Fenda faz 'curva' e torna iminente descolamento de iceberg gigantesco da Antártica
Faltam apenas 13 km para bloco de gelo do tamanho do Distrito Federal se desprenda completamente, afirmam cientistas.
A enorme rachadura na plataforma de gelo Larsen C, na Antártica, que pode gerar um dos dez maiores icebergs do mundo, mudou radicalmente de direção.
"A fenda avançou por mais 16 km, com uma aparente e significativa curva
à direita perto do final. Agora, só faltam 13 km para que o iceberg se
desprenda completamente", diz à BBC Adrian Luckman, professor da
Universidade de Swansea, no Reino Unido.
Ele acrescenta que a fissura pode estar "muito próxima".
Mas Luckman ressalva que nada ainda é totalmente certo.
Os dados mais recentes foram colhidos entre 25 e 31 de maio pelos satélites Sentinel-1 da União Europeia.
Os registros foram feitos com a ajuda de radares por causa do início do
rigoroso inverno, quando a Antártica permanece praticamente no escuro.
Depois de ter avançado em dezembro, o ritmo de aumento estacionou
depois que a fenda entrou na chamada zona de "sutura", uma região de
gelo flexível e mole.
Mas o cenário mudou no início do mês passado, quando a ponta da
rachadura bifurcou, e a nova ponta mudou de direção rumo ao oceano.
Quando o iceberg se desprender, o enorme bloco deve se afastar gradualmente da plataforma de gelo.
"Isso não deve acontecer rapidamente porque o Mar de Wedell é repleto
de gelo, mas tenho certeza de que será mais rápido do que todo o
processo de ruptura dos últimos meses. Tudo dependerá das correntes e
dos ventos", explica Luckman.
O bloco de gelo que ameaça se desprender tem 5 mil km² (o equivalente a
500 mil campos de futebol ou à área do Distrito Federal).
A Larsen C é a maior plataforma de gelo no norte da Antártica. As
plataformas de gelo são as porções da Antártica onde a camada de gelo
está sobre o oceano e não sobre a terra.
Segundo cientistas, o descolamento do iceberg pode deixar toda a plataforma Larsen C vulnerável a uma ruptura futura.
A plataforma tem espessura de 350 m e está localizada na ponta oeste da Antártica, impedindo a dissipação do gelo.
Os pesquisadores vêm acompanhando a rachadura na Larsen C há muitos
anos. Recentemente, porém, eles passaram a observá-la mais atentamente
por causa de rupturas das plataformas de gelo Larsen A, em 1995, e
Larsen B, em 2002.
No ano passado, cientistas afirmaram que a rachadura na Larsen C estava aumentando rapidamente.
Mas, em dezembro, o ritmo aumentou a patamares nunca antes vistos, avançando 18 km em duas semanas.
Aquecimento global
Os cientistas dizem, no entanto, que o fenômeno é geográfico e não
climático. A rachadura existe por décadas, mas cresceu durante um
período específico.
Eles acreditam que o aquecimento global tenha antecipado a provável
ruptura do iceberg, mas não têm evidências suficientes para embasar essa
teoria.
No entanto, os cientistas permanecem preocupados sobre o impacto do
descolamento desse iceberg do restante da plataforma de gelo, já que a
ruptura da Larsen B em 2002 aconteceu de forma muito semelhante.
Como vai flutuar sob temperatura constante, o iceberg não aumentará o nível dos mares.
Mas novas rupturas na plataforma podem acabar dando origem a geleiras
que se desprenderiam em direção ao oceano. Uma vez que esse gelo
derrete, afeta o nível dos mares.
Segundo estimativas, se todo o gelo da Larsen C derreter, o nível dos mares aumentaria cerca de 10 cm.
Há poucas certezas absolutas, contudo, sobre uma mudança iminente no contorno da Antártica.
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