Estudo relaciona incidência de tuberculose com superlotação em domicílios no Brasil
Brasil está em 20º lugar no ranking dos países com maior número de casos de tuberculose no mundo. Em 2015, foram 4,6 mil mortes pela doença no país.
Por Mariana Lenharo, G1
A doença conhecida por ter provocado a morte prematura de poetas e
boêmios nos séculos 19 e 20 pode não estar mais presente no cotidiano da
classe média brasileira, mas ainda faz muitas vítimas nos grupos
sociais menos favorecidos. Um estudo feito por pesquisadores da
Faculdade de Saúde Pública da USP avaliou o impacto de diversos fatores
socioeconômicos no risco de tuberculose e concluiu que a aglomeração
dentro das casas é um dos principais mecanismos que podem explicar a
associação entre tuberculose e pobreza.
O estudo, publicado em abril na revista científica “PLOS ONE”,
levou em conta os dados de diagnósticos de tuberculose de 5.565
municípios brasileiros em 2010 e os avaliou em conjunto com os dados
socioeconômicos desses municípios obtidos no Censo 2010.
É fácil entender esse mecanismo: “As pessoas que estão contaminadas e
tossem, espirram ou falam expelem a bactéria no ar e, quanto mais
pessoas ao redor, maior o risco de infecção e de desenvolver a doença”,
diz a pesquisadora Daniele Maria Pelissari, uma das autoras do estudo.
Estudos anteriores já encontraram uma associação entre a pobreza e a
desigualdade social com a tuberculose. “A pobreza determina que as
pessoas vivam em ambientes aglomerados, o que aumenta o contato e o
risco de tuberculose”, explica a pesquisadora.
Alvo de intervenção
Para o médico Fredi Alexander Diaz Quijano, professor do Departamento
de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP e um dos autores
do estudo, esse achado revela um alvo de intervenção importante capaz de
reduzir o efeito da pobreza sobre o risco de tuberculose. "A situação
não teria de ser necessariamente resolvida com recursos econômicos, mas
corrigindo o modo de vida, a organização intradomicilitar e a
estrutura."
Quijano explica que a associação com a tuberculose começa a aparecer
quando existem, em média, duas pessoas ou mais dormindo por cômodo da
casa. Iniciativas de estímulo a planejamento de moradias mais adequadas e
organizadas de modo a inibir a transmissão da doença podem ter um
impacto importante na saúde pública.
Segundo a OMS, o Brasil está em 20º lugar no ranking dos países com
maior número de casos de tuberculose no mundo. Em 2015, foram
registrados quase 67,8 mil novos casos no Brasil e 4,6 mil mortes pela
doença.
No fim de junho, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose
que leva em conta a questão dos indicadores socioeconômicos das cidades
como norteadores de políticas públicas contra a doença.
Ações individuais
Além das políticas públicas, ações individuais também podem reduzir o
risco de propagação da tuberculose. “A primeira coisa é não negligenciar
o sintoma da tosse. Quando a tosse persiste por três semanas ou mais, é
preciso buscar uma unidade de saúde”, diz Daniele.
Uma vez diagnosticado, é importante fazer o tratamento até o final. "O
tratamento é longo, demora no mínimo seis meses em casos de tuberculose
sensível. Muitos começam a apresentar melhora e abandonam o tratamento,
aí desenvolvem formas resistentes da doença.” Segundo a especialista, um
tratamento adequado reduz o risco de transmissão da doença a partir de
20 dias.
Entenda a tuberculose
A tuberculose é uma doença provocada pelo Mycobacterium tuberculosis, o
bacilo de Koch. A transmissão pode ocorrer de uma pessoa para outra
pelo ar por meio de partículas eliminadas na respiração, espirro e
tosse. A doença aparece quando o bacilo chega aos pulmões e provoca uma
inflamação nos tecidos à sua volta. Em resposta, o pulmão produz muco, o
que leva à tosse.
Os sintomas iniciais são febre baixa, cansaço, mal estar, fraqueza,
tosse, dor no corpo, suor noturno e falta de apetite. Ao longo do tempo,
o mal estar se acentua, o paciente emagrece e a tosse persiste, podendo
ocorrer com sangue. A doença também pode atingir outros órgãos. O
diagnóstico é feito com raio-X e exames de escarro.
O tratamento, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), deve ser
feito sem interrupção por no mínimo seis meses. A vacina BCG, indicada
para bebês e crianças de até 5 anos de idade, previne contra as formas
de tuberculose mais graves.
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