segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Diretor-geral da OMS diz que empresas alimentares 'envenenam' pessoas e destaca combate à obesidade

Em evento no Uruguai, Tedros Adhanom defende que países devem ter coragem para promover políticas de prevenção contra as doenças não-transmissíveis, classificação que inclui condições letais como o câncer. 

Por Carolina Dantas, G1, Montevidéu
 
Tedros Adhanom fala no Uruguai (Foto: Carolina Dantas/G1) 
Tedros Adhanom fala no Uruguai (Foto: Carolina Dantas/G1) 
 
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, destacou o combate à obesidade na conferência mundial da entidade sobre doenças não-transmissíveis, que acontece até sexta-feira (20) em Montevidéu, no Uruguai. 

Condições como o câncer e doenças cardiovasculares estão entre as mais letais doenças não-transmissíveis (DNTs), e estudos consistentes colocam a obesidade como um fator de risco para essas enfermidades.
Tedros Adhanom (esquerda),  diretor-geral da OMS, com Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai (Foto: Carolina Dantas/G1) 
Tedros Adhanom (esquerda), diretor-geral da OMS, com Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai (Foto: Carolina Dantas/G1) 
 
Para Adhanom, “as empresas estão fazendo vista grossa” sobre a questão da obesidade. Ele defendeu a inserção de informações mais claras nos rótulos dos produtos, chamando a atenção para a alta taxa de açúcar. 

“Em nome do livre comércio, nós permitimos que as empresas [alimentares] envenenem as pessoas. Em nome do entretenimento, as crianças assistem televisão e não brincam mais fora de casa”, disse Adhanom.
“Quando tomaremos posição e pressionaremos os fabricantes desses produtos?”, questionou. De acordo com o diretor-geral, não se deve “fechar os olhos” para “os fabricantes que veem as crianças dos países pobres como uma oportunidade de mercado”. 

“Temos que ganhar as batalhas nas cozinhas, nos restaurantes e nos supermercados. Temos que ter coragem de promover essas políticas”, completou. 
Obesidade infantil foi asssunto de fala do diretor-geral da OMS (Foto: Roos Koole / ANP MAG / ANP/AFP) 
 
Obesidade infantil foi asssunto de fala do diretor-geral da OMS (Foto: Roos Koole / ANP MAG / ANP/AFP)

Destaque de política do México

O diretor-geral citou dois exemplos de sucesso no combate à obesidade. O México aumentou em cerca de 10% o imposto sobre bebidas açucaradas. Um estudo recente mostrou que o aumento dos preços conseguiu reduzir o consumo no país. 

Há cerca de um ano, a OMS lançou uma campanha para o aumento do imposto em cerca de 20% nesses produtos. 

No Brasil, em agosto deste ano, o Instituto Nacional do Câncer defendeu a medida pela primeira vez – o pedido surge após indicadores apresentados pelo Ministério da Saúde mostrarem que, nos últimos 10 anos, a prevalência da obesidade no Brasil aumentou em 60%, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016. O excesso de peso também subiu de 42,6% para 53,8% no período.

Evento

Mais de 30 ministros da saúde, diretores da OMS e especialistas em doenças não-transmissíveis (DNTs) estão reunidos durante os próximos três dias na conferência no Uruguai. Após a troca de experiências de sucesso do tratamento das principais enfermidades, a instituição internacional de saúde irá divulgar um plano de combate às doenças, com passos e estratégias a serem seguidos por todos os países. 

O ministro da Saúde Ricardo Barros, assim como Vera Luiza da Costa e Silva, brasileira chefe do Secretariado da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco na OMS desde 2014, também participam do evento.

Doenças

A OMS destaca quatro principais áreas de enfermidades não contagiosas: câncer, doenças respiratórias, doenças cardiovasculares e diabetes. As DNTs são responsáveis por quase 70% de todas as mortes do mundo. Quase três quartos destes óbitos das DNTs ocorrem em países de baixa e média renda. 

As causas dessas doenças, de acordo com a organização, estão diretamente ligadas a quatro fatores de risco: cigarro, sedentarismo, uso abusivo de álcool e alimentação não-saudável. 

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