Estudo aponta que 81% dos brasileiros já tomaram remédio contra dor de cabeça sem orientação médica
Associação Brasileira de Neurologia ouviu 2.318 pessoas: 74% dos que sofrem com enxaqueca crônica disseram que já abusaram de analgésicos.
Secretária em um escritório de contabilidade em Ribeirão Preto (SP),
Ana Cláudia Palaço conta que sofre com dores de cabeça diárias por 12
anos e fez vários tratamentos, o último deles já dura seis meses. Ela
admite, no entanto, que já se automedicou muitas vezes.
“Eu pegava qualquer tipo de medicamento, o que me dava eu tomava. Só
que eu não posso mais tomar analgésico porque a dor não passa. Então,
tem que fazer o tratamento contínuo mesmo com um neurologista”, afirma.
A história de Ana Cláudia não é exceção. Uma pesquisa realizada pela
Academia Brasileira de Neurologia (ABN) com 2,3 mil pessoas apontou que
81% delas já tomaram algum tipo de medicação para dor de cabeça sem a
orientação de um médico.
Ainda segundo o estudo – realizado a partir de um questionário
estruturado disponibilizado pela internet –, 58% dos que sofrem com dor
de cabeça indicam analgésicos para outros pacientes, e 50% afirmaram que
aceitam as indicações.
“Isso pode levar ao uso excessivo de analgésicos e, em vez de melhorar a dor, aumentar a frequência e a intensidade, ou seja, está complicando um problema, cria um ciclo de dependência dessas drogas”, diz o neurologista Marcelo Cicciarelli, coordenador da pesquisa.
Cicciarelli explica que há dois tipos de cefaleia: a primária, que é a
enxaqueca em si e pode ter origem tensional, e a secundária, quando a
dor é sintoma de outra doença potencialmente mais grave, como sinusite,
meningite e derrame cerebral.
“Ter dor de cabeça não é normal. A dor por si só é um aviso de que
alguma coisa no nosso organismo não vai bem, precisa ser tratado e ser
prevenido. Então, toda vez que sentir uma dor, é preciso encarar isso
como um problema”, afirma.
A enxaqueca também pode ser episódica ou crônica – nesse caso quando o
paciente tem três ou mais crises por mês, por um período de até três
meses seguidos. Entre os entrevistados, 49,4% pertencem ao primeiro
grupo e 50,5% ao segundo.
“Os pacientes que sofrem com enxaqueca crônica, ou seja, mais do que 15
dias de dor por mês, estão menos empregadas do que aquelas com
enxaqueca episódica. Isso mostra o impacto que a dor tem na vida das
pessoas”, explica Cicciarelli.
Ainda de acordo com o levantamento feito pela ABN, 74% das pessoas que
sofrem com enxaqueca crônica afirmaram que tomam medicamentos além do
recomendado. Entre os que sentem dor de cabeça episódica, o abuso de
analgésicos é de 36%.
“Quando a dor começa a impactar na sua qualidade de vida, quando a dor é
uma dor que você nunca teve, ou é a pior que já teve na vida, nesses
casos deve procurar um médico imediatamente”, conclui o neurologista.
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