Mais de 200 índios venezuelanos são transferidos de áreas de risco para abrigos em Manaus
Índios Warao se instalaram na capital do Amazonas para fugir da fome na Venezuela.
Por Adneison Severiano, G1 AM, Manaus
A escassez de alimentos na Venezuela levou indígenas da etnia Warao a deixarem suas aldeias e partirem para o Brasil. Manaus se tornou um dos principais refúgios desses imigrantes.
Cinco novos abrigos foram abertos nesta sexta-feira (14), em bairros da
capital amazonense. Os espaços devem abrigar 240 venezuelanos
transferidas de casas alugadas em áreas que apresentam risco de tráfico
de drogas e prostituição.
Após a chegada dos indígenas venezuelanos, desde o início deste ano,
os órgãos governamentais e movimentos religiosos passaram a atuar no
acolhimento dos refugiados, que estavam pedindo esmolas nas ruas e
morando em situação insalubre. Eles chegaram a ocupar a Rodoviária de
Manaus e viadutos por algumas semanas.
Um Centro de Acolhimento, localizado na Zona Leste, foi criado em junho. Foram levados para o local 263 indígenas venezuelanos,
que passaram a contar com alimentação, assistência médica e moradia.
Porém, outros 240 indígenas permaneceram em quartos alugados no Centro. A
maioria ficou na Rua Quintino Bocaiuva, pagando entre R$ 10 e R$ 30 por
dias. Com doações, as famílias viviam em espaços pequenos, sem
ventilação e em péssimas condições de higiene.
Em razão da situação insalubre dos índios que ainda estavam em antigos cortiços,
famílias de imigrantes começam a ser transferidas para os abrigos que
serão subsidiados pela Cáritas e a Prefeitura de Manaus.
Os venezuelanos foram levados para cinco imóveis alugados: um no
Centro, um no bairro Cidade Nova II, Educandos, Vale do Sinai e
Redenção.
A Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Direitos Humanos
(Semmasdh) explicou que a medida é para reduzir os riscos da exposição
dos imigrantes indígenas ao tráfico de drogas e prostituição.
"Estamos tirando essa população dessa área de pressão tanto da
prostituição quanto do tráfico de drogas, distribuindo em cinco
endereços diferentes. Em cada um desses lugares, tivemos a preocupação
com a Igreja Católica de referenciar essas habitacionais com a
proximidade de escolas, unidades de saúde, Cras [Centro de Referência da
Assistência Social] e Creas [Centro de Referência Especializado de
Assistência Social]. Para que eles possam ter uma assistência completa
com inclusão em programas sociais para dar autonomia para aquelas
famílias que querem ficar em Manaus", disse o secretário da Semmasdh,
Elias Emanuel.
Busca por sobrevivência
O indígena Alírio Peres, de 28 anos, está há quase oito meses em
Manaus. O venezuelano e mais quatro familiares se mudaram para capital
amazonense em busca de sobrevivência.
Peres foi levado para morar em um casarão na Rua Sá Peixoto, no bairro
Educandos, Zona Sul. O imóvel com três pavimentos abrigará 20 pessoas. O
novo abrigo tem banheiros, cozinha e área de recreação para crianças.
Longe de sua terra natal, os imigrantes agradeceram a ajuda do povo
brasileiro.
"Na Venezuela não tem comida e temos que voltar para lá com falta de alimentos. Agora, estamos melhor nessa casa e as crianças poderão brincar. No Centro era muito difícil, agradeço a ajuda de todos", disse o indígena, que já consegue falar algumas palavras em português.
Recursos
O Governo Federal prometeu repassar R$ 720 mil para ajudar no custeio
com acolhimento dos imigrantes venezuelanos em Manaus. Os recursos ainda
não foram liberados, mas serão usados também para fomentar produção de
artesanato dos indígenas e gerar renda para as famílias. A previsão é
que até próxima semana o repasse seja feito.
“Os R$ 720 mil fazem parte de um plano para seis meses, mas isso não
significa passado os seis meses encerrou o trabalho. A administração
desse repasse será feita pela Semmasdh junto com a Cáritas para
utilização em aluguel, alimentação, higiene e pagamento de pessoal”,
comentou o secretário.
Equipamentos e eletrodomésticos também serão comprados com os recursos.
As entidades envolvidas no acolhimento planejam criar condições para os
imigrantes consigam produzir artesanato para comercializar e garantir o próprio sustento no futuro.
“A expectativa que possamos ajudar nesse processo para auto sustentar. A
ideia que eles também possam criar um meio para sustentabilidade. Tem o
artesanato, que é um caminho desenhado pelas lideranças deles.
Eles
vieram buscar comida e estavam passando fome. Eles estão aqui, mas se
melhorar na Venezuela, sem dúvida, eles podem ir. Se eles querem ficar
conosco, ninguém pode impedir”, disse o vice-presidente da Cáritas de
Manaus, padre Orlando Barbosa.
A próxima etapa do trabalho de assistência social será regularização
documental dos imigrantes para inclusão em programas sociais.
Imigração
Em busca de sobrevivência, os índios começaram a migrar para Manaus
desde o início deste ano. Adultos, idosos e crianças se abrigaram na
Rodoviária de Manaus e debaixo de um viaduto na Zona Centro-Sul da
cidade.
Em maio deste ano, a Prefeitura de Manaus decretou situação de emergencial social devido ao intenso processo de imigração dos indígenas da etnia Warao da Venezuela para capital amazonense.
Inicialmente, os venezuelanos ficaram alojados na Rodoviária de Manaus.
Aos poucos eles foram para as ruas, cortiços no Centro e no bairro
Educandos, na Zona Sul de Manaus.
Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Justiça, Direitos
Humanos e Cidadania (Sejusc), 512 venezuelanos indígenas estavam
alojados no Serviço de Acolhimento e no Centro de Manaus até dia 5 de
julho.
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