A pergunta de quase cem anos sobre o mal de Parkinson que acaba de ser respondida
Doença atinge, em geral, pessoas com mais de 60 anos e gera tremores e dificuldades nos movimentos; segundo cientistas, o sistema imunológico pode estar contribuindo para a evolução dela nos pacientes.
Uma equipe científica diz ter encontrado a primeira evidência direta de
que o mal de Parkinson pode ser "autoimune". Segundo cientistas, o
sistema imunológico atacaria células do cérebro em pessoas que sofrem da
doença.
Essa hipótese surgiu pela primeira vez há quase um século, mas até agora não havia informações suficientes para confirmá-la.
A descoberta foi publicada em detalhes na revista científica Nature e
mostra que medicamentos indicados para o sistema imunológico podem
ajudar a controlar a doença.
O mal de Parkinson causa danos progressivos no cérebro, que geram
tremores e dificuldades de movimento. Em paralelo, o cérebro dos
pacientes que sofrem da doença acumula níveis muito altos da proteína
alfa-sinucleína.
Os pesquisadores do centro médico da Universidade Columbia e do
Instituto de La Jolla para Alergia e Imunologia, nos EUA, descobriram
que as células-T, que fazem parte do sistema imunológico, atacam a
alfa-sinucleína.
Isso significa que o sistema imunológico de quem sofre do mal de
Parkinson identifica essa proteína como um invasor estranho, como se
fosse uma bactéria ou vírus, e ataca-a para defender o organismo.
Os cientistas acreditam que, nesse processo, o sistema imunológico
acaba matando também células cerebrais boas que acumulam essas
proteínas.
"A ideia é que uma falha no sistema imunológico contribui para o mal de
Parkinson. Isso é algo que já se suspeitava havia quase cem anos",
disse à BBC David Sulzer, um dos pesquisadores da Universidade Columbia.
"Até agora, porém, ninguém havia conseguido conectar os pontos".
A pesquisa foi feita com análise do sangue de 67 pacientes com Parkinson para tentar encontrar evidências de autoimunidade.
Outras hipóteses
Sulzer acredita que esse estudo tem forte elo com outra hipótese sobre o
mal de Parkinson: a de que a doença poderia ter início no intestino.
"Suspeitamos que as células-T primeiro identificam a alfa-sinucleína no
sistema nervoso do intestino, o que não causa nenhum problema. O
problema começa quando as células-T entram no cérebro", explicou Sulzer.
"Nossos resultados sugerem a possibilidade de utilizar-se uma
estratégia com imunoterapia para aumentar a tolerância do sistema
imunológico com relação à alfa-sinucleína, o que poderia ajudar a
melhorar ou prevenir o agravamento dos sintomas do mal de Parkinson",
agregou o médico Alessandro Sette, da La Jolla.
Para David Dexter, da organização beneficente Parkinson UK, a
descoberta dá maior peso à ideia de que o mal de Parkinson pode envolver
uma "falha" ou "confusão" do sistema imunológico, que acaba danificando
células boas do cérebro para combater a proteína que identifica como
invasora.
No entanto, ele faz uma ressalva. "Ainda temos que entender muito mais
sobre como esse sistema imune pode estar envolvido na complexa cadeia de
eventos que contribuem para o mal de Parkinson."
"Essa descoberta apresenta uma nova via para explorar o desenvolvimento
de novos tratamentos que podem amenizar ou até controlar o progresso da
doença", afirmou Dexter.
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