segunda-feira, 7 de março de 2016

7/3/2016 às 12h12

Brasil não registrava microcefalia, diz vice-ministro de Saúde da Colômbia

Gomez não hesita em dizer que há uma subnotificação histórica de microcefalia no Brasil
Gomez entende que seria importante investigar outras causas, como problemas ambientais e a interação entre enfermidadesESTADÃO CONTEÚDO
Num tom mais cauteloso que o exibido por autoridades sanitárias brasileiras, o vice-ministro de Saúde da Colômbia, Fernando Gomez, diz não haver ainda elementos suficientes para apontar o zika como responsável pelo aumento de casos de microcefalia.
— Existe uma relação, mas é preciso fazer mais estudos para se comprovar a causalidade.
Em entrevista, Gomez não hesita em dizer que há uma subnotificação histórica de microcefalia no Brasil e afirma que a opção do aborto é importante para as mulheres.

Gomez afirma que os dados do Brasil mostram haver uma associação entre zika e microcefalia, mas que isso "não é suficiente para se estabelecer a causalidade" e afirma ser necessário "esperar outros estudos". Questionado sobre o que poderia estar associado esse aumento, o vice-ministro da Saúde da Colômbia, afirmou que o Brasil "não registrava o número de casos de microcefalia que de fato deveria ocorrer". 

Para Gomez, "uma das possibilidades é de que a situação do zika tenha chamado a atenção para um problema que já estava presente, mas que até então não era notado. No Brasil eram informados, em média, 140 casos anuais de microcefalia relacionados a outras causas, número comparativamente bem menor do que o daqui. Registrávamos 150. Brasil e Colômbia têm taxas semelhantes de fertilidade. Se aplicássemos nossos indicadores para o Brasil, o número de casos giraria em torno de 700".

Gomez entende que seria importante "investigar outras causas, como problemas ambientais e a interação entre enfermidades", por exemplo. Ele afirma que na Colômbia a epidemia de dengue e chikungunya já passou. "Aconteceram em épocas distintas. Não sei se o mesmo aconteceu no Brasil", diz. 

Perguntado se as epidemias simultâneas poderiam exacerbar o risco de microcefalia e se o Brasil foi precipitado ao fazer essa relação, o vice-ministro entende que "todo o país tem a responsabilidade de vigiar um aumento expressivo de casos. E reportá-lo".
— Penso que o problema do Brasil não está nas projeções, mas na retrospectiva. Como os números existentes até a epidemia de zika eram subnotificados, não há como estipular qual foi o aumento exato do número de casos pós-epidemia.
Sobre um possível aumento de abortos na Colômbia por causa do medo da zika provocar microcefalia, Gomez acredita que "é provável que muitas mulheres lancem mão desse direito".
— A Colômbia tem um conjunto de regras sobre aborto relativamente progressista. Por isso, Alertamos as mulheres sobre os seus direitos, sobre as possibilidades previstas em lei para a interrupção da gestação, mas não podemos em última instância fazer uma recomendação expressa. A decisão é da mulher e de seu companheiro.
Para o colombiano a interrupção da gravidez "é uma opção importante para a mulher, para o casal, principalmente frente a uma enfermidade grave, com consequências importantes que terão reflexos por toda a vida. Uma das justificativas mais usadas aqui para interrupção é o risco de sofrimento mental da mulher", diz.

Cruz afirma ainda que um dos aspectos mais importantes é estimar a incidência de microcefalia após o surgimento da epidemia. "É uma diferença com o Brasil, onde o fenômeno foi descoberto quando estava em curso. Aqui podemos acompanhar desde o início. Estamos contando os casos de zika e observando as gestantes. Caso a caso, semana a semana. Isso nos permitirá estimar com maior rapidez as taxas de incidência da infecção, a relação entre zika e microcefalia e a influência no aumento de Guillain-Barré."

Segundo político, o maior problema na Colômbia relacionado ao zika são as cidades distantes, "onde a comunicação não é tão boa".
— Nosso receio é de que haja casos não diagnosticados, que as grávidas com zika não sejam acompanhadas. Daí, nosso esforço para reduzir os riscos de que isso aconteça. Investimos na informação. E a população está se dando conta. Desde janeiro, a palavra mais buscada pelos colombianos no Google é zika.

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