terça-feira, 22 de março de 2016

22/3/2016 às 00h10 (Atualizado em 22/3/2016 às 10h20)

Em meio a surto de H1N1, único remédio contra a doença está em falta nas farmácias de SP

 Enquanto grandes redes de drogarias relatam desabastecimento, fabricante nega problema
 
 
Remédio deve ser administrado até 72 horas depois do surgimento dos sintomas do H1N1 Wikimedia Commons
 
 Em meio ao que já se confirma como um surto do vírus H1N1 na cidade de São Paulo, pacientes diagnosticados com a doença e com a prescrição do medicamento Tamiflu em mãos têm tido dificuldade para encontrar o remédio em farmácias. O R7 entrou em contato com quatro grandes redes de drogarias e em todas ouviu dos atendentes que o medicamento está em falta em seus estoques já há mais de três semanas.

Em comunicado à imprensa, a Roche, laboratório que fabrica o Tamiflu — um antiviral específico para o tratamento do H1N1, que tem como substância principal o fosfato de oseltamivir — informa que não registra o desabastecimento do produto, e que ele se encontra disponível no estoque do fabricante para atender à demanda de distribuidores e farmácias. Ainda de acordo com a empresa, "todos os pedidos de compra recebidos pela Roche foram entregues".

O Tamiflu é indicado especificamente no tratamento de pacientes de grupos de risco infectados pelo H1N1. Idosos, crianças, gestantes, portadores de doenças crônicas como o diabetes e insuficiência renal, transplantados, soropositivos e doentes com câncer em tratamento com quimioterapia costumam desenvolver complicações graves quando contraem gripes, e, por isso, precisam tomar o antiviral, de acordo com o que explica o pediatra neonatologista, infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri.
 
 — Os vírus causam doenças quando se multiplicam, em um processo chamado replicação. Eles entram em uma célula, se multiplicam dentro dela, rompem essa célula, invadem outras e vão se espalhando. Para fazer isso, o vírus influenza usa uma substância da sua superfície. Algumas décadas atrás, foi desenvolvido este medicamento, que inibe o processo de multiplicação viral. Só que a grande dificuldade do Tamiflu é que ele só vai funcionar bem se administrado no começo, no máximo até 48 ou 72 horas depois do início dos sintomas. Depois disso, a eficácia é perto de zero, porque o vírus já se multiplicou e o estrago já está feito.
 
 Com a dificuldade em encontrar o medicamento nos balcões das farmácias, famílias acabam perdendo um tempo precioso e que pode ser determinante sobre o sucesso do tratamento do H1N1. Em dois diferentes, a reportagem do R7 entrou em contato com unidades das redes Drogasil, Droga Raia, Onofre e Ultrafarma, e não conseguiu localizar o Tamiflu em nenhuma delas.

Outro fator que pode atrasar a melhora dos pacientes é a demora no diagnóstico. Enquanto algumas clínicas e atendimentos de emergência particulares dispõem de um teste rápido, que detecta o vírus através de análise da secreção do nariz e da garganta — e apresenta o resultado em cerca de meia hora —, a maioria dos hospitais do serviço público de saúde contam apenas com um exame de sangue que pode levar até três dias para fechar o diagnóstico.

O H1N1 é conhecido por causar complicações não só nos grupos de risco, mas também em uma parcela da população que geralmente não é afetada com gravidade em relação a gripes comuns, o dos adultos jovens.

Um dos piores desdobramentos costuma ser a síndrome respiratória aguda grave (SRAG), conforme explica Renato Kfouri. A SRAG tem como principal sintoma a falta de ar progressiva, que comumente leva à necessidade de oxigenação artificial e, por vezes, até mesmo a respiração mecânica, quando o paciente é entubado em um hospital.
 
Mais comum em épocas frias do ano, como o final do outono e ao longo do inverno, o vírus chegou mais cedo a São Paulo. — É uma surpresa que a temporada de influenza começou muito cedo. Geralmente ele tem ua circulação forte no inverno, tanto que as campanhas de vacinação são feitas em abril. Excepcionalmente neste ano ele apareceu antes na região sul e sudeste. Em São Paulo, o maior número de afetados está no oeste do estado, que já teve 14 mortes registradas. Não sabemos se isso é alguma característica de clima. É uma coisa atípica.

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