Nova resolução em análise pela Anvisa deve liberar aplicação de vacinas em farmácias
Proposta já passou por uma consulta pública e está em etapa final do processo de regulamentação. Hoje, só clínicas de vacinação podem oferecer o serviço fora do SUS.
Uma nova resolução que trata dos requisitos mínimos para serviços de
vacinação no país está em fase de análise pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) e, caso seja aprovada, permitirá que
farmácias apliquem vacinas. Atualmente, somente clínicas de vacinação,
que têm um médico como responsável técnico, estão autorizadas a oferecer
o serviço fora do sistema público de saúde.
Entidades que representam os farmacêuticos defendem que a medida
ampliará o acesso da população às vacinas. Já entidades médicas
expressam temor de que a nova resolução possa reduzir as exigências
atualmente aplicadas aos serviços de vacinação, o que acarretaria risco
para a população.
A proposta já passou por uma consulta pública, em maio, e agora está na
última etapa do processo de regulamentação antes da decisão final. O texto submetido à consulta
não menciona as farmácias especificamente, mas abre essa possibilidade
ao não limitar o serviço de aplicação de vacinas às clínicas. A regra
estabelece como deve ser a estrutura física do estabelecimento que
aplicará a vacina e determina que as vacinas que não estão contempladas
pelo Programa Nacional de Vacinação do SUS somente poderão ser aplicadas
mediante prescrição médica.
Em nota enviada ao G1,
a Anvisa observa que a aplicação de vacinas em farmácias já estava
prevista desde 2014, por meio da Lei 13.021/2014, que dispõe sobre os
exercícios das atividades farmacêuticas. Porém, até hoje, a atividade
não era colocada em prática por falta de um regulamento que tratasse do
assunto.
Vacinas mais baratas
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) afirmou, em nota, que a
expectativa é que a Anvisa publique em breve a resolução “de forma a
finalmente permitir a ampla participação das farmácias e dos
farmacêuticos nessa importante ação de saúde pública”.
Na opinião do presidente da entidade, Walter da Silva Jorge João, a
nova regra garantirá mais qualidade ao serviço – já que os farmacêuticos
seriam profissionais habilitados por lei para a dispensação de
imunobiológicos – e preços mais baixos. “Hoje, as clínicas
especializadas chegam a cobrar preços 300% superiores aos dos insumos.
Uma margem de ganho altíssima, regulada pela exclusividade de que as
mesmas usufruem”, afirma.
Para o farmacêutico clínico Ismael Rosa, pesquisador do Instituto de
Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), a capilaridade das farmácias
deve contribuir para aumentar os índices de imunização no país.
“Encontramos uma farmácia em cada esquina, então isso vai contribuir
para atingir as metas de vacinação.”
Um levantamento feito pelo ICTQ,
com base em 2.061 entrevistas em todo o país, concluiu que 25% dos
brasileiros afirmam que buscam ou desejam encontrar o serviço de
vacinação nas farmácias.
Risco sanitário
Já o presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas
(ABCVAC), Geraldo José Barbosa, considera que permitir a aplicação de
vacinas em farmácias representa um risco sanitário: “Quem vai dar os
primeiros socorros em caso de choque anafilático em uma farmácia?”
Ele também questiona se a atual estrutura de vigilância em saúde será
suficiente para fiscalizar a segurança da aplicação de vacinas nas
farmácias. “Hoje, por existir um número menor de clínicas, há um
controle muito grande por parte do Ministério da Saúde. A partir do
momento em que isso se amplia, há risco de perder esse controle.”
Na avaliação da médica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIm), o texto da proposta reduziu os
critérios de exigência em relação ao serviço de vacinação existente no
que diz respeito à estrutura física do local da vacinação – que não
prevê a existência de uma maca, por exemplo – e também quanto à abolição
do médico do serviço.
“É importante ter um médico para atender a eventos adversos. É raro que
ocorram na hora, mas as pessoas voltam às clínicas por algumas
situações e precisam que um médico habilitado e conhecedor das vacinas
possa avaliar”, diz a especialista.
Ela destaca que o Brasil é um exemplo mundial no que diz respeito às
imunizações. "Esse movimento todo [de permitir a aplicação de vacinas em
farmácias] se baseia em políticas adotadas fora do Brasil e nós somos
melhores do que Estados Unidos e Europa. Não é possível que, em uma das
únicas coisas que fazemos melhor, vamos pegar o exemplo deles."
A Anvisa afirma que, para elaborar o texto da proposta de resolução,
ouviu diversos interlocutores, especialmente o Ministério da Saúde.
“Destaca-se que o regulamento proposto estabelece requisitos mínimos
para prevenção de riscos à saúde, tendo em vista uniformizar as
exigências para todos os estabelecimentos que oferecem o serviço e
orientar aqueles que não têm tradição neste tipo de atividade, como é o
caso de farmácias e drogarias”, informou a Anvisa.
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