Morre guarda nazista de Auschwitz condenado à prisão em julgamento em 2016
Reinhold Hanning foi acusado de ser cúmplice na morte de 170 mil pessoas no campo de concentração. Seu processo ainda seria julgado pela instância mais alta da Alemanha.
O guarda do campo de extermino nazista de Auschwitz, na Polônia,
Reinhold Hanning, morreu aos 95 anos em Detmold, na região central da
Alemanha, a mesma cidade onde foi condenado em junho de 2016 a cinco anos de prisão por cumplicidade na morte de pelo menos 170 mil pessoas.
Hanning morreu na terça-feira (30), informou nesta quinta-feira (1º) o
seu advogado. O guarda de Auschwitz ainda tinha uma resolução pendente
por parte do Supremo Tribunal sobre o recurso apresentado contra essa
sentença, tanto pela defesa como pela acusação particular.
A morte de Hanning acontece um ano depois que foi concluído o
julgamento contra ele, um dos últimos grandes processos instruídos na
Alemanha pelos crimes do nazismo, amparado no princípio de que os
assassinatos não prescrevem. Ele foi condenado por um juiz que o
descreveu como um "escudeiro voluntário e eficiente" do regime de
Hitler.
Hanning foi condenado a cinco anos por cumplicidade na maquinaria da
morte de Auschwitz, onde serviu como membro da SS durante alguns meses.
Auschwitz foi o maior e mais fatal campo de extermínio nazista,
construído na Polônia ocupada pelo Terceiro Reich e onde estima-se que
foram assassinados mais de 1 milhão de pessoas.
Sentença
De acordo com a condenação de Hanning, ninguém que serviu nesse lugar
pode alegar que não viu suas câmaras de gás, seus crematórios e que
também não viu alguns dos prisioneiros confinados no recinto morrerem de
fome ou de doenças.
Além disso, a condenação explicitava que Hanning não estava sendo
condenado como parte de um coletivo, mas por sua culpa individual no
Holocausto.
O antigo guarda da SS, que tinha 23 anos quando começou a servir em
Auschwitz, foi declarado culpado de cumplicidade na morte dos 170 mil
presos assassinados no campo de concentração entre janeiro de 1943 e
junho de 1943. De acordo com a Reuters, ele não foi acusado por
participação direta em nenhum assassinato.
Hanning assistiu a todo o processo em uma cadeira de rodas e ouviu em silêncio a sentença. No entanto, em uma das audiências, chegou a admitir sua vergonha por não ter intervindo diante do horror que presenciou em Auschwitz.
A Justiça admitiu como atenuantes sua idade avançada, o tempo
transcorrido desde os fatos - mais de 70 anos - e também o
arrependimento demonstrado aos sobreviventes e familiares das vítimas
que formavam a acusação particular.
Precedente
O julgamento de Hanning se insere nos processos tardios contra os
chamados cúmplices do nazismo, uma possibilidade que foi aberta por
causa da condenação ditada em Munique, no sudeste da Alemanha, em 2011
contra o ucraniano John Demjanjuk, que havia sido extraditado dos
Estados Unidos, onde se exilou após a derrota do Terceiro Reich alegando
ter sido vítima dos nazistas.
A extradição de Demjanjuk esteve precedida por uma batalha judicial em
que seus familiares esgotaram todos os recursos contra sua entrega às
autoridades alemãs.
Demjanjuk, antigo guarda voluntário do campo Sobibor, também na
Polônia, foi julgado por cumplicidade em 28 mil assassinatos nesse campo
de concentração nazista.
Assim como Hanning, Demjanjuk morreu alguns meses depois de ouvir a sentença de cinco anos de prisão, sem ter sido enviado para uma penitenciária para cumprir sua pena.
Em ambos os casos, como em outros processos abertos nos últimos anos na
Alemanha por acusações similares, as condenações são meramente
simbólicas, devido à idade avançada dos processados.
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