Com foco na prevenção, projeto quer dar qualidade de vida a albinos
Programa Pró-Albino atende, gratuita e periodicamente, 200 pessoas com albinismo, na Santa Casa de São Paulo. É o primeiro e único projeto deste tipo no país.
O Programa Pró-Albino, da Santa Casa de São Paulo, atende gratuitamente
mais de 200 brasileiros portadores de albinismo, hoje em dia. São
pessoas nascidas em diversos cantos do país, que buscam atendimento
especializado e acolhimento social.
O projeto, ainda experimental, foi criado pelo oncodermatologista
Marcus Maia, em 2010. A ideia é interligar especialidades médicas -
oncologia, dermatologia, oftalmologia e psicologia, por exemplo - para
oferecer acompanhamento completo e periódico a albinos. É o único
programa médico inteiramente dedicado a essas pessoas no Brasil.
"Pacientes albinos chegavam aqui com câncer de pele muito avançado. A
falta de proteção ao sol e uma pele muito clara, como é o caso dos
albinos, é o fator desencadeante. Eles chegavam muitas vezes com risco
de vida. Então, nós pensamos, naquela oportunidade: não é este,
exatamente, o paciente que eu quero.
Eu quero conhecer o albino antes do
câncer, para que a gente possa orientá-lo, para evitar que ele chegue
nessas condições", explica o médico.
É justamente a prevenção do câncer de pele, frequentíssimo entre os
albinos, a maior preocupação dos médicos do programa, conta a
coordenadora do Pró-Albino, Carolina Marçon. Quanto mais cedo e assíduo o
cuidado para evitar a doença, melhor a condição de vida dos albinos.
"Se eles cuidarem, se eles usarem protetor adequadamente, tomarem todos
os cuidados, eles chegam na idade adulta com a pele perfeita. Assim,
conseguem ter uma vida normal, como qualquer um", comenta a
dermatologista.
Nas cadeiras de espera do quinto andar de um dos prédios da Santa Casa,
onde funciona o Pró-Albino, mistura-se todo o tipo de gente com
albinismo: jovens universitários, senhoras, bebês, famílias quase
inteiras.
Todos eles passam por uma bateria de exames nas salinhas do
hospital, geralmente de dois em dois meses, e, caso necessário, recebem
tratamento imediato, ali mesmo.
Uma das técnicas mais comuns é a crioterapia, na qual se usa nitrogênio
líquido, em temperatura abaixo de zero, para matar as células
cancerígenas e reverter lesões de pele. Outro método corriqueiro é a
reposição de vitamina D, substância fundamental na prevenção de doenças
como osteoporose, raquistismo, diabetes e problemas vasculares, cuja
principal fonte é o sol.
Para os olhos, a grande jogada é o diagnóstico precoce, afirma o
coordenador de oftalmologia do Pró-Albino, Ronaldo Sano. "O
desenvolvimento visual das crianças ocorre principalmente nos sete
primeiros anos de vida. E, mais importante, nos três primeiros anos de
vida. O diagnóstico precoce desses pacientes, dando melhores condições e
estimulação visual desde cedo, faz com que eles tenham um
desenvolvimento mais rápido nessa primeira infância e resulte em melhor
visão".
A estimulação visual passa pelo uso adequado de óculos, exercícios
visuais com objetos coloridos e com a procura de objetos e exames
periódicos. "Se você fala que um albino vai melhorar em torno de 10% a
sua visão, para a gente que enxerga 100%, 10% é muito pouco. Mas nesses
pacientes, que enxergam 10%, 10% a mais é dobrar essa visão. Temos que
fazer o máximo que conseguimos por eles", diz o médico.
O músico João Paulo Santos, paciente do Pró-Albino, conta que o
atendimento especializado e as orientações oferecidas no programa
renderam melhor qualidade de vida a ele. Na infância e adolescência,
vividas sob o sol forte do interior de Minas Gerais, ele teve problemas
sérios de saúde por não conhecer sua condição.
"Quando criança, eu nem sabia que era albino. Meus pais não tinham
nenhum conhecimento também. Como eu vim de família humilde, eu tinha que
ajudar em casa. Um dos meus primeiros trabalhos foi de vender sorvete
na rua. Ficava exposto ao sol e sem proteção alguma. Também jogava bola,
ia para as represas, para os rios. À noite, vinha a consequência:
queimaduras, febre muito alta. Já cheguei a passar uma boa temporada no
hospital".
Santos conta que, aos 15 anos, teve queimaduras de terceiro grau,
causadas pela radiação solar, que renderam uma internação de 25 dias. Na
época, ele trabalhava capinando quintais. "Com uns 15, 16 anos, eu
trabalhava nessa parte de limpar quintais, exposto, ou recolhendo lixo.
Era uma forma que eu tinha de ganhar dinheiro e ajudar minha família.
Infelizmente, por não conhecer as consequências, eu não pensava nelas".
A dona de casa Aparecida de Souza, de 43 anos, conta que, ao chegar ao
Pró-Albino e se deparar com dezenas de outras pessoas iguais a ela,
sentiu-se acolhida. Ela é filha de agricultores e teve pouca informação
sobre o albinismo até conhecer o programa.
"Eu tinha preconceito de mim mesma. Eu mesma não me aceitava albina,
achava que a minha família era a única albina. Quando eu comecei a fazer
o tratamento, que eu comecei a ver, eu comecei a me aceitar melhor,
porque eu via que não era só agente que era diferente".
A desinformação custou cara para Aparecida. Ela diz ter perdido as
contas de quantos tumores de pele já teve - só na região da cabeça,
foram cinco -, todos curados com a ajuda dos médicos da Santa Casa.
"Graças a Deus, encontrei uma equipe médica muito boa, que cuidou de
mim com muito carinho. Cheguei perto de morrer, mas, dali para cá, não
parei mais de fazer o tratamento. Agora dá para levar a vida tranquila,
na boa", comemora.
Além de médico, o Pró-Albino tornou-se um programa, fundamentalmente,
social. "Nós percebemos que o programa era muito mais do que pele, muito
mais do que oftalmologia. Você está agrupando um grupo que não tinha
proteção, que não tem onde se orientar, onde se conhecer. Esse foi o
aspecto gregário que aconteceu. O grande problema do albino, além de
proteger a pele, a proteção dos olhos, é a inclusão social", diz Marcus
Maia.
- Programas pedagógicos adequados
- Proteção solar
- Orientação profissional com atenção às limitações oftalmológicas
- Erradicação do preconceito
"Pretendemos levar esse projeto para o Brasil inteiro, nos outros
serviços de dermatologia, de oftalmologia, e com isso garantir a
assistência médica e, consequentemente, outros tipos de assistência,
como a inclusão social do paciente", planeja.
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