segunda-feira, 29 de maio de 2017

Segunda-feira, 29/05/2017, às 08:46,

Crack: esse caminho tem volta?

“O crack cozinha o cérebro. É um caminho sem volta.”

Nos últimos dias, motivados pelas notícias sobre as apreensões, buscas e ações da polícia na cracolândia, no centro de São Paulo, o assunto “crack” e dependentes químicos  passou a fazer parte das rodas de conversas das pessoas, e frases semelhantes são comumente proferidas por muita gente. Afinal de contas, o caminho do crack pode ter volta? Vamos entender.

O que é o crack?
O crack está entre as drogas com maior potencial de dependência. É produzido a partir da pasta da cocaína, misturada com outras substâncias como água e bicarbonato de sódio. Por isso, os efeitos do crack e da cocaína são muito semelhantes. No entanto, nas pedras do crack há muitas outras substâncias com variados graus de impurezas que podem causar danos irreversíveis ao organismo.

O crack vicia mais que a cocaína?
Sim. O poder de dependência do crack parece ser duas vezes maior que o da cocaína. O crack é fumado com o uso de “cachimbos” improvisados, onde as pedras são colocadas, queimadas e aspiradas. É muito quente, e por isso frequentemente os usuários têm os lábios queimados. Por ser fumado, atinge rapidamente os pulmões. Como a superfície pulmonar é ampla e intensamente vascularizada, em mais ou menos 30 segundos as pessoas já sentem o efeito da droga. A cocaína, por sua vez, é  normalmente aspirada pela mucosa respiratória, que tem uma superfície menor e é menos vascularizada. Por isso os efeitos da cocaína demoram mais para começar e duram mais tempo, em geral em torno de 20-45 minutos. Os efeitos do crack são muito mais intensos e terminam muito mais rapidamente, geralmente em torno de 5 minutos. 

Resultado: as pessoas querem fumar mais e mais, fazendo com que se exponham à droga com maior frequência, inalando quantidades bem maiores, que levam à dependência com mais facilidade.

Quais os efeitos do crack no organismo?
Assim que inalado, em apenas alguns segundos o crack atinge o sistema nervoso central, causando uma  intensa euforia, sensação de prazer e bem-estar. A autoestima aumenta, tem-se a impressão de superpoderes, com muita excitação e hiperatividade. O problema é que estes efeitos duram apenas uns 5 minutos. Assim que cessam, os dependentes químicos entram na “fissura” de querer mais. Depois mais e mais. Quando não conseguem a droga podem entrar em estado de “paranoia”. Daí vem o termo “noias” que popularmente se aplica aos que dependem do crack.

Quais os danos que o crack causa na saúde?
O crack pode matar. Seus efeitos deletérios podem atingir vários sistemas orgânicos vitais e causar psicoses ou lesões irreversíveis no funcionamento dos órgãos. Mas o mais degradante talvez seja a decomposição humana a que o crack impele as pessoas. A abstinência da droga transforma os que dela dependem. A perda da própria dignidade, do auto respeito, da liberdade de existir, ou a deterioração e decadência da pessoa física são consequências inevitáveis e por vezes tão intensas e chocantes que nos remetem à próxima pergunta:

É um caminho sem volta?
Para muitos, sim. Mas, para quem efetivamente decide sair, há uma porta. O esforço para vencer a abstinência é absurdamente hercúleo, mas não é impossível. Muitos já conseguiram e estão aí para provar que é possível.

Vencer a si mesmo. Este é o desafio maior. Recuperar-se como pessoa, resgatar os próprios valores e, mais que tudo, a própria dignidade. É um esforço quase que sobre-humano, mas, felizmente, viável para os que  têm vontade, determinação e força. Muita força.

Mudar um problema de lugar não é resolvê-lo. É tão somente... mudar um problema de lugar. 

Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/blog/doutora-ana-responde/post/crack-esse-caminho-tem-volta.html 

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