Como dezenas de pessoas morreram em estrada em meio ao incêndio florestal em Portugal
Segundo as autoridades locais, ainda não há uma explicação clara, mas as vítimas podem ter sido surpreendidas pela rapidez das chamas, propagadas pelos fortes ventos que sopravam no local.
O incêndio que devasta a região central de Portugal desde sábado (17)
provocou a morte de 64 pessoas.
Delas, 47 morreram carbonizadas na
Estrada Nacional 236 (EN 236-1), que liga Figueiró a Castanheira de
Pera. Uma estrada que a mídia portuguesa já apelidou de “estrada da
morte”, pois os restos das vítimas foram encontrados num trecho de menos
de 500 metros, em volta do cruzamento com outra estrada, a IC 8, que
liga Pedrógão Grande com a EN 236-1.
Das 47 vítimas encontradas na EN 236-1, 30 estavam dentro dos seus
carros e 17 fora deles ou à beira da estrada, o que sugere que tentaram
fugir das chamas. A maioria das vítimas foi surpreendida pelo fogo e
encurralada pelo incêndio quando voltava da praia fluvial das Rocas, em
Castanheira de Pera.
Segundo as autoridades portuguesas, muitos morreram por inalação de
fumaça. Em alguns casos, tratavam-se de famílias inteiras. Dezenas de
carros foram encontrados na estrada, carbonizados.
“Quando cheguei na estrada vi carros carbonizados, dei marcha à ré, mas
outros veículos bateram no meu carro. Vi uma pessoa abandonar outro
carro com os cabelos e as roupas ardendo”, contou um dos sobreviventes,
Mário Pinhal, ao jornal português “Público”.
A mídia portuguesa tem afirmado que a EN 236-1 tinha que ter sido
fechada pelas autoridades já no começo da tarde de sábado, quando o
incêndio começou (por volta das 14h locais, às 10h no Brasil), mas isso
não foi feito. Segundo o diário português “Expresso”, a maioria das
vítimas chegou a transitar na EN 236-1 no final da tarde, por volta das
19h, mais de 3 horas depois do começo do fogo.
A estrada era cercada de eucaliptos e pinheiros, e isso, junto com os
fortes ventos, pode ter ajudado na propagação tão rápida das chamas.
“Vim sempre prestando atenção para ver se tinha algum vestígio de
fumaça, chamas, etc... mas não havia rigorosamente nada. Isto foi uma
coisa tão instantânea que apanhou todos de surpresa, e essa foi a razão
pela qual as pessoas morreram dessa forma que foi”, explicou para a RTP
Adamastor Santos, um dos sobreviventes que estava próximo do local no
momento do incêndio.
Segundo um relato publicado pelo “Público”, uma mãe tentou fugir com os
dois filhos, de 4 e 6 anos, da casa cercada pelas chamas, em Vila
Facaia. O carro em que tentavam escapar acabou encurralado pelas chamas e
morreram todos. O pai ficou perto de casa e sobreviveu.
Duas famílias tentaram escapar das chamas que cercavam a sua aldeia,
Pobrais. Oito pessoas dividiram-se em dois carros, mas acabaram sendo
engolidas pelo incêndio apenas um quilômetro mais à frente. Morreram
todos.
Entrevistado pela TVI, um dos habitantes de Pobrais contou que as
chamas “avançaram rapidamente” e todos temeram pelo pior. Muitos só
sobreviveram porque decidiram refugiar-se em uma área já queimada da
floresta. “Há pessoas que chegaram dizendo que não queriam morrer em
suas casas, cercadas pelas chamas”, explicou o morador Ricardo Tristão.
Segundo o secretário de Estado Jorge Gomes, entrevistado pelo
“Expresso”, o incêndio, então com quatro frentes ativas, propagou-se “de
forma que não tem explicação nenhuma”.
Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros, afirmou que
“quando as pessoas entram nessas estradas, o incêndio pode até estar a
quilômetros de distância, mas pode acabar atingindo os carros. São
coisas imprevisíveis. [As pessoas] foram surpreendidas pela fumaça e
pelos ventos que sopravam a 120-125 km/h”.
Outra sobrevivente, Liliana Coelho, contou que “por volta das 19h30, ficou de noite" e começou uma forte ventania.
"Ouviu-se um barulho como se fosse um furacão, e o vento começou a arrebentar tudo. Foi como um tornado que levava e espalhava o fogo em volta." Liliana Coelho
António Rosa, de 77 anos, relatou que imediatamente apareceu “uma
fumaça negra, negra, negra que a gente queria se mexer, mas não era
capaz. Estou todo queimado, mas nem senti o fogo chegar em cima de mim”.
Segundo o diretor da Polícia Judiciaria, Almeida Rodrigues, não há
indícios de origem criminosa do incêndio. Ele disse que as chamas foram
causadas por uma trovoada seca – quando há raios mesmo sem chuva caindo
sobre o solo, devido ao clima seco. "Tudo aponta claramente para causas
naturais, inclusive encontramos a árvore que foi atingida por um raio",
afirmou Rodrigues.
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