terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Municípios passam a ser obrigados a fazer levantamento de infestação por Aedes

Parte dos municípios já realizavam de forma rotineira o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa). Decisão entra em vigor nesta sexta-feira.

 
A partir de agora, todos os municípios serão obrigados a fazer o levantamento de infestação pelo mosquito Aedes aegypti. A informação deverá ser enviada para as secretarias estaduais de Saúde que, por sua vez, repassarão os dados para o Ministério da Saúde. 

A decisão, publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (27), determina que municípios com mais de 2 mil imóveis realizem o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa). Municípios com menos de 2 mil imóveis devem realizar o Levantamento de Índice Amostral (LIA). Os levantamentos têm o objetivo de identificar a porcentagem de imóveis que apresentam criadouros de mosquito em cada cidade. 

Já municípios que não são infestados pelo mosquito devem fazer o monitoramento por ovitrampa ou larvitrampa, armadilhas que permitem identificar se existem mosquitos pondo ovos na região. 

Muitos municípios já realizam esse tipo de levantamento rotineiramente. Em 2016, por exemplo, 62,6% dos municípios com mais de 2 mil imóveis realizaram o LIRAa e repassaram os dados para as autoridades estaduais e federais. A partir dessas informações, o Ministério da Saúde colocou em alerta de risco para dengue, zika e chikungunya 855 cidades brasileiras. 

Em 2016, até 24 de dezembro, o Brasil registrou 1.976.029 casos prováveis das três principais doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti no Brasil: 1.496.282 de dengue, 265.554 de chikungunya e 214.193 de zika. 

Em dezembro, o Ministério da Saúde já tinha anunciado que o repasse da segunda parcela de uma verba de R$ 152 milhões destinada ao combate do Aedes só seria feito para os municípios que tivessem feito o LIRAa ou o LIA. 

A resolução publicada nesta sexta-feira foi assinada pela Comissão Intergestores Tripartite, composta pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, pelo presidente do Conselho Nacional de Secretários da Saúde, João Gabbardo dos Reis, e pelo presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Mauro Guimarães Junqueira. 

A incrível história da mulher que sobreviveu sem pulmão por seis dias

Canadense de 33 anos, que sofria de fibrose cística, foi submetida a procedimento inédito em Toronto enquanto esperava por transplante.

 
Médicos no Canadá conseguiram manter viva por seis dias uma mulher que teve os pulmões retirados à espera de um transplante. 

Segundo o Toronto General Hospital, o procedimento é inédito e foi a única solução encontrada para salvar a vida de Melissa Benoit, de 33 anos. Foi feito em abril e foi descrito em um artigo publicado na revista médica Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery. 

Portadora de fibrose cística, doença crônica que entope os pulmões com muco, ela estava na fila para um transplante, mas desenvolveu uma grave infecção que se espalhou pelo corpo e a deixou à beira da morte.

Incrédula

Os médicos, então, decidiram retirar os pulmões de Melissa (com autorização de seu marido) e a manter viva com a ajuda de aparelhos que oxigenaram seu sangue e o ajudaram a circular. Como tinha sido posta em coma induzido, Melissa só soube o quão perto esteve da morte quando despertou após a cirurgia. 

"Não acreditei quando meu marido e meu pai me contaram e demorei bastante para entender tudo", contou ela ao jornal canadense The Globe and Mail. 

Niall Ferguson, diretor do Departamento de Cuidados Críticos do hospital, contou que a situação de Melissa era severa por causa da infecção: seus pulmões estavam entrando em colapso e ela tinha acessos de tosse tão fortes que fraturara costelas. Os antibióticos não surtiam efeito e mesmo quando ela foi entubada a saúde continuou a piorar. 

Foi quando os médicos decidiram retirar os pulmões.

"Ela estava morrendo, tínhamos que fazer algo. Foi uma decisão difícil porque faríamos algo nunca antes tentado. Havia uma série de riscos", conta Ferguson. 

Mas a família de Melissa não hesitou em dar permissão para o procedimento, que durou nove horas e envolveu um equipe cirúrgica de 13 pessoas. Shaf Keshavjee, um dos médicos envolvidos, disse que a sorte da canadense começou a mudar naquele momento. 

"Vinte minutos depois de tirarmos os pulmões, a pressão arterial de Melissa tinha se normalizado. Mas não sabíamos quanto tempo poderíamos mantê-la viva. E tampouco se levaria um dia ou um mês para termos novos pulmões. Então, tivemos que pensar dia a dia até que um doador compatível surgisse", explica Keshavjee. 

Melissa vinha de meses de internações e ficou tão enfraquecida que sequer conseguiu levantar as mãos quando despertou da cirurgia em que recebeu o novo pulmão. 

"A única coisa que ela podia fazer era mostrar a língua", disse ao jornal a mãe da paciente, Sue Dupuis. 

"E era a única maneira de os comunicarmos com ela. Pedi que ela nos desse algum sinal de que podia nos ouvir e ela pôs a língua para fora". 

E foi apenas um mês depois do transplante que Melissa percebeu o que era ter novos pulmões. 

"Foi quando percebi que podia respirar novamente em vez de tossir o tempo todo." 

Em uma entrevista coletiva dada no hospital no início da semana, Melissa pediu que os canadenses doem mais órgãos. 

"Sem meu doador e sua família, nada que os médicos fizeram poderia me salvar. A doação me deu uma segunda chance de viver". 

A canadense não quer pensar em muita coisa além de tomar conta da filha, Olívia, de dois anos, e se deliciar com as comidas preferidas depois de meses a fio se alimentando com uma sonda gástrica. 

Maioria dos afogamentos acontece em lugares conhecidos pelas vítimas

A maioria dos incidentes aquáticos acontecem com pessoas que desconheciam as normas ou por ausência de equipamentos de segurança. Não necessariamente acontece por imprudência das vítimas.

Tem chovido muito esses dias e quando a chuva não para, as ruas são tomadas pela enxurrada, causando risco de afogamento. Recentemente, em São Paulo, um homem foi levado pela água e ficou preso debaixo do carro. Infelizmente, ele morreu afogado. 

O Bem Estar desta sexta-feira (27) convidou o diretor médico da Sociedade de Salvamento Aquático Dr. David Spilzman para explicar como socorrer uma pessoa no meio da enxurrada. Já o ortopedista Ivan Rocha derruba mitos sobre acidentes na água. Por exemplo, se você acha que as pessoas se machucam porque pularam de uma altura muito grande, você está enganado. E a maioria dos acidentes acontece justamente em lugares onde a pessoa estava acostumada a frequentar. 

Saiba mais
A maioria dos incidentes aquáticos (afogamentos, lesões medulares por mergulho em águas rasas, sugamentos em piscinas) ocorrem em pessoas que desconheciam as normas de segurança ou por ausência de equipamentos de segurança e não necessariamente por imprudência das vítimas. 

Onde ocorrem as lesões: a coluna vertebral é mais suscetível em áreas de transição. A junção crânio vertebral, cervicotorácica e do tórax com a lombar são as mais afetadas por serem o encontro de uma região rígida com uma região móvel da coluna. Nelas há uma concentração de estresse mecânico e também uma alteração no padrão de movimento. O trauma rompe o "circuito elétrico" da coluna, que manda as informações do cérebro para os membros. 

Cuidado: Em rio, não nade contra a correnteza. Se estiver em perigo, boie. Na praia, cuidado com pedras e costões. Em casa, qualquer recipiente de água deve ser esvaziado ou isolado das crianças. 

A melhor prevenção é sempre o colete salva-vidas. Em caso de ver alguém se afogando, forneça flutuação (boia). Remova a pessoa da água somente se for seguro para você. Use uma corda fixada numa estrutura firme, um cabo de limpador de piscina, etc. Coloque a cabeça da pessoa de lado, promova a ventilação e a massagem cardíaca. Leve para o hospital se for necessário e peça ajuda pelo 193. 

Atleta descreve como viu olho sair da órbita em jogo de basquete – e continuou enxergando

Jogador de equipe neozelandesa teve olho arrancado acidentalmente durante partida de liga profissional, mas deverá voltar às quadras em breve.

Um jogador de basquete diz estar enxergando normalmente depois de seu olho sair da órbita durante uma partida. 

Akil Mitchell, que joga pelo New Zealand Breakers, participava de um jogo da Liga Nacional Australiana de Basquete (NBL), em Auckland, quando teve olho deslocado acidentalmente pelo dedo de um adversário. 

Mitchell, que é americano, foi levado com urgência ao hospital. 

"Com a palma da minha mão, senti que meu olho esquerdo estava quase na minha bochecha", contou o jogador à New Zealand Radio Sport. 

"Eu ainda conseguia enxergar. Lembro que fiquei assustado, ainda mais depois de sentir que o olho estava fora do lugar". 

O americano de 24 anos, disse ter temido perder a visão e lembrou de como colegas e mesmo o público entraram em pânico. 

"Na ambulância, os paramédicos me deram analgésicos e colocaram colírio. Senti quando colocaram o olho de volta no lugar, o que foi um sentimento estranho". 

"Foi um sentimento incrível poder piscar de novo". 

Mitchell teve alta ainda na quinta-feira, e fez piada com a própria situação ao usar o emoji de um par de olhos em um post no Twitter para dizer que estava bem. 

Saiba quais são as cidades em que a vacinação contra a febre amarela é recomendada

Procura por vacina no estado aumentou após a confirmação de três mortes causadas pela doença no estado.

27/01/2017 18h21

O Ministério da Saúde listou municípios onde a população deve se vacinar contra a febre amarela. Em São Paulo, o número de casos preocupa porque a região norte do estado é uma área de risco e apresentou casos letais da doença. 

A Secretaria Estadual da Saúde investiga 10 casos suspeitos de febre amarela no estado de São Paulo. 

Destes, três pessoas morreram. Todas as vítimas estiveram neste ano em Minas Gerais, estado que enfrenta um surto da doença. 

De acordo com a pasta, há três mortes confirmadas pela doença, sendo um caso importado de Minas Gerais (com notificação em Santana do Parnaíba) e dois contraídos no estado (autóctones), nos municípios de Batatais e Américo Brasiliense, no interior.
Casos de febre amarela em SP
  • Investigados: 10
  • Mortes investigadas: 3
  • Mortes confirmadas: 3

Vacina

A pasta ainda informa que, no último semestre de 2016, recebeu 1,7 milhão de doses da vacina do Ministério da Saúde e somente neste mês foram enviadas mais 400 mil doses. 

A vacina é contraindicada para crianças menores de 6 meses, idosos acima dos 60, gestantes, mulheres que amamentam, crianças de até 6 meses, pacientes em tratamento de câncer e pessoas imunodeprimidas. 

No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que a vacina contra a febre amarela seja tomada duas vezes. 

Para crianças, uma dose aos 9 meses e outra, aos 4 anos. Para adultos, o intervalo entre as duas doses deve ser de 10 anos. 

Quem for viajar para outro país, vale a regra da Organização Mundial da Saúde, que mudou há pouco tempo e agora só exige uma única dose pela vida toda. 

Notificações de suspeita de febre amarela no país chegam a 555

87 das notificações foram confirmadas e 442 estão em investigação. Dos 107 óbitos notificados, 42 estão confirmados e 65 são investigados. MG segue sendo o estado mais afetado.

 
Novo informe do Ministério da Saúde, atualizado nesta sexta-feira (27), aponta que o país tem 555 casos suspeitos de febre amarela, 5 a mais que no balanço do dia anterior. Do total, 442 casos permanecem em investigação, 87 foram confirmados e 26 descartados. Dos 107 óbitos notificados, 42 foram confirmados e 65 ainda são investigados. 

Os casos foram identificados em Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal -- este último, no entanto já descartou todos seis os casos notificados. Minas Gerais continua sendo o estado com o maior número de registros até o momento: 504 notificados, 83 confirmados,19 descartados e 402 em investigação. 

Goiás, que na quinta-feira aparecia no balanço com apenas um caso, agora aparece com 2, ambos ainda em investigação.

Vacinação

Moradores ou pessoas que pretendem visitar regiões silvestres, rurais ou de mata devem se vacinar no Sistema Único de Saúde (SUS). A transmissão da doença, que ocorre pela picada dos mosquitos Haemagogus e Sabathes nessas regiões, é possível em grande parte do território brasileiro. O Aedes aegypti também é transmissor da febre amarela, mas apenas em área urbana. 

Vale lembrar que, em situações de emergência, a vacina pode ser administrada já a partir dos 6 meses. O indicado, no entanto, é que bebês de 9 meses sejam vacinados pela primeira vez. Depois, recebam um segundo reforço aos 4 anos de idade. A vacina tem 95% de eficiência e demora cerca de 10 dias para garantir a imunização já após a primeira aplicação. 

Pessoas com mais de 5 anos de idade devem se vacinar e receber a segunda dose após 10 anos. Idosos precisam ir ao médico para avaliar os riscos de receber a imunização. 

Por causar reações, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda a vacina para pessoas com doenças como lúpus, câncer e HIV, devido à baixa imunidade, nem para quem tem mais de 60 anos, grávidas e alérgicos a gelatina e ovo. 

Febre amarela chegará a outros estados do Brasil, diz OMS

Organização Mundial de Saúde informou que, por enquanto, não há evidências de o que Aedes aegypti esteja participando das transmissões do atual surto. 

 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que o atual surto de febre amarela deverá chegar a outros estados do Brasil. Até agora, casos da doença foram notificados nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Distrito Federal (todos descartados), Goiás e Mato Grosso do Sul. 

A OMS informou ainda que, pelo menos por enquanto, não há evidências de que o Aedes aegypti esteja transmitindo o vírus, causando uma expansão urbana. Os casos confirmados são registrados nas zonas silvestres, rurais e de mata, com transmissão por meio dos mosquitos Haemagogus e Sabethes. 

No entanto, o risco de que indivíduos viajem para áreas de dentro ou fora do Brasil onde os mosquitos Aedes estejam presentes foi assumido pela organização. 

"Espera-se que casos adicionais sejam detectados em outros estados do Brasil devido ao movimento interno de pessoas e de macacos infectados, além do baixo nível de cobertura vacinal em áreas que antes não estavam em risco de transmissão de febre amarela", disse o boletim

O Ministério da Saúde informou nesta semana que reforçará o estoque de vacinas da doença em 11,5 milhões de doses.

Vacinação

Moradores ou pessoas que pretendem visitar regiões silvestres, rurais ou de mata devem se vacinar no Sistema Único de Saúde (SUS). A transmissão da doença, que ocorre pela picada dos mosquitos Haemagogus e Sabathes nessas regiões, é possível em grande parte do território brasileiro. O Aedes aegypti também é transmissor da febre amarela, mas apenas em área urbana. 

Vale lembrar que, em situações de emergência, a vacina pode ser administrada já a partir dos 6 meses. O indicado, no entanto, é que bebês de 9 meses sejam vacinados pela primeira vez. Depois, recebam um segundo reforço aos 4 anos de idade. A vacina tem 95% de eficiência e demora cerca de 10 dias para garantir a imunização já após a primeira aplicação. 

Pessoas com mais de 5 anos de idade devem se vacinar e receber a segunda dose após 10 anos. Idosos precisam ir ao médico para avaliar os riscos de receber a imunização. 

Por causar reações, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda a vacina para pessoas com doenças como lúpus, câncer e HIV, devido à baixa imunidade, nem para quem tem mais de 60 anos, grávidas e alérgicos a gelatina e ovo. 

'Mais importante que saber operar é saber quando não operar': as confissões de neurocirurgião best-seller

Neurocirugião britânico Henry Marsh diz que a maioria dos erros médicos ocorrem fora da sala de cirurgia.

"É preciso três meses para aprender a fazer uma cirurgia, três anos para saber quando é preciso fazê-la e 30 anos para saber quando não se deve fazer uma operação", diz, por telefone, em um tom meio sério meio jocoso, o renomado neurocirugião britânico Henry Marsh. 

Essas palavras, na verdade, são de um antigo ditado que costuma circular entre cirurgiões ingleses, mas sintetizam com perfeição sua visão após 35 anos de experiência. 
 
"Quando se é jovem, o médico quer operar todo mundo. É otimista, entusiasta. Depois, começa a acumular resultados ruins e a entender que uma operação não é solução para tudo." 

Os fracassos vão parar no "cemitério que todos os cirurgiões carregam consigo", citação do médico francês René Lariche que abre o livro de Marsh, Sem Causar Mal - Histórias de Vida, Morte e Neurocirurgia (Editora nVersos). Lançado em 2014, foi escolhido como um dos melhores livros do ano pelos jornais The New York Times, Financial Times, Washington Post e pela revista The Economist.

'Quanto mais se pratica, maior é o cemitério'

No "cemitério particular" de Henry Marsh há muitas pessoas. Ali vive, por exemplo, uma menina ucraniana que, embora tenha sobrevivido a uma complicada cirurgia no cérebro, saiu da sala de operação em más condições e com tão pouca chance de recuperação que Marsh chegou a questionar se era hora de parar de trabalhar. 

O neurocirurgião, que ainda acompanha à distância a evolução do quadro de saúde da menina, admite que cometeu um erro de "excesso de confiança" em si mesmo. 

Mas, embora esse caso o tenha afetado profundamente, ele conseguiu não se deixar paralisar. "Se martirizar pelo que aconteceu é inútil", afirma o médico. 

A franqueza com que Marsh narra em seu livro casos reais com os quais já lidou em sua carreira é fascinante e ao mesmo tempo aterrorizante. 

Os detalhes de cada história, os relatos das conversas com pacientes e as anedotas sobre o que acontece num hospital, às vezes até com uma pitada de humor, são descritos com precisão, graças a um diário que o médico manteve por uma década. 

Por vezes, quando a mulher de Marsh, a escritora e antropóloga Kate Fox, lhe perguntava o que tinha feito naquele dia no trabalho, o médico costumava abrir o computador e ler para ela fragmentos do diário. Foi Kate quem disse: "isso podia ser um livro".

Erros médicos

De acordo com Marsh, a maioria dos erros médicos ocorrem fora da sala de cirurgia. "Muitas vezes as pessoas têm a impressão de que erros estão relacionados à estabilidade do pulso do cirurgião, o que é uma bobagem", diz categórico. "As coisas não caem da sua mão nem você corta o que não deveria... isso acontece, mas é muito, muito raro", complementa. 

Quase sempre, explica o médico, erros ocorrem na tomada de decisões anteriores, quando tratam de questões sobre operar ou não o paciente, ou que tipo de operação será feita e como ela vai ser executada. 

"Pela minha experiência, quando algo vai mal, quase sempre é porque se tomou a decisão equivocada", avalia o médico. 

É durante o processo de decisão que os cirurgiões enfrentam grandes dilemas. Às vezes, têm de optar por aquilo que no jargão médico é chamado de "sacrifícios": causar algum dano para evitar danos ainda maiores.

Em seu livro, Henry Marsh descreve, por exemplo, o caso de uma mulher que teve extraído um tumor cerebral benigno, mas, no processo, a deixaram com dor facial crônica. 

"Isso é um tipo de decisão que você faz antes da operação", explica ele.

Adrenalina

O livro de Marsh também traz dados curiosos sobre a textura do cérebro, que se parece uma massa branca gelatinosa, sobre o melhor amigo de um neurocirurgião - não é o bisturi, mas um aspirador - e explica que muitas cirurgias cerebrais são feitas com anestesia local, com o paciente acordado enquanto tem a cabeça vasculhada. 

Mesmo com 35 anos de experiência no currículo, Marsh admite que ainda fica nervoso antes de uma operação, especialmente se algo deu errado na última cirurgia similar à que está prestes a fazer. 

Ele conta que tudo é muito tenso e exige uma concentração absoluta. "E isso, de muitas formas, é viciante", admite. 

"A gente faz cirurgia porque é emocionante, é emocionante!", enfatiza, destacando a adrenalina, emoção e ansiedade como partes importantes de se operar.

Médico tem que ser bom ator

Do ponto de vista do paciente, contudo, o que se espera de um médico é algo diferente dessa explosão de sentimentos. 

"É muito importante aparentar calma e mostrar que está seguro. Não há nada mais assustador para um paciente que um cirurgião ansioso", diz ele. "E isso é um dos problemas de ser um médico: você tem que ser um bom ator, para os pacientes e para si mesmo." 

Tradicionalmente, os cirurgiões não falam sobre seus erros. Na verdade, acredita Marsh, não seria possível ter escrito esse livro com a mesma honestidade em outro momento de sua carreira. 

Sem Causar Mal foi publicado quando Marsh estava se aposentando como neurocirurgião sênior no Hospital Universitário de St. Georges, em Londres, onde trabalhava há mais de três décadas. 

O médico, que ainda trabalha como professor, admite que a cultura a respeito do nível de honestidade que se espera dos médicos está mudando. "Eu mesmo mudei", diz ele. "Nós afastamos da ideia de que os médicos são deuses e sempre sabem mais e melhor."

Verdade aterrorizante

Questionado sobre quanta informação realmente pode ser dada a um paciente ou aos familiares quando algo é realmente grave, Marsh responde que não pode dizer toda a verdade. "É muito difícil. A verdade é aterrorizante", afirma. 

Ele se defende dizendo que não há certezas absolutas na medicina e que tudo o que os médicos fazem é baseado em probabilidades. 

"Se você diz a um paciente que há uma chance de 10% de morrer, vai aterrorizá-lo e ainda vai ter que fazer a operação. A maneira como apresenta a informação é muito importante porque você tem que preservar a esperança e confiança, e também a honestidade, e isso é muito difícil." 

"Eu sempre tentei ser honesto. Mas... Eu tenho certeza que, em algum momento no passado, eu menti um pouco", ele admite. "Há grandes mentiras e pequenas mentiras". 

Marsh observa que os médicos muitas vezes não sabem o que as famílias e os pacientes acharam da forma como a notícia lhes foi repassada e, por isso, é muito difícil de aprender passar bem as informações mais complicadas. 

No caso de Marsh, ajudou muito estar do "outro lado", como paciente, e também quando seu filho fez uma cirurgia para tirar um tumor no cérebro. O menino ainda era um bebê e ele um médico residente.

Arrogância

Marsh responde com um robusto sim quando perguntado se já teve que dizer a algum paciente que cometeu um erro. 

"Eu digo às pessoas para me denunciarem quando acho que cometi um erro grave. Eu fiz isso três vezes", ele admite. 

Uma dessas situações está no livro. "Não é fácil fazer isso", diz ele. 

Por lei, no Reino Unido, hospitais têm que respeitar "dever de sinceridade", no qual é necessário informar e pedir desculpas aos doentes se houve erros que causaram danos significativos. 

Mas, em países Reino Unido e Estados Unidos, médicos não são responsabilizados financeiramente se houver denúnica. Mas, de acordo com Marsh, eles têm medo sim de admitir erros. É uma questão de vergonha. 

"Se você entrar na sala de operação cheio de dúvidas, você não pode operar", diz ele. Talvez por isso, de acordo com Marsh, tradicionalmente, cirurgiões normalmente são arrogantes e têm um "ego grande". 

"Em parte, é um mecanismo de auto-defesa, para enfrentar a incerteza e poder fazer um trabalho perigoso. 
 
Domingo, 29/01/2017, às 06:00,

O que fazer com filhos frios e distantes? Toni Erdmann sabe.

O que fazer quando nos deparamos com filhos adultos que se transformaram em seres desprovidos de calor humano e empatia? Certamente não há uma receita para isso, mas o filme alemão “Toni Erdmann”, favorito entre os cinco finalistas ao Oscar estrangeiro, se propõe a tratar disso de forma divertida e, ao mesmo tempo, comovente. Ainda bem que ficou entre os finalistas, porque só assim vai ter a chance de entrar no circuito comercial das salas de exibição – e o público terá o prazer de conhecer essa história de pai e filha, mas que também fala sobre a identidade: quem somos, o que achamos que somos, o que gostaríamos de ser, como os outros nos veem.
Winfried Conrad, vivido pelo austríaco Peter Simonischek, de 70 anos, é um professor de música que nunca pautou a vida pela ambição. Diverte-se com os pequenos acontecimentos do dia a dia e adora pregar peças nas pessoas. Toni Erdmann é uma espécie de alter ego, um personagem totalmente inconveniente que ele cria usando dentes falsos e peruca. A cena inicial do filme já dá uma boa ideia do seu perfil. Winfried/Toni atende um mensageiro com uma encomenda mas, em vez de recebê-la, diz que o pacote é para um irmão que foi preso por provocar explosões e pode conter substâncias proibidas. É o bastante para deixar o entregador em pânico.

Seu grande desafio será reaproximar-se da filha, Inês, interpretada pela alemã Sandra Hüller. Ela é uma executiva obcecada por trabalho que parece esculpida em gelo, totalmente distante da família. Mora em Bucareste, onde tenta pavimentar a carreira para ser transferida para o Oriente, sem se importar com os sentimentos alheios. Winfried leva a sério um convite protocolar para visitá-la e aparece na capital romena para uma temporada. A recepção é gélida e ele incorpora o “Toni-sem-noção” que vai se infiltrar no trabalho e na intimidade de Inês: faz-se passar por diplomata, empresário e coach, sempre com um sorriso meio demente e os dentes postiços enormes. Os dois acabam vivendo situações absurdas, cada uma delas funcionando como um ringue no qual pai e filha se enfrentam. O ápice acontece numa sequência antológica do brunch para comemorar o aniversário dela. Inês surta, mas o gelo é quebrado. A reflexão vale mesmo para quem não pretenda pôr em prática plano tão radical: quando nossos filhos se tornam estranhos para nós?

Maren Ade, diretora e roteirista do filme, foi a sensação do 69º Festival de Cannes. “Toni Erdmann” é seu terceiro filme, mas agora parece que ela será catapultada além do círculo de cinéfilos. Toni é uma homenagem ao cômico americano Andy Kaufman, criador de Tony Clifton (de onde veio o nome do protagonista), personagem capaz de dizer as maiores barbaridades. Em entrevistas dadas durante o festival, ela contou que, anos atrás, ganhou dentes falsos na estreia de “Austin Powers”. Deu de presente para o pai, que gostava de divertir as pessoas, e acabou aproveitando a experiência no projeto cinematográfico. Maren levou os rebentos, de 4 anos e seis meses, para Cannes – além de marido, pais e sogros – e não parece sofrer das limitações afetivas que retratou em seu longa.

Segunda-feira, 30/01/2017, às 06:00,

Vacina da febre amarela: orientações necessárias

Todos têm acompanhado as notícias sobre este surto de febre amarela que, segundo as últimas estatísticas brasileiras, apresenta o maior número de casos dos últimos 30 anos.

Há uma vacina e as filas já começaram. Em várias regiões do Brasil há pessoas dormindo em barracas ou em cadeiras para garantir sua senha da vacina e já houve quem vendeu a própria senha para ganhar um dinheiro a mais.

Por isso, alguns esclarecimentos sobre a vacina da febre amarela são importantes e se fazem necessários neste momento em que todos ainda tem dúvidas sobre quem pode, quem deve e quem não pode nem deve receber a vacina.

- Quem deve receber a vacina da febre amarela?

Pessoas de 6 meses a 60 anos de idade que moram ou que vão viajar para regiões de risco. A zona próxima ao litoral do Brasil está fora da região de febre amarela. Importante saber que quem vai viajar deve receber a vacina pelo menos 10 dias antes da viagem.

- Pessoas com mais de 60 anos não podem receber a vacina?

Podem sim, desde que estejam em boas condições de saúde. Isso porque a vacina tem efeitos colaterais que podem ser importantes para as pessoas mais idosas. Por isso, o benefício da vacina deve ser maior do que o risco dos efeitos colaterais. Quem tem mais de 60 anos, está em dúvida sobre suas condições de saúde e mora ou vai viajar para região de risco deve conversar com o médico.

- E os bebês com menos de 6 meses?

Estes não devem receber a vacina sob nenhuma hipótese. Também não podem usar repelentes na pele. Portanto, para sua proteção, recomenda-se o uso de telas, mosquiteiros e repelentes de tomada, desde que o berço fique  pelo menos a 2 metros de distância do dispositivo.

- E as gestantes? E as mães que estão amamentando?

Em princípio a vacina é contraindicada para as gestantes e para quem está amamentando. Pode haver exceções, apenas sob liberação médica.

- Tomei a vacina. Quanto tempo depois posso engravidar?

Depois de ter tomado a vacina, o ideal é aguardar 30 dias para engravidar.

- Quem não pode tomar a vacina?

Quem tem alguma contraindicação. As mais importantes são: imunossupressão, seja por doenças ou medicamentos e alergia à proteína do ovo, ou à gelatina ou ao antibiótico eritromicina.

- Quantas doses são necessárias?

São necessárias 2 doses, com intervalo de 10 anos, para imunizar. Portanto, adultos que já receberam 2 doses NÃO precisam tomar mais nenhuma dose.

As crianças com menos de 5 anos e que nunca receberam a vacina podem receber a primeira dose a partir dos 6 meses e uma dose de reforço próximo aos 5 anos de idade.

- Não me lembro de tomei a vacina. Tomo de novo?

Se você não se lembra se tomou ou a data da sua última vacina, e mora ou vai viajar para região de risco, é melhor receber outra dose. No entanto, se você tem CERTEZA de que já recebeu pelo menos DUAS doses da vacina ao longo da sua vida, então NÃO precisa mais de nenhuma dose. Teoricamente você tem proteção por toda a vida.

- Quais os principais efeitos colaterais da vacina?

A febre é um dos efeitos colaterais mais evidentes e frequentes. Pode acontecer até 5 dias  após a aplicação. A vacina pode dar também dor muscular, sensação de cansaço e dores de cabeça. Outras reações como a encefalite, por exemplo, são mais raras.

- Meu filho acabou de tomar uma outra vacina do calendário vacinal. Posso dar a da febre amarela ou é  melhor esperar?

Crianças ou adultos que acabaram de receber uma vacina, principalmente se tiver sido a do sarampo, rubéola, caxumba ou catapora, que também são de vírus vivos e atenuados, devem guardar um intervalo de pelo menos 4 semanas para dar a vacina da febre amarela.

- Meu filho está com febre. Posso dar a vacina ou espero?

Crianças ou adultos que estão com qualquer processo febril devem aguardar a melhora para receber a vacina. Exceções podem ser feitas, sempre sob orientação médica.

Como a descrença de cirurgiões leva pacientes resistentes a anestesia a sentirem dores terríveis

Pesquisadores tentam descobrir por que alguns pacientes são resistentes à anestesia local.

Os médicos reagiram com espanto a Tori Lemon. Ela tinha ido até a clínica Mayo, em Jacksonville, na Flórida, para remover um lipoma - um comum tumor benigno formado por tecido adiposo logo abaixo da pele - que tinha se desenvolvido em seu cotovelo. 

Ela precisava de uma anestesia local para o procedimento, mas nada parecia dar certo. 

"Eles usaram todos os jeitos e todos os remédios diferentes que tinham, mas nada funcionou", contou. 

Steven Clendenen, anestesiologista na clínica, lembra da paciente. "Os nervos estavam inundados com anestesia local, mas não funcionou." 

A equipe médica pode até ter ficado surpresa, mas aquilo não era novidade para Lemon. Ela sempre teve esse problema: resistência à anestesia local. 

A primeira vez que notou isso foi décadas atrás, aos sete anos de idade, numa ida ao dentista. 

"Eles começaram a trabalhar e eu, obediente, só levantei a mão para que eles soubessem 'estou sentindo isso'", lembrou. 

Outra injeção de anestesia local não fez efeito. 

"No fim eu só gritei e chorei o tempo todo." 

Clendenen, que observou de perto os efeitos da resistência à anestesia em Lemon, decidiu investigar o problema. Ele descobriu várias histórias na literatura médica relatando estranhos casos de pacientes que diziam que a anestesia local não fazia efeito. 

Ninguém sabe direito o que acontece com essas pessoas - ou seja, qual mecanismo causa a resistência ou qual seria o melhor remédio contra ela. 

Mas um novo estudo genético de Lemon e da família dela pode ajudar a descobrir o que provoca isso.

Uma doença - e algumas pistas

Alan Hakim e seus colegas no University College Hospital de Londres foram alguns dos primeiros cientistas a divulgar esses casos. 

Hakim atuava em uma clínica para pessoas que sofrem da síndrome de Ehlers-Danlos, um grupo de doenças genéticas muito raras caracterizadas por problemas no tecido conjuntivo, que leva a fadiga, hipermobilidade das juntas e a uma pele que se fere facilmente. 

Ele descobriu que alguns desses pacientes também relatavam resistência à anestesia local. 

"Ficou óbvio para nós que esso era uma pergunta que deveríamos fazer a todos os pacientes da clínica", lembra Hakim, um dos autores de um relatório sobre as descobertas em 2005. 

Onze anos depois de escrever sobre o problema, ele conta que ainda não houve uma pesquisa médica formal sobre as causas da resistência a anestesia local nesses casos, apesar de já existirem algumas teorias. 

Uma hipótese é que o tecido desses pacientes é um pouco diferente das pessoas que não têm a síndrome, e isso poderia afetar a absorção das substâncias anestésicas. 

A anestesia local funciona ao interromper os canais que conduzem íons positivos de sódio - e com eles a sensação de dor - para as células nervosas. Mas ainda restam questões a respeito desse processo. 

Descobrir todos os detalhes pode explicar a razão de alguns pacientes reagirem melhor a alguns medicamentos - por exemplo, articaína ao invés de lidocaína. 

Uma teoria proposta para a maior eficácia da articaína, por exemplo, é que ela é mais solúvel em gordura (lipídios) e, por isso, se espalha melhor por cada membrana do nervo. 

Também é possível que os nervos dos pacientes estejam em um lugar um pouco diferente do normal - alguns dentistas, por exemplo, conseguiram contornar o problema mudando o local da injeção. 

Às vezes a anestesia local é injetada no tecido abaixo da pele (em um processo chamado de infiltração). Em outras, é injetada no nervo ou perto dele (bloqueio do nervo). 

Um dentista pode usar o bloqueio do nervo se for fazer algum trabalho de perfuração, por exemplo. 

Mas faltam dados concretos sobre o assunto - alguns artigos sobre as razões da resistência a anestésicos em pacientes que sofrem da síndrome de Ehlers-Danlos não entram em detalhes. 

"Eles não são específicos, não falam se é a técnica de infiltração ou a técnica de bloqueio do nervo (que falhou)", apontou Joel Weaver, um anestesiologista odontológico na Ohio State University, nos Estados Unidos. Assim como outros na área, ele pede mais pesquisas. 

Hakim afirma que o trabalho que fez junto a seus colegas aumentou a conscientização entre médicos e dentistas, mas muitos até hoje nunca ouviram falar e até duvidam da existência do problema.

Só dez minutos

Jenny Morrison, uma enfermeira especializada no tratamento de pacientes com a síndrome de Ehlers-Danlos - e que também tem o problema -, já se deparou com médicos e dentistas céticos. 

"(A anestesia) Funciona por alguns minutos e o efeito passa muito rápido. Em algumas pessoas, não funciona de jeito nenhum mas, para mim, dura cerca de dez minutos." 

Alguns de seus pacientes já contaram que médicos e dentistas simplesmente não acreditam quando eles dizem: "anestesia local não funciona comigo". 

Uma organização britânica especializada no problema, a Ehlers-Danlos UK, publicou informações que os pacientes podem mostrar aos médicos para explicar o problema. 

Morrison afirma que isso pode ajudar, mas a mudança real na percepção dos médicos e dentistas só virá quando uma grande pesquisa confirmar a existência do fenômeno em uma quantidade considerável de pacientes. 

"Acho que até termos um certo nível de prova disso, será muito difícil fazer os médicos aceitarem", afirmou.
Lori Lemon disse que também passou por isso. 

Além dos problemas com o dentista e outros procedimentos mais recentes, ela cita outras experiências dolorosas durante cirurgias. Lembra, em particular, de um cateterismo cardíaco, procedimento no qual um longo tubo passa por uma veia do paciente até chegar ao coração. 

"Senti tudo. E, de novo, isso não é algo pelo qual um paciente deveria ter que passar."

Mutação

Existe algo surpreendente no caso de Lemon: ela nunca foi diagnosticada com Síndrome de Ehlers-Danlos. 

Por isso, Steven Clendenen está tentando descobrir se podem existir outras razões para a resistência dela aos anestésicos. 

O filho dele, Nathan, da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, sugeriu que pode haver uma causa genética. O resultado da pesquisa da equipe é um novo estudo indicando que a resistência a anestesia pode ser mais comum do que imaginávamos. 

Eles perguntaram a outros membros da família de Lemon se eles passaram pelo mesmo problema e descobriram que a mãe dela e uma meia-irmã por parte de mãe também pareciam ter a mesma resistência, apesar de nelas ela não parecer tão forte. O pai não sofria do problema. 

O passo seguinte seria analisar o DNA dos familiares de Lemon e, quando Clendenen e seus colegas fizeram isso, descobriram um problema genético relacionado a um canal de sódio específico no corpo, conhecido como sódio 1.5. 

O gene afetado, chamado SCN5A, produz uma proteína chamada NaV1.5, que é um grande componente desse canal. 

Esse tipo de mutação é conhecida como uma mutação "de troca de sentidos", o que significa que um dos aminoácidos na proteína é diferente em pessoas com essa diferença genética. 

O resultado é que a funcionalidade da proteína pode ser afetada. Uma mutação parecida significa que as pessoas com anemia falciforme, por exemplo, têm hemoglobina anormal - a proteína que carrega o oxigênio no sangue. 

"Analisamos a genética disso e foi tipo 'uau' - (a mãe dela) tinha o mesmo defeito", contou Clendenen. A meia-irmã maternal também, mas o pai, que não tem resistência à anestesia, não tinha. 

Os canais sódio 1.5 só foram estudados em detalhe em tecido cardíaco, não nos nervos periféricos onde a anestesia local é aplicada. 

Um teste químico mostrou rapidamente que os canais sódio 1.5 estavam presentes nos nervos periféricos. 

Então, um problema genético relacionado a esses canais poderia, em tese, inibir a anestesia nestas áreas do corpo. 

Não está clara qual a diferença que essa mutação causa, mas pode ser que ela faça os canais de sódio ter mais chances de permanecerem abertos, permitindo o fluxo de sinal do cérebro apesar da aplicação de anestesia local. 

O anestésico geralmente inibe o fluxo de sódio e, com isso, impede que o sinal de dor chegue ao nervo. Mas Clendenen admite que os detalhes desse mecanismo ainda são um mistério.

Casos parecidos

Depois de apresentar sua pesquisa em uma conferência recente, Clendenen disse que vários médicos contaram casos de pacientes com uma resistência ainda não explicada à anestesia local. 

Um dos profissionais que procuraram o pesquisador chegou a contar que fez cinco anestesias locais de bloqueio de nervo no mesmo paciente, mas nada funcionou. 

Alan Hakim afirmou que a pesquisa é "fascinante". Para ele, identificar as diferenças genéticas que potencialmente afetam canais de íons no sistema nervoso pode ser útil para ajustar os tratamentos para pacientes que têm o defeito e sofrem de resistência à anestesia. 

"Pode ser muito decisivo em termos de determinar que tipo de remédio você poderá usar e a eficácia dele", explicou. 

Mas Hakim lembra que apenas uma família foi pesquisada - o resultado precisa ser replicado com mais pessoas. 

Clendenen, por sua vez, conta que o próximo passo da pesquisa é examinar mais pessoas que reclamam de resistência à anestesia local para verificar se elas também têm essa peculiaridade genética. 

Ele também quer examinar o comportamento de anestésicos locais em células que apresentam esse defeito genético. 

Lori Lemon é só elogios ao trabalho de Clendenen e à Clínica Mayo. 

Ela lembra o quanto seu problema a deixou com "medo" de contar aos médicos que algo poderia dar errado caso ela precisasse de cirurgia. 

A paciente encara a situação com bom-humor. 

"Me sinto como um dos X-Men, tenho uma mutação", brinca. 

Para aqueles que tiveram que aguentar procedimentos invasivos sem contar com nenhum alívio da dor ou encarar uma anestesia geral para uma simples cirurgia no dentista, uma nova esperança pode estar surgindo. 

"É muito importante divulgar isso. As pessoas não acreditam (nesses pacientes) e é muito frustrante. Até alguns de meus colegas, com quem conversei, falam 'não acredito'", disse Clendenen.

Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/como-a-descrenca-de-cirurgioes-leva-pacientes-resistentes-a-anestesia-a-sentirem-dores-terriveis.ghtml