Pais mais velhos tendem a ter filhos 'mais nerds', diz pesquisa
Estudo aponta que idade parental maior influencia positivamente fatores como QI, introspecção e foco nos meninos; no entanto, pesquisadores não recomendam adiar concepções só por causa dessas descobertas.
Homens que se tornam pais mais tarde têm chance maior de ter um filho
com traços típicos - e positivos - de "nerds" e "geeks", diz um estudo
recém-publicado no Reino Unido.
Esses meninos se tornam mais espertos, focados e menos preocupados em
se enturmar, de acordo com artigo publicado por pesquisadores da
Universidade King's College de Londres no periódico "Translational
Psychiatry".
Curiosamente, a idade da mãe não teve impacto nos resultados, os quais
parecem ser relevantes apenas para filhos do sexo masculino.
As descobertas estão entre as raras notícias positivas relacionadas a
gestações tardias, comumente associadas à maior incidência de problemas
genéticos, autismo e esquizofrenia.
Os pesquisadores analisaram resultados de testes feitos com 12 mil
gêmeos britânicos de um amplo estudo que acompanha seu desenvolvimento -
infância e adolescência - desde 1994, para entender quais fatores
contribuem para a construção de sua individualidade.
Os pesquisadores criaram o que chamaram de "Geek Index", avaliando
crianças de 12 anos de idade com relação a seu QI, sua habilidade de
focar em um tema e instrospecção.
"Nossa hipótese é de que QI alto, foco no assunto de interesse e algum
grau de introspecção social provavelmente são benéficos em uma economia
movida pelo conhecimento", diz o artigo científico. "Ainda que esses
traços estejam distribuídos pela população, a literatura etnográfica
agrupa-os sob o guarda-chuva do termo 'geek'."
Os que tiveram altas pontuações no ranking "geek" acabaram se saindo
melhor na escola, sobretudo em temas como ciência, tecnologia,
engenharia e matemática.
Explicações
Entre os participantes do estudo, pais com idade igual ou inferior a 25
anos tiveram filhos que pontuaram menos no ranking geek do que pais com
idades entre 35 e 40 ou mesmo com mais de 50 anos.
Entre as possíveis explicações para isso, os cientistas apontam que:
- Pais nerds podem estar demorando mais para ter filhos e transmitir suas "nerdices" para os filhos
- Homens mais velhos podem estar criando um ambiente familiar que encoraja traços "nerds", graças a empregos melhores e mais estáveis que aumentam o acesso a educação e experiências diversas
- Pode haver novas mutações no esperma, afetando o desenvolvimento dos filhos
Atenção para os riscos
No entanto, estudiosos não recomendam que casais tomem decisões quanto à
concepção com base nessas descobertas, justamente por causa dos riscos
associados a gestações tardias.
"Famílias não devem ser influenciadas por este estudo em suas decisões
quanto a ter filhos", adverte Magdalena Janecka, pesquisadora do King's
College.
"Ainda que pareça legal ser geek, não recomendo que os futuros pais
retardem seus planos de iniciar uma família para propositadamente
aumentar as chances de ter uma criança com essas qualidades", afirma o
professor da Universidade de Sheffield Allan Pacey.
"Os perigos da paternidade tardia estão bastante descritos (na
literatura médica), incluindo os riscos de infertilidade, aborto
espontâneo ou distúrbios debilitantes ao nascer. Dito isso, acho
bastante intrigante a ideia do 'gene geek'. E, diante da tendência de
termos filhos cada vez mais tarde, talvez estejamos destinados a criar
uma futura sociedade de gênios que nos ajudarão a resolver os problemas
do mundo."
Ao mesmo tempo, a equipe de pesquisadores também acredita que alguns
traços genéticos herdados de pais mais velhos podem ter influência tanto
sobre o aspecto "nerd" quanto sobre as possibilidades de
desenvolvimento do autismo.
"Quando a criança nasce com apenas alguns desses genes, parece ter mais
chance de ser bem-sucedida na escola. No entanto, com uma 'dosagem'
mais alta desses genes, somada a outros fatores de risco, pode ser que
ela tenha uma predisposição maior para o autismo", disse a pesquisadora
Janecka.
As diferenças de gênero não foram esclarecidas pelo estudo. Pode ser
que as medições não tenham sido capazes de perceber as diferenças nas
manifestações de "nerdices" entre meninos e meninas. Ou pode ser que
haja diferenças na forma como o cérebro de meninos e meninas se
desenvolve.
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