Espiritualidade entra nos consultórios de cardiologia
Era
para ser uma entrevista sobre a saúde do coração, mas que acabou se
tornando uma discussão sobre a crescente importância do tema
espiritualidade nos consultórios. O cardiologista Roberto Esporcatte,
professor-adjunto de cardiologia da Uerj (Universidade do Estado do Rio
de Janeiro) e coordenador da unidade coronariana do Hospital
Pró-Cardíaco, também é vice-presidente do Gemca, o Grupo de Estudos em
Espiritualidade e Medicina Cardiovascular. A iniciativa vem ampliando o
número de participantes e ganhou apoio da Sociedade Brasileira de
Cardiologia em seu 71º. congresso, ocorrido em setembro.
“Não
estamos falando especificamente de religião, que se baseia na ausência
de dúvidas, em crenças que abrem mão de qualquer tipo de prova. A
espiritualidade pode ser entendida como a busca pessoal de um propósito
para a vida, de uma transcendência, que envolve também as relações com a
família, com a sociedade e a natureza. Pode contar ou não com elementos
religiosos. O médico não pode deixar de interagir com o paciente sob
esse aspecto. A abordagem serve inclusive para aqueles que estão no
grupo não religioso, como agnósticos ou ateus”, afirma Esporcatte.
Ele
diz que conhecer os valores espirituais do paciente deveria fazer parte
da anamnese, principalmente no caso da cardiologia, quando se lida com
tratamentos complexos que precisam do engajamento do doente. “É claro
que isso não se aplica quando alguém vem ao consultório para avaliação
de risco cirúrgico para se submeter a uma lipoaspiração. Mas, no caso de
uma doenças graves como insuficiência cardíaca avançada, câncer ou
demência, tudo muda de figura, tanto para os pacientes como para seus
familiares. Essa é uma demanda que parte deles”, acrescenta.
Segundo
o médico, inúmeros estudos vêm demonstrando que indivíduos com maior
religiosidade ou espiritualidade apresentam menor incidência de muitas
doenças. Além disso, esse grupo consome menos álcool e tabaco e tem
menos sintomas depressivos.
“Acredito
que conhecer melhor as religiões passará a fazer parte da prática
médica, é uma barreira que os profissionais vão ter que transpor. A fé é
uma força poderosa na vida dos indivíduos, mas este é um fator
desconsiderado pela saúde pública. Compaixão e cuidado devem caminhar
juntos”, finaliza o doutor Roberto Esporcatte.
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