Doença da urina preta' foi causada por intoxicação após ingestão de peixe, diz estudo
Amostras de pacientes não apresentaram vírus ou bactérias após análise em laboratório.
Os mesmos pesquisadores que identificaram o vírus da zika na Bahia
acabam de concluir um estudo sobre a “doença da urina preta”, que
registrou mais de 50 casos no mesmo estado entre dezembro e janeiro. Os
médicos concluíram, por exclusão, que os casos ocorreram por intoxicação
após a ingestão de peixe, o que desencadeia a chamada doença de Haff.
Quatorze das 15 pessoas que relataram os
sintomas informaram que consumiram peixe – a maioria olho de boi
(Seriola spp) e badejo (Mycteroperca spp). A 15ª pessoa disse que comeu
comida baiana, o que possivelmente poderia incluir essas espécies.
Com isso, segundo Antonio Carlos Bandeira, da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), um dos autores do artigo, a possibilidade de um novo vírus
ou bactéria relacionada com a doença fica praticamente descartada na
região.
Nas amostras, no entanto, não foi possível determinar a substância que
causou a intoxicação. De acordo com Bandeira, um pedaço de peixe que foi
ingerido por uma paciente foi encaminhado ao Ministério da Saúde, que
por sua vez enviou o material para um laboratório dos Estados Unidos. O
resultado ainda não foi divulgado.
Doença de Haff
Junto com Bandeira, outros 11 pesquisadores assinam o artigo que foi
encaminhado a revistas internacionais.
No mesmo estudo também estão
incluídos os resultados do pesquisador Gúbio Soares, também da UFBA, que a princípio teve forte suspeita para um vírus.
A doença de Haff é caracterizada por um início abrupto de dor muscular
intensa associada a níveis elevados da enzima creatina fosfoquinase
(CPK). Esses sintomas aparecem menos de 24 horas após a ingestão de
peixe – além da dor, a urina fica preta e há insuficiência renal. Em
casos anteriores, considera-se que uma toxina presente no peixe tenha
causado a doença, mas a maioria das investigações não conseguiu
identificar o agente da intoxicação.
Os primeiros casos de doença de Haff foram descritos pela primeira vez
em 1924, na Rússia e na Suécia, e envolveram o consumo de diferentes
peixes de água doce. Nos Estados Unidos, ocorreram relatos no Texas, em
1984, após o consumo de búfalo de água doce cozido (Ictiobus
cyprinellus) e, em 1997, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças
(CDC) relataram seis casos adicionais de doença em pacientes da
Califórnia e do Missouri.
Em 2001, dois casos foram registrados após a ingestão de salmão
atlântico cozido na Carolina do Norte e, em 2014, foram publicados
relatos de casos individuais. A China também relatou algumas ocorrências
da doença em 2010, devido à ingestão de lagostins.
No Brasil, um surto de 27 casos de doença de Haff já ocorreu em 2008,
durante 4 meses no estado norte do Amazonas. Os peixes de água doce
pacu-manteiga (Mylossoma duriventre), tambaqui (Colossoma macropomum) e
pirapitinga (Piaractus brachypomus) foram os causadores.
Há uma diferença entre os casos anteriores da doença e o mais recente
na Bahia: de acordo com Bandeira, os peixes consumidos desta vez são de
água salgada, ao contrário dos relatos anteriores nos Estados Unidos,
Suécia, Rússia e inclusive no Brasil.
Até agora, o Ministério da Saúde não divulgou outros resultados de pesquisas referentes aos casos encontrados na Bahia.
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