O que as pessoas comem nas regiões com as expectativas de vida mais altas do mundo?
Uma das coincidências nos alimentos é a ausência total de refrigerantes e produtos derivados do leite de vaca.
Qual é o segredo para uma vida longa? Essa pergunta desperta a curiosidade de cientistas e leigos.
Alimentar-se bem pode ser uma das respostas - se não para viver eternamente, ao menos para passar dos cem anos de idade.
E é justamente a alimentação que chama a atenção em cinco regiões do
planeta onde a população atinge uma idade média superior a cem anos.
"O que descobrimos é que as pessoas nessas regiões não só vivem mais
tempo - cerca de dez anos acima da média - mas vivem melhor a sua
velhice", disse à BBC o cientista americano Dan Buettner, que batizou
essas cinco regiões de "zonas azuis".
Em seu livro As Zonas Azuis, Buettner estudou os hábitos alimentares na
ilha de Okinawa, no Japão, na cidade de Loma Linda, na Califórnia
(EUA), na ilha de Ikaria, na Grécia, na Sardenha (Itália) e na península
de Nicoya, na Costa Rica.
Mas de que se alimentam essas pessoas para ajudar em sua longevidade?
"A maioria dos alimentos que consomem vêm de plantas. Mas, acima de
tudo, são alimentos não processados ou muito pouco processados", disse
Buettner, que contou ter partido da "bastante estabelecida" noção de que
apenas 20% da nossa longevidade média pode ser atribuída à genética.
"Os 80% restantes (se devem) ao estilo de vida e ao ambiente."
Sem leite ou refrigerante
De acordo com Buettner e uma pesquisa que contou com o apoio da
National Geographic, os três alimentos básicos são as folhas verdes
(vegetais), oleaginosas e grãos.
Mas existem muitas variações e complementos que dependem exclusivamente de cada região.
"Eles comem carboidratos, mas não processados como bolos ou donuts, mas sim grão de trigo ou batatas", disse o pesquisador.
Uma das coincidências nas dietas é a ausência total de refrigerantes e produtos derivados do leite de vaca.
"Muitas dessas pessoas que conseguiram ter uma vida tão longa só
conheceram os refrigerantes há cerca de dez anos. E comem queijo, mas os
que vêm de cabra ou pecorino, de ovelhas", disse ele.
Quando se trata de proteína, o peixe é rei.
"Eles consomem cerca de três porções de peixe por semana, a mesma
frequência dos ovos. Mas comem pouca carne vermelha, cerca de cinco
porções por mês", disse Buettner.
"É o que eles têm ao seu alcance. Seu consumo se limita muito ao que eles são capazes de produzir localmente."
E o que bebem?
Em 2013, perguntaram a Stamatis Moratis, um morador da ilha de Ikaria
de 98 anos de idade, qual era o segredo para viver tanto.
E sua resposta não era peixe nem grãos ou vegetais. "É o vinho."
"O vinho que eu tomo é puro, nada é adicionado. O vinho produzido
comercialmente têm conservantes, que não são bons", disse ele na época à
BBC.
De acordo com Buettner, as bebidas preferidas das pessoas dessas áreas são água e vinho.
"Tomam, em média, seis copos de água e muitos deles têm, dentro de suas
culturas, o hábito de tomar umas três porções de vinho por semana",
detalhou.
Mas há uma outra surpresa: o café também tem lugar cativo.
"Vimos que em algumas destas zonas azuis o consumo de café é bastante
comum, especialmente porque o consideram um potente antioxidante",
acrescentou o pesquisador.
Influência dos processados
Uma das conclusões da pesquisa de Buettner é a péssima influência de
alimentos processados em dietas ao redor do mundo - algo que se
expandiu pela influência dos EUA. A ponto de algumas das zonas azuis
estarem perto de perderem tal "status" por força da incorporação de
comidas processadas em suas dietas.
Ao mesmo tempo, é curioso que uma dessas zonas azuis esteja localizada
precisamente nos Estados Unidos: Loma Linda, na Califórnia.
E talvez a resposta para a longevidade dali seja a religião.
Cerca de metade dos 24 mil habitantes desta cidade são membros da
Igreja Adventista do Sétimo Dia. E vivem dez anos a mais do que a
maioria dos americanos.
"Acho que cheguei a esta idade (101 anos em 2015) porque não bebo ou
fumo, vou para a cama cedo e agradeço a Deus por sua bondade", disse
Betty Streifling à BBC.
Nesse sentido, Buettner diz que ninguém pode mudar seus hábitos alimentares da noite para o dia, mas sim o ambiente.
"É muito difícil tentar mudar a atitude das pessoas frente à comida,
mas se em vez de se depararem com uma hamburgueria ou sorveteria a cada
duas quadras elas tivessem a seu alcance lojas de alimentos saudáveis,
certamente as taxas de longevidade aumentariam", opinou.
"Além disso, nessas áreas azuis, a ideia de 'alimentação saudável', que
para muitos é uma imposição, para eles é simplesmente 'comer
normalmente', como têm feito há anos", concluiu.
"O segredo é dedicar o tempo a preparar esses alimentos básicos que os
humanos consomem há milhares de anos, torná-los saborosos - considerando
que nosso paladar foi destruído pelo açúcar, pelo sal e pela gordura
(dos alimentos processados)."
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