MPF-PE pede afastamento do ministro da Saúde
Segundo ação civil pública, o ministro busca "esvaziar" as atribuições institucionais da Hemobrás. Procuradora pede ainda que União mantenha contrato com a fábrica.
Por G1 PE
O Ministério Público Federal em Pernambuco (MPF-PE) entrou com uma ação
civil pública pedindo o afastamento cautelar do ministro da Saúde,
Ricardo José Magalhães Barros. A ação pede ainda a manutenção do
contrato da União com a Empresa Brasileira de Hemoderivados e
Biotecnologia (Hemobrás), impedindo que a fábrica saia de Goiana, na
Zona da Mata Norte do estado, sem embasamento técnico.
A procuradora da República Silvia Regina Pontes Lopes aponta que o
ministro assumiu publicamente o interesse político em levar o "mercado
de sangue" para o Paraná.
De acordo com a ação, o ministro busca "esvaziar" as atribuições da
Hemobrás visando atrair para o Paraná a produção e industrialização de
hemoderivados essenciais ao Sistema Único de Saúde (SUS) e que,
atualmente, são produzidos pela fábrica em Pernambuco.
"O intento do Ministério da Saúde viola frontalmente os princípios da
Administração Pública inscritos na Constituição da República,
notadamente o da eficiência e moralidade", aponta na ação a procuradora.
Segundo o MPF, a ação foi motivada por informações de que o Ministério
da Saúde suspendeu a Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de
Fator VIII recombinante tendo como parceiro responsável pela
transferência de tecnologia a empresa Baxter, além da negociação que vem
sendo feita pelo ministério junto à empresa Octapharma Brasil para a
construção de nova fábrica de hemoderivados e recombinantes em Maringá
(PR).
A procuradora apontou que há impactos financeiros nocivos à Hemobrás
com contratação do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e a cisão
do mercado de fornecimentos de material plasmático, uma vez que "a
conduta de contratação em caráter de urgência da Tecpar é fruto da
omissão do próprio ministro em dar continuidade a projeto de
transferência de tecnologia que implicou investimentos em torno de R$ 1
bilhão".
A ação ressalta ainda que o ministério não analisou a proposta
encaminhada pela Shire, empresa contratada pela Hemobrás para viabilizar
a continuidade da PDP. "A omissão perdura por quatro meses e implica
engavetamento da PDP, ao ferir a legislação que rege o processo
administrativo, que prevê prazo máximo de 30 dias de resposta à
proposta", reforça.
O G1 tenta contato com Ministério da Saúde.
Recomendações
Em agosto, o MPF no estado já havia emitido três recomendações
para impedir a adoção de medidas "sem embasamentos científico, técnico e
legal" relativas à possível transferência da fábrica e mudanças na
Hemobrás.
Na recomendação de agosto, o MPF argumentou que era urgente a
necessidade de adoção de providências pelos órgãos responsáveis para
impedir prejuízos econômicos, financeiros e operacionais à Hemobrás, aos
processos de aquisição de tecnologias e ao interesse público.
Também havia sido recomendado que não fossem aprovadas e nomeadas para
cargos de gestão na Hemobrás ou no Ministério da Saúde pessoas que
tenham vínculos diretos ou indiretos com empresas privadas interessadas
na transferência de tecnologia de processamento de material plasmático
ou de produção de hemoderivados. A Procuradoria ressalta os casos de
pessoas que já tenham atuado em empresas farmacêuticas.
Também consta dos documentos uma determinação para que seja justificada
através de estudos qualquer transferência de tecnologia para
processamento de plasma e hemoderivados para outras empresas, além das
já incluídas no processo, como a Shire Farmacêutica Brasil/Baxter
Hospitalar e a Hemobrás.
O MPF argumenta que essa fundamentação é imprescindível e que a
construção de fábrica da Hemobrás em Goiana já se encontra em estado
avançado.
Investigação
O Tribunal de Contas da União (TCU) também investiga
a decisão do Ministério da Saúde de suspender o contrato de parceria
entre o laboratório irlandês Shire e a estatal Hemobrás. A investigação
visa apurar se houve irregularidade na decisão, que pode ter relação com
a construção de uma outra fábrica, na cidade de Maringá, no Paraná,
base eleitoral do ministro da Saúde, Ricardo Barros. No 4 de outubro, o
TCU determinou cautelarmente ao Ministério da Saúde que torne sem efeito
a suspensão da parceria entre a Hemobrás e a Shire.
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