quarta-feira, 19 de julho de 2017

'Achavam que ele não passaria de 6 semanas': o mal raro que ameaça vida de jovem durante o sono

Transtorno genético faz com que britânico Liam Derbyshire, hoje com 18 anos, possa parar de respirar quando perde a consciência.

Por BBC
 
Liam respira normalmente durante o dia, mas precisa de um respirador quando dorme (Foto: BBC) 
Liam respira normalmente durante o dia, mas precisa de um respirador quando dorme (Foto: BBC) 
 
Quando Liam Derbyshire nasceu, os médicos disseram que ele não viveria mais de seis semanas. 

Em alguns meses, porém, o britânico chegará aos 18 anos. Mas sua vida esteve longe ser confortável. 

Liam é uma das cerca de 1,5 mil pessoas no mundo que sofrem de uma enfermidade rara chamada síndrome de hipoventilação central congênita. 

Trata-se de uma anomalia que afeta o sistema nervoso central e autônomo, fazendo com que o portador deixe de respirar espontaneamente quando dorme. 

A condição também é conhecida como "maldição de Ondina", em referência à mitologia germânica - é o nome de uma ninfa que amaldiçoa um humano que a traiu com um feitiço que o mataria se ele dormisse. 

Na vida real, Liam só pode dormir com ajuda de um respirador. "Sem essa máquina, ele não estaria vivo", diz a mãe do adolescente, Kim.

Rotina de sustos

O transtorno genético afeta as funções vitais básicas do jovem, como a pressão sanguínea, o ritmo cardíaco e a respiração. 
Liam Derbyshire quando bebê; pais ouviram dos médicos que o bebê não chegaria a sobreviver dois meses (Foto: Família Derbyshire) 
Liam Derbyshire quando bebê; pais ouviram dos médicos que o bebê não chegaria a sobreviver dois meses (Foto: Família Derbyshire) 
 
A síndrome o coloca sob risco grande de danos aos órgãos, especialmente o cérebro. Liam tem ainda dificuldades de aprendizagem, e a família vive uma rotina de incertezas, sem saber se o rapaz pode sofrer uma convulsão ou desmaiar. 

Ele dorme em uma cama especial, equipada com uma placa que detecta seus espasmos e ativa o respirador, que obriga os pulmões do jovem a exalar. Alguém precisa estar sempre por perto caso algo dê errado. 

O mal tem graus distintos de gravidade. Nas variações mais leves, os pacientes podem dormir, mas têm um sono pouco reparador. 

A versão da qual Liam sofre, porém, é muito grave. Segundo a mãe, o caso se torna ainda mais raro à medida que o filho envelhece, pois ele foi desenganado pelos médicos ainda bebê. 
O adolescente tem dificuldades de aprendizado, mas constrói complexos modelos de Lego (Foto: BBC) 
O adolescente tem dificuldades de aprendizado, mas constrói complexos modelos de Lego (Foto: BBC) 
 
Os especialistas não sabem como a doença afetará sua capacidade de aprendizagem a longo prazo. 

"Não sabemos qual é seu estado mental", diz o pai do jovem, Peter. 

"Desconhecemos o espectro: não sabemos onde começam e onde terminam suas habilidades." 

O quarto do rapaz parece um quarto de hospital. Fios e utensílios médicos se misturam com construções de Lego, a grande paixão de Liam. 

A mãe conta que o jovem constrói sozinho veículos elétricos complexos, com milhares de peças. 

"Meu pai só me ajuda com os cabos", contou ele à BBC, com uma voz suave e quase sussurrante. 
 
"Somos uma prova de que sempre há esperança", diz Peter, o pai de Liam (Foto: BBC)

Esperança

Kim diz que o filho é um rapaz como qualquer outro - "irritante e resmungão", brinca ela. 

Irmãos e sobrinhos o ajudam a ter alguma vida social. 

"Ninguém sabe qual é sua expectativa de vida", diz Peter.
"Se tivéssemos escutado os médicos, ele não estaria vivo agora", complementa a mãe. 

"Nunca pensamos realmente que ele viveria tantos anos. Somos uma prova de que sempre há esperança." 

O pai reconhece que o filho jamais poderá ser totalmente independente. "Mas conosco ele será o mais independente possível." 

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