Diretor-geral da OMS diz que empresas alimentares 'envenenam' pessoas e destaca combate à obesidade
Em evento no Uruguai, Tedros Adhanom defende que países devem ter coragem para promover políticas de prevenção contra as doenças não-transmissíveis, classificação que inclui condições letais como o câncer.
Por Carolina Dantas, G1, Montevidéu
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom,
destacou o combate à obesidade na conferência mundial da entidade sobre
doenças não-transmissíveis, que acontece até sexta-feira (20) em
Montevidéu, no Uruguai.
Condições como o câncer e doenças cardiovasculares estão entre as mais
letais doenças não-transmissíveis (DNTs), e estudos consistentes colocam
a obesidade como um fator de risco para essas enfermidades.
Para Adhanom, “as empresas estão fazendo vista grossa” sobre a questão
da obesidade. Ele defendeu a inserção de informações mais claras nos
rótulos dos produtos, chamando a atenção para a alta taxa de açúcar.
“Em nome do livre comércio, nós permitimos que as empresas [alimentares] envenenem as pessoas. Em nome do entretenimento, as crianças assistem televisão e não brincam mais fora de casa”, disse Adhanom.
“Quando tomaremos posição e pressionaremos os fabricantes desses
produtos?”, questionou. De acordo com o diretor-geral, não se deve
“fechar os olhos” para “os fabricantes que veem as crianças dos países
pobres como uma oportunidade de mercado”.
“Temos que ganhar as batalhas nas cozinhas, nos restaurantes e nos
supermercados. Temos que ter coragem de promover essas políticas”,
completou.
Destaque de política do México
O diretor-geral citou dois exemplos de sucesso no combate à obesidade. O
México aumentou em cerca de 10% o imposto sobre bebidas açucaradas. Um
estudo recente mostrou que o aumento dos preços conseguiu reduzir o
consumo no país.
Há cerca de um ano, a OMS lançou uma campanha para o aumento do imposto em cerca de 20% nesses produtos.
No Brasil, em agosto deste ano, o Instituto Nacional do Câncer defendeu
a medida pela primeira vez – o pedido surge após indicadores
apresentados pelo Ministério da Saúde mostrarem que, nos últimos 10 anos, a prevalência da obesidade no Brasil aumentou em 60%, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016. O excesso de peso também subiu de 42,6% para 53,8% no período.
Evento
Mais de 30 ministros da saúde, diretores da OMS e especialistas em
doenças não-transmissíveis (DNTs) estão reunidos durante os próximos
três dias na conferência no Uruguai. Após a troca de experiências de
sucesso do tratamento das principais enfermidades, a instituição
internacional de saúde irá divulgar um plano de combate às doenças, com
passos e estratégias a serem seguidos por todos os países.
O ministro da Saúde Ricardo Barros, assim como Vera Luiza da Costa e
Silva, brasileira chefe do Secretariado da Convenção-Quadro para o
Controle do Tabaco na OMS desde 2014, também participam do evento.
Doenças
A OMS destaca quatro principais áreas de enfermidades não contagiosas:
câncer, doenças respiratórias, doenças cardiovasculares e diabetes. As
DNTs são responsáveis por quase 70% de todas as mortes do mundo. Quase
três quartos destes óbitos das DNTs ocorrem em países de baixa e média
renda.
As causas dessas doenças, de acordo com a organização, estão
diretamente ligadas a quatro fatores de risco: cigarro, sedentarismo,
uso abusivo de álcool e alimentação não-saudável.
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