segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Uma em cada seis mortes no mundo em 2015 esteve ligada à poluição, diz relatório

Documento organizado por comissão do periódico 'The Lancet' analisou o peso da poluição na saúde. Doenças cardiovasculares, câncer de pulmão e infecções parasitárias figuram entre as condições associadas. 

Por G1
 
Nova Delhi, na Índia, com espessa camada de poluição em imagem de 2016 (Foto: Money Sharma / AFP) 
Nova Delhi, na Índia, com espessa camada de poluição em imagem de 2016 (Foto: Money Sharma / AFP) 
 
A poluição está por trás de 9 milhões de mortes em 2015, o que equivale a aproximadamente uma a cada seis mortes que ocorreram no mundo durante o período, informa relatório organizado pelo periódico científico “The Lancet” publicado nesta quinta-feira (19). 

A poluição do ar respondeu por 6,5 milhões das mortes, a água poluída a 1,8 milhões e a poluição no local de trabalho a 0,8 milhões de óbitos. Segundo o relatório, os números podem ser maiores – já que muitos poluentes químicos emergentes sequer foram identificados. 

A publicação é o resultado de dois anos de projeto de uma comissão organizada pelo “The Lancet” sobre os efeitos da poluição na saúde. Com financiamento da União Europeia, o trabalho envolveu mais de 40 organizações internacionais e foi liderado por Philip Landrigan, médico e pesquisador ambiental na Universidade de Harvard (EUA) e Richard Fuller, fundador da Pure Earth, organização não-governamental.
“A poluição é muito mais do que um desafio ambiental: é uma ameaça profunda e generalizada que afeta muitos aspectos da saúde humana e do bem-estar”, destacou Landrigan, em nota.
Landrigan afirmou ainda, em nota, que a poluição tem sido negligenciada nas agendas globais de saúde e estratégias de controle não estão recebendo financiamento suficiente. 
Protesto contra mortes causadas por poluição em São Paulo em setembro de 2017 (Foto: André Emateguy e Abrãao Cruz/TV Globo) 
Protesto contra mortes causadas por poluição em São Paulo em setembro de 2017 (Foto: André Emateguy e Abrãao Cruz/TV Globo) 

Como a poluição está associada às mortes

Segundo o estudo, a maioria dos óbitos se deve a associação da poluição com as doenças não-transmissíveis (DNTs); entre as mais letais estão as doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica. 

Um evento da Organização Mundial da Saúde no Uruguai que ocorre essa semana reuniu mais 30 ministros da Saúde e especialistas para discutir as DNTs, que respondem a 70% das mortes no globo. 

No caso da poluição da água, as mortes estão mais diretamente associadas com doenças gastrointestinais e infecções parasitárias. 

Em relação às mortes no local de trabalho, o relatório aponta que a maioria dos óbitos se deu com trabalhadores expostos a componentes tóxicos – como é o caso das mortes por pneumoconiose em trabalhadores de carvão, câncer de bexiga em trabalhadores de tintas e câncer de pulmão e outros tipos de câncer em trabalhadores expostos ao amianto. 
Mulher atravessa via movimentada em Pequim, na China, usando máscara para se proteger da poluição em janeiro de 2017 (Foto: AP Photo/Andy Wong) 
Mulher atravessa via movimentada em Pequim, na China, usando máscara para se proteger da poluição em janeiro de 2017 (Foto: AP Photo/Andy Wong)

Industrialização desenfreada empurra números

Quase todas as mortes relacionadas com a poluição (92%) ocorrem em países pobres como Índia, Paquistão, China, Bangladesh, Madagáscar e Quênia. Nessas regiões, o peso da poluição nas mortes pode representar até um em cada quatro óbitos, informa o documento. 

Esses países têm em comum o fato de terem tido uma industrialização rápida e sem o desenvolvimento de políticas que impõem restrições à emissão de poluentes. 

No entanto, segundo o relatório, nenhum país sai ileso dos efeitos deletérios da poluição, já que ela é o resultado de diversas atividades humanas realizadas em ambientes industrializados e urbanos. 

Apesar disso, os países pobres, além de terem mais mortes, também arcam com os maiores custos em saúde -- enquanto sistemas de saúde em países de baixa renda gastam 7% por ano com doenças associadas à poluição, esse número é de 1,7% nos países mais ricos. 

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