sábado, 5 de março de 2016

4/3/2016 às 16h59 (Atualizado em 4/3/2016 às 17h06)

Pesquisadores formam população de Aedes com bactéria que bloqueia dengue, zika e chikungunya

Estudo da Fiocruz em dois bairros do Rio de Janeiro pode ser arma principal contra doenças
Mosquito Aedes é transmissor de três doenças no Brasil: zika vírus, dengue e febre chikungunyaWILLIAM VOLCOV/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) tiveram resultados promissores em experimento inédito no Brasil para combater a dengue, chikungunya e o zika. No estudo, eles conseguiram introduzir em ovos dos mosquitos Aedes aegypti — transmissor das três doenças — uma bactéria chamada Wolbachia, que bloqueia a transmissão dos vírus, e comprovaram que os insetos conseguiram se multiplicar e se estabelecer no meio ambiente.
Para o estudo, foram liberados, entre agosto de 2015 e janeiro de 2016, mosquitos com Wolbachia em duas regiões do Estado do Rio de Janeiro: nos bairros de Tubiacanga, na Ilha do Governador, e Jurujuba, em Niterói. Após cinco meses, a população de Aedes com essa bactéria chegou a 80%, segundo explica o pesquisador Luciano Moreira, coordenador do projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil.
— Com o cruzamento, a bactéria é transmitida para outros mosquitos. A fêmea passa a bactéria para seus ovos, ou seja, para os seus dependentes, e se um macho tiver com Wolbachia e cruzar com fêmea que não tem, ela fica estéril. Nossa expectativa agora é que, em poucos meses, a população desse tipo de Aedes chegue em 100%. Com a bactéria, o bloqueio na transmissão das doenças pode variar entre 70% a 100%, o que poderá reduzir os casos das doenças.
Até o momento, ainda não é possível avaliar se já houve algum tipo de redução de casos de dengue na localidade, explicou Moreira. O objetivo principal do experimento “era perceber se os mosquitos com a bactéria conseguiam sobreviver”.
— Porém, o mesmo estudo já foi realizado na Indonésia, Austrália e Vietnã e, nas localidades onde a Wolbachia se estabeleceu em 100%, não ocorreram casos de transmissão local de dengue. Até hoje, os mosquitos continuam positivo e expandiram para outras áreas.
Neste ano, a Indonésia está com estudo em andamento com 400 mil pessoas em que será avaliado por um período de dois ou três anos o impacto na redução de transmissão da dengue.
Importância do estudo
Na avaliação do pesquisador, o estudo é uma importante ferramenta no combate às doenças, já que “todo mundo sabe que no ambiente urbano não é possível acabar com o mosquito”.
— A nossa estratégia seria de substituição dos mosquitos que existem por outros que não vão transmitir essas doenças. É uma estratégia de fazer isso concomitante com outras ações, como aplicação de inseticida e vacina, quando aparecer. Nosso mosquito tem a mesma chance de sobreviver que os outros [os que já existem].
Após esse resultado positivo, o pesquisador da Fiocruz diz que há um "diálogo com o Ministério da Saúde para expansão da pesquisa para outras localidades".
— Mostramos que conseguimos estabelecer mosquitos com a bactéria aqui no Brasil. Então, já há um interesse mútuo para expansão, mas ainda não sabemos quando e onde. Vale salientar também que o projeto é autossustentável, pois não precisamos soltar muitos mosquitos, e eles vão se manter lá. Ao longo do tempo, se colocarmos numa escala, o valor do investimento fica ínfimo perto do que se gasta no controle dessas endemias.
Uso da bactéria no combate
A Wolbachia é uma bactéria restrita a animais invertebrados. Por ser obrigatoriamente intracelular, ela não sai durante a picada do mosquito e  não está presente na saliva que o mosquito secreta durante a picada. Além disso, há séculos os seres humanos são picados pelo pernilongo, que naturalmente possui a Wolbachia, sem o desenvolvimento de doenças ou reação imune causadas diretamente pela bactéria.

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