fielmente as prescrições. Até assinamos uma espécie de termo de compromisso em relação a isso", disse. Sem o remédio, a imunidade do paciente cai e a saúde fica em risco. “Em 11 anos, nunca aconteceu um problema dessa magnitude. Já chegou a faltar, mas sempre no dia seguinte já era resolvido. Desta vez foram 10 dias sem este medicamento essencial. Eu ligava para a farmácia e ninguém atendia ou só dava ocupado ”, disse.
As idas e vindas para saber se o remédio chegou também impactam na vida do paciente transplantado. "Com a falta do medicamento por muitos dias, as voltavam na farmácia de alto custo e passavam um longo período expostas a contaminantes variados numa sala lotada. Temos a imunidade mais baixa que a da maioria da população e ficar durante horas em um lugar fechado cheia de gente imunossuprimida é perigoso.
É uma soma de situações inadequadas", disse.
Outro lado
A Secretaria Estadual de Saúde confirmou que o remédio para pacientes transplantados estava em falta e responsabilizou o Ministério da Saúde, que compra os medicamentos e repassa para os estados.
"O Núcleo de Assistência Farmacêutica esclarece que a compra e distribuição aos estados do medicamento Tacrolimo – nas dosagens 1mg e 5mg – é de competência do Ministério da Saúde, que atrasou em mais de 20 dias a entrega, o que por conseguinte atrasou a grade de distribuição nas farmácias do Estado. As unidades do tacrolimo 1mg, que corresponde a 95% da demanda desse medicamento, chegaram a SP somente em 13 de outubro. O prazo oficial, fixado em portaria ministerial, era 20 de setembro”, diz a nota da secretaria.
Por sua vez, o Ministério da Saúde informou que o medicamento foi comprado, de acordo com a solicitação da secretaria estadual, e enviado em setembro.
"O Ministério da Saúde informa que a distribuição do medicamento tacrolimo nas apresentações 1mg e 5 mg está regular. O remédio foi enviado a Secretaria de Estado de São Paulo no mês final do mês de setembro para o atendimento do quarto trimestre de 2016. Foram enviadas 5.287.950 unidades de tacrolimo, atendendo toda necessidade solicitada pelo estado.
É importante ressaltar que a aquisição de medicamentos do CEAF (Componente Especializado da Assistência Farmacêutica) é feita de forma centralizada e o envio aos Estados é realizado trimestralmente.
Cabe aos Estados, Distrito Federal e aos municípios a responsabilidade por armazenar, controlar estoques e prazos de validade, e também a distribuição e dispensação”, diz a nota do ministério.
A Secretaria Estadual de Saúde completou dizendo que a redistribuição dos medicamentos foi iniciada imediatamente após a chegada do lote comprado pelo governo federal. Na Farmácia de Medicamentos Especializados da Vila Mariana, de acordo com a secretaria, a situação foi normalizada na tarde da segunda-feira (17).
O total de remédios recebidos, ainda segundo a secretaria, é suficiente para atender 15 mil pacientes neste último trimestre do ano.
Fonte: http://noticias.r7.com/saude/falta-de-medicamento-essencial-afeta-milhares-de-transplantados-em-sao-paulo-23102016
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