Saúde
O Brasil gasta US$ 8 milhões por ano para tratar males provocados pelo alcoolismo
É o que estima um levantamento organizado pelo Ministério da Saúde com oito doenças. Segundo os pesquisadores, o valor tende a aumentar
RAFAEL CISCATI
11/11/2016 - 18h22 - Atualizado 11/11/2016 20h22
Os brasileiros bebem demais. Ao menos, é o que diz a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Num ranking de consumidores de álcool, divulgado pela OMS em 2014, o
Brasil ocupava a 53ª posição em um universo de 195 países. Se todo o
álcool consumido no Brasil fosse dividido pelos brasileiros com mais de
15 anos, cada um teria para si cerca de 8 litros para beber em um ano. A
quantidade talvez não o assuste, mas está acima da média mundial, de
6,2 litros por pessoa.
Esses números preocupam porque o consumo excessivo de álcool é apontado como causa importante para o desenvolvimento de 200 enfermidades.
Males que variam de cirrose a câncer de mama. Um levantamento
organizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (Uerj) e da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde tentou estimar qual o impacto financeiro de tratar essas doenças
associadas ao alcoolismo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Algo em torno de US$ 8,2 milhões por ano. O esforço foi coordenado pelo professor Denizar Vianna, da Uerj.
Há anos, Vianna e seus colegas tentam estimar os custos gerados pelo tratamento de doenças crônicas para o SUS. Problemas provocados por obesidade ou diabetes e que, em alguns casos, poderiam ter sido evitados por meio de ações de prevenção e mudança de hábitos. Nos últimos anos, Vianna diz ter começado a dar mais atenção para o alcoolismo: “Nós temos dois grandes problemas de saúde com os quais vamos ter de lidar neste século”, diz o professor. “Um deles é a obesidade, e todas as questões relacionadas a ela. O outro problema é o alcoolismo, cujo peso tende a aumentar.”
Tomado de maneira moderada, o álcool pode ser benéfico:
“Ele confere uma coisa chamada proteção cardiovascular”, diz Vianna.
Faz bem ao coração. É o argumento que ampara a recomendação de tomar uma
taça de vinho por dia, por exemplo (além do álcool, o vinho reúne
outras substâncias que, em quantidades modestas, podem fazer bem). O
consumo seguro – embora esses limites possam variar de acordo com cada
organismo – vai até os 25 gramas diários de álcool. É o que cabe em uma
taça, diluído em meio aos outros componentes da bebida. Acima disso, o
álcool deixa de ser benéfico para se tornar potencialmente deletério.
Quantidades acima de 25 gramas por dia podem aumentar os riscos de a
pessoa desenvolver certos tipos de câncer.
Para avaliar o impacto do alcoolismo no sistema de saúde, os pesquisadores primeiro selecionaram quais doenças, dentre as mais comuns na população brasileira, têm maiores chances de ser provocadas pelo consumo de álcool além da conta. Cirrose, por exemplo, foi a doença – dentre os males estudados – com maiores chances de ser provocada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Oito doenças foram selecionadas: câncer de laringe, câncer de orofaringe, câncer de esôfago, câncer de fígado, câncer de mama, hipertensão, cirrose e pancreatite crônica. Tratar essas doenças custa aos cofres públicos brasileiros, anualmente, US$ 344 milhões. Deste total, 2,4% são atribuídos ao tratamento de casos que foram provocados pelo alcoolismo – US$ 8.262.762,00 por ano, na estimativa dos pesquisadores.
Para avaliar o impacto do alcoolismo no sistema de saúde, os pesquisadores primeiro selecionaram quais doenças, dentre as mais comuns na população brasileira, têm maiores chances de ser provocadas pelo consumo de álcool além da conta. Cirrose, por exemplo, foi a doença – dentre os males estudados – com maiores chances de ser provocada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Oito doenças foram selecionadas: câncer de laringe, câncer de orofaringe, câncer de esôfago, câncer de fígado, câncer de mama, hipertensão, cirrose e pancreatite crônica. Tratar essas doenças custa aos cofres públicos brasileiros, anualmente, US$ 344 milhões. Deste total, 2,4% são atribuídos ao tratamento de casos que foram provocados pelo alcoolismo – US$ 8.262.762,00 por ano, na estimativa dos pesquisadores.
É difícil estabelecer se isso é muito ou pouco porque, segundo Vianna,
não é possível comparar o gasto brasileiro com o investimento feito por
outros países com o mesmo fim. Países diferentes têm estruturas de custo
diferentes – os preços dos medicamentos e aparelhos usados em
tratamentos variam. Mesmo assim, diz Vianna, é importante prestar
atenção a esse valor: “Nós fizemos um recorte – esse é o custo de tratar
somente oito doenças”, diz ele. O valor não inclui, ainda, os prejuízos
provocados por motoristas alcoolizados nem o tratamento de pessoas que
sofrem com dependência alcoólica.
Para Vianna, é importante prestar atenção para a questão porque cresce o número de brasileiros que bebem em excesso. Segundo dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, no período entre 2006 e 2012, cresceu em 31% o número de pessoas com mais de 15 anos que consomem mais de 4,5 doses de bebida alcoólica em duas horas – um comportamento que os pesquisadores chamam de “beber em binge”. Justamento o comportamento que pode trazer prejuízos – para a saúde individual e para as contas públicas. “Não se trata de condenar o consumo de álcool”, diz Vianna. “Mas é importante estar atento para os malefícios de beber demais.”
Para Vianna, é importante prestar atenção para a questão porque cresce o número de brasileiros que bebem em excesso. Segundo dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, no período entre 2006 e 2012, cresceu em 31% o número de pessoas com mais de 15 anos que consomem mais de 4,5 doses de bebida alcoólica em duas horas – um comportamento que os pesquisadores chamam de “beber em binge”. Justamento o comportamento que pode trazer prejuízos – para a saúde individual e para as contas públicas. “Não se trata de condenar o consumo de álcool”, diz Vianna. “Mas é importante estar atento para os malefícios de beber demais.”
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