24/11/2016 07h44
- Atualizado em
24/11/2016 15h23
Mãe descobre microcefalia em bebê depois de um mês de vida, no Ceará
Caso fez parte de estudo inédito feito no Ceará e Pernambuco.
Cientistas detectam manifestação da microcefalia após o nascimento.
Arthur nasceu sem nenhum sintoma aparente de microcefalia (Foto: Michel Victor/ G1 CE)
“O meu filho nasceu com 33 cm [de circunferência do cérebro], mas na maternidade onde ele nasceu os exames foram todos normais, a minha alta foi normal. Antes do parto, o pré-natal foi tranquilo, minhas ultrassonografias todas foram normais. A descoberta [da doença] se deu a partir do início do surto, quando vi no noticiário da TV e fiquei com aquela coisa na cabeça”, conta a mãe, universitária de 22 anos.
O exame seguinte foi uma tomografia e mais uma vez, nenhum diagnóstico da doença. O pediatra pediu, então, que fosse feita uma ressonância magnética. “Neste exame, foi confirmado o diagnóstico de microcefalia. O laudo indicou que ele tinha pequenas calcificações e corpo caloso do cérebro reduzido”, explica a mãe.
O corpo caloso é uma estrutura cerebral que faz a conexão entre os dois hemisférios (direito e esquerdo) do cérebro dos seres humanos. De acordo com os especialistas, lesões no corpo caloso podem provocar diversos problemas como dificuldades na orientação de direção, problemas relacionados à linguagem, dificuldades em reconhecimento de objetos visuais e dificuldades de diferenciação dos dois lados do corpo.
A descoberta da doença posterior ao nascimento fez do menino um dos casos analisados em estudo publicado pelos Centros de Controle e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês). O descreve 13 casos - onde em em Pernambuco e dois no Ceará - de bebês cujas mães tiveram zika durante a gravidez. No Ceará, o estudo foi feito no hospital infantil Albert Sabin.
Os pesquisadores já sabiam que o zika podia causar problemas no desenvolvimento cerebral mesmo quando não havia sinais externos de microcefalia. Mas o novo trabalho é o primeiro a mostrar o desenvolvimento dos sintomas após o nascimento.
Cristiane não lembra de ter tido zika durante a gestação. "Cerca de 80% das pessoas que são infectadas pelo vírus zika não desenvolvem os sintomas da doença. Isso também ocorre em grávidas, que têm filhos aparentemente saudáveis, mas que só descobre a patologia ao acompanhar a redução do tamanho da cabeça dos filhos", explica o neurogeneticista do Albert Sabin, André Luiz Santos Pessoa, um dos coordenadores do estudo no Ceará, com a coautoria da médica Erlane Marques Ribeiro, do mesmo hospital.
Arthur completou um ano em novembro
(Foto: Michel Victor/ G1 CE)
(Foto: Michel Victor/ G1 CE)
“Destes, 11 desenvolveram microcefalia mais tarde", afirmaram os cientistas. "Este crescimento anormalmente lento da cabeça foi acompanhado por sérias complicações neurológicas”. A pesquisa mostra, ainda, que todos os bebês acompanhados tinham problemas de motricidade similares aos de uma paralisia cerebral. Como os bebês foram observados durante o primeiro ano de vida, as deficiências cognitivas não puderam ser observadas.
O neurogeneticista diz, porém, que a exposição ao vírus zika não é determinante para que os bebês desenvolvam a doença e o estudo não indica a incidência com que a microcefalia pode se desenvolver depois do nascimento.
Diante do resultado das pesquisas, os especialistas alertam para que os obstetras realizem tomografias cerebrais nos fetos expostos ao vírus zika durante a gravidez e que alertem os pais para que façam o acompanhamento médico do desenvolvimento do bebê nos meses posteriores ao nascimento. Os autores do trabalho são de 17 instituições brasileiras e americanas.
Fonte: http://g1.globo.com/ceara/noticia/2016/11/mae-descobre-microcefalia-em-bebe-depois-de-um-mes-de-vida-no-ceara.html
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